Atendendo ao pedido do autor (sob coação e quase ameaça de morte...kkkkkkk), com imensa alegria postamos novamente este magnífico texto.
Eu era garoto ainda, 12 ou 13 anos, fui assistir no cine Glória, na Rua do Gasômetro, um filme que nunca mais esqueci. Nessa época, morava na Rua Alfândega, travessa da Gasômetro, no Braz. O filme, em preto-e-branco, chamava-se “Música, Divina Música”. Não lembro o título em inglês, mas, acho que não era muito diferente da tradução. Os atores, guardo apenas o Pat O'Brien e o fabuloso violinista Jascha Heifetz e a música principal do filme era a Abertura da ópera “O Barbeiro de Sevilha”, de Rossini. Um padre (O'Brien) reúne uma turma de garotos pobres e esquecidos da sociedade, os irregulares de New York (se não estou enganado eram os garotos que trabalharam no famoso “Anjos de Cara-Suja, de 1938), levando-os a se interessar por música. Quem ministrava aulas de violino aos garotos era o Heifetz. Não vou contar todo o enredo do filme, por não lembrar e porque o que quero ressaltar é a música.
Quando a turminha ensaiava, a sessão de violinos, (quem conhece a música sabe) dava uma graça, um encanto tal que, pra um garoto da minha idade, vendo e ouvindo outros garotos da mesma faixa etária tocar, deixavam uma emoção que não tinha explicação. Meu irmão Santo, mais velho (já falecido), tinha muitos discos clássicos, mas faltava este.
A música exerceu (e exerce até hoje) em mim uma transformação no gosto e no prazer de se ouvir, tocada por uma orquestra sinfônica. Podem reparar, não existe nada igual a uma apresentação de uma orquestra sinfônica ao vivo. Uma filarmônica, que é mais ou menos igual a uma sinfônica, tem esse nome porque é a reunião de amigos da música, vem do grego, “fila” (amigo) harmonia (música).
Percebi que músicas em geral têm linguagem própria; algumas alegres demais, outras melancólicas, outras tristes; é por isso que a música incidental, composta pra acompanhar um filme, uma peça de teatro ou radiofonização, realça, conforme a trama, em alguns aspectos ou simplesmente acompanha um dialogo amoroso ou uma discussão. Compostas segundo o roteiro do enredo. Músicas para a história.
As que mais gosto são as histórias escritas sobre músicas já compostas. Estas são historias que procuram descobrir os sentimentos do compositor, quando as compõe. Chegam a criar climas, eventos e ocorrências de tal forma que a música em questão, pode ter sido composta em situações totalmente diferentes do que o diretor imaginou.
Tem, também, as que se ouve e fica-se imaginando qual a mensagem que o compositor quis transmitir. Os grandes críticos literários dizem que a grande maioria dos escritores tem, em suas obras, um pouco de si, uma espécie de autobiografia, “emprestando” a determinadas personagens um retrato de si mesmo. Na música não é diferente. Ouçam, por exemplo, os sambas do Lupicínio Rodriguez, com relação à “dor de cotovelo”. As composições de Herivelto Martins com suas rusgas com a esposa, D'Alva de Oliveira. Na área dos clássicos não é muito diferente. Vejam nosso grande Vila Lobos, suas composições, muitas delas voltadas para crianças, por exemplo, “O Trenzinho Caipira”. Seu gosto e prazer em ouvir Bach, criando as famosas “Bachianas Brasileiras”. Tchaikovsky, ao compor a 6ª Sinfonia, chamada a “Patética” por ter perdido sua mecenas quando ela descobriu sua homossexualidade, induzindo-o a se envenenar com água contaminada com cólera. As composições de Mendelson, que morreu com apenas 38 anos, ouçam e verifiquem, principalmente em seu concerto para orquestra e violino, nº 4, opus 64 (se não estou enganado), toda tristeza e amargura que existe na melodia. E, no entanto, ele compôs também alegrias, como “Abertura de Sonho de Uma Noite de Verão”, baseada numa obra de Shakespeare.
Por isso, um crítico musical já disse com muita propriedade que, mesmo uma marcha fúnebre tem seu encanto, beleza e, por que não dizer, alegria. A música fala, conversa com você.
Minha esposa não é muito apegada por estas músicas, porém, já a surpreendi “conversando” com as flores de nosso jardim, de tanto que ela gosta. Na música é igual, adoro ouvi-las e, quando estou escutando, não posso fazer mais nada, pra sentir o compositor expressando-se através das notas musicais, sua alegria, felicidade, seu amor por alguém ou sua dor por ter perdido alguém.
Se estou lendo, não quero ouvir nada, se estou ouvindo alguma música, não faço nada, vou saboreando seus movimentos, o que os violinos querem me falar, o que os tímpanos, os pandeiros, as cuícas, os pianos e assim por diante. Ia aos concertos no memorial da America do Sul, sempre. Agora, não dá mais.
Por Modesto Laruccia
6 comentários:
Como já tinha lido o texto e comentado devidamente, não me sinto coagido a fazer novo comentário....
E tenho benedito!
Laruccia,
pela segunda vez em exatamente uma semana, repito:
parabéns pelo excelente gosto musical! Concordo plenamente quando você diz que "não existe nada igual a uma apresentação de uma orquestra sinfônica ao vivo". Também gosto muito de música e uma das minhas maiores frustrações foi ter interrompido o curso de piano após deixar o seminário. Era adolescente e, como tal, ter tomado a decisão de desistir do sacerdócio foi uma espécie de libertação interior que fez com que deixasse para trás tudo o que fosse ligado (veja bem: não à religião!) ao seminário. Mas não perdi o gosto musical e sempre procurei aprimorá-lo, mesmo sem uma formação musical mais formal.
Gostei muito deste texto!
Abraço.
Modesto, seu texto está maravilhoso. Eu não sabia do seu gosto pela musica, por isso você está sempre de bom astral.Eu aprecio muito as musicas clássicas, aliás todos os ritmos me agradam, até as que pratico na academia, nas aulas de street dance.Não importa se são clássicas ou as das bandas atuais,brasileiras ou não,inclusive as africanas, todas tem seu valor e espaço na minha vida.Um grande beijo.
O texto é o ótimo, bem como o gosto musical, mas não entendo porque foi republicado...
é só rolar a tela um pouco abaixo e lá está sua primeira versão.
Enfim....
Larù:Continua valendo tudo aquilo que eu escrei no comentário anterior do seu testo.
Abração.
Natale
Soninha querida, não precisava "jogar" o Miguelzinho a escanteio, ele não merece....(rsrsrsrs)
Obrigado, querida pela correção da foto. No texto, onde se lê Pat O'Brian deve-se ler Joel Mc'Rean
Modesto (o pidão)
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