domingo, 30 de janeiro de 2011

O piano do vizinho

Esses dias tem sido de muito trabalho e a chuva, quase que constante, não me permitem fazer as minhas habituais caminhadas pelo bairro do Ipiranga. Assim, só me resta abrir a janela e ficar olhando o movimento da rua. De repente, o meu vizinho começa a tocar o seu piano; velhas músicas por ele executadas me trazem lembranças, umas boas, outras tristes... As letras ainda permanecem vivas em minha memória:

Nelson Cavaquinho diz:

"Já sei, da notícia que vens me trazer,
Os teus olhos só faltam dizer
O melhor é eu me conformar,
Guardei até onde eu pude guardar,
O cigarro encontrado em meu quarto
É a marca que fumas não podes negar

O piano segue com um tango assim:
"Si supieras
que aún, dentro de mi alma,
conservo aquel carino,
que tuve para tí....
Quién sabe, sí supieras
que nunca te he olvidado,
volviendo a tu passado
te acordaras de mi.

O piano muda para um velho samba:
"Louco, pelas ruas ele andava
O coitado chorava, transformou-se até num vagabundo
Louco, para ele a vida não valia nada,
Para ele a mulher amada era seu mundo

Em seguida, continua:
"Te acordás, hermano? qué tiempos aquellos!
Eran otros hombres más hombres los uestros
No se conocia cocó ni morfina
Los muchachos de antes no usaban gomina
Te acordás, hermano, Que tiempos aquellos,
Veinticinco abriles que no volverán
Veinticinco abriles, Volver a tenerlos
Sí cuando me acuerdo me pongo a llorar...

E segue o piano e eu acompanho:
Ya no tengo la dulzura de sus besos
vago sola por el mundo sin amor
Otra boca más feliz será la duena
de sus besos que eran toda mi pasión...

O piano muda para um velho samba:
Existem cinzas ainda no meu coração
Que o meu primeiro amor deixou
São cinzas de um grande amor
São cinzas e nada mais
Que o pruriu tempo não desfaz

Já o sono vem chegando mas continuo ouvindo:
Devolvi a aliança e a medalha de ouro
E tudo que ele me presenteou
Devolvi suas cartas amorosas,
Suas juras mentirosas
Com que ele me enganou


Fecho a janela ouvindo ainda os últimos acordes:
Vestida de branco, de véu e grinalda,]
Lá vai Esmeralda casar na igreja
Deus queira que os anjos não cantem prá ela
E lá na capela seu vigário não esteja...

Já deitado ainda ouço:
No salão grená paira pelo ar nota esmaecida,
Tornarás e ter todo meu amor, toda a minha vida,
Sei que voltarás pois hás de lembrar que foste feliz
Nunca houve alguém que quisesse o bem que eu sempre te quis...

A chuva parou, o sono vem chegando, já não ouço o piano do vizinho, amanhã será outro dia.


Por Leonello Tesser (Nelinho
)

10 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Nelinho,paraconciliar em sono tranquilo, teu vizinho deveria entoar antigo sucesso de Nora Neyque dizia:
Dorme menino grande, que eu não sairei daqui....

Soninha disse...

Olá, Nelinho!

Ainda bem que seu vizinho tocou ao piano as canções que você gosta...
Imagine se ele desafinasse e com músicas ruins, né?!
Mas, a boa música sempre faz bem aos ouvidos. E que dádiva ter um vizinho músico!
Valeu, Nelinho!
Obrigada.
Muita paz!

Zeca disse...

Que delícia, Nelinho!

Esse vizinho deve ser algum anjo caído do céu, exatamente como um exímio pianista, para ajudá-lo a ter boas noites de sono. Também, pudera! Embalado por belas músicas do passado, que nos trazem tantas lembranças!

Abraços.

Wilson Natale disse...

Nello:
Coisa boa é a música!
Basta uma nota, um acorde para espantar o tédio e nos fazer esquecer os dias corridos e cansativos.
E fica mais interessante quando as notas tiradas de um piano nos faz recordar momentos do nosso passado.
Belo texto!
Abração,
Natale

Osnir G. Santa Rosa disse...

Agradeço a todos que postaram seus comentarios. É claro que meu desejo é enviar outros textos complementado o primeiro. Esclareço que não sou pesquisador. Quem sabe um dia! No momento sou só um curioso com intenção de deixar gravado para a posteridade alguma contribuição positiva. Participei, ou tomei conhecimento, de fatos curiosos ou importantes em múltiplos campos da atividade humana. E a Internet nos possibilita realizar esse desejo de comunicar, de ser útil, com muito mais facilidade que antes de seu advento. Gosto de usar a expressão: "Como é bom s er útil!" Abraços.
Osnir G. Santa Rosa

Luiz Saidenberg disse...

Que bom e santo vizinho, Nello! Para um romântico como vc, não poderia ser mais oportuno. Um piano ao cair da tarde...abraços.

Laruccia disse...

Uma coisa vou esclarecer, de vez, essa insônia do Nelinho. As musicas que ele ouviu, ao solo de piano, todas elas sem legendas, apenas música. A extraordinária memória de Lelinho, foi colocando e nos presenteando, as letras de todas elas. Sabem onde está o segredo? é que ele, o Lelinho, quando abriu as janelas, na realidade ele as estava fechando. Havia despertado de um belo sonho musical, de uma beleza encantadora e, sonolento como todo dono de estacionamento, pegou o computa e "mandou braza" em mais uma primorosa narrativa, que é sua principal característica. O pianista seu vizinho já é falecido há muitos anos e o Lelinho não quis falar nada sobre ele pra não causar impacto sobrenatural. Parabéns, Nelo, se não é esta a realidade, digamos que é a parte fantaziosa do texto. "Scusatti lo scherzo". (desculpe a brincadeira)
Laruccia

MLopomo disse...

Bendita és tu, Oh chuva, que veio na hora certa, a trazendo a seresta do piano do vizinho. Pelo relato, belas musicas saiu das teclas saindo pelas aberturas da casa dele, entrando pelas frestas de outras, entre as quais a do Nelinho. Se fosse eu, ia bater palmas, e dizer amigo toque mais umas vai. Fiquei com inveja do Nelinho, por ter um vizinho pianista. Como não tenho vizinho que toca piano ouvia sempre o programa, Um Piano ao cair da Tarde, pela radio Eldorado. Como não tem mais esse programa acho que o piano caiu no calo

Arthur Miranda disse...

Nelinho parabéns pelo texto, Eu também adoro piano, o duro do piano e violino é quando o cara ainda esta aprendendo.
Eu morei em um apartamento e tinha por vizinho alguem que depois mais tarde veio ser amigo meu, Este amigo tinha um filho que estava aprendendo a tocar piano e nos fins de semana logo as oito da madrugada ele ficava batendo nas teclas do mesmo. Aqueles sons estridentes sem nenhuma harmonia, maltratava ou ouvidos da gente. Um dia eu coloquei brincando, um enorme bilhete escrito na porta do meu apartamento: VENDE-SE UM PIANO QUASE NOVO TRATAR NO APTO. AO LADO. KKKK.

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Meus amigos, muito obrigado pelas gentís palavras, o vizinho é real e toca seu piano todos os dias, agora mesmo (são 20:25 horas do dia 01/02/11 e já ouço os acordes do tango " Se supieras, lo que ay dentro de my alma...", acho que já vou indo par a ajanela...abraços, Nelinho.