Hoje, curtindo uma inatividade totalmente indesejada, motivada por dores odiosas nas pernas que outrora foram lépidas e saltitantes, sentado no sofá da minha casa, fechei os olhos e comecei a caminhar pelas encruzilhadas que me trouxeram até aqui.
Imagens, inicialmente difusas, vão tomando forma e me vejo ainda moço, dentro do salão de bailes mais tradicional de São Paulo, o “Som de Cristal”, estou cansado, pois, como de costume, tinha dançado a noite inteira e, lógico, bebido as cervejinhas santas de todas as ocasiões.
Já acostumado com a rotina musical, no momento certo olhei para o palco e vi que o maestro Salgado comandava o inicio da ultima seleção musical da noite. Ouvi nitidamente os primeiros acordes musicais e, em seguida, o crooner dar inicio a um samba que dizia assim: “Vai tocar a última/está chegando a hora/apanhe o seu casaco e o meu chapéu/e vai me esperar lá fora. Ande depressa querida/que a nossa condução já vai chegar/quem é pobre e mora longe não espera o baile acabar...”, dancei a última seleção e sai, acompanhado por uma das mulheres que povoavam minha existência.
Um ronco mais forte, motivado pela apnéia que me acompanha fez eu quase acordar, mas continuei a sonhar e, em um passe de mágica inexplicável à vida real, já me localizei no salão do “Avenida Danças” primeiro entregando meu cartão para que a bailarina da vez, numa significativa combinação, picotasse os três minutos da dança que havia acontecido por mais de 10 minutos. Choraminguei mais um pouco e ainda ganhei mais uma contradança de prêmio. Bailei, então, o bolero que estava sendo executado pela orquestra de Tobias Troillo: “Señora, te llaman señora, todos te respectan, sin saber la verdad. Señora, pareces Señora y llevas El alma llena de pecado y de falsedad. Señora, tu eres señora y eres mas perdida que las que se venden por necessidad, Señora, hás manchado mi nombre, El nombre Del hombre, que puso em tus manos su felicidad. Señora, com todo tu oro, lástima me inspiras pues vives La vida sin Dios nim moral.”
Acomodei-me mais no sofá e outras imagens surgiram; me vi há poucos anos atrás, sentado na minha cadeira de balanço, na sala do pequeno apartamento que passei a ocupar desde minha separação. Estava ouvindo meus discos, na vitrola rodava um bolachão de um dos maiores cantores da MPB, o Sr. José Bispo Clementino dos Santos, para os fãs apenas JAMELÃO, a faixa que rodava dizia muito da minha situação, e ele cantava assim: “Solidão, é o que eu sinto na alma. Solidão é um sentimento de dor. Pra minha vida ser calma, preciso encontrar um amor. Solidão tem sido a minha guarida, Solidão preciso me encontrar e ter talvez nesta vida um alguém para amar. Penso em amor, amar alguém eu espero. Sentir o seu calor, é tudo que eu mais quero.”
Acordei assustado, respirei fundo, lembrei-me que o samba do Jamelão havia me aberto espaços e que eu havia encontrado um novo amor.
Agradeci a Deus e fui tomar uma Itaipava por que ninguém é de ferro.
Por Miguel Chammas
Imagens, inicialmente difusas, vão tomando forma e me vejo ainda moço, dentro do salão de bailes mais tradicional de São Paulo, o “Som de Cristal”, estou cansado, pois, como de costume, tinha dançado a noite inteira e, lógico, bebido as cervejinhas santas de todas as ocasiões.
Já acostumado com a rotina musical, no momento certo olhei para o palco e vi que o maestro Salgado comandava o inicio da ultima seleção musical da noite. Ouvi nitidamente os primeiros acordes musicais e, em seguida, o crooner dar inicio a um samba que dizia assim: “Vai tocar a última/está chegando a hora/apanhe o seu casaco e o meu chapéu/e vai me esperar lá fora. Ande depressa querida/que a nossa condução já vai chegar/quem é pobre e mora longe não espera o baile acabar...”, dancei a última seleção e sai, acompanhado por uma das mulheres que povoavam minha existência.
Um ronco mais forte, motivado pela apnéia que me acompanha fez eu quase acordar, mas continuei a sonhar e, em um passe de mágica inexplicável à vida real, já me localizei no salão do “Avenida Danças” primeiro entregando meu cartão para que a bailarina da vez, numa significativa combinação, picotasse os três minutos da dança que havia acontecido por mais de 10 minutos. Choraminguei mais um pouco e ainda ganhei mais uma contradança de prêmio. Bailei, então, o bolero que estava sendo executado pela orquestra de Tobias Troillo: “Señora, te llaman señora, todos te respectan, sin saber la verdad. Señora, pareces Señora y llevas El alma llena de pecado y de falsedad. Señora, tu eres señora y eres mas perdida que las que se venden por necessidad, Señora, hás manchado mi nombre, El nombre Del hombre, que puso em tus manos su felicidad. Señora, com todo tu oro, lástima me inspiras pues vives La vida sin Dios nim moral.”
Acomodei-me mais no sofá e outras imagens surgiram; me vi há poucos anos atrás, sentado na minha cadeira de balanço, na sala do pequeno apartamento que passei a ocupar desde minha separação. Estava ouvindo meus discos, na vitrola rodava um bolachão de um dos maiores cantores da MPB, o Sr. José Bispo Clementino dos Santos, para os fãs apenas JAMELÃO, a faixa que rodava dizia muito da minha situação, e ele cantava assim: “Solidão, é o que eu sinto na alma. Solidão é um sentimento de dor. Pra minha vida ser calma, preciso encontrar um amor. Solidão tem sido a minha guarida, Solidão preciso me encontrar e ter talvez nesta vida um alguém para amar. Penso em amor, amar alguém eu espero. Sentir o seu calor, é tudo que eu mais quero.”
Acordei assustado, respirei fundo, lembrei-me que o samba do Jamelão havia me aberto espaços e que eu havia encontrado um novo amor.
Agradeci a Deus e fui tomar uma Itaipava por que ninguém é de ferro.
Por Miguel Chammas
9 comentários:
Miguel, frequentei pouco os dancings de Sampa. Eu já entrei de sola no tempo das boates e rock'en Roll.
Aqui na Mooca tinhamos os bailes de clubes, todas as terças, quintas e sábados. E quatro grandes desfilavam nas vozes dos crooners. Bienvenido Granda, Nelson Gonçalves, Jamelão e Ângela Maria.
E ficou na minha lembrança estes trechos de música:
"Total, si no tengo tus besos. No me muero por eso. Pués estoy cansado de tanto besar".(Bienvenido)
"Ela disse-me assim, tenha pena de mim. Vai embora! Ele pode chegar, vais me prejudicar. Está na hora". (Jamelão)
"Eu adormeço pensando em ti. Eu amanheço pensando em ti... Nos cigarros que eu fumo, te vejo nas espirais. Nos livros que tento ler, em cada frase tu estás". (Nelson)
"Se eu quiser eu bebo. Se quiser fumar eu fumo. Não me interessa mais ninguém. Se o meu passado foi lama, hoje quem me difama, viveu na lama também... Quem és tu! Quem foste tu! Não és nada"!... (Angela)
E por ai vai.
Boa lembrança essa sua!
Agora conta prá mim: Depois de umas birras ou um uísque com guaraná, você chegou a ouvir uma voz murmurando "São dois prá lá, dois prá cá"?...
Abração,
Natale
Miguel, teus sonhos me deram certa inveja, pois jamais entrei num dancing. Aliás, dançava mal, que faria ali? Mas, depois que tive minha revolução cultural, passei a frequentar alguns inferninhos, mais escuros que o próprio, e com as piores das intenções, bastante concretizáveis... Belos sonhos , amigo, e que suas pernas se recuperem, para voltar a ser o pé de valsa doutros tempos. Abraços.
Oie...
Sonhar é bom...recordar é viver, mas, viver a realidade é melhor ainda, pois significa que vencemos etapas e que temos chance de continuar nossa história.
Valeu por suas lembramças.
Muita paz! Beijossssssss
Miguel você foi fundo nessa. Que saudade daqueles bailões. Fora aqueles das picotagens como o Avenida e o Chuá, Tinha aqueles que a gente pagava somente o ingresso, e a consumação. O Som de Cristal marcou muito, e os outros como o Badaró, O Cartola Clube, e o Homs era autênticos clubes onde a gente conhecia todos. Eram os amantes do arrasta pé, da musica. Mais para a periferia tinha outros, como na zona leste o bailão do Zé Sertanejo, no Belém, e o Vila Sofia no bairro de Socorro, talvez o mais antigo por ter sido um cassino no tempo que o jogo estava livre. Como você disse o grande Jamelão era um dos que a gente chegava a ver, mas tinha outros croorners que cantavam muito e ficaram sempre no anonimato. Na saída a gente dava continuidade na letra da musica de Lupcinio que Jamelão tão bem interpretava. “Penso em amores amar alguém eu espero. Sentir o seu calor é tudo o que mais quero.”
Miguel, tuas lembranças me levaram junto nessa caminhada, Avenida, Lilas, Paulistano da Glória, damas que foram companhias agradáveis (algumas até mais do que simples parceiras...), Maura, Maria Helena, Aparecida, Zoraide, Alaíde, etc.), Jamelão diria: "Deixa o sereno da noite molhar teus cabelos que quero beijar, amor...", parabéns pelo saudoso texto, espero que as pernas voltem a deslizar pelos salões, abraços, Nelinho.
ô Nelinho, ó vc entregando o ouro de novo! É uma área perigosa, essa de listas de Ex....eu vou ficar quieto. Limitar-me-ei à música de Ataulfo: - Onde andará Mariazinha, meu primeiro amor, onde andará ?
Por aí, meu amigo, todas, se vivas, embagulhadas e doentes, mas ainda jovens, belas e imutáveis em nossos sonhos...
"Solidão apavora, tudo demorando em ser tão ruim...". Saudade do Jamelão também. Bacana,Miguel!
"Aos pés da Sta. Cruz, vc se ajoelhou, em nome de Jesus..."
"Ô Antunico vou te pedir um favor,que só depende da sua boa vontade... é nescessário uma viração pro Nestor, que está vivendo em grande dificuldade...
"Satisfaz tua vaidade, muda de dono a vontade, isto em mulher é comum... não guardo frios rancores pois, entre seus mil amores eu sou o número um..."
Miguel vc arrazou com minhas quase esqucidas memórias. Parabéns
Modesto
Salve, camarada Miguel.
Sou de uma geração posterior ao tempo dos salões de dança mas, confesso, gostaria de ter vivido aquela época em que damas e cavalheiros primavam pela elegância no comportamento e nas vestes. Através da tuas lembranças vivo um pouco uma vida que não foi minha. É uma dádiva que só os bons escribas proporcionam. Portanto, valeu!
Abraço.
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