quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

De pequenas guerras a grandes curas

Alfabeto Braile – as partes pretas são em alto relevo
para que o deficiente visual as identifique


O Brasil tem 2 milhões de deficientes visuais.
Maria da Paz, sofre de retinose pigmentar ( também conhecida como retinite pigmentosa,ou retinitis pigmentosa, retinopathia pigmentosa, RP). É uma doença genética, que ataca a retina causando a destruição de suas células. Foi perdendo pouco a pouco a visão.

Dona de uma audição apurada e memória quase fotográfica. Faz todo o trabalho de casa. Para telefonar, disca a partir do número cinco. É que ele tem um pontinho, que serve de referência. Frita o bife contando até 60 para cada lado. Mas, é perigoso. Lava a roupa sempre cheirando. A louça, ela sente no tato se ainda tem detergente. Limpa o chão direitinho, sentindo todas as saliências. Os rejuntes ficam mais limpos do que os de quem enxerga bem.
O mundo visto pelos ouvidos, vozes, cheiros e pelo toque.
Muito animada, participa do curso Arte em Cabaça no Centro de Cidadania da Mulher de Santo Amaro.
Exemplo de superação no grupo de estudos de Arte e Cidadania. Desenho e pintura em exposição. A primeira cabaça pintada, uma emoção.
Faz curso de bengala branca no Dorina Nowill, para finalmente ter mais autonomia de locomoção.
Quando pequena, se a professora mandava formar grupos, ninguém a queria. Restava o grupo dos bagunceiros e repetentes. Graças a isso, acabava fazendo o trabalho sozin
ha, que apresentava em nome de todos. Envolveu-se e desenvolveu-se. Daí a habilidade de falar em público.
Muitas vezes, a exclusão começa na própria família, que tem dificuldade em lidar com o problema e também sofre com ele. É movida a sonhos e determinação. Faz trabalhos voluntários e está de bem com vida. Sabe que ser incluída é poder circular pelo mundo com desenvoltura. Na guerra contra o preconceito, na cultura da paz e harmonia.

13 de dezembro dia nacional do cego.

Por Suely Schraner

9 comentários:

Luiz Saidenberg disse...

Belo texto, Suely. É fantástico como a privação deum dos sentidos pode aguçar a sensibilidade dos outros. Parabéns pela divulgação de tão nobre instituição.
Eu tive, em priscas eras, um amigo cego no Prédio Martinelli. Era impressionante sua atuação e segurança na arte, de, mesmo com bengala, caminhar na vida.
A começar pelo dinheiro: nunca se enganava nas notas e moedas, e ninguém o enganava tb. Outra hora envio o que escrevi sobre ele.
Abraços.

Miguel S. G. Chammas disse...

Suely, alguém saberia me dizer quantas Maria da Paz existem neste mundo de meuDeus?
E, ainda, quantas pessoas como você se dedicam a divulgara existência dessas Marias e, claro, ajuda-las?
Parabéns pela inciativa.

Arthur Miranda disse...

Durante 12 anos entre 1974 a 1986, tive por companheiro um maravilhoso ser humando também privado de visão, pois já nasceu sem os olhos, mas sempre enchergou melhor do que muita gente. Trata-se do grande cantor e tecladista, Jean Carlo que na decada de 60 foi considerado o Ray Charles brasileiro, viajamos e nos apresentamos em quase todo o Brasil, foram perto de 3.000cidades, e confesso jamais conheci alguem mais otimista, e eficiente em toda a minha vida. Parabéns Suely, pela divulgação da super eficiente Maria da Paz. que com certeza com sua Paz vai deixando muita gente bem inquieta, pelo caminho.

Modesto disse...

Narrativa por demais bela, se fosse ficção, não acreditaria que houvessem pessoas com tanta força de vontade. O sentido da visão ausente, deu a Maria da Paz um potencial nos outros sentidos, bem acima dos parâmetros normais. Parabéns a da Paz e a vc, Suely por ter relatado as proezas de um ser humano.
Modesto

MLopomo disse...

É verdade Sueli. As vezes o preconceito esta na própria família. Uma cliente minha tinha uma filha já moça com síndrome de Down, Ela sempre vinha risonha falar comigo, me abraçava, a a madame se sentia assim que meia constrangida e mandava ela entrar. Fui varias vezes La e um dia antes de entrar ouvi a mulher dizendo a ela ir para o quarto. Mal comecei a conversar perguntei pela moça, e ela deu uma desculpa qualquer. Chama ela disse eu. Não quero sair daqui hoje sem ver o rostinho bonito da minha amiga. A mulher sem jeito a chamou e o marido ria de satisfação. As vezes a gente tem que dar uns safanões virtuais em certas pessoas.

Soninha disse...

Olá, Suely!

Lição de vida maravilhosa, tanto de Maria da Paz quanto de Dorina Nowill.
Bem aventurados os que tem os olhos fechados, já diz o Evangelho...
Os olhos,muitas vezes,são motivos de escândalo e queda, não é mesmo?! Mas, os olhos cegos estão sempre prontos para fazer a alma subir...
A imensa vontade de Maria da Paz a fez seguircom sua priva e lhe deu força para superar os obstáculos, vencer barreiras e ser feliz, dando exemplos de força e determinação para todos.
Valeu,Suely!
Obrigada.
Muita paz!

Wilson Natale disse...

Ótimo texto Suely! A história de alguém que venceu e aprendeu com as limitações.
E também pela lembrnça dessa grande mulher batalhadora e vencedora que se chamava Dorina.
Infelizmente subestimamos a capacidade dos deficientes físicos tendo como base as nossa próprias limitações. Ou seja: não vemos os deficientes. Vemos a nós mesmos como deficientes.
Infelimente, também, não fomos educados a aprender com eles, avaliando o grande potencial que eles têm e que desenvolvem.
E o tema do seu texto leva-me de volta ao Grupo Escolar, onde havia uma Classe Especial para deficientes.E, pelo mistério que envolvia essa eclasse, tínhamos medo dela.
E por mais que eu force a memória, não me lembro de ter visto esses deficientes formarem fila no pátio.
Eram como fantasmas. Não sabíamos quando entravam, ou quando saíam.
Coisa mais triste de se lembrar, não é mesmo? Tempos em que o "politicamente correto" era esconder, e, por tabela marginalizar.
Felizmente, nos dias de hoje, vai-se, gradativante mudando esse conceito de "à margem". Prioriza-se a integração e as pessoas ditas "normais" vão aprendendo a usar todos os sentidos. E exercer o amor e fraternidade.
Abração,
Natale

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Suely, meus parabéns por você enaltecer o trabalho dessa entidade, Deus sempre nos dá alternativas quando algum órgão do corpo não funciona bem, que Deus proteja a Maria da Paz que nos dá uma lição de fé e esperança, abraços, Nelinho.

suely schraner disse...

Amigos
É como a citação no livro ) Ensaio sobre a Cegueira, de J. Saramago: "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara"... Agradeço a todos que repararam e comentaram. Abraços, Suely