A historia da Suely fez minha memória, cheia de velhas recordações, lembrar-se de um fato ocorrido comigo em 1986, ao retornar de um trabalho na cidade do Rio de Janeiro.
Na minha juventude eu, às vezes cansado, esperando o ônibus da CMTC nº67 Freguesia do Ó, que nessa época ficava localizado ao lado da Igreja matriz de Nossa Senhora do Ó, vendo vários carros passando rumo à cidade, na maioria das vezes apenas com um ocupante, pensava com meus botões: No lugar de ir de carro quase vazio para a cidade, bem que esse pessoal poderia oferecer carona para os semelhantes que estão aqui na fila.
De tanto pensar nisso acabei prometendo a mim mesmo que, se um dia eu viesse possuir um carro, jamais iria viajar com o carro vazio, passar por uma fila de gente a espera de uma condução, sem oferecer carona.
Alguns anos depois em 1969 comprei meu primeiro carro à vista, um fusca zerinho, com o dinheiro ganho na assinatura de um contrato com a TV Excelsior, Canal 9.
Então, toda vez que saia para o trabalho, sempre procurava dar carona para as pessoas que estavam nas filas dos ônibus. Assim também, passei a fazer a mesma coisa quando estava sozinho e viajava pelas estradas Anhanguera, Dutra e Castelo Branco.
Então, vivenciei durante alguns anos, os versos de São Francisco: É dando que se recebe. Várias vezes aconteceu de ter o pneu de meu carro furado e eu nem sujar as mãos, pois os caronas se ofereciam para trocar os mesmos
Dessa forma, nunca viajei só, sempre tive na ida ou na volta algum carona no meu carro, sofrendo com isso muita discriminação, pois quando o carona era homem, ele entrava desconfiado que eu fosse gay; e quando era para mulher, ela sempre preferia entrar no banco traseiro. Certa vez, ao sair do carro depois de saber o motivo que me levava a oferecer carona, uma professora de Sorocaba me confessou que entrou no carro, desconfiada que eu fosse um tarado, e só aceitou a carona por estar com receio de chegar atrasada para a aula.
Amigos me alertavam para o risco que eu estava correndo, mas eu respondia que, se fosse ficar pensando nos riscos, bombeiro não seria bombeiro, pedreiro não seria pedreiro, militar não seria militar, torcedor não iria ao estádio, ninguém pilotaria aviões, etc e tal
Então, em 1986 voltando pela Dutra de um trabalho no Rio de Janeiro, um pouco antes de chegar à cidade de Duque de Caxias, perto de 19 h, notei um homem usando um paletó e pedindo carona, em frente a um posto de gasolina.
Passei por ele fazendo a minha costumeira avaliação, encostei meu carro no acostamento, a uns vinte metros a sua frente, abri apenas alguns centímetros do vidro da janela do passageiro, como sempre fazia, para melhor avaliar a pessoa; porém, nesse dia esqueci-me de travar a porta do carro por dentro (era um Chevette- 85) e quando fiz as perguntas para sondar o individuo, o mesmo abriu a porta do carro e já foi sentando ao meu lado.
Meio arrependido, engatei a marcha e saí.
Perguntei para onde ele estava indo e a resposta foi meio evasiva. Notei também que, debaixo de seu paletó, do seu lado direito, havia um volume que me pareceu alguma arma ou coisa que o valha, pela minha cabeça começou a passar os piores pensamentos.
Resolvi enfrentar aquela situação da melhor maneira possível e sem correr risco, peguei um saco plástico que eu havia colocado ao lado do freio de mão, tirei meu relógio de pulso que até hoje sempre foi vagabundo e barato, uns trocados que eu reservei para lanches e para alguma eventualidade, mais dois maços de cigarros Minister ( pois, na época, eu ainda era trouxa e fumava), depositei tudo dentro do saquinho plástico e coloquei entre o freio de mão e o assento do passageiro e disse para o carona:
-Amigo eu não sei porque, mas eu acho que você esta a fim de me assaltar; eu sempre dou carona e nunca fui assaltado e gostaria de jamais ser assaltado em minha vida, tudo o que eu tenho de valor aqui, além do carro, é isso que eu coloquei ai nesse saquinho.
Se você tem a intenção de me assaltar na hora de descer você leva o saquinho ai do lado, se você não tem essa intenção na hora de descer você desce e deixa o saquinho aí. Assim, nenhum de nós irá correr riscos.
Um minuto depois, perto de outro posto de gasolina, ele pediu para parar, dizendo que iria descer. Parei. Ele desceu pegou o saquinho fechou a porta e sumiu. E eu dei graças a Deus.
Não fiquei traumatizado (seria terrível se ele tivesse me apontado uma arma), não me senti assaltado, pois fui eu que entreguei “livremente” aqueles pertences (já que eu tomei a iniciativa). Livrei minha carteira com documentos, cartões de crédito e cheques, mais 1000 reais, que na época eram cruzados, frutos do cachê de um show que fiz no Rio de Janeiro. E, por mais que eu “queira”, nunca mais consegui oferecer carona a estranhos.
Por Arthur Miranda (tutu)
Na minha juventude eu, às vezes cansado, esperando o ônibus da CMTC nº67 Freguesia do Ó, que nessa época ficava localizado ao lado da Igreja matriz de Nossa Senhora do Ó, vendo vários carros passando rumo à cidade, na maioria das vezes apenas com um ocupante, pensava com meus botões: No lugar de ir de carro quase vazio para a cidade, bem que esse pessoal poderia oferecer carona para os semelhantes que estão aqui na fila.
De tanto pensar nisso acabei prometendo a mim mesmo que, se um dia eu viesse possuir um carro, jamais iria viajar com o carro vazio, passar por uma fila de gente a espera de uma condução, sem oferecer carona.
Alguns anos depois em 1969 comprei meu primeiro carro à vista, um fusca zerinho, com o dinheiro ganho na assinatura de um contrato com a TV Excelsior, Canal 9.
Então, toda vez que saia para o trabalho, sempre procurava dar carona para as pessoas que estavam nas filas dos ônibus. Assim também, passei a fazer a mesma coisa quando estava sozinho e viajava pelas estradas Anhanguera, Dutra e Castelo Branco.
Então, vivenciei durante alguns anos, os versos de São Francisco: É dando que se recebe. Várias vezes aconteceu de ter o pneu de meu carro furado e eu nem sujar as mãos, pois os caronas se ofereciam para trocar os mesmos
Dessa forma, nunca viajei só, sempre tive na ida ou na volta algum carona no meu carro, sofrendo com isso muita discriminação, pois quando o carona era homem, ele entrava desconfiado que eu fosse gay; e quando era para mulher, ela sempre preferia entrar no banco traseiro. Certa vez, ao sair do carro depois de saber o motivo que me levava a oferecer carona, uma professora de Sorocaba me confessou que entrou no carro, desconfiada que eu fosse um tarado, e só aceitou a carona por estar com receio de chegar atrasada para a aula.
Amigos me alertavam para o risco que eu estava correndo, mas eu respondia que, se fosse ficar pensando nos riscos, bombeiro não seria bombeiro, pedreiro não seria pedreiro, militar não seria militar, torcedor não iria ao estádio, ninguém pilotaria aviões, etc e tal
Então, em 1986 voltando pela Dutra de um trabalho no Rio de Janeiro, um pouco antes de chegar à cidade de Duque de Caxias, perto de 19 h, notei um homem usando um paletó e pedindo carona, em frente a um posto de gasolina.
Passei por ele fazendo a minha costumeira avaliação, encostei meu carro no acostamento, a uns vinte metros a sua frente, abri apenas alguns centímetros do vidro da janela do passageiro, como sempre fazia, para melhor avaliar a pessoa; porém, nesse dia esqueci-me de travar a porta do carro por dentro (era um Chevette- 85) e quando fiz as perguntas para sondar o individuo, o mesmo abriu a porta do carro e já foi sentando ao meu lado.
Meio arrependido, engatei a marcha e saí.
Perguntei para onde ele estava indo e a resposta foi meio evasiva. Notei também que, debaixo de seu paletó, do seu lado direito, havia um volume que me pareceu alguma arma ou coisa que o valha, pela minha cabeça começou a passar os piores pensamentos.
Resolvi enfrentar aquela situação da melhor maneira possível e sem correr risco, peguei um saco plástico que eu havia colocado ao lado do freio de mão, tirei meu relógio de pulso que até hoje sempre foi vagabundo e barato, uns trocados que eu reservei para lanches e para alguma eventualidade, mais dois maços de cigarros Minister ( pois, na época, eu ainda era trouxa e fumava), depositei tudo dentro do saquinho plástico e coloquei entre o freio de mão e o assento do passageiro e disse para o carona:
-Amigo eu não sei porque, mas eu acho que você esta a fim de me assaltar; eu sempre dou carona e nunca fui assaltado e gostaria de jamais ser assaltado em minha vida, tudo o que eu tenho de valor aqui, além do carro, é isso que eu coloquei ai nesse saquinho.
Se você tem a intenção de me assaltar na hora de descer você leva o saquinho ai do lado, se você não tem essa intenção na hora de descer você desce e deixa o saquinho aí. Assim, nenhum de nós irá correr riscos.
Um minuto depois, perto de outro posto de gasolina, ele pediu para parar, dizendo que iria descer. Parei. Ele desceu pegou o saquinho fechou a porta e sumiu. E eu dei graças a Deus.
Não fiquei traumatizado (seria terrível se ele tivesse me apontado uma arma), não me senti assaltado, pois fui eu que entreguei “livremente” aqueles pertences (já que eu tomei a iniciativa). Livrei minha carteira com documentos, cartões de crédito e cheques, mais 1000 reais, que na época eram cruzados, frutos do cachê de um show que fiz no Rio de Janeiro. E, por mais que eu “queira”, nunca mais consegui oferecer carona a estranhos.
Por Arthur Miranda (tutu)
8 comentários:
Pois é Tutu, aqui no Brasil a cultura de se oferecer ou dar
carona é impossivel de ser cultuada.
Os malfeitores,a pouca educação do povo, afinal tudo vai contra essa cultura de solidariedade.
Eu, por exemplo, se nõ oferecercarona para algm amigo ou coinheido,faço o trajeto proposto sem companhia.
Prezo a vida e dela não vou abrir mão tão facilmente.
Tua aventura foi memorável!
Tutú, hoje em dia é preciso estudar muito antes de dar carona a estranhos, os malandros estão em toda parte, eu mesmo já fui vitima no passado e aprendi a lição, carona só para conhecidos, parabéns pela narrativa, abraços, Leonello Tesser (Nelinho).
Tutu, juízo, menino!
Aqui é o Brasil, e infelizmente a famosa carona solidária não funciona. Pena, pois diminuiria em muito o trânsito da, por exemplo, monstruosa São Paulo. Mas, nem pensar; tem de se andar de vidros fechados, escuros, e se possível blindados. Não se pode facilitar nem um segundo, por aqui. Vc ainda foi esperto, e teve sorte! Abraços.
Velhos "deitados":
"De boas intenções o inferno está cheio".
"Quem procura, encontra".
Deu "mole", dança bonito"!
São ditados de alerta. Mas a gente precisa aprender com a própria experiencia.
Ainda bem que voce só dançou.Se dançasse bonito teria voltado a pé para casa.
Abração,
Natale
Olá, Arthur!
Nossa! Que perigo, né?!
A idéia de transporte solidário é tão boa. Adote sempre,sim.
Mas, com o cuidado de escolher pessoas conhecidas e idôneas.
Carona em estrada, nem pensar.
Melhor pararnum posto policial e avisar quando tem alguém precisando de ajuda na estrada ou nas ruas.
Valeu sua intenção...e Deus o protegeu.
Valeu,Arthur!
Obrigada.
Muita paz!
Tutu, vc sabe que isso é arriscado mas, não é privilégio do Brasil pois no mundo inteiro vc ouve falard e casos semelhantes. Sua crônica, bem explícita, deixa uma boa lição a todos nós. Parabéns, Arthur.
Modesto
Ui,ui. Sua calma sua alma.E livrou-o do mal,amém. Fazer o bem sem olhar a quem? Eu também já me atrevi a dar carona, num dia de chuva e ponto lotado. Parei o fusca 66 e perguntei? Quem quer carona até o Largo do Rio Bonito? Pra quê.Montaram uns 10 onde só cabia quatro e fomos todos rangendo e rebaixados até chegar... Se arrependimento matasse.
Tutu. Essa carona me fez lembrar a historia de um amigo, que estava no ponto de ônibus da avenida nove de julho pouco antes do túnel em sentido centro. Ai parou um carro e motorista perguntou alguém vai pro Anhangabaú? Esse meu amigo e mais dois subiram no carro e foram. No dia seguinte novamente ele passou naquele horário e levou o amigo que estava sozinho no ponto. Isso se repetiu vários dias que esse amigo estava fazendo um serviço na Alameda Franca. O curioso é que todas as vezes que deu carona aquele motorista não disse uma só palavra, apenas assobiava.
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