Imagem: carnaval da Av. Tiradentes, antes do Sambódromo
Não sou de Carnaval. Fora os bailes da infância, a que íamos levados
pelos pais, em clubes locais, regados a lança perfume, confete e serpentina,
fora o desfile que víamos da sacada do Clube Cultura Artística, em Campinas,
com bumba meu bois e fanfarra, a folia coletiva nunca me entusiasmou.
Fora os dois anos que passamos no Rio de Janeiro, - e ali não se pode escapar aos ritos de Momo- dos grandes desfiles de blocos não oficiais na Av. Rio Branco até um humilde bando de moradores descendo, com bateria e muita ginga a R. Jardim Botânico, um senhor já idoso sem camisa e sacudindo a pança num ritmo insensato, totalmente fora deste também pouco sensato mundo. Depara-se com a folia a cada esquina. Pura, espontânea, pouco tendo a ver com os milionários desfiles globelezais da Marquês de Sapucaí.
Mas, como disse, não entendo esta louca alegria generalizada , a multidão desvairada. Minhas alegrias e paixões, embora intensas, relacionam-se muito mais com experiências pessoais, mais íntimas.
Nos anos em que tivemos casa no litoral, íamos para lá, sem nada ver ou ouvir de Carnaval, e voltávamos após a folia acabada. Nada de desfiles de grandes escolas, siliconadas cabrochas de destaque, porta estandartes e mestres salas. Até hoje é assim, e o famoso Carnaval apenas uma ilusão estranha e distante. Costumava dizer que, para mim, Carnaval é todo dia. A festa iniciando-se toda manhã e só extinguindo-se à noite.
Agora, nem mais ao litoral vamos; multidões de carros descendo a serra, sujeitos a arrastões e horas de congestionamento, para encontrar lá embaixo a continuação desse tumulto insano. O mesmo aconteceu este ano. Enquanto a farra explodia nos sambódromos, ficamos por aqui mesmo, em São Paulo, recolhidos, fazendo nossos passeios pelo bosque vizinho, vendo um bom filme à tarde.
Foi então que a banda passou. Pelo bairro calmo, em parte deserto pela ausência dos moradores viajantes, na tarde do sábado. Estridente, alegre, mas podia-se adivinhar que modesta, humilde, simples, inocente em suas raízes.
A alegria espontânea, como nos velhos tempos. Saí do sossego do lar para conferir. Na rua de trás, umas poucas dezenas de pessoas, todas locais, mães com crianças, alguns fantasiados modestamente, um ou outro mascarado, e a bandinha, a “furiosa”, como já se disse, tocando furiosamente. Um dos foliões ostentando um estandarte verde, no qual se lia Brooklyn.
Em plena rua, toda coberta de confete e serpentina, surpreendendo com sua alegria os poucos motoristas que passavam. E aí sim, as emoções que não senti nos Carnavais passados reclamaram sua quota. Uma banda passando.
No bairro tranquilo, na rua deserta, na tarde morta, com nuvens ameaçadoras de chuva como pano de fundo. Não era alucinação: eu vi mesmo a banda passar, tocando coisas de amor. Nem tudo está perdido, neste mundo.
Fora os dois anos que passamos no Rio de Janeiro, - e ali não se pode escapar aos ritos de Momo- dos grandes desfiles de blocos não oficiais na Av. Rio Branco até um humilde bando de moradores descendo, com bateria e muita ginga a R. Jardim Botânico, um senhor já idoso sem camisa e sacudindo a pança num ritmo insensato, totalmente fora deste também pouco sensato mundo. Depara-se com a folia a cada esquina. Pura, espontânea, pouco tendo a ver com os milionários desfiles globelezais da Marquês de Sapucaí.
Mas, como disse, não entendo esta louca alegria generalizada , a multidão desvairada. Minhas alegrias e paixões, embora intensas, relacionam-se muito mais com experiências pessoais, mais íntimas.
Nos anos em que tivemos casa no litoral, íamos para lá, sem nada ver ou ouvir de Carnaval, e voltávamos após a folia acabada. Nada de desfiles de grandes escolas, siliconadas cabrochas de destaque, porta estandartes e mestres salas. Até hoje é assim, e o famoso Carnaval apenas uma ilusão estranha e distante. Costumava dizer que, para mim, Carnaval é todo dia. A festa iniciando-se toda manhã e só extinguindo-se à noite.
Agora, nem mais ao litoral vamos; multidões de carros descendo a serra, sujeitos a arrastões e horas de congestionamento, para encontrar lá embaixo a continuação desse tumulto insano. O mesmo aconteceu este ano. Enquanto a farra explodia nos sambódromos, ficamos por aqui mesmo, em São Paulo, recolhidos, fazendo nossos passeios pelo bosque vizinho, vendo um bom filme à tarde.
Foi então que a banda passou. Pelo bairro calmo, em parte deserto pela ausência dos moradores viajantes, na tarde do sábado. Estridente, alegre, mas podia-se adivinhar que modesta, humilde, simples, inocente em suas raízes.
A alegria espontânea, como nos velhos tempos. Saí do sossego do lar para conferir. Na rua de trás, umas poucas dezenas de pessoas, todas locais, mães com crianças, alguns fantasiados modestamente, um ou outro mascarado, e a bandinha, a “furiosa”, como já se disse, tocando furiosamente. Um dos foliões ostentando um estandarte verde, no qual se lia Brooklyn.
Em plena rua, toda coberta de confete e serpentina, surpreendendo com sua alegria os poucos motoristas que passavam. E aí sim, as emoções que não senti nos Carnavais passados reclamaram sua quota. Uma banda passando.
No bairro tranquilo, na rua deserta, na tarde morta, com nuvens ameaçadoras de chuva como pano de fundo. Não era alucinação: eu vi mesmo a banda passar, tocando coisas de amor. Nem tudo está perdido, neste mundo.
Por Luiz Saidenberg