terça-feira, 18 de outubro de 2011

Memórias de velhos carnavais


Có có co´có có có ró
Có có có có có có ró
O galo tem saudades
da galinha carijó

Marchinhas de Carnaval, quantas saudades!
Outro dia, conversando com minha esposa e companheira, em virtude de estar me preparando para concorrer no Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas da Fundição Progresso e Rede Globo, cantarolei algumas marchinhas dos velhos carnavais.
Comecei lembrando de uma marchinha que dizia: A Princesa encontrou/ seu grande amor/ e quis casar./ Mas a corte não deixou/ por que o tal/ Não é real./ De que vale ser princesa então?/ Ter palácios só pra inglês ver?/ De que vale governar/ e não mandar em seu coração...?
Passei depois para outra marchinha que dizia assim: Me dá um gelinho aí/ Que estou a 100 por hora/ Se não pássaro calor ô ô/ Eu jogo a roupa fora. Depois veio aquela que dizia Ei você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro ai...
Sempre fui um carnavalesco de primeira linha e as marchinha de carnaval eram, juntamente com os sambas, decoradas por mim de imediato.
Depois, o Carnaval espetáculo, marca registrada do Rio de Janeiro, foi se alastrando, tomando conta de outras Capitais e se tornando um verdadeiro produto de exportação. Chamariz de turista ávido por ver bundas e peitos, balançando ao som do batuque de um samba enredo que, em minha opinião, já não tem mais o andamento de samba e lembra muito uma marchinha mais cadenciada, porem não tão cadenciada como a marcha-rancho.
Essa mudança, constatei, retirou das ruas o carnaval verdadeiro, cheio das alegrias e galhofas, às vezes inocentes, que permitiam ao povo, inclusive, das classes menos privilegiadas, extravasar suas emoções, esquecendo, por poucas horas, todas as tristezas e inquietações sofridas.
O Carnaval puro, o entrudo que veio da Europa para se naturalizar brasileiro de quatro costados, tendo como seu hino nacional o Abre Alas de Chiquinha Gonzaga, foi banido de nossas vidas.
Então, ainda sentindo a frustração do desaparecimento desse carnaval me perguntei e questionei minha esposa: Será que foram as Escolas de Samba que eliminaram essa festa? Será que foi a violência que a cada dia grassa mais a culpada?
Acho mesmo que foi um pouco de tudo isso que roubou a alegria verdadeira dos três dias de reinado de Momo.
Se fosse eu um mandante prestigiado, um político de renome, ou até, um apadrinhado da presidente (a?), iria lutar para antecipar o grande espetáculo das Escolas de Samba, por alguns dias, quem sabe uma semana e exigir que o povo viesse paras as ruas, que os Blocos do Sujo ocupassem seus lugares de destaque nos Três dias de Alegria, que as grandes sociedades voltassem a promover seus bailes Carnavalescos e seus Concursos de Fantasia, que os compositores voltassem a compor marchinhas carnavalescas e que os cantores voltassem a gravá-las.
Já pensaram, quantas famílias poderiam voltar a sobreviver dessas medidas?
Qual o que. O passado só volta para os velhos intransigentes como eu, os moços não sentiram o gostoso prazer dos Carnavais, e não podem almejar senti-lo agora. Eles nunca viram o Cordão Carnavalesco Vai-Vai desfilar, com todo o seu esplendor e pujança na Avenida 9 de Julho, ou no Anhangabaú, ou na Avenida São João ou mesmo nas ruas do Bixiga. Não viram ou participaram dos grandes e tradicionais bailes de carnaval dos clubes de Sampa (Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Portuguesa), ou dos salões tradicionais como Royal, Professorado, Araken, Paulistano, Mauá, entre tantos.
Sem chances! Vou continuar cantarolando, sozinho, no meu canto:
Linda loirinha/ Loirinha/ que me faz sonhar...Eu sou o pirata da perna de pau/ do olho de vidro/ da cara de mau....Eu fui às touradas de Madri/ parabatchibunbubum/ Quem sabe sabe/ Conhece bem/ Como é gostoso gostar de alguém...Maria Escandalosa/ desde criança/ sempre deu alteração...Se a canoa não virar/ olé olé olá...

Por Miguel Chammas

19 comentários:

Luiz Saidenberg disse...

Belos comentários, Miguel. Muito informativos para quem, como eu, só participou de carnavais em clubes, na infância, com direito a lança perfume Rodouro. E chegou a ver alguns desfiles, ainda informais, na Av. São João. Mas o carnaval atual não me interessa de nenhum modo. Essa rica pasteurização oficializada, em que tudo fica pomposo e igual, as músicas sem expressão, tão diferentes das brilhantes marchinhas do passado.
Enfim, foi um Carnaval que passou...

joaquim ignacio disse...

Miguel, concordo com suas posições em relação ao Carnaval. Acabou! Não existe mais carnaval! O que existe é um programa de TV, chato, repetitivo ano após ano, com "jornalistas" desinformados falando bobagens durante horas seguidas, com entrevistas com os tais "carnavalescos" deitando falação a respeito de lantejoulas, strasses, luzes, etc... Escolas de Samba com alas sonolentas, sambas horríveis "decompostos" por 19 "descompositores". "Une pagliacée" (opa!).
Jornalista da Globo entrevistando, em inglês, um turista americano (daqueles bem caipiras, do Kansas!):- Está gostando do Carnaval? O que voce acha da mulher brasileira?...
É, Miguel! Acabou, acabou...
50 anos atrás os foliões iam atrás do último cordão, lembra?: - É hoje só, amanhã não tem mais, é hoje só, amanhã não tem mais...
Acabou o nosso carnaval,
Ninguém ouve mais cantar canções...

abraço do Ignacio

Miguel S. G. Chammas disse...

Pois é Saidenberg, foram grandes e inesquecíveis momentos.Valeram demais.

Miguel S. G. Chammas disse...

Ignacio, lembro sim, lembro de muiita coisa, lembro até dos Bailes do Royal no Cine Odeon. Tinham as "meninas" fantasiadas de marinheiro, as "bichas" todas edmperequetadas e nós, foliões, tirando sarro de tudo.

joaquim ignacio disse...

Miguel, antes da existência da tal Liga que "comanda" o carnaval de São Paulo, fiz parte do Depto. Cultural da UESP (União das Escolas de Samba Paulistanas), durante a gestão do Betinho, filho do Nenê (V. Matilde). Em reunião, fiz a proposta de acrescer-se uma Ala dos Cordões em homenagem aos antigos carnavais de São Paulo(ala obrigatória e valendo nota)nas Escolas de Samba e a presença de Mestre Sala e Porta Bandeira de maneira também obrigatória, mas não valendo nota. A não presença dessa ala de 02 componentes incorreria em perda de pontos. Quase fui linchado pelos presidentes e "carnavalescos", deveria haver mais despesas, POUCO OU NENHUM LUCRO, etc...
De modos e de maneiras que não adianta falar, deblaterar, invocar tradições, etc. Hoje em dia não existe uma única institução carnavalesca que não esteja infiltrada e dominada pelo banditismo, pelo PCC (Primeiro Comand do Crime), inclusive a nossa Vai Vai. As Esolas tornaram-se lugares perigosos.
Uma pena!
Ignacio

Miguel S. G. Chammas disse...

Ignacio, se a tua proposta de trornar obrigatória a homenagem aos Cordões Carnavalescos fossed aceita, o que seria das "escolas" (em letras minusculas mesmo) surgidas do nada, ou melhor,nas gerais dos estádios de futebol e com um passado ligado às bandinhas furiosas,qaue proliferavam entre as torcidas?

Laruccia disse...

Alegres recordações carnavalescas, Miguel, eram bem divertidas as festividades momísticas, principalmente as marchinhas que ficaram gravadas até hoje em nossos corações. Parabéns, Miguel.
Laruccia

Wilson Natale disse...

É, Miguel. O caranaval era do povo. Hoje é uma empresa...
Ficaram as marchinhas saborosas a nos lembrar que omos felizes.
Éramos "pierrots" apaixonados chorando por colombinas e preocupados porque a jardineira estava tão triste.
Vestíamos a nossa camisa listada e saíamos por aí... E as águas rolavam e garrafas cheias não sobravam. Entre a linda pastoura e a espanhola original da catalunha, lamentávamos a Aurora, olhando para aqueles confetes, pedacinhos coloridos de saudade...
Mas é carnaval! Ô abre alas, que eu quero passar!
E a estrela d'alva vai me ver no banho da Dorotéa, nos salões do "Parmêra" e do Juventus; vai me ver na avenida da memória. Eu Pierrot, a Colombina e o Arlequim... Histórias de um amor assim, assim...
Delícia de texto, Miguel!
Valeu!
Abração,
Natal

Miguel S. G. Chammas disse...

Pois é Mô, as marchinhas fiucaram gravadas em nossos cortações e naquels bolachões de acetato, negros e frágeis.

Miguel S. G. Chammas disse...

Natale, meu texto foi um simples grito de saudades, um retorno emocionado aos festejos de antigamente. ]
Porém, tão bem complementado por seu lindo comentário, tornou-se um documento de alta sensibilidade.
Obrigado amigo pelo auxilio memorial.

Wilson Natale disse...

Miguel:
Lembrando as marchinhas de carnaval, lembrando o "Abre-alas", lembrei também que, ontem,17/10/11 é a data do 164º aniversário dos nascimento de Chiquinha Gonzaga.
O tempo passa e o Abre-Alas fica!
Abração,
Natale

Arthur Miranda - tutu disse...

Eu como sou muito "jovem" praticamente pouco me lembro do Carnaval do passado, Nunca fui a touradas de Madri, nem sei Cade Zaza,
Zaza, Zaza, que dizem que saiu dizendo que ia ali e já voltava já, e ao que parece não voltou, não sei por que por que será. Nem sei por que o teu cabelo não nega Mulata, nem por que és mulata na cor. Mas digo, Tomara que chova trés sem parar, pois não importa que a Mula manque o que quero é rosetar, No carnaval Só quero muitos risos muita alegria,e mais de mil palhaços no salão e não nos Sambódromos, vendo esse ridículo carnaval que eles se atrevem a dizer que é um carnaval de rua. Só se for da rua da Amargura. Parabéns Mestre Miguel.

Soninha disse...

Olá,amor!

Seu texto me levou à minha infância, quano meu amado pai nos levava para assistir aos desfiles de escolas de samba,na Av.Tiradentes... para nós,crianças,super cansativo...até dormiamos no colo de meu pai e de minha mãe.
Mas,me fez lembrar também das matinês carnavalescas, nos salões da Antártica,na Mooca, ou do clube da Portuguesa, no Pari, e no Juventus,no Parque da Mooca...
Que bacana!
As marchinhas??? Estãoem nossa boca até hoje! Show!
Valeu!
Muita paz! Beijosssssss

Zeca disse...

.

Miguel!

Como sempre, tecendo, com os fios da memória, belas e saudosas crônicas que acabam puxando, como nos antigos cordões de carnaval, outras crônicas tecidas a partir das delicadas e deliciosas marchinhas que todos nós guardamos no coração!
Hoje temos belos espetáculos teatrais, montados para turista ver, sob o trabalho quase escravo dos resistentes amantes do carnaval. Mas lá no fundo dos corações dessas pessoas, tenho certeza de que soam ainda os antigos sons, as antigas marcha-rancho, as marchinhas que nos alegravam.
E como disse alguém, hoje, ao invés do povo, quem mais lucra com tudo isso é a bandidagem que já tomou conta do nosso país. Afinal, eles estão até mesmo entre os nossos políticos!
E eles, ao invés de cantarem ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí, já vão logo metendo as mãos em nossos bolsos e tirando nossos trocadinhos sem pedir permissão. Assim como nos tiraram o carnaval!
Parabéns pelo texto!

Abraço

.

m disse...

Miguel,meu pai fazia nosso carnaval de rua, lá no bairro da Penha. A garotada se divertia muito com direito a serpentina, confete e todas as marchinhas que você citou. Aprecio sim o carnaval de hoje, apesar de tudo.Muito bom relembrar o passado para compreender o presente.Adorei seu texto.Um grande beijo.

margarida disse...

Miguel,meu pai fazia nosso carnaval de rua, lá no bairro da Penha. A garotada se divertia muito com direito a serpentina, confete e todas as marchinhas que você citou. Aprecio sim o carnaval de hoje, apesar de tudo.Muito bom relembrar o passado para compreender o presente.Adorei seu texto.Um grande beijo.

margarida disse...

Miguel, saiu duas vezes meu comentário, não sei como retirar.bjs

Anônimo disse...

DO CARNAVAL, me lembro da marchinha de Haroldo Lobo, "A HISTORIA DA MAÇÃ" gravada pelo caricaturista do samba.
"A história da maçã
É pura fantasia
Maçã igual aquela
O Papai também comia

Eu li num almanaque
Que num dia, de manhã
(Mário Lopomo)
Adão estava com fome
E comeu a tal maçã

Comeu com casca e tudo
Não deixando nem semente
Depois botou a culpa
Na pobre da serpente"

suely aparecida schraner disse...

Miguel,"quem sabe sabe". Sabe fazer das boas lembranças esta linda e instrutiva crônica. Abraço.