quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Memórias cinematográficas


Época: 1955
Local: Rua São Bento – São Paulo – BR
Locação: Cine Rosário
Participantes: Eu e meu tio João Kalil Hojaij Neto
Uma da tarde, sem qualquer aviso ou preparo (como era soer acontecer), meu tio, ainda namorando com minha tia Zazá, chega em casa e, com aquele vozeirão habitual, vai me chamando desde a porta de entrada.
-Miguelzinho...Miguelzinho...
Apareço na porta do quarto em que dormíamos meu pai, minha mãe eu e meu irmão; ele, meu tio, me olhando espantado disse: - Ainda não está pronto? E sorrindo comanda: - Vai se trocar que nós vamos sair.
Não esperei uma segunda ordem. Corri para trocar de roupa, em poucos minutos estava pronto para sair e enfrentar uma nova aventura.
Aonde vamos? Perguntei curioso. A resposta foi rápida e lacônica: - Sair...
Despedimo-nos, eu de minha mãe, meu tio da namorada e saímos. Ônibus na Augusta com destino ao vale do Anhangabaú, ponto final embaixo do Viaduto do Chá. Subimos as escadarias da Galeria Prestes Maia (ainda sem as famosas escadas rolantes), chegamos à Praça do Patriarca e nos dirigimos para a Rua São Bento. Alguns passos mais e estávamos em frente à bilheteria do Cine Rosário.
Dei uma olhada nos cartazes e descobri que o filme em cartaz era O GAVIÃO E A FLECHA, ESTRELADO POR Burt Lancaster e a linda Virginia Mayo.
Enchi meus pulmões e dei um suspiro dos mais expressivos. Novamente meu tio me fazia a vontade.
Bilhetes comprados, entramos no cinema.
O Cine Rosário tinha uma característica especial, a tela ficava na parte de trás da sala de projeções, assim que você entrava, via à sua frente e até o final da sala apenas as cadeiras, a tela estava às suas costas.
Esclarecimentos prestados, vamos à continuação desta lembrança.
O filme tinha como cenário a Lombardia do século XII , o vilarejo se defendia dos invasores do Rei Frederico, Dardo (Burt Lancaster) era o líder dos camponeses que lutavam contra o Conde Ulrich – O Falcão. Não pretendo, aqui, fazer um condensado do filme, no meu entender um ótimo espetáculo. Apenas e tão somente, quero registrar mais uma tarde de cinema nos idos da minha pré adolescência.
O Burt Lancaster, que iniciou a vida como atleta e acrobata, faz nesse filme grandes proezas acrobáticas, em uma delas usando os mastros de bandeiras colocados nas aléias da muralha do castelo como trapézio, ele faz uma sequência de saltos mortais que deixava o público quase sem respirar.
Depois das lutas e acrobacias do filme, saímos do cinema e demos uma paradinha no rei da Salsicha no Largo do Café, para devorar um duplo de salsicha com mostarda acompanhado por um guaraná da Brahma bem gelada e, enfim, voltarmos para casa na velha Rua Augusta de todos os sonhos.

Por Miguel Chammas

12 comentários:

Soninha disse...

Oieee...

Que gostoso,sair do cinema e fazer um lanchinho... Principalmente num lugar tradicional de Sampa.
Ontem, hoje e sempre, Sampa com seus encantos culturais e gastronômicos.
Legal sua história com seu tio.
Valeu!
Muita paz! Beijossssssss

Wilson Natale disse...

Miguel:
As delícias de uma São Paulo, hoje perdida na multidão. Aqui e alí,para nós, ficou um fragmento de lembrança.
Quem bom lembrar do Cine Rosário que eu conhecí já decadente - um dos palácios de cinema mais requintado de São Paulo. Hoje ele virou CUT... Com o restauro do Martinelli, a gente ainda pode ver alguns resquícios do velho Rosário.
E nossas lembranças se mesclam: Burt Lancaster, o herói da criançada e adolescentes - o herói que todos gostaríamos de ser...
E o GAVIÃO E A FLECHA, que por anos permaneceu na telona por anos e anos e continuou nos alegrando na telinha da TV.
Lembro de outro filme grnadioso do Burt: TRAPÉZIO, com o Tony Curtis e Gina Lollobrigida.
Boa tembém foi a sua lembrança da Galeria Prestes Maia e da então inexistente escadas rolantes, a primeira escada pública do Brasil.
E, claro, bom foi reviver esse momento junto ao seu "zio"!!!
Abração,
Natale

Miguel S. G. Chammas disse...

Lanchinho não amo, lanchão. Era um pãozinho com duas salsichas enormes que nem saltavam pelas duas extremidades e super bezuntadas de mostarda.
Ai que dilí
cia......

Miguel S. G. Chammas disse...

Pois é Natale, toda vez que memórias assomam nossas idéias, nós vivemos novamente. Este é o melhor remédio para não se envelhecer rapidamente.

Arthur Miranda disse...

Miguel que deliciosa historia. Senti muitas saudades, do Cine Rosário, do Filme Gavião e a Flecha,da Galeria Prestes Maia sem as escadas rolantes,e das salsichas enormes, nas quais eu nunca fui muito chegado,kkkk
Parabéns.

Miguel S. G. Chammas disse...

Tutu, que bom que te provoquei a saudades.
Ela éo combustível de nossa continuidade.
Embora a salsicha não fosse a sua pfreferência, o Rei da Salsicha deve ter marcado a sua juventude.

Laruccia disse...

Miguel, o que mais gostei da sua crônica foi a dupla de salsichas bezuntadas de mostarda. O filme foi bom (pra época) agora ele é constantemente reprisado no "eitchbió". Mas, que falta de educação a minha. Vc está falando daquela época e não de hoje. Quem tinha "tiuzão" como vc, passava bem, hein Miguel. Encantadora sua narrativa, Mickei, parabéns.
Laru

joaquim ignacio disse...

Quase 60 anos atrás, heim Miguel?! Vc está bem de memória e olhe que é bom lembrar daqueles tempos em que nós, crianças, ficávamos felizes com as coisas mais simples: um filme, um cachorro quente no "pé prá fora" do Largo do Café,a empatia com aquele famoso tio amigão...
Paz e saude.
Abraços do Ignacio

Luiz Saidenberg disse...

1955...foi o ano em que nos mudamos para São Paulo, e entramos em contato real, não só de turista, com as maravihas- muitas- e os horrores-poucos então-da Megalópolis.
Belas memórias, Miguel, dos tempos que já lá vão! Abraços.

margarida disse...

Miguel,que memória abençoada! Não lembro deste cinema, mas do Burt Lancaster sim, que galã!Meus olhos também enchiam de suspiros ao vê-lo em cena. Bom demais ir ao cinema e depois fazer um lanchinho reforçado.Gostoso seu texto. Beijos.

Zeca disse...

.

Miguel,

meados dos anos 50... foi quando nos mudamos para o Jabaquara, do qual já falei aqui mesmo. Minhas lembranças mais antigas, cinematograficamente falando, são do Cine Maringá, já comentado aqui mesmo há alguns meses.
Mas reconheço que, como você, também fui privilegiado por ter um tio que me proporcionava gostosas surpresas. Era o irmão mais novo da minha mãe, que infelizmente nos deixou há muitos anos.
Este seu belo texto (que novidade! todos são ótimos!) me levou à minha meninice e trouxe de volta as lembranças do convívio com o saudoso tio Nelson.

Abraço

.

suely aparecida schraner disse...

Obrigada por esta bela viagem cinematógráfica. Parabéns!