segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Dona Margarida


Dona Margarida nasceu em Joinville - Santa Catarina no longínquo ano de 1886. Sofreu bastante na vida, mas conseguiu criar muito bem dois filhos. Mudou-se ainda jovem para São Paulo, fixando residência na Vila Mariana e posteriormente no Parque Jabaquara, onde enviuvou. Lá morava com seu filho solteiro, o Alberto, bastante brincalhão quando jovem, solteiro e era feliz. Assim eu a via quando criança.
Quase não me lembro de seu marido, pois ele faleceu quando eu tinha apenas quatro anos de idade, e os fatos ocorridos nos primeiros anos de nossa vida são gravados de forma tênue na memória. Lembro-me, porém, que um de meus programas prediletos era passar um fim de semana inteiro com Dona Margarida: só eu e ela!
Sua casa, simples, porém espaçosa, estava localizada em um amplo terreno no qual boa parte da floresta nativa foi mantida. Como vizinhos, de ambos os lados, terrenos ainda não utilizados contando com a cobertura florestal! Quantas vezes fomos catar cogumelos, plantas e amoras silvestres! Quando eu estava lá, ela cantarolava feliz e me fazia gostosos almoços e jantares.
Lá, eu tinha um patinete (veículo sem motor, de duas rodas, no qual você se mantém em pé), com o qual eu descia a rua, mais esburacada que superfície da Lua, em desabalada carreira. Que gostoso!
- Tito! Pare já com isto! Se você se machucar, o que vou dizer a seu pai?
Mas, acreditem, nunca cai. Eu esperava os dias para voltar lá e andar no meu patinete.
Eu gostava também de sumir no meio do mato onde havia uma casa escondida! Lá, não morava ninguém. Esta casinha estava localizada no atual Parque Conceição.
-Tito! Sumiu de novo! Onde esteve?
Um dia seu filho mais novo casou e foi embora. Dona Margarida ficou sozinha. Os filhos acharam que ela não podia morar só naquele fim do mundo e ela teve de mudar-se para o Alto da Lapa, para morar com o seu filho mais velho.
A partir deste dia, Dona Margarida nunca mais foi feliz.
 
* * *
Dona Margarida era minha avó. Seu nome de batismo era Margaretha Wassermann, casada Flügge, também chamada de Oma Grete (Oma em alemão é avó).
A rua em que ela morava chamava-se das Guajuviras e hoje se chama Rua Volkswagen.

Por Roberto Flugge

11 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Linda lembrança Roberto, descrevendo um local que eu conheço muito bem.
Belissima homenagem à Da. Margarida!

marcia ovando disse...

Bela homenagem à sua Oma Grete!

Wilson Natale disse...

Flugge, lindo texto-homenagem!
Pena que Frau Margaretha não mais foi feliz.É da vida.
E ela dá vida aos seus sentimentos e lembranças.
Abração,
Natale

Arthur Miranda disse...

Flugge, Foi pena que Dona Margarida, não se deu bem no Alto da Lapa, pois o lugar é muito bonito. Bom! Pelo menos hoje em dia. Gosto muito de ler historias como essa de sua narrativa, parabéns.

Luiz Saidenberg disse...

Bela homenagem à sua Oma Grete, Roberto. O Alto da Lapa é bonito, mas há pessoas que realmente não suportam sair de um local remoto, mas paradisíaco.
Abraços.

Modesto disse...

Sempre as atitudes dos mais idosos, contrariam as espectativas dos parentes, são mal compreendidas. Existe um segredo que as vezes nem a própria pessoa sabe explicar, está habituado a uma determinada área, não irá nunca sentir-se feliz por um lugar, as vezes bem melhor. Sua narrativa é muito bonita, Roberto, trai uma sencibilidade bem humana nas descrições de sua convivência com sua avó. Parabéns, Flugge tenho certeza de que Da. Margarida está bem contente com vc.
Modesto

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Flugge, sómente estando dentro do coração da pessoa é que poderíamos avaliar seus sentimentos mas, cada um tem sua maneira de viver, parabéns pela homenagem que você presta à sua querida vovó, abraços, Nelinho.

margarida disse...

Roberto, que orgulho sentiria sua vovó lendo esta sua homenagem.Adoro historias de familia, são as mais verdadeiras, vivenciadas e cheias de emoção. É assim que vejo a sua...um grande beijo.

suely aparecida schraner disse...

Que bonito,Roberto! Sua vó de onde estiver certamente estará orgulhosa de você. Abraços.

Soninha disse...

Olá, Roberto!

Lembrar de avó é tão bom, né!
Tenho muita saudade de minha avó.
Suas fotos esão ótimas e Dona Margarida está super feliz segurano você ao colo.
Olha como vc era bonitinhoooooo! rss
Valeu, Roberto!
Obrigada.
Muita paz!

Zeca disse...

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Roberto!

Bela e sensível história, recheada de emoção e saudade! E com ela você presta uma bela homenagem à sua "Oma Grete", que deve estar agora, feliz e orgulhosa do neto que tantas alegrias lhe deu.
E neste belo texto descobri que temos algo em comum: o apelido! Meu apelido familiar e de infância também é Tito! O motivo é que, antes de aprender a falar, eu dançava batendo o pé no chão e cantarolava repetidamente apenas duas sílabas: "tito-tito-tito-tito"...

Parabéns pela homenagem!

Abraço.

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