terça-feira, 23 de agosto de 2011

Memórias sem nome


Antigamente eu guardava papéis! Eram papéis de todas as formas e tamanhos, oficiais e extra-oficiais, rascunhos ou originais, velhos ou novos, o importante é que eram papéis e meus.

Essa mania me rendeu muitas brigas familiares. Muitas surpresas, geralmente agradáveis, pois encontrava um texto, uma anotação e até um registro profissional há muito esquecido e que me seria de grande valia naquele exato momento.

Depois, com o advento e o fortalecimento da informática, tive que ir me adaptando aos novos tempos. Então, os guardados passaram a ser digitalizados.

Maldito advento! Quanta coisa que eu sonhava estar bem guardada, perdeu-se com os constantes “paus” nos equipamentos e, lógico, as trocas de HD’s, as formatações etc e tal e cousa e louza e maripousa, como diria um comentarista esportivo de nossos tempos.

A troca não foi das melhores. Os papéis colecionados ficavam amarelecidos, mas continuavam tendo seus registros preservados, enquanto os arquivos digitalizados se perderam no espaço. Perdi muita coisa, textos, fotos, anotações, trabalhos, perdi inclusive, uma poesia feita em homenagem ao meu neto Rafael e que jamais será substituída.

Ora muito bem, toda essa lenga lenga foi elaborada para servir de preâmbulo a um fato novo (?) que acredito ser válido de registro. Vamos a ele: Outro dia, com receio de que outro “pau” acometesse o HD do meu Noteboock, resolvi fazer uma varredura intensa e pormenorizada. Fiz, inclusive, a varredura de muitos CD’s que foram utilizados como backup em tempos passados.

Surpresa! Muitos CD’s sequer abriram, outros abriram parcialmente, e eu, pacientemente, fui vendo cada um dos registros guardados, surpreendendo-me com alguns, deletando outros, relendo velhos textos e, num exato momento, deparei com um arquivo denominado MIGUEL CHAMMAS; curioso, cliquei para abrir e, quando aberto, percebi que era um texto. De certo era um texto de minha autoria, que eu tinha guardado e não mais me lembrava. Comecei a leitura e fui me interessando cada vez mais. Ao final do texto que muito me emocionou, uma onda de rancor se apoderou de meus sentimentos. Tinha guardado o texto, mas, “expert” em assuntos informáticos, não tivera o cuidado de registrar o seu autor. Tentei, de todas as formas, lembrar o nome do referido e nada, resolvi, então, publicá-lo neste site na esperança que o autor se identifique novamente.

Assim sendo, vamos ao texto:

MIGUEL CHAMMAS!
Certamente, Miguel, temos algumas identidades. Teus "meia" sete e meus "meia" quatro nos fazem contemporâneos e nossas histórias nos mostram peregrinos por mesmas noites, iguais caminhos.
Muitas dessas identidades só se farão confirmar se trocarmos nossas saudades, mas, uma delas já podemos afirmar: ambos amamos Sampa desmedidamente.
É muito provável já termos repartido espaços, quer na calçada do Pari Bar, quer na pista do velho Lilás, quer até mesmo na ante-sala da Madame Cristiane. Podemos ter comido pedaços da mesma "redonda", na Ayrosa; esperado com a mesma ansiedade a coalhada da Kibelandia; saboreado com o mesmo prazer a salada de batata e o salsichão da Salada Paulista.
Com as garotas que aguardamos à frente do Mappin, podemos ter assistido à mesma sessão do Ouro ou do Marrocos, antes de as levarmos ao Brahma e encantá-las, pedindo suas músicas preferidas, ao sempre bom pianista de plantão.
Pouco antes desse tempo, quando eu ainda aluno da Caetano de Campos, pode ser que batemos pé e gritamos numa mesma sessão ZIG ZAG do Cine Metro, ou aguardamos para cortar os cabelos numa das cadeiras "Dysneyanas" da Casa Clô. E se por acaso nos encontramos num Carnaval, pelos lados da Avenida São João, prometa não contar a ninguém que aquele magrelo fantasiado de cow-boy era eu.
Embora tenha conhecido a Laura Garcia, muito pouco frequentei suas casas, não sendo elas minha "praia". Me habituei, ao copiar meu pai, com uma boemia* mais saudável, o que, parece, também nos identifica, mas pode ser que, levado por algum solteiro à beira do cadafalso, cobiçamos a mesma carne no La Licorne.
E por falar em carne, agora no bom sentido, será que não disputamos o mesmo ar rarefeito que se formava no Churrasqueto da Dom José de Barros? Abafado, não? Mas valia a pena! Ou ainda pode ter sido no Eduardo's, um pioneiro do rodízio. E por que não no Moraes, o rei do filé? Não desprezo também a possibilidade de termos sido atraídos, ao mesmo tempo, pelo ossobuco do Giovanni, o porpettone do Gato que Ri ou a lingüiça "de Bragança" daquela portinha em frente da Casa Manon, afinal estamos falando de carnes...
Outra grande possibilidade de termos estado próximos vem do "tributo às origens", ou seja uma constante freqüência ao Almanara, da Basílio da Gama ou ao Jacob, do beco da Vinte e Cinco, ou ainda aquele cujo nome me escapa, na Barão de Duprat, referências que levam minha emoção ao auge, por serem alguns dos locais onde eu mais fui com o Feiez, das Casas Lima.
Embora árabe de sangue, acredito que Você, de vida mais privilegiada, nunca tenha comido a esfiha dupla do Paco, nos baixos da Ladeira Porto Geral ou um kafta com arroz e tabule, num boteco do mesmo beco onde brilha o Jacob. Se assim foi, Você não sabe o que perdeu!
Pelo que te admiro, gostaria muito de ter compartilhado de tua Felicidade. Não que não tenha sido feliz, também, mas porque a tua, ao menos no que a traduzes, só pode ser escrita com F maiúsculo. Graças a Deus que nos abriram as páginas do São Paulo Minha Cidade e pude mergulhar em teus textos e assim, mesmo que de forma virtual, caminhar com Você por tuas referências. Teria sido melhor, com certeza, a realidade, mas na sua total impossibilidade (o tempo não volta!), a virtualidade já me basta.
Miguel, todo esse intróito, esses volteios, é prá te afirmar o quanto me emocionaram tuas palavras, mesmo sabendo-as engrandecidas por tua generosidade.
Estou arquivando no mesmo baú de memórias em que guardo meus mais felizes e inesquecíveis instantes paulistanos, o comentário com que me brindaste. Um dia ainda quero abrir esse baú à tua frente. Um dia em que o amanhã de nossas agendas não registre nenhuma anotação ou então que o tempo pare, para dar espaço a tanta Felicidade que temos para reviver!
Se não for em Sampa, que seja na Long Beach onde esse velho lobo ainda se faz rei. E poderá ser no puxado do Bar da Costa e Silva com a Castelo Branco, onde me vejo agora a comer mariscos, servido pelo pequenino velho espanhol, já há muito servindo ostras ao Senhor.
Seja onde for, ainda quero te agradecer pessoalmente as imerecidas palavras e talvez junto contigo compor mais um texto de louvor ao nosso Amor comum, nossa São Paulo. Um texto em que ditarás o tema e conduzirás a escrita e eu, aqui ou ali, entre acanhado e muito feliz, me atreverei a palpitar. Pois não é assim que se devem comportar Mestre e discípulo?
Um abração. E até!
e.t - E se levares a Mariana, não ficarei por baixo: levo o meu Felipe!

 
Por MiguelChammas

15 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Por favor amigo velho e velho amigo, identifique-se.

ESTANISLAU disse...

Miguel. quantas coincidencias comigo, também tenho essa mania de guardar jornais, documentos, livros, material academico desde o primario,etc.
Hoje alem da informatização , continuo com meu arquivo de papeis em pleno serviço e cópis no micro.
Os papeis temos que nos cuidar das traças e cupinse desgatres do tempo e no micro perde-los, mesmo no HD, tanto como em CD E DVD.
A dica é, fazer back-up em duplicidade e salvar os dados em HD separado.
Creio que voce seja de Touro, apesar de não seguir horoscopo, mas dizem que esse signo como eu, tem esses hábitos.
Parabéns pelo texto e que o autor apareça .
Abraços
Estan

Luiz Saidenberg disse...

Que belo texto, Miguel. Parece, em alguns pontos, ter sido escrito por você mesmo, tais as referências gastronômicas e teatrais. Será o seu alter ego?
O Duplo? Mas, se não é, parece-me impossível não identificá-lo, tal a intimidade do tratamento e o compartilhar dos mesmos lugares. Se fala no SPMC, tb não pode ser coisa antiga, pelo contrário.
Belo mistério, meu caro Watson...

marcia ovando disse...

E agora Miguel? Como encontrar o autor? Mistérios....
Vai ver que o texto é seu mesmo.
abraço

Soninha disse...

Oie!

Sabe,pela forma de escrever,não consigo imaginar que seja o Nelinho...Quem sabe o Chiappeta?! Sei lá!
Mas,o importante é que foram palavras ditas com as tintas do coração,como você mesmo diz...
Provavelmente tem um neto chamado Felipe...
Não importa!
Mas,tratedecuidar melhor de seus documentos virtuais ou não.rss
Valeu!
Muita paz! Bjsssssss

Modesto disse...

Oh, Miguel, finalmente vc me descobriu..., desculpe não ter assinado o texto. Nunca poderia ter assinado e nem agradecer porque não fui eu o autor desse maravilhoso texto. Te peguei, hein? Desculpe a brincadeira mas, o autor deve ser um conhecedor profundo de sua vida privada, Chammas. Ele se aprofunda em detalhes do presente, passado e quem sabe, até do futuro. Vamos aguardar que ele se manifeste, se é que ele ainda está entre nós. Estou apostando que sim. Um bom mistério pra Herculet Poirot.
Parabéns Miguel
Modesto

Arthur Miranda - Tutu disse...

Oi Miguel, fique tranquilo, esse texto é mesmo do outro mundo, você deve te-lo psicografado enquanto dormia. kkkkk Vou chama-lo de agora em diante de Miguel "Xavier" Chammas, nascido em Pedro Leopoldo-MG e Criado em Uberaba. Valeu Miguel, desculpe a brincadeira espero que esse, autor não se esqueça e apareça.

Miguel S. G. Chammas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel S. G. Chammas disse...

Amigos, acho que o misterio esta resolvido. Fiz algumas várias pesquisas no sitedo SPMC e chegue à conclusão que o autor desta mensagem foi o amigo LUIZ CARLOS GUSMAN.
JÁ ENTREI EM CONTATO COM ELE VIA E-MAIL E ESTOU ESPERANDO PELA RESPOSTA, QUE PEÇO A DEUS VENHA LOGO.
DEPOIS CONTO O DESFECHO.

Zeca disse...

Miguel!

Só posso agradecer pelo duplo brinde que nos destes hoje! São dois textos que, pela linguagem semelhante, bem poderiam ter sido escritos pela mesma pessoa! E ambos de deliciosa leitura!
No segundo, um passeio pela São Paulo de ontem, passando por lugares onde também eu estive, certamente alguns anos depois. Dito isto, fica claro que eu não poderia ser o autor; pela diferença de idade (ele declara 64 anos e eu ainda não cheguei lá) e pela incapacidade de assemelhar-me, na escrita, ao grande mestre que é você!
E no primeiro, identifico-me totalmente com você, velhamigodopeito! Eu também guardava papéis de tudo quanto é tipo e, quando resolví substituí-los por arquivos digitalizados. Também eu perdi tanta coisa! Fotos, papéis, velhos escritos...
Enfim, é sempre muito bom ler um texto teu! E quando vem em dose dupla (o outro bem poderia ser ter, já que a linguagem é tão parecida!), melhor ainda!

Abraço.

Wilson Natale disse...

Miguel: Óia eu aqui tra veiz! (risos)
Seja de quem for, o texto é ótimo!
E você abrindo o baú, encontrou um esqueleto que deveria estar em um armário (risos).
O autor afirma que vc tinha 67 anos. Em que ano vc fez 67? Pois esse ano é o ano em que deve existir um texto desse amigo seu no SPMC ou no extinto VIVASP.
Esse texto parece ser de um dos amigos escritores bexiguenses.
Quem será esse Odette Roitmann que está matando de curiosidade o nosso Salomon Miguel Chammas Ayala?...
Os próximos capítulos dirão!
Abração,
Natale

Miguel S. G. Chammas disse...

Natale, o meu Sherlok já descobriu, trata-se do grande Luiz Carlos Gusman que desde Dezembro ded 2010 está ausente das páginas do SPMC.
Mandei mendagem para ele e até agora nada de resposta.

Miguel S. G. Chammas disse...

Natale, o meu Sherlok já descobriu, trata-se do grande Luiz Carlos Gusman que desde Dezembro ded 2010 está ausente das páginas do SPMC.
Mandei mendagem para ele e até agora nada de resposta.

Luiz Carlos Gusman disse...

Ah, Miguel,
continuas mesmo perdido entre os momentos de viver tuas tão felizes saudades e os de buscar as mensagens que fazes por merecer, em tua caixa postal virtual.
Eu também - confesso - se tivesse plantado um jardim de vivos instantes de Felicidade, não me ocuparia de outra coisa que não de revivê-las.
Só lhe peço perdão pelo texto: a intenção foi muito grande, só que os meios... Desculpe-me: foi o máximo que consegui!
E a todos os que o elogiaram, em momentos em que a razão cedeu espaço à emoção, Deus lhes pague!
Um abração a todos
Luiz Carlos Gusman

Miguel S. G. Chammas disse...

Gusman, mesmo perdido eu te encontrei antds de você se identificar, isso prova que estousupimpa em reflexose conentração.
Foi grande meu p´razer em reler tua mensagem e maior o prazer de te encotrarsão e gozando de plena saude.
`Precisamos marcarnosso (re)encontro.
Quem sabe numa rodada de redondas?