quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Soy latino americano


Sobre um tapete mágico eu vou cantando,
sempre um chão sob os pés, mas longe do chão...
Sobrevôo a Baia da Guanabara,
roço as mangueiras de Belém do Pará,
paro sobre a Paulista de madrugada...

Penso nos versos de Caetano ao pisar, como na música, alguns metros
acima, não só da Paulista,
da Guanabara, mas, das linhas de Nazca, no Peru; da Ilha de Marajó...
ali estão as pirâmides maias, ali a selva amazônica, ali a Ilha de
Cuba, ali galeões e transatlânticos nas zonas costeiras.
A Ilha de Pácoa, com seus misteriosos moais, enigma nunca solvido.
Onde? Sobre um mágico tapete de vidro, na seção de folclore do
Memorial da America Latina.
Ali somos recebidos por uma enorme mão espalmada.
Poderia significar Pare, mas, de sua palma corre um filete de sangue.
É America Latina que nos recebe, convidando a partilhar de seu sangre caliente, tantas vezes derramado em guerras coloniais e territoriais, sob caudilhos e ditaduras truculentas. Indios, espanhois, portugueses, franceses, holandeses, negros, suaram e morreram em e por seu vasto território.

Ao redor do piso, magnífica coleção de máscaras, esculturas, joias e cerâmicas dos diversos paises. Chapéus Panamá, vizinhos das àrvores da vida peruanas, dos esqueletos mexicanos, La Muerte em papel machê, dos presépios bolivianos, dos entalhes mineiros.

Trajes rituais, carantonhas em madeira, mamulengos nordestinos. Potes e louças resplendentes em sua poderosa rudeza.

Riqueza folclórica infinita, brotando do solo regado a sangue, símbolo da exuberância latina, do exagero nos sentimentos e tudo mais, sangue transmutado em ouro, bronze, barro, madeira, pano, papel.

Na saída, ao lado, o restaurante. Somos recebidos por outro latino, este mais próximo ainda do Lácio: um senhor italiano, pai de irrequieta filhinha, que bem poderia ser sua neta.

Mas, não vamos comer; contentamo-nos com um expresso, enquanto converso com mais este que veio tentar a vida no Novo Mundo, e já com
suas aventuras para contar daqui, como um dos antigos conquistadores.
Desejo-lhe boa sorte, na ampla mão espalmada da América Latina.

As obras de Niemeyer nos cercam das redondezas, os vastos espaços vazios, as palmeiras geométricamente alinhadas com o concreto como numa paisagem abstrata, ou num quadro de Picasso, ou Braque.

Afastamo-nos, e agora, en la distancia, a grande mão parece nos dar adeus.
Ou, até breve, nobre Memorial.

Por Luiz Saidenberg

8 comentários:

Soninha disse...

Olá, Luiz!

Que bacana!
Eu sou suspeita em falar,pois eu adoro ir visitar o Memorial da América Latina,um ponto turístico e cultural muito importante de Sampa.
Quando estamos lá, realmente remontamos a hisória do povo latino, entre os quais está o povo brasileiro também, e sentio-nos emocionados.
São Paulo e suas coisas boas, não é mesmo?!
A r4cepção do senhor latino, do restaurante,veio bem a calhar,para este mês dos pais.
Bacana!
Valeu, Luiz!
Obrigada.
Muita paz!

Soninha disse...

Oie...
Perdoe-me os erros de digitação!
Ainda o teclado de meu velho e bom notebook!
So sorry!
Mais paz!

Miguel S. G. Chammas disse...

Luiz, granded homenagedma America mesmo por que Soy Loco por ti America e, \continuo, por todaa eternidade sendo o mdxsmo pai dos meus filhos.
Valeu amigo!

Arthur Miranda - Tutu disse...

Saidenberg, belo texto retratando toda a riqueza histórica do nosso querido e amado solo Latino palco de tantas lutas e conquistas, parabéns amigo.

Laruccia disse...

Ao descer desse tapete voador, como vc sugere fiquei encantado com o resultado dessa visão aérea. Realmente a mão que nos recebe, não significa um patético apelo de clemência, de dor e nem de revolta. É simplesmente lembrar sempre o passado tenebroso de determinados paises da Europa sobre suas sangrentas conquistas. Gostei muito do seu texto, Luiz, parabéns.
Laruccia

suely aparecida schraner disse...

Lindo! Me remeteu ao meu "sangue latino a à minha alma cativa". Valeu! Abração!

Zeca disse...

Olá, Saidenberg!

Bela homenagem ao Memorial, um tanto esquecido pelos paulistas, um tanto confundido com palco de manifestações folclóricas, um tanto relegado ao esquecimento ou mesmo descaso, mas rico em manifestações, em sifnificados, em simbologias. Como você bem comparou, no final: uma obra de arte!

Abraço.

Wilson Natale disse...

Saidenberg,
Belo texto!
Eu adoro o Memorial. Ali, entre as tantas coisas boas que vi está a exposição apaixonante e perturbdora das obras de Botero.
Abração,
Natale