sábado, 27 de agosto de 2011

Histórias da Light - 1ª parte


O “ladrãozinho safado”
Vocês, que já dobraram o “cabo da boa esperança” e ainda não se “tocaram”, devem se lembrar da época de se pagar a conta de luz na própria Light, lá na Xavier de Toledo. Lembram? Pros que estão na margem de cá, do “cabo”, vou expor como eram estas cobranças.
A Light, (antiga mantenedora da distribuição de energia elétrica pra São Paulo, que agora atende pela sigla “AES Eletropaulo”), enviava a todas as residências que tinham energia ligada, evidentemente, uma folha de papel no formato retangular, onde vinha o nome, endereço, consumo, valor da conta, vencimento e os três reloginhos que identificavam os marcadores de consumo para o caso de reclamação, exigência que vigora até hoje e outras informações.
Isso na década de 40, eu tinha meus dez ou doze anos.
Meu pai me instruiu pra ir pagar a conta de luz que vencia naquele dia. Sai da rua Alfandega, peguei a rua do Gasômetro, subi a General Carneiro, largo do Tezouro, rua XV, Direita, viaduto do Chá e pronto, Ligth. Tinha uma fila de dez pessoas, mais ou menos, e na minha frente, uma senhora de seus 50 ou 60 anos, por aí. Aí, começou a tragicomédia. Trazia em minha mão direita, bem apertada, a conta e o dinheiro, deveria sobrar uns trocados.
A senhora à minha frente começou a olhar pelo chão ao seu redor e, vez ou outra, me encarava, como se fosse me devorar. Olhei atrás de mim, pensando se era com outra pessoa, mas não, era comigo mesmo. Sustentei seu olhar pra ver o que ela queria. Olhando nos meus olhos disse em voz alta: “ladrãozinho safado, você roubou meu dinheiro, quero meu dinheiro já, preciso pagar minha conta, vou chamar o guarda, ele vai te prender.” Eu, segurando o meu dinheiro, garoto, não tinha nem bolsos nas calças curtas, veio o guarda-civil e me perguntou se eu tinha tirado o dinheiro da senhora.
Mostrei meu dinheiro, a conta e convenci o guarda que não tinha tirado nada dela. Ela berrava bem alto que eu tinha roubado dela. Me enfezei e parti pra ignorância, chinguei a mulher e o guarda percebeu que eu era inocente e a mulher não “batia” bem com a cabeça. Todas as pessoas da fila viram que eu não tinha feito nada. Aí, o guarda me chamou de lado e me mandou pra casa.
Antes de ir embora, falei: – preciso pagar a minha conta. A mulher estava sentada numa cadeira e vociferava: foi ele, tenho certeza, onde está o dinheiro da conta? O guarda, sem cerimônia, revirou a bolsa dela e lá estava o dinheiro e a conta. O guarda me olhou, deu uma piscadela, encolheu os ombros, com as duas palmas das mãos na frente, como quem diz, que é que se vai fazer?
Essa foi a primeira tentativa de um pseudo-assalto em que tive participação neutra.

Por Modesto Laruccia

9 comentários:

lia.ferrero@hotmail.com disse...

Neutra, não!
O Sr. foi o réu, o pivô, o "escolhido" da louca (que pensava
ser esperta)! rs

Luiz Saidenberg disse...

Caro Modesto, bem vc, como o Zeca Paes, poderia processar tal senhora por perjúrio, calúnia e falso testemunho...brincadeira, mas tinha, e tem, muito louco a solta em São Paulo. Que baita azar, topar com essa desagradável criatura. E que sorte topar com um guarda muito humano e compreensivo, muito longe e antes dos abusos e truculências das "otoridades" dos maus tempos da ditadura...grande abraço.

Miguel S. G. Chammas disse...

Caro Modesto, quer dizer que desde criança você causa furor.
Vai ver que a balzaquena estava afim de você e preparou toda a encenação pra depois, te livrar a cara e passar por boazinha, ganhando alguns favores em troca.
Que pilantragem da grossa.

Wilson Natale disse...

Porca miséria, Larù! Por pouco vc num mi foi pará nu Juizado di Menores, como um "ladro senzavergogna". Ahahahaaaaaaa!!!
E a vecchia era uma safada,ou então, uma trambiqueira. Sorte sua o "poliziotto" ter salvado a sua pele.
E você é um maldoso: Tá certo que io já dobrei o Cabo da Boa Esperança e foi bom relembrar esse tempo da Light (no meu tempo a conta já era paga nos bancos. As das firmas - sempre em atraso - eram pagas lá), mas precisava me fazer lembrar desse certificado de ligação de luz que, juntocom o certificado do gás, na minha casa ficava em um quadrinho, atrás da porta dacozinha. Ahahahaaaaaa!
E precisava fazer eu lembrar que, como na ilustração acima, usava-se estampilhas em tudo quanto era documento. Precisava, bello? Ahahahaaaaaaa!
Bacio in testa,
Natale

Soninha disse...

Olá, Modesto!

Espertalhões tem e teve em todosos temoos,não é mesmo?!
Felizmente,naquela época, os seguranças ainda observavam acertadamente e ouviam as pessoas, sem julgá-las sem mais nem menos.
Foi bom que terminou tudo bem para você.
Valeu!
Obrigada.
Muita paz!

joaquim ignacio disse...

Sr Modesto, eu também era escalado para pagar a conta da Light quando criança e até que gostava pois saia de casa um pouco, mas, 'sejemos' sinceros, aquelas filas eram um "pé", principalmente quando toda São Paulo resolvia pagar as contas ao mesmo tempo em dias chuvosos e as filas se estendiam pela calçada do viaduto... O sr está lembrado daquelas esculturas na areia que um artista fazia no topo da escadaria do viaduto do Chá? Toda vez que passo por lá, lembro-me das eculturas e das filas...
Quanto à sua história, mas que azar, heim? Tanta gente na cidade e o sr dá de cara com uma 'muié pobrema'!
Abraço do Ignacio

Zeca disse...

Modesto!

Mais uma das suas belas histórias ilustrando um pouco das muitas histórias que envolvem a construção da nossa amada São Paulo!
Sorte que naquela época os policiais ainda eram confiáveis e não abusavam do poder como acontece hoje, geralmente.
Eu lembro da Light, mas creio que no meu tempo as contas já eram pagas nos bancos. Além do mais, meu pai trabalhava no Edifício Martinelli, bem pertinho do prédio da Light e, talvez, quem pagasse a conta lá fosse algum office boy do Banco da América. Mas isso eu não tenho como saber, fica apenas na suposição.
De qualquer forma, gostei bastante de mais esta história com a qual nos brinda sempre. De minha parte, só posso agradecer e esperar pelas próximas.

Abraço.

MLopomo disse...

De primeiro não se pagava conta de luz nos bancos.Tinha que ser la na Light, mesmo. Eu fui lá varias vezes. A sorte é que tinha uns 16 guiches.

Arthur Miranda - Tutu disse...

Modesto, não sei não mas nos dias atuais,e com a nossa realidade de hoje... Eu desconfio que você iria parar na Casa do Menor, e seus pais intimados.
Belo texto