sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Desabafando e exorcisando fantasmas


No seu blog Prosa e Verso (http://prosaversochammas.blogspot.com), meu querido amigo, o Miguel Chammas, publicou no dia 01 de maio, a crônica Memórias de Botequim IV, fazendo referência a uma exposição visitada por ele e sua companheira Soninha (amiga querida também) - do blog Roda de Prosa (http://rodadeprosa.blogspot.com ). Exposição essa que foi planejada e organizada por mim na galeria de arte do Banco Central do Brasil, na Avenida Paulista, em nossa amada cidade.
Na época escrevi a respeito, no meu blog (http://janelasdozeca.blogspot.com ) e no Palimpnoia (http://palimpnoia.blogspot.com ). No final dos textos “Dúvidas” de 31/03/09 e “Trivialmente” de 18/05/09, estão as notas se referindo a essa exposição. A imagem acima é de um dos mais belos quadros (minha opinião) dessa exposição. Quadro esse que foi adquirido por um colecionador português, para o qual vendi no período de um ano, vinte e uma obras do artista.
Essa exposição foi um grande sucesso de público, com grandes repercussões na carreira do artista, que teve seu nome e sua obra divulgados pela mídia, tornando-o bastante conhecido pelas pessoas envolvidas com a arte. Entre 2008 e 2009 eu organizei diversas exposições para ele, no Rio de Janeiro, em Buenos Aires e em São Paulo. Também preparei e enviei um projeto para exposição no Congresso Nacional, em Brasília e consegui o salão para setembro de 2010. Quando conjugo os verbos na primeira pessoa do singular, estou me referindo ao meu trabalho de organização, preparação, pesquisa e administração. Em momento algum estou desvalorizando a qualidade do trabalho desenvolvido pelo artista, sem a qual eu não conseguiria trabalhar.
Nesse período, organizei um mailing list, através do qual divulguei seus trabalhos por e-mail para vários países do mundo, alavancando vendas e conseguindo bons clientes e colecionadores. Os preços dos seus trabalhos triplicaram nos dois anos e alguns meses em que trabalhei para ele. Com tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, acreditei estarmos nos aproximando cada vez mais, desenvolvendo uma amizade enorme à qual atrelei minha dedicação e lealdade. A ponto de permitir que eu mesmo não recebesse nada pelo meu próprio trabalho, priorizando as despesas e “extravagâncias de artista”, que eram enormes. Depois de mais de um ano sem receber, driblando e negociando com outros credores, percebendo que aquele sucesso todo estava subindo à cabeça dele, que se tornava cada vez mais “uma estrela”, eu não aguentei e desisti.
E recebi. Indiferença e ingratidão.
Os salários e comissões atrasados, chegando a quase R$ 30.000,00, foram “negociados” entre nós, verbalmente (eu ainda acreditava na nossa amizade) e, até hoje, não vi nem a cor desse dinheiro.
Do lado positivo dessa experiência, posso dizer que aprendi muito sobre o mercado de arte. Já do lado negativo, tornei-me um pouco mais cauteloso antes de entregar a minha amizade. Nem posso dizer que levo em consideração o lado financeiro, embora envolva uma soma considerável, pois até hoje, mesmo contra todos os conselhos que tenho recebido, ainda não me decidi levá-lo a juízo.
No início do ano passado, uma cliente (minha) que já havia comprado dois quadros dele e acabou se tornando minha amiga, em função das nossas conversas e negociações, acabou se decidindo a abrir uma galeria de arte na Vila Madalena, com o nome do artista, para representá-lo na cidade. Na mesma época, o projeto enviado ao Congresso Nacional foi aprovado e a exposição precisava ter iniciados seus preparativos. Em maio (há um ano) decidi deixar de trabalhar para ele e tudo ficou paralisado. Menos a galeria da Vila Madalena, que foi inaugurada em outubro, numa bela festa. Mas aí eu já não estava participando...
A galeria que eu gerenciava aqui em Paraty acabou fechando. A exposição no Congresso Nacional não foi realizada por falta de alguém que a organizasse. A galeria de São Paulo, inaugurada em outubro passado, fechou poucos meses depois, pois ele conseguiu desentender-se com a proprietária. As vendas dos seus quadros despencaram, ele continua super endividado, sem chances aparentes de recuperação. O seu nome? Saiu completamente da mídia, totalmente desacreditado, não pela obra em si, que é boa, mas pelo caráter duvidoso da “estrela” que se desentende com todo mundo, não paga suas dívidas e conseguiu, em poucos meses, desfazer todo o trabalho de construção e solidificação de um nome no difícil mercado de arte que eu havia conseguido. Como no mundo da arte essas coisas se espalham como pólvora, acredito que será bastante difícil recuperar o prestígio perdido.
Eu lamento muito tudo isso, pois foi um trabalho que, enquanto durou, me deu enorme prazer e me trouxe novos conhecimentos e grandes experiências. Confesso que sofri muito com minha decisão, tanto que a adiei a ponto de permitir que a dívida se acumulasse tanto. E não sei explicar, nem a mim mesmo, por que não o levo à justiça.

Por Zeca Paes Guedes

6 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Zecamigão, se assim posso chamá-lo mercê da longevidade de nossa amizade, acredito também possa chamá-lo por outro adjetivo menos carinhoso, "bobalhão".
Não existe no mundo ninguém que possa criticá-lo por buscar receber o que lhe devem e que é seu por direito de trabalho.
Vá à luta e, se essa verba, finalmente não lhe fizer falta, faça um donativo a quem dela necessite.
Fique em paz com sua consciência.

Soninha disse...

Olá, Zeca!
Triste história,com certeza.
Homens do mundo que somos não podemos olvidar as leis que nos regem e agir dentro dos princípios legais... Deus nos deu esta chance, de elaborar e cumprir as leis para que haja ordem e justiça no meio humano. Daí eu aceditar que devemos ajuizar ações cabíveis para que se dê um "stop" nestes desregramentos trabalhistas.Afinal,tanto lutamos para abolirmos a escravidão...nossa história nos conta e mostraa luta qu foi.
Olhando, agora, sob outra ótica (espiritualista) Sabemos que vios para este mundo com aquelas provas e expiações, as quais nos farão melhores como indivíduos,desde que as compreendamos e saibamos passar por elas com aproveitamento.
São aquelas lições valorosas que,muitas vezes, nos fazem derramar rios de lágrimas,mas,mais fortalecidos e preparados.
Que Jesus o ajude a tomar a melhor decisão.
Valeu, Zeca.
Obrigada.
Muita paz!

Arthur Miranda - Tutu disse...

Prezado Zeca, Acho muito difícil opinar. Acho que você deve agir como ditar a sua consciência. Acho até, que ele já esta recebendo aquilo que merece. E como segundo você ele já esta super endividado, você terá dificuldade de receber mesmo acionando a justiça, que como sabemos é lenta e nem sempre uma solução. Se você conseguir colocar na justiça sem despesas de sua parte, Tudo bem. Mas se é para ter muitos gastos com advogados, que nessa hora (nem todos é claro)nos iludem bastante não mostrando bem a realidade dos fatos, É melhor deixar pra lá. e não gastar chumbo pois esse passarinho já esta morto.
Mas em fim, a decisão é sua.

Luiz Saidenberg disse...

Estranha e triste história , Zeca. Ainda mais porque foge ao que é normalmente comum, aqui no Brasil. Quem geralmente é explorado e sugado é o artista, não o expositor. No seu caso, vc pegou um mercenário, ainda que com qualidades artísticas, mas sequioso de dinheiro e poder.
Foi uma pena que tenha terminado assim- quem dera tivesse eu tal oportunidade, e as coisas seriam bem outras- e acho que não tem jeito.
Processe-o, nos termos da Lei! Abração.

Wilson Natale disse...

ZECA: Vai à luta e recupera aquilo que é seu!
Bendito seja o meu avô! Dele, recebi uma bofetada, uma advertência e uma lição para toda a vida: Na adolescência o vovô pediu-me que lhe assinasse um papel em branco. De pronto assinei e uma bofetada vibrante estalou em meu rosto. Vovô advertiu-me para que eu nunca assinasse um papel em braco, fosse para ele ou para o meu pai. E ensinou-me que, palavras levam o vento, negócios se fazem no papel! Que amizade é amizade, mas os negócios são negócios. Nunca esquecí!
Trabalhei um tempo com um primo. Ele era o patrão e eu o executivo. Nuca misturamos laços de familha com o vínculo trabalhista.
Organizadores, expositores sempre sofrem muito. Quando não é a "estrêla maior" a exigir, ou meter-se naquilo que não entende e ficar no suspense do "depois a gente acerta", existe a famosa "turma do que beleza" que nada fazem e ficam a criticar, a impor coisas absurdas.
E no resumo da ópera, a estrêla, os que beleza ficam com os louros e ao expositor, organizador, a serventia da casa, que é a porta da rua.
Seu caso não é unico ou isolado, existem muitos. E esses muitos foram à Justiça.
E se você deixar passar, vai perder muito. E esse muito é perder a sensibilidade de fazer o que você mais gosta.
Lute, meu caro, não somente pelo dinheiro, mas pela sua dignidade de profissional competente.Lute pela sua dignidade, mesmo que a batalha esteja perdida, pois fica o respeito por si mesmo e o amor próprio.
Abração,
Natale

Modesto disse...

Antes de fazer o comentário, Zeca, li os dos meus colegas e, de fato iria te aconselhar a não fazer nada pois, além desse artista estar em queda livre, vc não tem nada por escrito. Mas, o meu dileto amigo Natale, tocou numa tecla muito importante: nós não somos donos de nossa personalidade e agir de uma forma acomodada. Não importa o resultado, o importante é vc se olhar no espelho, que reflete tudo ao contrário e que merece de vc, um maior respeito. Ir ao Tribunal de Pequenas Causas, empetrar um processo em cima desse artista, (isto ele é)e olhar, de novo no espelho e falar co seu "eu" refletido e dizer: pronto, já fiz minha parte, agora é com o desenrolar dos acontecimentos. E fique atento, se ele é bom na arte como vc mesmo disse, não é difícil que ele retorne com outro nome e passe a faturar novamente. Fique atento.
Modesto