Estes são os tempos dos
e-mails...
Minha caixa de correio
está mortinha da silva!
Pior!Virou lixeira.
Tornou-se um depósito de papéis anunciando tudo quanto o comércio da cidade, do
bairro tem a oferecer e que quase nunca são bem-vindos.
Tudo ao MORADOR...
E somente os extratos, os
boletos, as contas a pagar – confirmam que eu tenho um nome e existo como
pessoa.
Nem sempre foi assim.
Antes, as caixas de correio transbordavam de vida: Cartões de Páscoa, de Boas Festas,
cartões de aniversário, convites de casamento, postais e cartas.
Uma infinidade de cartas
vindas da Itália, da “Mèrica” (USA), da Argentina e do interior do Estado de
São Paulo.
Os Carteiros tinham um
papel importante nas nossas vidas. Não eram anônimos. Tinham um nome... Confiávamos
neles.
Naquele tempo já tínhamos
telefone. Mas, se uma ligação interurbana era demorada de se completar, a
internacional demandava uma paciência de Jó. Contatava-se a telefonista,
fazia-se o pedido de ligação e ficava-se na espera. Espera que poderia levar
horas ou dias. Tudo dependia do quanto estava congestionado o Cabo Atlântico
Sul. E, quando se conseguia a ligação era um terror: estática, ruídos, linhas
que se cruzavam e a queda da ligação. E pagava-se uma fortuna/minuto por esse
serviço.
Então, o mais sensato era
escrever cartas. Recurso muito mais seguro. E, mais seguro ainda era enviar
cartas registradas.
Desde sempre,
encantava-me ver a minha “nonna” sentada à escrivaninha, no quarto do meu tio
Amedeo, tendo diante dos olhos o velho “pince-néz” com aro de ouro e de lentes
grossas. À esquerda da escrivaninha, as cartas recebidas dos parentes de
Nápoles, Buenos Ayres e New York.
Sucessivamente vovó ia
relendo cada carta e respondendo.
Iniciava-se o ritual...
Vovó selecionava os
envelopes “via aérea” – mais fino que o comum – com o barrado em verde e
amarelo, escrevia, um a um, o endereço do parente e, depois, o do remetente.
Feito isso, ela abria a
caixa de papel de cartas e ia retirando um a um. Eram uns papéis finos, mais
parecidos com papel de seda, papeis próprios para cartas internacionais, visto
que pesavam menos.
Nesses papéis, numa letra
miúda, porém legível, minha “nonna” respondia às cartas e reportava notícias
nossas. Nunca uma carta tinha mais, ou menos de quatro folhas. Folhas que, dada
à escrita miúda de vovó, valeriam por oito.
Carta a carta, as folhas
eram cuidadosamente dobradas, enfiadas nos envelopes que eram lacrados com goma
arábica.
Feito isso, vovó tirava
da gaveta a balancinha manual e a caixa com as cartelas de selos, de valores variados.
Uma a uma as cartas eram
pesadas e, consultando a tabelinha de preços que era fornecida pelos Correios,
ela colava nas cartas o valor em selos. Caso a balancinha não estivesse “muito
católica” vovó acrescentava um ou dois selos de centavos a mais.
Tudo pronto. Restava
agora esperar pelo carteiro, a quem vovó dava “um agrado” pelo favor que ele
nos prestava. E lá se ia embora o “nosso carteiro” levando as cartas para a
agência, onde seriam novamente pesadas e carimbadas.
Feito! Cartas enviadas.
Agora era só esperar por duas semanas pelas respostas. E qualquer demora ou
atraso provocava uma revolução: Caixa de correio ansiosamente vigiada; carteiro
“metralhado” com perguntas... Perguntas a que ele pacientemente respondia...
E é tão bom lembrar que,
independentemente de se ter caixa de correio ou não, o carteiro, gritando,
batendo palmas ou tocando campainhas, sempre anunciava a chegada da
correspondência... Bom homem o “nosso” velho carteiro. Tão solidário que acabou
se tornando um bilíngue por necessidade, para agradar os italianos e espanhóis.
Em certas ocasiões, o
Carteiro era outro. Um funcionário mais sério, mais aprumado e semblante
solene. Trazia nas mãos – Meu Deus, quanta angústia, quanta ansiedade! – um
telegrama... Decididamente telegramas não eram bem-vindos... “Vade retro” ave
de mau-agouro!...
Agora os tempos são dos
e-mails, da correspondência quase instantânea. Tempos do MSN que nos dá o
vídeomail: bate papo e vídeo conversa, cara a cara, ao vivo e a cores. Coisa
maravilhosa isso!
Mas, não posso deixar de
sentir a velha nostalgia daqueles tempos.
Como disse, a minha caixa
de correio está morta. Virou lixeira. Não há mais a ansiedade ou a expectativa.
Abro a caixa para limpar o lixo que ela contém e separar as contas.
Vez ou outra, eu
“garimpo” uma carta ou cartão postal...
Vez ou outra, eu recebo
uma oração com o pedido de repassá-la a outras 20, 30, 40 pessoas e mais as
ameaças dos céus, caso eu deixe de repassar... “Vá esperando sentado! Quem fez
a promessa, que a cumpra”!
Vez ou outra, eu me
divirto lendo os panfletos das tarólogas, mães de santo, como a “popagranda” da
tal VÓ MARIA, que se dispõe, por um preço módico, a resolver todos os
“pobremas” da nossa vida... E o da vida dela, claro!...
Por Wilson Natale
5 comentários:
Olá, Wilson!
Que bacana lembrar das caixas de correio... Realmente, hoje quando usamos esta expressão, associamos à caixa de e-mails mesmo.
Mas, sabe, eu ainda gosto de escrever cartas, bilhetes, etc... Gosto de manuscrever...
Digitar é bom, mas, escrever à mão, com letras cursivas, é uma arte.
A boa letra, a letra bonita (caligrafia) é algo que curto muito e pratico.
Lendo seu texto bateu aquela saudade dos bons tempos das trocas de cartas entre familiares, parentes e amigos!
É... nossas caixas de correi viraram peças de museu ou "lixeiras" mesmo! Que pena, né?!
Valeu, Natale!
Feliz 2013!
Muita paz!
Natale!
Andava com saudade dos seus textos! Você consegue, a partir de um assunto "banal" construir um texto fluído e gostoso de ler. A minha caixa de correio, escolhida e comprada com carinho, há vinte e poucos anos, está tão morta como a sua e, como você, eu a abro de vez em quando para limpar e separar o que presta (normalmente contas a pagar).
Eu gostava muito de escrever cartas e trocava correspondências com várias pessoas, de vários lugares. Hoje acabei me rendendo aos e-mails mesmo, já que, se insistir e enviar uma carta a alguém, é praticamente certo que a resposta virá pela internet...
São os tempos modernos... e precisamos acompanhá-los, mesmo mortos de saudades de outros tempos, senão acabamos virando também peças de museu.
Desejo que tenha um bom ano novo, com saúde, alegrias, realizações e muita paz!
Abraço.
Natale amicci, teu texto me fez pensar um bocado na letra cursiva que um dia eu tive.
Era bonita, inteligível, (ou seria legível?), nem grande nem pequena, um tanto quanto inclinada para a direita.
Quantas poesias, quantos textos romanticos, quantos relatórios profissionais escrevi!
Hoje minha letra é tão ruim que logo após escrever algo, eu consigo ler, depois, acho que nem Deus conseguiria.
Este é o retrato dos tempos atuais, e nem podemos alegar desconhecimento. Tudo que passa para o desuso, invariavelmente, fica atrofiado. Não poderia ser diferente com nossa caligrafia.
Caríssimo fratelo Natale, prima de tutti, espero que seu Natal e reveion foram alegrs e com muita, boa e farta alimentação correspondentes as datas.
Sua recordação a respeito das caixas do correio, comigo acontece a mesmíssima coisa, com um agravante: no meio de tantos panfletos, avizos de contas de água, luz, telefone, insistem em me oferecer um belo e bem localisado jazigo num cemitério das proximidades. Eu já tenho "onde cair morto", que "catseguai" me aporrinham tanto. Deve ser por causa de meus cabelos branco, chi lo sa!
Wilson, adorei sua recordação, trás sempre uma nostalgia de um evento que vai desaparecendo devagarzinho, sem a gente perceber, nãO é tristeza, apenas o conjunto de outras ocorrências que veem em nossa memória. Parabéns, amici.
Laruccia
Natale, lá em casa não tínhamos caixa de correio, na verdade o carteiro entregava pessoalmente as cartas amarradas por um elástico para minha mãe. Ela as colocava na escrivaninha do meu pai e só à noite quando ele chegava do trabalho é que seriam abertas.Hoje com a rapidez que o mundo gira, podemos nos comunicar com muita facilidade e isso é bom demais!Muito bom você ativar as lembranças de algo que está em desuso e quase morto.Um abraço.
Postar um comentário