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Sr. Alexandre Marcondes Machado
(Juó Bananére, para os íntimos e toda a população paulistana.)
“Barbuleta di aza adurada, “Borboleta de asa dourada,
Minina de migna paxó! Menina de minha paixão!
Agiugué nu giacaré, Joguei no jacaré
I perdi meus duzentó!” E perdi meus duzentão!”
Ah! Os falares da Mooca! Quem diria?...
Pois é. Os filólogos estão correndo atrás do prejuízo. É preciso que estudem urgentemente os “falares da Mooca” - o último reduto do “Dialeto Macarrônico” falado pela maioria da população de São Paulo entre o fim do século XIX e o meio do século XX. Na Mooca, fala-se até hoje, embora paulatinamente, venha caindo no esquecimento.
E é nesse momento de recuperação do dialeto que entra em cena o Sr. Alexandre Marcondes.
Alexandre Marcondes Machado (1892-1933), deixou a cidade de Pindamonhangaba e veio para São Paulo vencer na vida. Muitos conheciam o Engenheiro Alexandre Marcondes que projetou e construiu o Palacete Xavantes, na Rua Benjamim Constant, nº171 (O prédio existe até hoje.).
Mas, um belo dia o Engenheiro virou jornalista: Inventou um pseudônimo que criou vida e devorou seu criador. O Sr. Marcondes virou JUÓ BANANÉRE. Toda a Paulicéia o conheceu. Era o Juó Bananére, “Poeta, Barbieri i Sordato. Gandidato à Gadêmia Baolista di Lettera”. Virou um “Baulistano paxonado pelas minina du Bò Ritiro”.Juó escrevia para o povo, no patuá falado pelos italianos do Brás, Bela Vista (Bixiga), Bom Retiro e Mooca. E como prova os acetatos gravados, que estão no Museu da Imagem e do Som, ele falava muito bem nesse patuá. E no patuá, Juó Bananére – humorista e satírico mordaz – fazia a cidade rir a não poder mais. Para ele nada era sagrado. Não perdoava os políticos e a política; fazia versinhos saborosos e descaradamente parodiava os grandes poetas. Suas crônicas sobre o cotidiano, a Revolução de 24 são hilárias.
O tempo passa e o Juó vira um grande “giurnalista”. Vai para a publicação d’ O Pirralho e substitui Anibale Scipioni (pseudônimo de Oswald de Andrade) nos artigos. Esses seus escritos feitos para o Pirralho serão publicados em um livro - LA Divina Increnca - em 1924. Livro que teve mais duas edições no século XX: 1966 e 1993. Voltolino (Lemmo Lemmi), grande cartunista d’A Cigarra, em uma caricatura, dá corpo e rosto ao Juó Bananére. E o Juó cria para si mesmo um brasão que tem como lema: NON CUTUCA! Um belo dia o Juó Bananére (João Bananeira) deixa O Pirralho e vai viver de expedientes. E, antes que a morte o levasse tão cedo, ele cria O DIÁRIO DO ABAXO PIQUES. (Alusão ao Largo da Memória e Largo do Riachuelo - hoje Praça da Bandeira.)E a morte levou Seu Marcondes aos 40 anos. Então, o Juó partiu para o Olimpo dos Jornalistas. Virou mito, resistiu anos na memória dos contemporâneos e virou História Paulistana.
E o tempo incumbiu-se de dar ao Bananére a sua devida importância: Em “Cavaquinho e Saxofone”, Alcântara Machado o define como um produtor de “modelos de estilo” e com certo caráter antropofágico. Otto Maria Carpeaux considerou Juó Bananére um pré-modernista.
E os estudiosos da língua, os filólogos, debruçados sobre o livro La Divina Increnca do Juó, vão descobrindo que ele escrevia na língua mais falada em São Paulo desde os tempos de Anchieta, quando a Língua Geral (Tupi-Guarani) era, por opção, mais falada que o Português. Vão descobrindo que o Patuá macarrônico é, falando-se de regionalismo, a língua regional mais importante do século XX.
Estão correndo atrás, antes que tudo se perca. Estão na Mooca –último reduto desse patuá - registrando tudo o que, dia-a-dia, vai-se definhando. Resiste o Moochese (Mooquêse, Mooquês) entre nós os mais velhos, mas definha entre as novas gerações...
Resiste ainda. Como resiste o falar rápido e “cantado” do paulistano cuja origem está nesse patuá.
Por Wilson Natale
Mais sobre o tombamento do sotaque da Mooca:
12 comentários:
Soninha: Valeu!!! O "clip" com a voz do Juó Bananere ficou ótimo! Foi justamente nesse "clip" que eu estava pensando quando dei a sugestão!
Abração,
Natale
Natale, eu como ardoroso defensor dos costumes Belavistenses, fico super agradecido em saber que ainda existem defensores da linua e dos costumes que me foram tão normais nos áureos tempos da minha infância.
Fasso questô de deicha aqui meo mas apertado abrasso amicci mio. Brigado!
Olá, Wilson!
Fiz questão de publicar sem nenhuma edição,pois você me disse que era uma tradução do texto original em italiano que você fez para o site da Italia.
Fiquei emocionada ao ouvir os vídeos,lá no youtube...tem vários... Escolhi este pelo tamanho, para poder caber aqui no blog, e por ser bem engraçado também. Tem um sobre o descobrimento do Brasil que é hilaríssimo. Adorei.
Nossa...fez-me lembrar da família de minha mãe,uma italianada boa (minha mãe é da família Siquelli)...ainda ouço seus falares, muitos deles exatamente como o Bananère...kkk
Eu nasci na Rua Uuarama (Vila Prudente), mas, lá em cima,perto da Rua Oratório,quase alto da Mooca...e estudei algum tempo na Mooca, me familiarizando muito com o jeito de falar dos moquenses.
Gostei,também, da reportagem sobre o tombamento do sotaque a Mooca.
SObre o seu texto, só tenho de lhe parabenizar. Ficou show!
Valeu!
Obrigada.
Muita paz!
MIGUÉ "I eu mi fico cuntenti qui vuce mi tenha gustado! Brigadu eu!" (risos)
Poucos se lembram que, por uns tempos São Paulo tinha a maioria da população formada por italianos e "oriundi" que falavam o Potuguês com sotaque misturada às palavras italianas.
E a cidade acabou por assimilar esse sotaque.
Veja que o Alexandre Marcondes era um descendente de imigrantes portuguêses e, no entanto falava como se fosse um napolitano "tentando" falar o Português.
O Larùccia também deve ter conhecido os trocadores negros e mulatos dos Bondes que falavam com sotaque italiano. Conhecí um deles que falava no Dialeto Napolitano com se tivesse nascido em Nápoles.
Minha tia Augusta - que casou com o irmão do meu pai é um desses casos de assimilação. Quando ela morreu ficamos sabendo que ela era portuguêsa de Lisboa e veio para o Brasil com 10 anos. Sempre achamos que ela fosse napolitana.
E o Bixiga, além das cantinas, tinha o Vesúvio, o cortiço mais famoso de São Paulo.
Abração,
Natale
SONINHA: Estudar esses "falares" é muito importante, pois até hoje, contando os italianos e "oriundi" somos a maior população italiana fora da Itália.
Os acetatos e "clips" com a voz do Bananere é um banho de alegria.
No site do Juó Bananère pode-se ler o livro "La Divina Increnca".
E este texto é também muito importante para a memória de São Paulo. E, aqui, no Memória de Sampa, a cidade é o cenário do elemento humano. Vai respondendo, pelas décadas o como vivíamos, o que vestíamos, o que fazíamos, como falávamos, etc.Paisagem urbana e paisagem humana a desvendar o todo de uma Cidade.
Abração,
Natale
Natale!
Gostei muitíssimo desse texto! Vivendo e aprendendo! Não conhecia o jornalista homenageado aqui, nem sabia da existência do tal tombamento do sotaque, embora ache bastante merecido, dado que os italianos que vieram para o Brasil foram os verdadeiros desenvolvedores da nossa amada cidade, pois seus descendentes se espalharam como os bandeirantes, levando usos, costumes e sotaques, que foram se misturando ao português falado pelos descendentes de portugueses e, mais tarde, aos sotaques de outras nacionalidades, criando, no final, o próprio sotaque dos paulistanos.
Como já disse: vivendo e aprendendo! Especialmente pelos amantes daquilo que é nosso e que nos distingue dentro deste Brasilzão.
Abraço.
ZECA: É isso! A gente vai aprendendo. Até meados dos anos 60,75% da população da Mooca falava no Dialeto Napolitano. E também falava espanhol (male e porcamente)Não fosse o Português falado pelos portuguêses teria sido muito difícil falar sem sotaque.
A Mooca recebeu também muita influência dos nordestinos e agregou aos seus "falares" muitas das suas expressões.
E é bom que se preserve o patuá aqui falado, para que as gerações aprendam a conhecer a cidade no seu todo.
Abração,
Natale
"Virso, vuce sabi di quem esta falano? o Jua fu amigo dos barase, qundo el conto a historia du minino que murreo atropelado por um bonde na ru Urient, vuce se alembra? no? ma e claro vuce num tinha nascido."
Natale, eu li os livros dele e é isso mesmo, escrevia como se falava nos nossos bairros. Vc tem razão, na Santa Rosa meu pai, com o armazem, sempre teve um bom relacionamento com uma boa turma de negros que, quando falava pareciam barezes. Tinha um que morava em São Caetano, "chapa" na Santa Rosa e, nas festas do São Vito, tocava trombone na banda que acompanhava as procições, como contei num dos textos do SPMC.
Gostei bastante da sua lembrança e ele, o Juá Bananere não pode nem deve ser esquecido. Pra isso tem o Virson Natale. Un baccio in la testa, giovanoto.
Laruccia
LARÙ, bello: Claru qui mi sei qui stá falano! É u barêis du Bráiz, qui mi morava pertigno du San Vitinho.
Eu conheci o trabalho do Juó Bananére, lá por 1962 e me apaixonei.
E ele deixou registrado a nossa maneira de falar e tornou-se um pouquinho a alma desta cidade.
E o pouco que restou desses falares, resiste aqui na Mooca.
E eu, mesmo fazendo um esforço para falar corretamente, qundu mi perdo a tramontana, i umas coisa mi fica intalada nu gargumilho, mi splodo i mi cumeço a dizê tudus us palavron qui sei i qui num sei.
Ahahahahahaaaaaaaa!
Abração,
Natale
Ôrra, meu! Nóis da Mooca- si pusé u acento no nomi du bairro nóis briga, fica cum uma baita duma réiva i num vórta mais! Belo texto. Abraços.
SAIDENBERG:
Bello, in verdadi nóis num diz Mo-oca o Mo-óca. Nóis num tem dessa frescura. Nóis diz MOCA mesimo!
I MOCA num pricisa di accento. Mi è só um nomi di bairro. I bairro num tem bunda prá si sentà. Intom praque accento?
Um abraçom dessis di distroncá a spinha!
Natà
Ahahahahahaaaaaaa!
Muito interessante achar este blog com tantas recordações de uma São Paulo que acho que só vai ficar em nossas lembranças...
Sou sobrinho de Alexandre Marcondes Machado.
Grande abraço,
Claudio Marcondes Machado
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