quinta-feira, 9 de junho de 2011

A festa


Estávamos no meio do ano de 1975, eu ainda morava na Freguesia do Ó e ainda nem pensava que dali a dois anos estaria de mudança para Campos do Jordão onde passei a viver até 2001, quando me transferi para Taubaté e daí para Lorena, onde vivo atualmente. Em Junho de 1975, fomos convidados (eu e minha família, por um tio irmão de minha mãe e já falecido) para uma festa junina, da qual ele anunciou que seria a última de sua vida e, para isso, contava com a presença de todos seus familiares, amigos, colegas e conhecidos.

Possuidor de uma casa com um terreno extenso e que em breve iria desaparecer, pois ele resolveu colocar metade do mesmo a venda, para levantar dinheiro e reformar a velha e antiga casa, há alguns bons anos construída no Bairro da Cachoeirinha.

Tio Antonio, em vista disso, resolveu fazer esse “festão”, em homenagem a Santo Antonio e ao terreno que em breve ficaria bem menor. Meu tio caprichou, convidou um sanfoneiro, fez pipoca, batata doce, bolo de fubá, arroz doce, canjica, curau, pamonha e, é claro, quentão à beça, que segundo ele era para esquentar o frio que, naquela época, no mês de junho, era bem forte na Vila Cachoeirinha.

Às oito da noite, depois de encher o quintal de bandeirinhas e pequenos balões de papel de seda colorido, meu tio já estava comandando o acender da fogueira de, aproximadamente, 3 metros e meio de altura.
Os convidados chegavam a todo instante, primos que eu não via há mais de sete anos ali estavam felizes, se abraçando.

Entre amigos, parentes e penetras eu, sem exagero, acredito que perto  das 20:30 horas, 150 pessoas circulavam pela festa fazendo com que aquele aparente grande espaço territorial fosse, aos poucos, se tornando pequeno.

O consumo era geral, bacias de pipoca, travessas com bolo de fubá, arroz doce, batata doce, canjica, pamonhas e curau desapareciam como que por encanto. Nem é necessário dizer que dois caldeirões de 15 litros de quentão, mesmo sendo servido em pequenas xícaras de cafezinho, jaziam vazios, esperando para serem reabastecido.

Foi então que um primo meu resolveu colocar alguns vidros de Gutalax (purgante incolor sem cheiro e sabor) nos caldeirões de quentão, já devidamente cheios e que, rapidamente, começaram a ser servidos para todos os presentes.

Meu tio anunciou aos berros: Pessoal, agora vamos levantar o mastro, preparar os foguetes para soltar, mas, antes, vamos dançar a quadrilha, por que o sanfoneiro chegou.

E assim, com o mastro já de pé... A cara cheia de quentão com Gutalax, ao som gostoso da sanfona, o pessoal foi para uma quadra de vôlei, agora transformada em Salão de baile, se largaram nas músicas típicas dessas festas.

Agora, imaginem a situação: O pessoal com o “bucho” cheio de pipoca, bolo de fubá, refrigerantes, curau, pamonha, amendoins, arroz doce, batata doce, mais o quentão que era 51 puro disfarçado com um pouco de água e umas batatas de gengibre... Aquilo estava provocando uma pressão intestinal semelhante a uma panela cheia de leite fervendo, prestes a sair pra fora da panela.

Foi precisamente nesse clima, que um festeiro, soltando um balão gritou: Pessoal, vamos soltar os FO... Ele nem chegou ao GOS. Quando ele falou vamos soltar os Fo... A maioria soltou de uma vez só. A quadra ficou totalmente comprometida e ficou meio metro cheio de... Fumaça por todo lado e aquele cheiro horrível de... Pólvora seca sufocou o ambiente.

Quando a fumaça passou e o cheiro de pólvora diluiu-se na poluída atmosfera, foi gozado por que os moços fortes de 18 a 22 anos soltaram seus caramurus de 3 tiros; era só PUM, PUM, PUM para todo lado.
As moças soltaram rodinhas (aquelas de prender com prego na parede, nem sei se ainda existem), faziam um ruidinho longo tchiiiiiiiiiiiiisssssssssssssssssi com um só PUM no fim.

Os velhos soltavam rojão, mas, alguns estavam com a pólvora molhada e o Rojão no lugar de subir, saia meio de lado e, no lugar de estourar para cima, pipocavam mesmo era em baixo. Era gente correndo dos puns por tudo quanto era lado.

As Velhas, coitadas, cansadas de andarem pela festa, nem levantaram para soltar e soltaram mesmo sentadas. Soltavam aqueles estalos de Salão, que só da o seu estalo quando é jogado com força no chão. O ruído e bem fraquinho; só fica plic, plic e o PUM nunca acontece.

Passaram o resto da noite limpando aquela sujeira; meu tio, louco da vida, morreu sem nunca saber que foi um dos seus sobrinhos o autor da brincadeira. Mas, segundo a mulher dele, cunhada de minha mãe, meu tio morreu desconfiado que o verdadeiro culpado de tudo isso, na realidade, foi mesmo eu.

E VIVA SANTO ANTONIO – SÃO JOÃO E O QUERIDO SÃO PEDRO.

Arthur Miranda (tutu)

8 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Arthur, como dizia minha avó, "quem tem fama, deita na cama" essa desconfiança do seu tiofoi, certamente, causada pelas muitas travessuaras de sua autoria.
O bo é que, entre tantas bombas e morteiros, todos se salvaram. Ainda lembrando um dito de minha avó: "entre mortos e feridos salvaram-se todos".
Hilária essa historia, aliás como a maioria de suas historias.

marcia ovando disse...

...uma festa de arromba: rojoes(o acento não quer sair) de todos os tipos!

Luiz Saidenberg disse...

Foi um estouro de festa. Entre rojões, bombas e flatos, despertaram todo o bairro!
Boa, Arthur! Abraços.

Zeca disse...

Arthur,

continuo rindo, mesmo após terminada a leitura! Essa foi mesmo uma festa para ficar na história! Tenho certeza de que todos, convidados e penetras, jamais esquecerão dessa que deve ter sido a festa mais barulhenta (e mais cheirosa) de todas... hahaha.
E, aqui entre nós, eu também tenho minhas dúvidas se não houve uma (grande) participação sua no tempero daquele quentão!

Abraço.

Laruccia disse...

"Artar", como dizem os inglezes ao se referirem ao rei Arthur, esse "bombardeio", com petardos chamados de "fura-cuecas", foram as armas secretas que vc e seus primos usaram pra terminar o baile, não foi? Devia ser um tal de os idosos, sentados, levantarem uma parte das nádegas e libertarem os mortíferos disparos, em vários sons e direção,um verdadeiro final da "nona" do Beethoven, acompanhada do coral sincopado das vítimas do "gostoso" purgante. Se vc participou ou não, pouco importa mas, que deve ter sido muito engraçado, ahhh, isso foi. Parabéns, "Artar's King".
Laruccia

Soninha disse...

Olá,Arthur!

Sa histórias sempre nos trazem muita alegria.
Mas, éinteressante como, antigamente, fazia-se estas festas juninas, com a presença de familiares, parentes, amigos, vizinhos...Fez-me lebrar das festinhas de minha infância,quando meu pai fazia até fogueirana rua e vinham uitas pessoas da família, amigos...cada um trazia um prato...era bem bacana. Até o guarda noturno comparecia para tomar um quentãozinho,ao redor da fogueira...kkkkkkk
Lembrei,também,já casada, fizemos uma festa junina em minha casa e veio um colega do trabalho de meu marido...um inglês que estagiava na empresa... Ele gostou muito das comidas típicas,mas,adorou as batatas doces. Comeu muito. Dias depois, na empresa,comentou sobre os efeitos de tal guloseima,que foi exatamente como o foguetório de sua festa...kkkkkkkkkk
Valeu!
Obrigada.
Muita paz!

suely aparecida schraner disse...

Uma festa de arromba com verdadeiras armas químicas. Bombou. Eu gostei.

Wilson Natale disse...

ARHUR: "Soltar rojões naturais" faz bem à natureza... Ahahahaaaaa!
Nem precisava o "Gutalax". Quentão com batata-doce já fazem um estrago e tanto!
Gostei das suas festas juninas, que também são minhas. Pena que ficou reduzida às escolas, aos clubes. Não mais as fazem nas ruas e nos quintais.
Abração,
Natale