A segunda-feira chegou e com ela, o amigo suíço, vindo da Austrália. Vontade de conhecer o centro da cidade de São Paulo.
De carona com minha irmã, que trabalhava próximo da estação Armênia, lá fomos nós. Pra mal dos pecados, os motoristas de ônibus resolveram não sair da garagem. A fila de carros, na Avenida 23 de Maio, bibelôs de asfalto.
Horas depois, respirado todo o monóxido de carbono a que tínhamos direito, apeamos no Anhangabaú. Meu amigo pálido e nauseado, explicava que estava passando mal, resultado de uma hepatite adquirida na Índia, por onde andara recentemente.
Paramos num mercadinho para comprar maçã. Dizem que é um bom antídoto para enjôo. Aliviados subimos a Líbero Badaró. Na Praça da Sé uma parada na guarita, que fica defronte à catedral. Surpresa. O “guarda” falava inglês e até deu dicas ótimas de turismo.
Rumamos até o Pátio do Colégio. Aí também o guia se esforçava para explicar em inglês que o local é o marco inicial do nascimento da cidade de São Paulo. Que, estando no alto de uma colina entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, foi escolhido para iniciar a catequização dos índios. Contou da inversão do rio e dos fragmentos de uma parede do antigo colégio, que procura simular a original seiscentista, feita de barro misturado com grãos de areia e brita. Dizem que, até sangue de boi foi usado para dar liga.
No alto do Edifício Altino Arantes, nossa guia também arriscava umas palavras no idioma de Shakespeare. Eu, pasma com tão boa recepção e meu amigo, extasiado numa São Paulo improvável. No alto do edifício Arantes, clicou tudo com sua câmera descartável. É que em sua terra natal o haviam alertado para não andar com câmera fotográfica boa, senão seria roubado na primeira esquina. De lá, caminhamos até a Rua Aurora. Bar do Leo e os deliciosos bolinhos de bacalhau com chope bem tirado e a nossa boca do lixo bem ao lado.
Próxima parada: Praça da República. Olhar São Paulo com olhos de turista. Ver e reparar. No Edifício Itália, permissão dada e subir até o Terraço Itália. Diante da vista deslumbrante, um lamento por não ter na mão uma câmera digna da visão. E ainda mais, a alegria do privilégio em assistir ao ensaio no piano bar.
De passagem pela avenida Liberdade, o deslumbramento pela nossa Chinatown e a boa gastronomia.
Mais metrô e chegamos ao maior centro financeiro, a Av. Paulista. Um banho cultural em meio a greve de ônibus e trânsito caótico que nos assola.
No parque Trianon, uma gritaria. Um mendigo sojigando outro, por conta de algo encontrado no lixo.
Flanar. Da Casa das Rosas, Itaú Cultural, Exposição na FIESP até o MASP mais imersão cultural. Na Augusta, pausa para um café expresso.
O sol se punha e uma brisa leve indicava que era hora de voltar. O amigo exclamou: “São 17 h e até agora não fomos assaltados! São Paulo não é nada do que falam na Europa”.
Por Suely Aparecida Schraner
14 comentários:
Que lindo Suely!
Um paseio dign do mais nobre dos nossos visitantes.
E, surpresa, sem nenhum assalto.
Sampa é maravilhosa com ousem assaltos.
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Suely!
Excelente passeio proporcionado ao seu amigo suiço! Não poderia ser mais completo para mostrar "um pouquinho" de tudo o que a nossa São Paulo pode oferecer.
E eu também, nascido, criado e vivido na grande São Paulo, posso dizer, com uma pontinha de espanto: "Nunca fui assaltdado!"
Os nossos piores assaltantes são outros! São aqueles que deveriam nos proporcionar a segurança, que já não temos; a educação, que há décadas desapareceu; a saúde, que nos mantém "doentes"... e se aproveitam de nossa condição assumida de cordeirinhos para seu próprio enriquecimento e o dos seus mais próximos cúmplices.
Felizmente o seu amigo suíço, imagino, não teve tempo de perceber esse outro lado, o lado onde agem os nossos verdadeiros assaltantes! E que ele leve consigo, em sua viagem de volta, esse espanto (até agradecido!), de andar por toda São Paulo sem ter sido assaltado!
E parabéns a você pelo belíssimo roteiro proporcionado a ele! Digno de uma grande guia turística!
Abraço.
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Será que só em São Paulo tem assaltos? Será que alguem foi ao Ceará? Nos hoteis de Fortaleza
somos alertados para tomar cuidado com arteiras, maquinas fotograficas, e quem já foi na cidade Paraguaia perto de Foz de Iguaçu, tambem não pode bobear, e só São Paulo leva a fama.
Que maravilha se a frase do seu amigo fosse verdadeira.
abraço
Olá,Suely!
Passeio super legal! Que delícia passear por São Paulo... Em boa companhia, então, nem se fale.
Ótima idéia a sua de levar o amigo australiano conhecer Sampa de uma forma cultural. E que bom ele poder levar uma imagem bem bacana de nossa cidade.
Valeu!
Quando falar novamente com o amigo de longe, envie nosso abraço também.
Obrigada.
Muita paz!
Ops...
Amigo suiço*
Desculpe-me.
Mais paz!
Suely: O Centro Histórico nos oferece passeios maravilhosos. Pena que a maioria das pessoas está mais preocupada em criticar por criticar.
Falam, a maioria por "ouvir dizer", sem conhecimento de causa.
Se conhecessem saberiam que é mais perigoso andar pela Paulista e Jardins do que no "centrão".
Tomam conhecimento do negativo, mas não tomam conhecimento das mais de quatro mil câmeras espalhadas por todo o centro.
Adoram meter o pau e esquecem que, em Miame assalta-se à luz do dia - e com violência,até dentro dos hotéis. ENew York é um susto! Madrid, Paris, Roma ou Milão não fica atrás de São Paulo.
A miséria humana está presente em toda a parte neste mundão de Deus.
E seu amigo teve uma surprêsa! Viu que a "propaganda éra enganosa". E, com certeza, vai levar para o país dele novas informações.
Abração,
Natale
Infelizmente, o medo do turista era fundamnetado. Mas, nós, quase paulistanos, "num semos tatu", e sabemos driblar os pontos mais difíceis. Em contraponto, S. Paulo tem lugares magníficos, especialmente em arte, cultura e gastronomia. E desculpe discordar, caro Natale, mas estive em Paris, Roma , N. York, Londres, e lá, de nenhuma forma se sente tal perigo e se vê tal miséria. Madri, então, não tem sequer um papel jogado, nem uma bagana, nas suas ruas irrepreensívelmente limpas e ajardinadas. Como este site não é o SPMC, podemos relatar o que realmente sentimos.
Abraços.
Saidenberg: Eu me refiro às estatísticas dos países cujas cidades eu referi. Isso não significa que o turista vai bater de frente,todo dia, toda hora com a violência. E em São Paulo acontece o mesmo.Mas o paulistano gosta de afirmar que sim. Que acontece.
Em Milão, na Piazza del
Duomo,
compra-se até LSD à luz do dia; próximo à gare de
Roma fica o antro de tráfico e uso de drogas - quase uma crackolândia santaifigeniana.
São Paulo não é melhor e nem pior que os grandes centros. É igual.
São Paulo não é uma maravilha, concordo. Mas a maioria não vê a dignidade na pobreza e na miséria,radicalizam,vê nela, a fonte de todos os males -da violência. Quando na realidade, a violência está na máquina do estado.
São Paulo não é diferente. Como as outra cidades é um paraíso. Paraíso com seu lado positivo, seu lado proibido e suas serpentes.
Abração,
Natale
Mais uma vez, permita-me discordar, caro Natale. Creio que todas essas cidades são diferentes. E tb a maneira de serem tratadas pelo Estado. No nosso caso, é verdade, muito mal. E pelo policiamento, tb. Em N. York, na semana em que estivemos lá, vi sómente um mendigo. E deu dó: era um pobre preto velho, que procurou abrigo na escdaria do Metrô. Praquê! Dois enormes policiais(provávelmente poloneses) imediatamente cairam para cima dele. Tolerância zero! Mas havia, no metrô, uma vendedora sussurrando, discreta: Smoke! Smoke!
Então, realmente, existem drogas em todos lugares, pobreza e violência, tb. Mas há gradações, níveis. Os das cidades brasileiras, como S. Paulo, Rio, o citado Recife, Salvador, são alarmantes. E sim, o maior exemplo de roubo vem de cima. Abraços.
Bem gente de minha parte, e sem querer fazer nenhum tipo de, polemica nunca fui assaltado ou furtado não só em São Paulo como também em nenhum outro lugar do Brasil, e olha que visitei de 1969 a 2010 perto de 4.800 cidades desse nosso "Planeta" chamado Brasil.Só faltou mesmo, conhecer a Ilha de Marajó e Fernando Noronha.
Só fui Roubado uma só vez nessa vida e foi justo em Roma, na Praça de São Pedro (exatamente por achar que em um país como a Italia eu jamais seria roubado. (bateram minha carteira com documentos e cartões de créditos, mais umas 150 liras) Depois disso é que eu fiquei sabendo que ali em Roma e a Praça de São Pedro era a maior escola de batedores de carteira de todo a Europa e eu inocentemente achava que isso era coisa só do Brasil, e de países sul-americanos para não dizer do Terceiro Mundo. Não quero dizer com isso que aqui também não haja roubos e assaltos.
Isso aí, Arthur. É em qualquer parte do mundo: bobeou, dançou. E Sua Santidade o Papa não livra a cara de ninguém !
Ainda bem, Suely, o visitante devia estar com um medo daqueles. Mas, o passeio foi muito bem utilizado e prazeirosamente apreciado. Ele só vai levar boas recordações de São Paulo e é isso que interessa. Parabéns pelo roteiro e pelo texto, Schraner.
Modesto
Miguel,Zeca, MLopomo, Marcia, Soninha, Wilson,Luiz, Arthur e Modesto: Grata pelos comentários. Me comove esta receptividade. Me lembrei dos versos do Sérgio Vaz da Cooperifa: "São Paulo é uma cidade no cio. Por isso, transa com todo mundo em todos os lugares. É bonita porque é feia,e como toda feia que se preza, beija mais gostoso. Que os Vinicius me perdoem, mas feiúra é fundamental".
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