segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sinalização de horas

imagens: carrilhão da Sé; fábrica Kopenhagen; Usina Traição; colégio Eduardo Prado
Nos anos 1950/60 São Paulo era uma cidade que a população não sabia o que era poluição, principalmente a sonora, isso pelo fato de haver poucos prédios o que estendia o som de qualquer sirene que tocava para bem longe. Até mesmo no centro da cidade a gente ouvia no Anhangabaú o som do relógio do Mosteiro de São Bento, que de hora em hora dava as batidas daquele horário, sempre em hora cheia, ou seja: oito nove ou dez horas.
Também o carrilhão da catedral da Sé era ouvido no Anhangabaú, às seis horas da tarde. Todas as firmas tinham a suas sirenes para a entrada ou saída dos funcionários. O som mais conhecido na zona sul era o da firma de chocolates Kopenhagen, com aquela sirene rouca inconfundível no bairro do Itaim, que se ouvia pela manhã, na hora do almoço e a tarde, na hora da saída.
A sirene da usina da Traição, que fica dentro do Rio Pinheiros, era ouvida pela manhã, dez minutos antes das sete e, em seguida, na hora cheia. Depois, na hora do almoço e às 16 horas, hora da saída. A usina trabalhava 8
horas por dia, em três turnos, ela não podia parar, porque bombeava as águas do Rio Tiete para a represa Bilings, devido à caída das águas era ao contrário e depois das 18 horas a sinere não era acionada.
Mas, o som diferente acontecia pontualmente às 11 horas da manhã. Eram explosões em número de dez, mais ou menos, que vinham da zona oeste do Morro Grande, rodovia Anhanguera. Eram as dinamites que todos os dias explodiam na pedreira para se fabricar pedras britadas para a construção civil ou estatal. Com a pouca poluição sonora, a cidade toda ouvia e nos municípios próximos (hoje a grande São Paulo) os moradores também ouviam. Era comum pessoas enviarem cartas para o rádio, perguntando o porquê daquelas explosões diárias e sempre no mesmo horário.
À noite, 21 horas, a batida do enorme relógio do alto do prédio do colégio Eduardo Prado, Rua Jacurici, próximo a ponte Cidade Jardim, era ouvido no Brooklin quatro quilômetros adiante, às nove horas da noite quando o silêncio era maior. Vivíamos numa outra cidade de São Paulo.
Os sons são chamativos; às seis horas da manhã o meu rádio relógio em cima do criado mudo, com som regulado ao mínimo me desperta com um miado de gato, mas, meia hora
antes, desperto por um rinchado de um portão arrastando e fez com que eu descesse até a sala, pegasse lápis e papel, o que gerou um poema: Meu vizinho.
TODO DIA O BARULHO DO PORTÃO / DA CASA DO MEU VIZINHO, / ERA O DESPERTAR DO MEU SONO. / AQUILO JÁ ERA UMA BELA ROTINA, / QUE MEU OUVIDO GOSTAVA DE OUVIR, / CERTO DIA, ELE (O OUVIDO), / ESTRANHOU... / NÃO OUVIU O BARULHO DO PORTÃO. / NEM O GALO QUE SEMPRE CANTAVA, / NAQUELE DIA, NÃO SE MANIFESTOU. / O SILÊNCIO É SEMPRE UMA COISA ESTRANHA, / QUE ARREPIA E CHAMA MUITO ATENÇÃO. / PELA FALTA DO RINCHAR DE UM PORTÃO, / O QUE DEVERIA ARRUINAR OS TÍMPANOS, / APENAS MUDOU UMA ROTINA.
Hoje temos outro tipo de sons, não são pela noite ou madrugada, mas em meio a muita poluição sonora em pleno calor do dia. Uma Brasília amarela ano 1974, com alto falante em cima, com altos decibéis, tem um homem gritando a todos os pulmões: Pamonha, pamonha, pamonha de Piracicaba. Outro caminhão vagando pelas ruas do bairro, também com um enorme bocal de alto falante tipo, RCA Victor, toca uma música que foi o hino das vitórias de Ayrton Sena na Formula 1, e que hoje não passa do hino do caminhão de gás.
Ele bem que podia tocar num som moderado, uma adaptação da música gravada por Inezita Barroso nos anos 1950: Caminhão de Gás, Caminhão de Gás, quanta raiva você me trás...

Por Mário Lopomo

13 comentários:

Modesto disse...

De fato, Lopomo, estas sirenes que tinhamos em todos os bairros, principalmemnte os fabris, orientavam a todos sobre horários. Lembro que minha mãe chamava nossa atenção quando a Mariângela tocava as 5,30. Nos domingos, ouviamos a hora do Mosteiro de São Bento e as badaladas da Catedral. Sonora lembrança, Mario, parabéns.
Laruccia

Modesto disse...

Com a permissão do Mario Lopomo, trago uma mensagem do Assis, da Bahia, por telefone, ele ligou ontem. 20\02, conversamos bastante e ele mandou um forte abraço ao Miguel,Lopomo, Saidenberg,Nelinho, Soninha, Artur,Erta e a todos os colegas escritores que, no momento não lembrava os nomes e a quem ele pede desculpas.
Modesto

Arthur Miranda disse...

Mario, adorei esse seu texto, tinha um vizinho na Freguesia que tinha um galo, um dia minha mãe ganhou da minha tia um Peru e então, fui a forra. Em Taubaté existe ate hoje uma sirene que toca de manhã, no almoço e a noitinha a mesma pertenceu a uma antiga fabrica de tecidos que fechou. O predio ficou sendo da Prefeitura em pagamento de dividas Municipais. E o povo saudosista fizeram um abaixo assinado pedindo que a sirene continuasse sendo utilizada para manter a tradição.
Durma-se com um barulho desses.

Laerte Carmello disse...

Mário, Você bem lembrou que há 50/60 anos atrás podíamos ouvir
sinos de igrejas, sirenes de fábricas que sinalizavam as horas,
devido à ausência de popuição sonora. Cada um de nós, em seus respectivos bairros de origem tem seus exemplos; minha Mãe no Ipiranga se orientava pelas sirenes
da fábrica Jafet. Hoje em dia a poluição sonora não só inviabiliza
aqueles "bons sons", como também
provoca zumbidos no ouvido e stress psicológicos, ou seja males à saúde. Parabéns pela tão pontual postagem!

Soninha disse...

Olá,Mário!

Com certeza, todos lembraremos dos sons sinalizadores de outrora ou de agora,ao lerem o texto.
Lembrei-me da sirene da fábrica de estofados Teperman,perto de nossa casa; também do sino da paróqui Santo Emidio, no largo da Vila Prudente e que ouviamos de lá de nossa casa....e era um pouc longe...engraçado, né?!
Da sineta da escola, do apito do guarda noturno, que tb passava de hora em hora,pela madrugada...
Do papagaio de nossa vizinha que pontualmente a chamava às 6 horas da manhã,pedindo café...
Bacana suas lembranças!
Valeu!
Obrigada.
Muita paz!

Zeca disse...

Olá, Lopomo!

Muito boa essa lembrança dos ruídos que sempre nortearam (e continuam norteando) nossas vidas! Em casa também éramos orientados pelos diversos apitos ou estrondos, sempre à mesma hora! O que mais recordo era que, às onze e meia, o apito de uma fábrica (não lembro qual) "avisava" minha avó que era hora de chamar-nos, a mim e ao meu irmão, para que nos lavássemos e nos preparassemos para o almoço, que geralmente era servido quando começavam os estrondos de dinamite de uma pedreira. E à noite, dormíamos mais tranquilos com os apitos, de hora em hora, do guarda noturno fazendo sua ronda.
Hoje, são tantos os barulhos, que não conseguimos mais distinguí-los e muito menos nos orientarmos por nenhum deles.
Atualmente até os rádios relógios estão sendo substituidos pela vibração dos celulares... rs.

Abraço.

Wilson Natale disse...

Lopomo: Coisa boa lembrar os barulhos e sons da cidade e dos bairro operários.
Hoje, além do "Gásssss! Olha o gásss" Estão os caminhés da "Água de lavadeira! Vassouras, rodos..." e outras cositas más...
Apitos de fábricas aqui na Mooca era uma festa!
Abração,
Natale

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Mário, onde estarão as sirenes de antigamente, o apito das fábricas aquí do Ipiranga? hoje o que eu mais ouço é um toque de ferro com ferro nas construções avisando os peões que é hora do almoço, parabéns pelo texto, Nelinho.

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