sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Confiteor


Eu sou Vai-Vai e sou Mangueira.
Prá mim não existem outras Escolas de Samba.

As demais Escolas de São Paulo e do Rio de Janeiro não existem, ou apenas fazem escada para as minhas Escolas do coração.
Estas sempre foram minhas declarações com relação ao Samba e às Escolas de Samba.
Esta semana, todas as minhas convicções, todas as minhas certezas (falsas) ruíram terra abaixo.
Ao assistir, pela TV, a tragédia que se abateu sobre o Rio de Janeiro, ao ver os tufos de fumaça exterminando o carnaval de algumas Escolas que antes eu nem considerava, inclusive a minha mais execrada Portela, e das despercebidas União da Ilha e Grande Rio, percebi que o SAMBA corre em minhas veias e corre com uma força tão grande que não me permite ter que desconsiderar.

Lógico que tenho as minhas preferências e elas continuam sendo fortes e inabaláveis, mas as demais escolas do Rio e de São Paulo passaram a merecer um respeito que antes eu não oferecia.
Estou falando de Escolas de Samba, entendam bem, não mencionei nem vou mencionar as pretensas “escolas” formadas por torcedores futebolísticos. Independente das minhas preferências “clubísticas”, não as considero Escolas de Samba de Raiz; quem sabe um dia, daqui alguns muitos anos, quando o samba falar, realmente, muito mais alto que as cores de um clube de futebol, eu possa reconsiderar a minha opinião. Hoje isso é impossível.
Samba, no meu entender, é um ritmo quente que balança o coração da gente e nos faz tirar os pés do chão.
Mesmo quando só as batidas cadenciadas de um surdão, expressando a dor sentida por uma comunidade, são ouvidas por quem gosta de Samba, um arrepio gelado sobe por toda a nossa coluna vertebral, os braços ficam, inexplicavelmente, arrepiados e os olhos chegam a lacrimejar.

Foi situação assim que, hoje, me fez repensar nas minhas (in) certezas. Assistindo ao programa “Esquenta”, vendo a comunidade da Grande Rio que, embora presente, ainda chorava suas grandes perdas, foi que a ficha caiu.
Amo o samba em todas as suas manifestações e comunidades. Torço, de coração, para que as escolas atingidas pelo desastre possam se reabilitar e voltar, com toda a pujança, para a avenida e presentear o público com a maravilha de espetáculo que só acontece uma vez em cada ano, fortalecendo, dessa maneira, cada vez mais a música de nossas raízes.

Por Miguel Chammas

10 comentários:

Arthur Miranda disse...

Belo texto Miguel, depois de ler o mesmo e reler varias vezes, vou até tentar mudar minha ma vontade em gostar de desfiles de Escolas de Samba, vou tentar pelo menos, não achar os desfiles das mesmas um repeteco sem fim, que acredito que se fosse estar entre a galera que assiste o desfile ao vivo nos sambódromos, eu só agüentaria ver a passagem de duas escolas no Maximo. Adoro Samba, mas não sinto nenhuma emoção em ver uma escola de samba e suas alegorias. Acho até que não gosto mesmo e dos Sambas Enredos. Me aguarde vou sair daqui a pouco as 10:00 para o encontro das redondas.

MLopomo disse...

Apesar de palmeirense eu também sou Vai-Vai, que até o final dos anos 1960, era Cordão. Com a oficialização do carnaval pelo prefeito de São Paulo o Carioca de Vila Isabel, José. Vicente de Faria Lima. Daí para disputar o titulo que seriam somente por escolas de samba, o Vai Vai, e outros Cordões viraram escolas. Sou Vai-Vai influenciado pelos Bixiguentos da família Galvão, Pedro (bombeirinho) Getulio e Mario Galvão, este meu colega de bandeirantes. Torço pelo Vai-Vai, como torço pelo Palmeiras. Avante Preto e Branco do Bixiga!

Anônimo disse...

"Quem não gosta de samba bom sujeito não é". Eu gostei da sua crônica, Miguel Chammas.

suely schraner disse...

Que anônimo que nada, errei no envio.
abraço,
Suely

Zeca disse...

Miguel, belíssima crônica falando de uma das maiores expressões populares deste país e adotada por nossa amada cidade há não muito tempo.

Ainda que nem todos gostem, eu gosto muito de samba e, especialmente, dos desfiles das Escolas de Samba, sejam as de Sampa, sejam as do Rio. É comum eu varar madrugadas assistindo pela TV aos desfiles, assim como já fui assistí-los ao vivo, em épocas mais remotas, quando o peso da idade ainda não me impedia de fazer todas as coisas que queria.

Hoje podemos falar em Escolas de Samba paulistas, para mim, uma das favoritas, a querida Vai-Vai. Mas também arrasto as asas para a Rosas de Ouro.

Até ontem, as que contavam mesmo eram as do Rio, entre elas a Portela (sei que você a execrava, meu amigo), mas não podemos negar que é uma das grandes, com sua história e seus títulos, sempre abrilhantando o carnaval carioca e encantando não só os turistas, mas todos que, como eu, se empoleiravam no Sambódromo à espera do "maior espetáculo da Terra".

Esse incêndio abateu a todos nós e doeu em nossos corações. E você, com sua prosa sempre da melhor qualidade, conseguiu colocar em tão poucas linhas, esse sentimento que, certamente, fez doerem todos os corações daqueles que gostam dos desfiles.

Que a Portela, a União da Ilha e a Grande Rio mostrem, na avenida, a garra e a coragem de toda a sua comunidade. E até o próximo carnaval, com certeza, a tragédia de 2011 seja mais uma parte das histórias dessas grandes Escolas de Samba.

Parabéns por mais esta bela crônica, meu amigo!

Abraço.

Luiz Saidenberg disse...

Belo texto, Miguel, e tomara que seus votos de um belo Carnaval carioca se concretizem, apesar do incêndio e da monstruosa devastação que atingiu as regiões próximas do Rio.
Não sou adepto dos desfiles oficiais, samba para mim está mais para samba canção e bossa nova. Mas, sem dúvida são espetáculos majestosos. Abraços.

Modesto disse...

Por que será que, ao ouvir um "surdo", meu coração começa a disparar, sendo eu, filho de pai e mãe italianos e nascido no Braz. Tenho essa reação... deve ser a magia que o compasso sincopado do samba, como se fosse uma 'droga' inoculado no sangue e seu efeito é de imediato. Acho que são as longinquas expedições de mouros e sarracenos que invadiram o sul da Itália, formaram suas tribus e... agora percebi, Miguel, "Laruccia", "aLá rosso", Deus vermelho. Tá no nome, é do samba mesmo. Muito linda sua crônica, Miguel, parabéns.
La Ruccia

Wilson Natale disse...

Boa-noite Miguel. Texto ótimo, sensível. Adorei!
Acredito que para tudo o que acontece há uma razão renovadora.
Talvez esse ano, no0 Rio, vejamos o SAMBA na "avenida" e nos pés dos sambistas. As vozes e a Bateria são as alegorias e os adereços. E os carros alegóricos serão as cabrochas, as passistas e os passistas. E o mestre-sala com sua porta-bandeira serão a maior jóia e destaque da Escola. E as bahianas rodando em movimentos sincronizados serão as luzes, os brilhos e a coroa maior de cada Escola. Talvez esse ano, os carnaval retorne às suas raízes e reverencie esse povo moreno que luta, sonha e faz acontecer o carnaval. E louras globais, siliconadas,personalidades, personalidades por quinze minutos, sem forças para levarem o samba no pé deixem de ser destaques televisivos e as cãmeras exibam as personalidades que fazem o carnaval.
Espero que esse ano tenhamos um carnaval para brasileiro ver e não para inglês ver.
Maus amores no Rio são a Mangueira e o Império Serrano. Em São Paulo é a "Pérola Negra, te amo, te amo"!
Abração,
Natale
Ps: Ainda estou em Rio Claro e parei o dia de trabalho agorinha pouco.
Divirtam-se por mim!

Memórias de Sampa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Soninha disse...

Olá, amor!

Foi lamentável, realmente,o acontecido no RJ, nos galpões da liga das escolas de samba e a perda de tuo o que já estava preparado para o carnaval 2011.
Há males que vem para o bem... E este,com certeza, fará com o carnaval deste ano seja mais autêntico, com os componentes das escolas prejudicadas pelo incêndio com o samba no pé,mostrano todo o seu valor.
Eu,particularmente,não gosto de carnaval...Mas, tem algo interessante quando a bateria começa seus acordes e chamamento para o início do espeáculo... É como um grito de guerra e contagia a todos, com certeza.
Valeu!
Muita paz! Beijosssssssss