Já lá
se vão muitos anos. Estávamos no curso dos anos “tenta”, possivelmente “tenta e
cinco”. O solar da família Chammas era em um apartamento no oitavo andar de um
prédio da Rua Rocha, esquina com a Rua Itapeva, lógico, no meu idolatrado
Bixiga.
O
titular daquele núcleo familiar, eu, era um orgulhoso profissional da área de
Consultoria Empresarial de O&M que, naquelas alturas, já colecionava uns
tantos trabalhos de sucesso em todo o território nacional. Meu sucesso não era
medido pela remuneração um tanto aquém do merecimento natural, mas era, sim,
medido pelos trabalhos realizados com todo o denodo e com seus resultados
devidamente comprovados.
A
família, por sua vez, sentia com minhas ausências profissionais já que, por
força de trabalhos distantes, era eu obrigado a me ausentar por períodos de
três semanas a cada fim de semana retornando, mas mesmo assim íamos vivendo com
dignidade respeito e muito carinho.
O
apartamento era alugado; veículo, tínhamos um Ford Corcel II vermelho
flamejante, naquela altura, um tanto quanto necessitado de melhorias.
Estava
desenvolvendo, no período, um trabalho em São Paulo o que alegrava a todos.
Fiquei nesse trabalho por algumas semanas e, utilizando o carro com maior
frequência, fui reparando todos os seus defeitos e necessidades.
Resolvi,
então, depois de pesquisar orçamentos, mandar arrumar o nosso transporte.
Seriam verificados e reparados os pequenos defeitos mecânicos e, lógico, os
defeitos da carenagem e consequente pintura.
Aceite,
para tal, trabalhar um período sem condução própria, utilizando serviços de
taxi para meus deslocamentos.
Na
última semana do meu trabalho em São Paulo a reforma do carro estava sendo
terminada, e contente, eu poderia passear no final da semana com toda a tropa,
coisa que já não fazíamos havia algum tempo. Mesmo por que eu já sabia que na
semana seguinte estaria assumindo uma nova tarefa no interior e estaria
ausente, quem sabe, por mais algumas semanas.
Fizemos
o planejado passeio. Fomos almoçar na Cantina Veneta, nossa predileta, que
ficava na estrada de M’boi Mirim.
Como de
praxe, no carro já estavam acomodadas a minha mala de viagem e minha maleta 007
com os materiais de uso profissional (naqueles tempos noteboock não era nem
conhecido por estas plagas), pois após o almoço, a “dona patroa” me
desembarcaria na Rodoviária da Rua Duque de Caxias para início de minha viagem
profissional e retornaria à casa com nossas filhas.
Pronto,
final de semana perfeito, embarquei com destino ao interior e na segunda-feira,
iniciei um novo trabalho. A distância dessa nova tarefa não era grande e isso
me permitiria retornar a cada sexta-feira.
A
semana passou rápida e me permitiu um retorno mais cedo para casa. Desembarquei
em São Paulo por volta das 14h00 e de taxi fui para casa.
Minha
ideia era chegar em casa, largar a bagagem, pegar o carro e ir buscar minha
esposa (esqueci de contar que ela, no intuito de ajudar as finanças domésticas
trabalhava, como escriturária, no Hospital Menino Jesus também no Bixiga)
fazendo-lhe uma surpresa.
Se
assim pensei, assim procedi. Só que ao descer na garagem do prédio e localizar
nosso carro na vaga a ele destinada, levei um susto. Meu corpo gelou da cabeça
aos pés. Aquele carrinho, quase novo., pintadinho de vermelho estava, agora,
ostentando um nobre e profundo amassado na sua trazeira.
Cego de
raiva embarquei e quase desmontei o carro tal a violência usada para bater à
porta. Sai cantando pneus e só parei à frente do Hospital. Buzinei algumas
vezes e, finalmente, ela e a prima que com ela trabalhava, apareceram na
janela.
Ela fez
um sinal me pedindo para aguardar e eu já percebi que a desculpa estava pronta
e convincente. Tratei de me acalmar e quando ela se aproximou já foi dizendo:
“-a culpada fui eu...não percebi a mureta do estacionamento e bati fazendo a
manobra...”
Um
pouco mais calmo disse que ela fosse para casa por que eu iria tentar resolver
o problema do carro... Fui e resolvi.
Levei o
carro até a Loja Ford Sonnerving que existia na rua Frei Caneca, pedi uma
avaliação do carro no estado, perguntei o preço de uma Belina Ford LE Branca,
que era meu sonho e havia me encantado desde a entrada, negociamos a troca e o
financiamento do valor excedente e, às 19h30 este consultor, extremamente
satisfeito, já com seu novo troféu estacionado na garagem, usou o interfone da
portaria para chamar toda família e com eles festejar a nova aquisição que,
diga-se de passagem, foi aprovada e comemorada por todos.
Em
seguida, todos embarcados, fomos passear e mostrar nosso carro aos parentes
mais próximos.
Lembrei
dessa passagem hoje ao ler hoje em algum lugar um ditado que dizia “Há males
que vem para o bem.”
Por
Miguel Chammas
2 comentários:
Olá, Miguel!
Recordar é viver. recordas nossas conquistas, mesmo que elas contenham adversidades, também nos faz rir e chorar, emocionar e contar.
Valeu!
Muita paz!
PS: Só não gostei de ver o "tropa" para falar da família. Tropa é coletivo de cavalo.
Mais paz!
Sonia Astrauskas
Hahaha, muito legal esse momento de sua vida. Coisas que acontecem e que temos que encarar além de solucionar. Nada mal um carrinho novo pra família, realmente há males que são para o bem.
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