segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Uma volta pelos anos 60 em São Paulo

 
Para assistir ao vídeo, clique em play
 
Confira o vídeo com a seleção de fotos muito especiais da década de 60 da cidade de São Paulo.

Nele estão listadas as seguintes ruas:

Rua Bela Cintia
Rua Cardoso de Almeida
Rua Benjamin Constant
Rua Líbero Badaró
Rua XV de Novembro
Rua bom Pastor
Rua Amaral Gurgel
Rua Conselheiro Crispiniano
Rua Estados Unidos
Rua Dom José
Rua Direita
Rua Doze de Outubro
Gasometro
Mooca
Xavier de Toledo
Treze de Maio
Santo Antonio
Voluntários
Rua Senador Feijó

Informações e vídeo extraídos de:
http://soudesaopaulo.com.br/coisas-de-sao-paulo/1701/Vamos-dar-uma-volta-pelos-anos-60.html

Administradora do blog Memórias de Sampa

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

As esfihas duplas


 
imagem: Rua Barão de Itapetininga - década de 60
 
No início dos anos 60, bem ali, na rua Barão de Itapetininga, junto à Livraria Francesa, o seu Natalino vendia aquelas esfihas gordurosas em uma estufa que ficava na porta de um bar.
Em volta da tal estufa, transeuntes de poder aquisitivo irrisório, eu era um deles, se reuniam para degluti-las na hora do almoço.
Eu era office-boy e trabalhava ali perto, na Galeria Califórnia, e sempre marcava o ponto na porta daquela bar.
"Seu Natalino, manda ver uma esfiha dupla aí para mim, não comi nada até agora" pedia eu.
Com o pegador de metal, o seu Natalino colocava uma esfiha sobre a outra e as dobrava colocando-as naquele papelzinho liso que não absorvia nada.  Era a tal "esfiha dupla". Depois de encharcá-la de limão com aquelas bisnáguas um tanto encardidas, seu Natalino estendia o braço dando-me a preciosa iguaria. Além do limão, o que não faltava era o óleo que a esfiha esbanjava.
Normalmente o freguês se inclinava para a frente e recuava os pés para trás evitando que o óleo caísse no sapato quando a esfiha era abocanhada. Como ganhava pouco e não tinha grana para gastar em sanduíche e em PF, as esfihas duplas do seu Natalino quebravam um galhão.
Bons tempos aqueles.
Por Nelson José Xavier da Silva
 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Lembranças da 4ª série

 
imagem: "O SOLDADO TANAKA" - DE GEORG KAISER - 1959 TEATRO BELA VISTA - SÃO PAULO TARCÍSIO MEIRA E SÉRGIO CARDOSO


Quando estava na 4ª série do ginásio (oitava série ou novo ano hoje), fazia parte de uma comissão de alunas que não queria a diretora na nossa escola (Instituto Feminino de Educação Padre Anchieta). A famosa Dona Helena.
Enfim, um dia, o jornal da hora do almoço da TV Tupi (Tico-Tico e Maurício Loureiro Gama) chamou essa comissão para falar do caso e eu, no auge da minha adolescência, vi Tarcísio Meira no mesmo ônibus que eu (um daqueles que saía da Praça do Patriarca). Eu o conhecia dos teleteatros da mesma TV Tupi e, como acompanhava as críticas no jornal, sabia do ator jovem e bonito, que havia participado de O Soldado Tanaka. Naqueles tempos eu só havia assistido Gigi no Teatro Bela Vista, com Paulo Goulart, onde Conchita de Moraes apareceu e foi aplaudida em cena aberta (eu não entendi, mas aplaudi também porque sabia que era alguém importante). 
Bem, tudo isso, apenas para dizer que hoje assisti, via internet, ao Roda Viva, onde Tarcísio Meira foi entrevistado e, não sei porque, lembrei do meu amigo Miguel. Até sei, pois o Miguel Chammas era o diretor-produtor-primeiro ator do GATO, Grupo Amardor de Teatro Ozanam e, um vez, trabalhou no Teatro Bela Vista e participou de um "teatro jovem", inclusive com Osmar Prado.
Padre Anchieta, Miguel, Tarcísio Meira, Teatro Bela Vista são passado, mas não passaram .
Por Teresa Fiore
 

sábado, 7 de novembro de 2015

Molecagens

 
 
imagem etraída da internet: Rua Tuiuti - Tatuapé - década de 50 e 60
 
Tatuapé, parte de cima, década de cinquenta, a única rua calçada com paralelepípedos era a Tuiuti, a artéria principal do bairro, as travessas, ruas do Ouro, Platina e paralelas eram todas de terra.
 A molecada se divertia, as brincadeiras mudavam sem que ninguém percebesse, era tempo de uma coisa, de repente era de outra, tempo de pião, bola de gude, pipa, raquete. Cada bairro tinha sua peculiaridade. Num lugar os garotos empinavam pipa, noutros maranhão ou papagaio, nós empinávamos quadrado ou barraca.
 Uns jogavam bolinha de gude, outros burquinha, mesmo sendo o mesmo jogo. Nós jogávamos raquete, noutros bairros o mesmo jogo era betis ou taco. Mãe da rua, queimadas, palha ou chumbo, onde está fica. As únicas brincadeiras que não tinham seu tempo certo eram as peladas de futebol, entre nós ou contra os da rua de cima ou de baixo, que as vezes rendia belas brigas, coisa de que anos depois riamos a valer. E no mês de junho, os balões e fogueiras.
 Havia também o tempo de colecionar figurinhas, as famosas Balas Futebol,
 colecionávamos as figurinhas com a foto dos jogadores e jogava-se fora as balas, intragáveis de tão doces. Certa ocasião, por absoluta falta de dinheiro e excesso de imaginação, começamos a colecionar maços de cigarros, e como nas figurinhas, tinham os fáceis e os difíceis. Marcas como Continental, Belmonte, Macedonia, Beverly, eram os mais fáceis, tinham os mais ou menos, Hollywood, Luiz XV, Mistura Fina, e os mais difíceis eram os famosos cigarros ovais Fulgor, Castelões, Aspásia e o dificílimo
Caporal Lavado, havia também o Negritos, um cigarro com papel escuro adocicado e uma infinidade de quebra peito que naquele tempo não vinham com o aviso que cigarro faz mal e nem as fotos assustadoras de hoje, que parece, ainda não assustam ninguém. O bairro estava crescendo e com inúmeras construções, brincávamos no monte de areia, de caminhão, e o nosso "caminhão" era um tijolo.
Cada coisa no seu tempo, não sei dizer se era melhor ou pior do que nestes tempos de videogames, lan houses etc., mas lembro-me que o grande "bandido" da época era o Menegueti, uma espécie de Robin Hood, que nos dias de hoje seria um Franciscano, e o mais grave que acontecia com as pessoas, as adultas claro, era um "nervoso" que era curado com chá de cidreira. Não se ouvia falar em stress, depressão ou síndrome do pânico.
Como diria minha mama Angelina: Mária Vérgine, como era buono San Paolo nos  anos tchincoenta.
 
Por José Beira

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Evento Fenomenal

 
Durante um grande evento, aqui em Praia Grande, considerada o maior pólo turístico do mundo, ilustres pessoas conversavam, fervorosamente, sobre vários assuntos, quando eu, Sonia Astrauskas, tirei o pino da granada agitadora. A abundante presença de certos elementos raros encontrados no manto da Terra não bate com as teorias vigentes até agora sobre a formação do planeta que, segundo recentes pesquisas, a crosta terrestre apresenta metais raros que remontam de zilhões de anos e que teriam dado origem ao nosso amado planeta. Foi o suficiente para o furdunço se formar. Margarida Peramezza dizia ter ouvido que o Pico do Jaraguá era formado por rochas vulcânicas e que, em breve, poderiam provocar uma transformação do monte, providencialmente para acabar com as manobras dos mandantes do crime organizado nas comunidades da periferia da cidade de São Paulo. Suely Schraner, que explanava sobre o complexo Olímpico em Sampa, com tudo pronto para 2016, quase desmaiou e gritou em alto e bom som: comigo não, violão... Nem vem acabar com minha alegria, pois estas notícias são especulatórias só para colocar caroço no angu paulistano.
Antes que o alvoroço tomasse conta dos presentes, Marcia Ovando surge, pacificadora, pedindo calma a todos e que  prestassem mais atenção, pois todos os olhares estavam sobre aquela cidade panorâmica e luxuosa, Praia Grande, e que o evento não poderia ser prejudicado; afinal, não são todos os dias que Sonia se dispõe a caminhar sobre as águas mornas e claras desta rica região.
Eu explicava que ao redor da Terra existe um imenso campo magnético formado há mais de 3 bilhões de anos, fortalecido pela combinação destes metais e que continham, inclusive, a ação do urânio.
Logo chegaria ao evento uma das mais ilustres personalidades terrena, Yeshua, filho de importantes comerciantes do ramo da marcenaria e de criação de pombos. Viria com sua comitiva, um verdadeiro séquito de colaboradores que tudo faziam para o êxito dos negócios da família. Luiz Saidenberg,  queria aproveitar a ocasião e promover uma mostra de artes, juntamente com Arthur Miranda  e José Carlos Munhoz Navarro, que vieram de Lorena e Itatiba especialmente para o evento, providenciavam a arrumação do local, assessorados por Vera Lúcia de Angelis. Naida Armbrust Ribeiro, que estava dando umas voltas pela Europa, ficou uma fera quando não conseguiu vôo para o Brasil, a fim de prestigiar o grande acontecimento.
A imprensa, sempre presente, não deixou de registrar um pingo de “i” sequer. Modesto Laruccia, escriba dos bons, tudo anotava, juntamente com Joaquim Ignácio Netto que não perdia um detalhe e, com suas lentes poderosas, fotografava tudo e todos. Escritores e poetas, enternecidos, escreviam seus poemas e frases inesquecíveis, Zeca Paes Guedes exaltou a grandeza daquele mar limpo e belo e Marco Aurélio Loureiro esculpiu com palavras exóticas a beleza das mulheres locais. Cida Micossi me amparava em todos os preparativos para o momento tão esperado. Não faltou a mão prestativa de Ivette Gomes Moreira. Miguel Chammas degustava uma boa cachaça vinda diretamente dos famosos alambiques  do Bixiga, região produtora do mais fino néctar de cana, assessorado pelo Nelinho, igualmente especialista no assunto, mas que pedia tocassem um belo tango que o remetesse aos velhos tempos de bailarino, das grandes casas noturnas de Sampa nos idos de 1960.
Chefiando a equipe do Buffet, riquíssimo em iguarias de todas as regiões do planeta, estava Bernadete Pedroso, com sua postura impecável, a tudo comandava com esmero. Teresa Fiore liderava a equipe de produção e trouxe os produtos e utensílios italianos e franceses de sua última viagem à Europa, para as makes das estrelas. Sem largar o microfone, Mayara de Castro seguia fervorosamente ministrando sua palestra sobre terapia holística.
Chegavam os convidados de todos os locais do Brasil e do mundo, ansiosos para o grande momento. Acomodavam-se pelas areias brancas e macias da praia. Fogueiras enormes eram acesas e canções entoadas para celebrar tão importante fato. Um coral imenso se formou. Lourdes C. B. Ciavata, Mirça Bludeni de Pinho, Isabel Loureiro, Berenice Vasconcelos, Marcia Saidenberg, Myrtes Laruccia, Jurema Tesse, Valfrio de Souza, Guilherme Carlos Graziano, Roberto Capuano, pai e filho, Marcello Pizo, Clésio Deluca, Denise Procópio, Pedro Nastri, Nelson de Assis,  Erta Tamberg, Wilson Natale, Luiz Sales, Marcia Calixto e sua filha Fernanda, Clara Azevedo e tantos outros, em uníssono cantavam e pediam: agora, agora, agora.
Movida pela emoção e chegado o momento glorioso, trajando meu manto branco e dourado, caminhei por entre os convivas e adentrei no mar... Bastaram poucos segundos para que eu andasse, calmamente, sobre as cristas das ondas em direção ao mar alto, deslizando pelas águas tranquilas, sob aplausos frenéticos e gritos de louvor.
Jamais esquecerei.
Por Sonia Astrauskas
 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Memórias Primárias

 
imagem: Colégio Des Oiseaux
 

Hoje, 15 de Outubro de 2015, afamado por ser festejado nesta data o dia dos professores, eu resolvi dar um pulo no passado e, lembrar dos meus primeiros mestres.
Justiça seja feita, na verdade minha alfabetização foi promovida por minha primeira professora, ou seja, minha própria mãe. Ela me ensinou a ler e escrever utilizando para tal façanha, a grande paciência que tinha as propagandas, que eram exibidas nos transportes urbanos da época, principalmente os bondes. Foi ali, naqueles bancos duros dos bondes camarão e aberto que eu soletrei minhas primeiras leituras.
Depois, já ultrapassada a fase de alfabetização, iniciei a minha peregrinação pelo mundo dos estudos e experiências literárias. Fui cursar o Primário (assim eram conhecidos os quatro primeiros anos de estudos de uma criança).
Para iniciar minha vida estudantil, minha mãe optou por me matricular numa escola de princípios católicos que era a base fundamental de minha família.
Juntando o útil ao agradável, fui matriculado, por volta de 1947, na Escola de Santa Monica que ficava na Rua Augusta, bem em frente a minha residência e fazia parte do conglomerado educativo do Colégio Des Oiseaux, um colégio das freiras belgas da Ordem das Regrantes de Santo Agostinho, que tomava a maior parte do quadrilátero compreendido pelas Ruas Augusta, Caio Prado Jr, Consolação e Marquês de Paranaguá.
Ora muito bem, matriculado fui aos poucos sendo apresentado às mestras e diretora do estabelecimento educacional.
A primeira a me conhecer foi a diretora Madre Olavo, um anjo de ternura com um rosto de uma boneca de porcelana, linda e delicada. Depois conheci a vice-diretora, Madre Yvone, uma velha rabugenta com rosto de bruxa das historias infantis (se a memória não me falha, tinha até uma verruga na ponta do nariz), nossa convivência nunca foi das mais agradáveis.
Vieram em seguida as professoras que deveriam cuidar de transmitir meus primeiros conhecimentos, eram elas Da. Rina (magra, quase cadavérica, de ossos salientes, voz esganiçada e de comportamento temido por todos), Da. Angela (aparência comum, mas igualmente brava e determinada, que não pedia permissão a ninguém para nos aplicar safanões e puxões de orelhas), e finalmente, a doce e querida Da. Maria de Lourdes, que tal e qual a Madre Olavo era um anjo de candura e paciente como ninguém, gostava de ensinar e tratava a todos os alunos deferência especial, não me recordo de ter, por uma única vez, ouvido sua voz extrapolar o nível de um volume agradável e inteligível.
Bem, mesmo tendo cada uma das minhas primeiras mestras, uma personalidade única, me ensinaram muito, e me deram todo o apoio nos primeiros passos da minha caminhada pela vida e neste texto quero deixar expressa a minha eterna gratidão.
Por Miguel Chammas

Saudade

 
imagem: Paróquia São José do Ipiranga
 
 São 01:15 horas da madrugada; todos aqui em casa já se recolheram para o merecido descanso e eu continuo acordado pois o sono ainda não chegou a me incomodar. Vou à janela para sentir a brisa refrescante da madrugada... Meu olhar se dirige para o final da rua, lá em baixo, e logo começo a recordar os bons momentos que passei neste meu querido bairro do Ipiranga e, também, as pessoas com as quais tive algum contato durante todo esse tempo.
Na esquina das ruas Lino Coutinho e Lucas Obes, ficava a barbearia do Afonso, depois passou para o Antônio Grimaldi e, finalmente, ficou com o Jeremias Sapupo; hoje já não existe mais.
O campinho de terra batida, onde joguei bola, deu lugar a um prédio de apartamentos e uma fileira  de sobrados. Onde estarão os amigos de ontem? O Valdemar, o Nilson, a Irene filha do alfaiate, a Jane com a qual cheguei a manter um breve namorico... Era uma loira muito bonita (há anos fiquei sabendo que ela casou-se com um americano e foi morar em Nova York), a Madalena que morava na Rua Cipriano Barata, tinha longos cabelos cor de ouro, as duas filhas do Sr. Issa que moravam na Lucas Obes, onde ele mantinha um empório, a Inês neta de um casal de alemães que residiam na Rua Agostinho Gomes, graças a essa família passei a gostar da salada de beterraba, a Cidinha filha da Elvira e do Alberto, a Dalva Abdala, o José Cursio companheiro do tempo de coroinha na Igreja São José, o Paulinho Carioca, o Porfirio grande bailarino que dançava nas noites de domingo no CDR São José, o Eurípedes Lastebasse,  com quem disputei memoráveis partidas de xadrez.
  São lembranças que estão adormecidas em algum escaninho de minha memória mas, de vez em quando despertam e trazem consigo uma imensa saudade.


Abraços, Leonello Tesser (Nelinho)

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Contos da cidade grande - São Paulo 1966

No ano de 1966, eu trabalhava na Standard Propaganda que ficava na praça Roosevelt no centro da cidade. A praça, diferentemente do que é hoje, era um imenso estacionamento a céu aberto. Tínhamos ali perto, na mesma praça, o Cine Bijou que só exibia filmes de arte, A Baiuca, casa noturna onde era fácil encontrar Dick Farney, Araken Peixoto (irmão do Cauby), John Alf, Zimbo Trio e outros. Um dos atrativos principais era o seu famoso filé a Chateaubriand ao molho de mostarda da pontinha da orelha. Na rua de trás, Nestor Pestana, ficava a refinada TV Excelsior canal 9 dirigida pelo meu amigo Edson Leite. Sexta-feira era só alegria. Como publicitários, recebíamos gratuitamente as revistas da época, cortesia das editoras. No final da tarde o Osvaldo Cioffi, que trabalhava na Midia chefiada pelo Nicolau Nigro, trazia um monte de revistas para nós todos. Manchete, O Cruzeiro, Fatos & Fotos, Realidade, Senhor, Visão, Playboy, inTerValo,, revistas de fotonovelas e infantis. Depois do expediente, eu e meus amigos Neco, o português, Jefferson, Clayton e Ione descíamos a pé ate a rua 24 de Maio onde ficava a APP (Associação Paulista de Propaganda). Lá nos encontrávamos com meu irmão Carlinho o “Xará” e o Boni, que trabalhavam na Multi Propaganda, o Diogo “O Pai da Nota”, o Zé Santos, David Cardoso e seu primo “Kimble” a Chateuabriand ao molho de mostarda da pontinha da orelha. Na rua detrás, Nestor Pestana, ficava a refinada TV Excelsior canal 9 dirigida pelo meu amigo Edson Leite. Sexta-feira era só alegria. Como publicitários, recebíamos gratuitamente as revistas da época, cortesia das editoras. No final da tarde o Osvaldo Cioffi, que trabalhava na Mídia chefiada pelo Nicolau Nigro, trazia um monte de revistas para nós todos. Manchete, O Cruzeiro, Fatos & Fotos, Realidade, Senhor, Visão, Playboy, InTerValo, revistas de fotonovelas e infantis. Depois do expediente, eu e meus amigos Neco, o português, Jefferson, Clayton e Ione descíamos a pé até a rua 24 de Maio onde ficava a APP (Associação Paulista de Propaganda). Lá nos encontrávamos com meu irmão Carlinho o "Xaxá" e o Boni, que trabalhavam na Multi Propaganda, o Diogo "O Pai da Nota", o Zé Santos, David Cardoso e seu primo "Kimble", o Pedro, Alex Periscinoto e o Arapuã da Alcântara Machado, o Luizir Blota da Thompson e outros amigos. Ali, disputávamos acirradas partidas de bilhar em duplas, com caçapa cantada. Outros preferiam jogar xadrez, ouvindo a bela voz do Pedro que cantava a canção "Laura" sucesso do Jorge Goulart, tudo regado ao bom uísque Dimple. Depois disso, ainda dávamos uma esticada ao Badaró, casa de danças que ficava no mesmo prédio para dar uma relaxada. Afinal, ninguém é de ferro. a Chateuabriand ao molho de mostarda da pontinha da orelha. Na rua detrás, Nestor Pestana, ficava a refinada TV Excelsior canal 9 dirigida pelo meu amigo Edson Leite. Sexta-feira era só alegria. Como publicitários, recebíamos gratuitamente as revistas da época, cortesia das editoras. No final da tarde o Osvaldo Cioffi, que trabalhava na Mídia chefiada pelo Nicolau Nigro, trazia um monte de revistas para nós todos. Manchete, O Cruzeiro, Fatos & Fotos, Realidade, Senhor, Visão, Playboy, InTerValo, revistas de fotonovelas e infantis. Depois do expediente, eu e meus amigos Neco, o português, Jefferson, Clayton e Ione descíamos a pé até a rua 24 de Maio onde ficava a APP (Associação Paulista de Propaganda). Lá nos encontrávamos com meu irmão Carlinho o "Xaxá" e o Boni, que trabalhavam na Multi Propaganda, o Diogo "O Pai da Nota", o Zé Santos, David Cardoso e seu primo "Kimble", o Pedro, Alex Periscinoto e o Arapuã da Alcântara Machado, o Luizir Blota da Thompson e outros amigos. Ali, disputávamos acirradas partidas de bilhar em duplas, com caçapa cantada. Outros preferiam jogar xadrez, ouvindo a bela voz do Pedro que cantava a canção "Laura" sucesso do Jorge Goulart, tudo regado ao bom uísque Dimple. Depois disso, ainda dávamos uma esticada ao Badaró, casa de danças que ficava no mesmo prédio para dar uma relaxada. Afinal, ninguém é de ferro., o Pedro, Alex Perischimoto e o Arapuã da Alcântara Machado, o Luizir Blota da Thompson e outros amigos. Ali, disputávamos acirradas partidas de bilhar em duplas, com caçapa cantada. Outros preferiam jogar xadrez, ouvindo a bela voz do Pedro que cantava a canção “Laura” sucesso de Jorge Goulart, tudo regado ao bom uísque Dimple. Depois disso, ainda dávamos uma esticada ao Badaró, casa de danças que ficava no mesmo prédio para dar uma relaxada.
Afinal, ninguém é de ferro.
Por Nelson José Xavier da Silva
 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A família aumentou


Amigos, quero apresentar aqui a mais nova ninhada de anjinhos latidores; são 7, filhos do branquelo Marshmellow e da dengosa Crystal, pequena dama canina de fitinha nos longos cabelos. As criancinhas nasceram dia 04 de outubro durante a parte da manhã, dia do Poverello Francisco de Assis, todas de parto normal. Minha neta Agatha, dona da Crystal, está que não se aguenta de felicidade...
Por Joaquim Ignácio Netto
 

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A escada

A história que vou contar é verídica, foi publicada pelo jornal "O Estado de São Paulo" de nove anos atrás, mais ou menos, com uma foto acompanhada de texto. Conto a mesma narrativa com um sabor romântico.
Osmar saiu da redação bastante revoltado, que se localizava no centro de São Paulo, nas proximidades da Rua Timbiras ou Aurora, Couto de Magalhães.
- Esse diretorzinho meia-boca, recém formado, ainda cheirando a leite ninho, dando ordens a veteranos como eu, esnobando minha experiência de mais de 30 anos... “Sr. Osmar, quero esse texto pronto, até duas horas da tarde, nem um minuto mais”. Ah!
- Realmente, as coisas mudaram muito.
- No meu tempo... - E lá foi Osmar divagando, com seus neurônios retesados, mas já preocupado com o texto.
Uma escrita para, no mínimo três colunas num quarto de página. Precisava encontrar na rua alguma coisa diferente, algo sem ser roubo, sequestro, crime passional, drogas... Esses assuntos cansavam os leitores.
Imbuído do forte propósito de escrever algo diferente, armou-se de uma caneta Bic e de um bloquinho, e rumou direto para o bairro de Santa Efigênia, no velho e sempre "acolhedor" (para esse tipo de serviço) centro da cidade, onde ocorre de tudo e se não ocorre, fazem ocorrer.
Andando pelas ruas, chegou a Couto de Magalhães e viu um lance ocasional bem esquisito: um soldado subir numa longa escada, até uma janela do primeiro andar de uma hospedaria, entrar e, em seguida, lançar uma mochila para uma mulher que a apanhou, alçou-a no ombro e foi embora, sem dizer nada.
A hospedaria apresentava a entrada barrada por um muro recém-levantado. “Que coisa mais esquisita”, pensou Osmar. Pensando e agindo de imediato, não se fez de rogado. Seus passos rápidos alcançaram a mulher ao dobrar a primeira esquina, então, Osmar interpelou-a de bate-pronto:
- Desculpe, minha senhora, mas acabei de assistir há pouco, uma...
- Eu sei, - interrompeu a moça- e o que é que você tem com isso?
- Eu... eu... na...nada... Só queria...
- Queria o quê? Não estou a fim de papo-furado, portanto, não enche o saco. Você é da polícia?
- Eu não, eu sou...
- Não me interessa quem você é, – interrompeu a mulher - vá cuidar da sua vida que eu mesma cuido dessa miserável de vida que levo. Já não chega o que aqueles bastardos me fizeram? Ainda vem você, com essa cara de assistente de educandário religioso, querendo o que?
Enquanto conversavam, Osmar notou que, apesar da raiva, ela andava no mesmo passo que ele, não dando nenhum sinal de querer se livrar dele. Animou-se.
- Escute, deixe-me falar um pouco. Pensa que só você tem problema nessa pestilenta de vida?
- Espere aí, assim... Eu, eu...
- Espera aí você! - cortou Osmar - Vendo seu rosto de perto percebo que tenho idade pra ser seu pai, portanto, vai me ouvir na marra. Já está na hora do almoço, aceita o convite?
Ela olhou pela primeira vez para o rosto de Osmar e resolveu ceder.
- A troco de que?
- De nada. Por quê?
- Vai me dizer que você não sabe o que faço...? O que sou?
- Não sei, mas desconfio... Pelo seu repertório...
- Isso mesmo. Uma prostituta, como vocês gostam de "embelezar" o nome.
Neste momento, passavam por um restaurante e os dois entraram sem falar nada, como se a sequência natural da caminhada fora aquela. Osmar tomou logo a iniciativa, perguntando:
- Me diga, qual a "jogada" do soldado de te atirar a mochila pela janela e você se mandar com a maior cara de pau deste mundo?
Ela encarou-o bem nos olhos deixou, sem se aperceber, transparecer um semblante triste, amargurado, sofrido, bochechas encovadas, olhos a marejar, lágrimas se formando nos cantos, cabelos lisos em desalinho e atendendo a um sinal de seu subconsciente, resolveu acreditar naquele cara. Sem responder, pediram o prato, comeram em silêncio e antes de pedir a sobremesa, resolveu falar.
- Olha, ó cara, eu... Como é mesmo teu nome?
- Osmar... E o teu?
- Verônica.
- Bonito nome, Verônica. Mas... Continue.
- Osmar, estou numa enrascada...
- Há quanto tempo vem isso? - obtemperou Osmar.
- Quase um ano... Você está anotando tudo? Por quê? – disse Verônica, um pouco receosa.
- Sou jornalista, não se preocupe... Não irei prejudicá-la.
- Mais do que já estou, você não vai conseguir... Bem, vim de Minas, de uma cidadezinha do norte do estado, com meu marido, deixando...
- Você é casada? – interrompeu Osmar.
- Mais uma interrupção, juro que vou...
- Calma, calma, eu só... Estou surpreso, não podia imaginar você, uma “mulher da vida” com...
- Com marido, não é mesmo? - interrompeu Verônica, um tanto quanto incomodada com o comentário de Osmar - Não me venha com esse papo de "mulher da vida", "profissão mais antiga" ou "mulheres de vida fácil", hipócrita duma figa! Eu só não fui embora ainda, porque estava com muita fome!
- Está bem, não vou te interromper mais, juro. Continue.
Olhou novamente nos olhos dele e pensou: "esse cara é diferente, não sei o porquê, mas confio nele" e prosseguiu:
- Vim pra São Paulo com meu marido e deixamos três filhinhos pequenos com minha mãe. Logo que pudesse mandaria dinheiro. O Julio, marceneiro, encontrou logo serviço, mas eu não... Mal sei escrever o meu nome, o melhor que pude arrumar foi de garçonete, num bar aí dá "boca". Moramos, numa pensão no Brás até acontecer o pior.
Verônica suspirou e continuou:
- Um dia eu estava trabalhando até mais tarde, outra garçonete havia faltado e o dono do bar pediu para eu ficar até as dez. Não tinha como avisar o Julio e, não querendo perder o emprego, resolvi ficar e depois iria explicar para o Julio e ele iria entender. O Julio apareceu lá pelas oito. Expliquei e ele entendeu. Pedi pra ele esperar sentado numa mesa, no fundo do bar. Em dado momento, um bêbado entrou no bar e mexeu comigo. Estou habituada e não liguei. Mas o Julio não deixou por menos. Foi tirar satisfação, brigaram e o Julio pegou seu canivete e acertou o pescoço do homem que, esvaindo-se em sangue, morreu antes de chegar a ambulância. Preso, pegou cinco anos por ser primário e eu fui despedida do emprego. Não sabendo fazer nada, sem escola e precisando mandar dinheiro pra minha mãe, resolvi "me vender". Arrumei um quarto nessa hospedaria, vinte e cinco "pratas" por dia, explorada por um patife de um paraguaio que mantinha um mercado negro de paraguaias. Desconfiados com as estrangeiras, alguns policiais apareceram e eles fecharam, com um muro, o “local do Sr. Gutierres”.
A jovem fez uma pausa, fixou o chão. Após uns instantes, olhou no rosto de Osmar e disse:
- Cheguei hoje de manhã, disse aos guardas que tudo que eu tinha estava no quarto e ele ficou com dó de mim. Arrumou uma escada e o resto você já sabe... Agora me diga: o é que eu vou fazer com essa minha maldita vida?! Oriente-me, por favor... – Verônica parou, levantou a sobrancelha - E você me fez tantas perguntas e quero saber: você acredita em mim?
- Acredito. Você não teria condições de inventar uma história dessas... Mas... Seu marido sabe de tudo isso?
- É claro. Quando mando dinheiro pras crianças, fica tudo bem. E, bem, eu gosto muito dele... Às vezes vou à penitenciária, nos dias de visita – com lágrimas nos olhos, Verônica exclamou - Mas tenho uma vida maldita, não é? Bem, e agora? Vai querer...? Costumo cobrar cinquenta "pratas", mas, pra você, não vou cobrar nada, só que não tenho lugar...
- Já disse que não quero nada de você, apenas um "bate-papo"... Mesmo porque... Ah, deixa pra lá...
- Espera aí, Osmar! Está me esnobando por quê? Sou tão feia assim? – falou a moça, surpresa.
- Não, não. É que eu... Não posso me envolver contigo e com nenhuma outra mulher... Bem, tenho outro amor e não sou correspondido.
- Também não precisa ser tão fiel assim! - exclamou Verônica - Hoje em dia, isso é tão comum e... Posso saber quem é “a gata”?
Osmar ficou em silêncio, com uma expressão sem graça, e respondeu:
- Trabalha comigo é... “Um gato...”
Verônica descansa o garfo no último pedaço de sobremesa. Atarantada, levanta-se, vai embora sem se despedir, pensando: “Sempre tem alguém pior do que a gente.”.
Osmar paga a conta, anota os últimos itens para o texto, saboreia antecipadamente a cara do diretorzinho ao imaginá-lo lendo seu texto. E, ainda, fica louco pra contar sua experiência do dia para sua esposa, principalmente a parte final da conversa com a jovem Verônica, a única ficção da narrativa.
Por Modesto Laruccia
 

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Memórias de querer

 
 
Hoje o dia está chuvoso e frio; perfeito para sentar em qualquer canto, calar a voz e permitir que o peito, através das lembranças, chore e ria o quanto e como quiser.
Não será preciso nenhum toque especial, nenhum gole de álcool ou qualquer outro motivador que seja. Basta, apenas, relaxar e esperar as memórias começarem a aparecer.
Bem pensado. Imediatamente colocado em prática. Surge uma dúvida: O que lembrar?
Bem, eu queria voltar no tempo, ir para as décadas de 40/50, e lá, naquele casarão da Rua Augusta 291, encontrar a minha infância, encontrar meu avô Gidi, minha avó Siti, minhas tias Neide e Zazá, meus primos Sonia e Roberto, minha mãe, meu pai.
Queria, de novo, subir pelas escadas de mármore, ganhar o corredor e, adentrando no quarto da frente, encontrar meu avô, já doente, e lhe fazer um cigarro de palha para, depois, então, ler uma boa parte do jornal até vê-lo ressonar, tranquilamente.
Queria continuar percorrendo aquele longo corredor, ultrapassar o primeiro quarto onde dormíamos, eu, meu irmão, meu pai e minha mãezinha. Passar, logo em seguida, pelo segundo dormitório que era ocupado por minha tia Neide e meus primos Sonia e Roberto e, finalmente, chegar à sala de jantar onde as reuniões familiares eram realizadas, onde a árvore de Natal era montada todos os anos, onde os presentes do ”Papai Noel” eram desembrulhados a cada dia 25 de Dezembro, onde as macarronadas dos almoços dos domingos eram realizadas, onde os pacotes de doces do Bar Viaducto, comprados por meu pai, eram abertos e os doces devorados por todos, onde nós, crianças, a cada almoço, tínhamos, divididas com justiça plena, garrafas de deliciosas Tubainas.
Sala onde eu presenciei ainda garoto, os bailecos promovidos por minha tia Zazá, recheados de trilhas sonoras com Fernando Albuerne, Gregório Barrios, Lucho Gatica. Bing Crosby, Frank Sinatra, Tommy Dorsey, Glenn Miller e outros sons doces e melodiosos e, depois, passados alguns anos, mudando de assistente para promotor, passei a realizar bailinhos, não de garagem, mas de sala, abrilhantados por Pick-up e sus Negritos”, amparados por “sandubas” de “Carne-Louca” e espetinhos de Salsicha e Picles enfeitando abacaxis ou outros que tais, regados a Ponche confeccionados com muita guaraná, Cinzano, frutas picadinhas e gelo.
Sala de mil lembranças, inclusive as tristes como os velórios de meu avô e depois de minha tia Neide, onde a ela era transformada em morgue, tomada de panos pretos azuis e dourados, iluminada por velas em castiçais prateados e flores de odor doce e nauseabundo, arejada por um pequeno aparelho emissor de ozônio de barulho irritante.
Ou seja, uma sala grande e facilmente adaptada às exigências da situação apresentada.
Queria continuar atravessando o corredor, passando pelo pequeno quartinho ocupado por minha tia Zazá, quando de sua solteirice, passando, depois, pela porta do único banheiro da casa que , no seu interior, guardava uma enorme e antiga cômoda de madeira que tinha suas gavetas usadas para acondicionar materiais de higiene e toalhas de rosto e banho. Tinha, também, uma enorme banheira de um metal forte e pesado, um tanto quanto enegrecida pelo tempo, e usada de quando em vez, para os banhos alegres das crianças que, depois de se refestelarem na água represada, usavam o chuveiro elétrico que desaguava ao centro da referida banheira para o desensaboamento.
Chegaria, então, ao cômodo mais importante da casa, a cozinha, poucos, onde a vida inteligente da família se reuniam nos dias não festivos para consumirem os alimentos (poucos no pós guerra), mas elaborados com carinho e maestria por Tia Neide e minha mãe. A cozinha era simples, tinha um fogão de ferro onde eram acesos com a ajuda de cascas de laranja que, por sua vez, eram penduradas na barrinha em frente do fogão para serem secas e, consequentemente, transformarem os carvões inertes dentro das bocas em brasas vivas, e emprestarem o seu calor para uma perfeita cocção dos alimentos. Tinha também uma mesa antiga, de madeira já bastante gasta nas bordas arredondadas, um armário para guardar pratos e copos, uma pia que, nos seus baixos, tinham sido empilhadas umas tábuas para acondicionarem-se as panelas que, por sua vez, eram escondidas por uma cortininha de pano estampada com pequenas flores azuis. A geladeira, que chegou um dia, para gáudio de todos, estava instalada ao lado da pia e, pasmem, era alimentada por barras de gelo que recebíamos diariamente através do “geleiro” e sua carroça básica.
Finalmente, descerrar a porta da cozinha e deparar com o cenário de minha pobre, mas alegre infância. O quintal que, ainda hoje, povoa minhas lembranças. No seguimento da porta da cozinha ficava uma escada que descia pela parede até o piso do quintal. Uma pequena parte do quintal, em que estava instalado o tanque onde um dia eu mergulhei como se fora um super-herói e quase matando de susto minha mãe, o corredor lateral e de todo o porão da casa era cimentada, O resto do enorme quintal era em terra bruta, onde alem dos varais de roupa, suspensos por taquaras secas existiam, também, alguns mamoeiros, uma goiabeira de frutos vermelhos, onde eu saciava minha gula, algumas ervas aromáticas, um enorme e pesado pilão de cimento dos tempos de minha avó e, a minha paixão, uma touceira de hortênsias azuis que eram o meu esconderijo preferido depois de alguma travessura.
Esta era minha casa, meu mundo, minha vida. Queria muito poder voltar a ela e matar as saudades que hoje moram no meu coração.
Infelizmente, a realidade é cruel e sei, pesarosamente, ser impossível meu desejo, então tento amenizar estas saudades escrevendo e descrevendo o velho casarão.
Por Miguel Chammas
 

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O garotão chegou lá



Ó quebra, quebra gabiroba eu quero ver quebrar
Ó quebra, quebra gabiroba, eu quero ver quebrar
Ó quebra, quebra gabiroba, eu quero só te amar
Ó quebra, quebra gabiroba, eu quero só brincar
Ó quebra aqui e quebra lá, eu quero ver quebrar


No Rio de Janeiro
que é a terra do amor
Só se vive sem dinheiro
mas se goza com calor

Essa é a transcrição da letra de uma das marchinhas mais populares do carnaval de 1930 em todo o Brasil juntamente com "Tá'hi" - Prá você gostar de mim', com Carmem Miranda. As duas marchinhas marcam o ano de 1930 à ferro e fogo e Quebra, Quebra Gabiroba tem muito a ver com essa narrativa, malgrado o absoluto non sense e pieguice da letra.

Diga-se de passagem que o ano de 1930 foi um ano sui generis: Carmem Miranda explode em sucesso em seu primeiro disco; Sinhô se apresenta no Teatro Municipal de São Paulo e morre logo e seguida, tuberculoso; Noel Rosa inicia uma carreira solo... o governo de Washington Luis é derrubado, Julio Prestes é impedido de tomar posse na Presidência, Getúlio Vargas se auto declara vencedor das eleições, o Tenente João Cabanas da Força Pública de São Paulo é um dos militares que amarram seus cavalos no Obelisco da Pça Tiradentes no Rio; Preguinho marca o 1º gol da Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo.

1930 foi um ano muito maluco, quando toneladas e mais toneladas de café exportação foram atiradas ao mar ou queimadas, ano em que a enorme fortuna de Oswald de Andrade começa a ir para o ralo da esbornia e da má gestão.

São Paulo, em 1930, já era a locomotiva que puxava vagões vazios e foi o Estado e cidade que mais perderam economicamente com a quebra das Bolsas de Nova York e de Chicago.

1930 é também o ano em que, timidamente, começa uma mudança nos parâmetros políticos do pais e São Paulo, o Estado e a cidade, vão derramar sangue, vão sofrer vilipêndio e humilhações, mas...

Mas este texto não pretende ser um libelo político ou uma laudatória histórica sobre carnavais e suas músicas; aliás, tem sim, tem algo a ver com música, política e teatro, tudo em doses homeopáticas , prá usar um tremendo lugar comum literário. Vou explicar:

Anos 1970, ainda trabalho na ECA USP; época complicada, ditadura militar, agentes infiltrados nas faculdades (sssshhh! as paredes têm ouvidos!), tortura, mortes...

Estou em minha sala:

- Dá licença, seu Ignacio... ontem eu vi o senhor dando uma aula de história 'prum' pessoal lá no auditório...

- É! 'tava sim! 'Tava falando da relação da música popular com os fatos históricos e políticos de cada época...(eu e outros colegas ministrávamos aulas para quem quisesse prestar os exames de madureza)

- Justamente!; por isso que eu preciso de um favor seu...

- O que é?

- O senhor conhece alguma coisa da revolução de 30? As músicas do carnaval de 30?

- Da revolução eu conheço o pouco que é ensinado na escola; quanto às músicas, preciso dar uma checada na discoteca ou nos jornais da hemeroteca...

"...e essa música, o senhor conhece?", e me mostrou a letra do Quebra, Quebra Gabiroba:

- Dessa vez você foi fundo, heim? Onde você arrumou essa letra?

- 'Tá numa peça do Vianinha (Oduvaldo Vianna Filho) ... "Rasga Coração", o senhor conhece?

- Conheço! 'Tá censurada, proibida... uma vez, faz tempo, eu vi o Vianinha falando dela no Bar da Tia...
 

UMA LIGEIRA DIGRESSÃO:

O Bar da Tia era uma instituição botequinesca anterior ao Rei das Batidas, famosa pela absoluta falta de higiêne, e, como no filme Casablanca, um antro onde se misturavam Esquerda Radical, Direita Radical, Centro Radical(?), alunos, professores, Polícia, DOPS, militares, inocentes, bebados e não bebados, numa verdadeira suruba político-cultural, numa espécie de território livre, só faltando o Humphrey Bogardt pedindo: ...play it again Sam...

De volta:

- Pois é, seu Ignacio, eu precisava que o senhor me falasse algumas coisas a respeito...

- Sent'aí, vamos conversar um pouco...

O garotão era muito humilde, interessado mas bem cru, produto do ensino deficiente da época e vítima de um conteudo programático fraquíssimo, creio que não tivesse culpa por seus desconhecimentos, em minha opinião. Durante uns 20 dias conversamos, destrinchamos a revolução de 30, falamos do Quebra Quebra Gabiroba e o porque da inserção da marchinha na peça... Já em nossa primeira conversa fiquei sabendo das tratativas do rapaz para organizar um braço do Centro Acadêmico Lupe Cotrim da ECA na Escola de Arte Dramática, fundando um Diretório Acadêmico, coisa que acabou por fazer, efetivamente. Sua idéia era fazer uma leitura pública da peça do Vianinha, razão pela qual precisava mergulhar na política do Brasil de 1930. 

Não lembro a razão porque fui escalado para fazer a conferência dos documentos dos candidatos ao vestibulinho da EAD, mas, naquele sábado frio e garoento, eu e o Lazinho atendemos apenas 3 pessoas, uma delas o garotão que motivou esta narrativa. Hoje em dia ele é uma celebridade (seja lá o que isso signifique!), mas naquela ocasião era um simples candidato, um pouco assustado com a cidade e com o tamanhão da Cidade Universitária. Foi aprovado no vestibulinho e começou a frequentar as aulas da EAD no período noturno; durante o dia ficava ou nas bibliotecas da Reitoria e da ECA ou simplesmente ficava tomando sol no gramado da ECA ou fugindo da chuva dentro do prédio, um 'bunda esverdeada', quase um "bunda verde" de carteirinha" e essa denominação nada tem a ver com ecologia e afins... Mas, muito bonito, sorriso cativante, olhos verdes, foi contratado 'à título precário' pela faculdade por 'insistência' de uma chefia. Enquanto "trabalhou" na ECA(o rei do telefone!), vinha diariamente à minha sala prá tomar café e bater um papo; essa rotina perdurou por um ano mais ou menos quando o garotão explodiu nos 'mediae' de comunicação logo após a leitura da peça no Pavilhão B9 onde funcionava a EAD. A repressão não interveio porque tudo foi feito na maior moita possível, convites sendo expedidos por mensageiros de confiança, no boca-a-boca ou através de orelhões fora da USP. Em um mês, nem isso, foi contratado pela Rede Globo e aí foi um sucesso seguido de sucesso!...

Seu nome? Edson Celullari.

Não terminou o curso; no total não deve ter terminado nem o 1º ano, um cometa, não teve tempo de estudar ou aprimorar algum talento que por acaso tivesse; penso ser esse o motivo do Edson ser um ator gritalhão e de face inexpressiva, botóxica, ideal para fotos ou para a técnica de close ou blow up das telenovelas da Globo.

Enquanto esteve 'trabalhando' conosco era um cara humilde, simpático, prestativo, muito educado. Depois de contratado ainda veio uma ou duas vezes visitar os colegas; depois sumiu...

Espero que continue o mesmo garotão acaipirado, um pouco espantado com as coisas e, com a sofisticação dos equipamentos de captação de som e de áudio, que consiga aprender a modular a voz, sempre é tempo; um galã não precisa declarar-se aos berros junto ao ouvido da atriz: -EU TE AMO!!!

Brincadeirinha (a brincadeirinha vale também pro Nuno Leal Maia, que não fez Teatro, mas fez Montagem Cinematográfica)!

 

Por Joaquim Ignacio