imagem - Viaduto do Chá - Sampa
Quando éramos
meninos, e pensávamos como meninos, íamos com nossos pais passear na
"cidade", como se dizia na época. Recordo-me de minha mãe falando:
- Filhos, hoje, aproveitando que é feriado, vamos passear lá no Viaduto do Chá.
Chá? Para nós, nada significava...
E assim fomos, com nosso pai junto. Logo chegamos e lá no mesmo já estávamos.
Lembro-me que ficamos no beiral, olhando e admirando São Paulo e os veículos
que passavam por debaixo do Viaduto...
O tempo passou, tudo mudou e, muitos anos depois, num momento de nostalgia, que
o frio suave e o silêncio propiciava, pesquisei sobre o mesmo e encontrei o que
transcrevo:
Foi inaugurado em 8 de novembro de 1892 o Viaduto do Chá, o primeiro viaduto de
São Paulo, idealizado em outubro de 1877 pelo francês Jules Martin.
Durante os 15 anos que a obra levou para ser concluída, Martin teve de
convencer os paulistanos da necessidade de ligar a Rua Direita com o Morro do
Chá - como era conhecida a área onde estava a chácara dos barões de Tatuí, com
plantações de chá.
Os trabalhos só começaram em 1888, mas foram interrompidos um mês depois, por
causa da resistência dos moradores da região.
O Barão de Tatuí estava entre os moradores que seriam desapropriados e ele não
pretendia sair de sua casa. Até o dia em que a população favorável à obra
armou-se de picaretas e atacou uma das paredes do sobrado. Com
"argumentos" tão convincentes, o Barão resolveu mudar-se.
A construção do viaduto só foi retomada em 1889. Três anos depois, com
estrutura metálica vinda da Alemanha, foi inaugurado o Viaduto do Chá.
Houve uma grande festa, interrompida pela chuva que "batizava" o novo
marco de São Paulo. E com uma curiosidade: a Companhia Ferrocarril, responsável
pelo viaduto, cobrava três vinténs de pedágio para quem precisava passar para o
lado de lá do rio Anhangabaú.
Por lá sempre passavam as pessoas mais refinadas, dirigindo-se aos cinemas e
lojas da região e, mais tarde, ao Teatro Municipal, inaugurado em 1911.
Os suicidas também eram frequentadores assíduos do lugar. A cidade cresceu e,
em 1938, a construção de metal alemão com assoalho de madeira já não suportava
mais o grande número de pessoas que por lá passavam diariamente.
No mesmo ano, o velho Viaduto foi demolido, dando lugar a um novo, feito de
concreto armado e com o dobro de largura.
Desde então, pouca coisa foi modificada. Em 1977, a prefeitura proibiu o
tráfego de veículos particulares.
Naquele ano, a calçada que liga a Xavier de Toledo com a Falcão Filho foi
alargada.
No centenário, em 1992, o piso foi reformado.
Por Asciudeme Joubert
7 comentários:
Olá, Asciudeme!
Que bom que, através de seu texto, podemos lembrar estas incríveis histórias sobre nossa querida cidade de São Paulo.
Quanto detalhes, não é mesmo? E poucos paulistanos conhecem. Por isso, tod trabaho de pesquisa e todas as informações que recolhemos neste e em outros espaços só nos enriquece e encanta ainda mais.
Obrigada.
Muita paz!
Asciudeme, lindo e memorável texto sobre nosso famoso Viaduto do Chá.
Esse monumento teve muito a ver com minha existência paulistana.
Inúmeras vezes atravessei sua estrutura nas minhas lides de "office-boy", muitos suicídios também presenciei de suas alturas.
Foi bom relembrar de tudo!
Asciudeme, ir ao centro e passar pelo viaduto do Chá era importantíssimo para mim.Hoje lendo seu texto vem a saudade, como era bom. Um abraço.
Ir para a cidade, para mim, era normalmente até a Praça do Patriarca, mas quando era dia de pagar a conta de luz, atravessávamos o Viaduto do Chá para ir à Light. Eu adorava olhar o Vale do Anhangabaú em direção à Praça do Correio. Era o "meu" cartão postal de São Paulo.
Asciudeme, boas lembranças o amigo nos traz, perdi a conta de quantas vezes cruzei o viaduto do Chá, parabéns pelo texto.
Uma torrente de informações sobre São Paulo e em particular, sobre o Viaduto do Chá. Eu te conheço pessoalmente, Asciu e não acredito que vc estivesse na inauguração do primeiro viaduto construído com ferro alemão. No mínimo, vc trabalhou como engenheiro.
Parabéns, Asciu, desculpe a brincadeira. Um abraço.
Modesto (hoje,05\02\14 faço 82 anos).
Amigo,eu e meus irmãos também fomos levados por nosso pai, para passear no viaduto do chá. A sensação foi mesma que a sua. Adorávamos ver os carros passarem embaixo.Víamos também outro viaduto, o Santa Efigênia. Lembro-me de perguntar ao meu pai, se aquele era o viaduto do café...Santa inocência. Saudades / Um abraço.
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