sábado, 22 de fevereiro de 2014

Memórias em flash back


música: Ney Matogrosso - Freguês da Meia Noite
Para ouvir, clique no play



Sou um viciado em TV, ou melhor, como diz minha companheira, do alto de sua intelectualidade, eu sou um fanático telespectador da Globo,  e ponto final.
Não discordo de sua opinião, mas tento argumentar que prefiro as variedades de programas bem produzidos aos entediantes e soporíficos filmes dos canais fechados, aos eternos programas de distribuição de dinheiro dobrados em forma de avião, ou ainda,aos programas religiosos (seja de que religião for) que tentam, de forma direta e inescrupulosa arrecadar cada vez mais doações, chegando a lotear espaços pós morte de cada fiel.
Bem, tergiversei, perorei dos grandes bifes (termo usado nos meios artísticos para identificar grandes parágrafos de um texto ou script), e não abordei o tema principal desta memória.
Vamos a ele.
Dias atrás, estava eu a praticar meu vicio de Globoespectador quando foi colocado no ar um comercial do novo CD de Ney Matogrosso, cantor que não me leva a ser um fã, mas não me desagrada de todo, principalmente pela qualidade das músicas de seu repertório. Prestei mais atenção ao comercial e à música nele inserida. Em certa parte da letra o autor faz menção a um restaurante que existia no Largo do Arouche, atrás do antigo mercado das flores.
Minha memória começou um trabalho de retrospectiva e me trouxe o nome desse restaurante, Le Casserole (pesquisei depois e confirmei não só o nome como a existência desse restaurante até os dias atuais, no mesmo local).
Esse restaurante (na verdade um bistrô) que, por sinal, nunca frequentei, fica no Largo do Arouche, quase na confluência deste com a Rua Vieira de Carvalho e a Avenida São João e na calçada fronteiriça do Hotel São Raphael.
Lembrei-me que na mesma calçada, ficava a Adega do Pedrinho onde eu, nas madrugadas de terças/quartas-feira e sextas-feira/sábado me locupletava com deliciosas feijoadas (as primeiras a saírem do fogo para aguardar a azáfama de famintos consumidores do horário de almoço. Também, se atravessássemos toda a extensão fronteiriça desse restaurante, sairíamos às portas da Cantina O gato que Ri, famosa por seus pratos italianos e preços módicos.
Essa letra, trouxe-me também muitas outras memórias, ente elas o Bar Leo, na Rua Aurora onde ao longo de alguns anos, eu consumi uns bons barris de chope claro, escuro ou mulatinho. Outra memória muito viva  é da Rua Vitória, onde no quarteirão entre o Largo e a Avenida São João, à porta de uma barbearia, Mulata (grande ritmista e integrante da famosa Escola de Samba Vai-Vai (desde a época em que ela era simplesmente um cordão carnavalesco), na sua cadeira de engraxate, todos os sábados  pela manhã dava um lustro especial nos meus sapatos bico fino, para que à noite eu fizesse boa presença nos bailes e gafieiras.
Tenho certeza que, com um pouco mais de esforço, esta memória poderia se prolongar quase que infinitamente, porém se assim fosse, ela iria avançar o espaço de outras possíveis memórias que, também, no seu devido tempo, deverão fazer parte  do meu acervo de rabiscos e memórias.
Vamos aguardar! Ah! A música que fez desencadear todo  esse jorro de palavras e lembranças é: FREGUÊS DA MEIA NOITE, de autoria do compositor Criolo, e a letra é esta:


Freguês da Meia-Noite

Em pleno Largo do Arouche

Em frente ao Mercado das Flores
Há um restaurante francês
E lá te esperei

Meia Noite

Num frio que é um açoite
A confeiteira e seus doces
Sempre vem oferecer
Furta-cor de prazer

E não há como negar

Que o prato a se ofertar
Não a faça salivar

Num quartinho de ilusão

Meu cão que não late em vão
No frio atrito meditei
Dessa vez não serei seu freguês

Meia Noite

Num frio que é um açoite
A confeiteira e seus doces
Sempre vem oferecer
Furta-cor de prazer

E não há como negar

Que o prato a se ofertar
Não a faça salivar

Num quartinho de ilusão

Meu cão que não late em vão
No frio atrito meditei
Dessa vez não serei seu freguês




Por Miguel Chammas

13 comentários:

Soninha disse...

Oieee...

Eu gosto de coisas boas, que promovam, que nos façam pensar, refletir e que nos traga conhecimentom além da distração... Só isso!
Belas recordações, Miguel!
Muita paz!

Unknown disse...
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Unknown disse...
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Miguel S. G. Chammas disse...

Sonia, entre as coisas boas da minha vida, a melhor foi, é e será,sempre,você

Memórias de Sampa disse...

Olá, amigos!
Exclui dois comentários por sairem repetidos.
Muita paz!

Anônimo disse...

Miguel, você é sempre genial! Excelente escritor,com detalhes que nos transportam ao mundo vivido por você e sempre com muita intensidade e elegância. Um grande abraço, meu amigo e meus parabéns. Vera Moratta.

Bernadete disse...

Viajei com seu texto e fique aqui imaginando você...um eterno boêmio.

Miguel S. G. Chammas disse...

Menos Vera,muito menos. Sou, apenas, um mero rabiscador de causos de um passado não tão distante.Ele,passado, é que de tão forte, faz meus rabiscos ressaltarem aos olhos dos leitores.

Miguel S. G. Chammas disse...

Tem razão Bernadete, um eterno e,agora, ausente, boêmio.

Wilson Natale disse...

MIGUEL: Basta uma palavra e os arquivos da memória se abre revelando doces lembranças. Quem vê o Arouche hoje, não tem a mínima idéia do quanto, de manhã, à noite e madrugada a vida do paulistano fervilhava por lá.
Não sabem que a Vieira de Carvalho era quase uma Via Vêneto romana. Com o seu texto, veio à minha lembrança os sabores do Gato Que Ri, do Almanara; dos botequins que servia deliciosas batidas de frutas; o povo, a malandragem... Lembro, como fosse hoje, a brincadeira que fizeram com o índio,no começo da Vieira de Carvalho: Colocaram-lhe na cabeça na cabeça uma "tartaruga".
Valeu por esse texto ótimo!
Abração,
Natale

Wilson Natale disse...

Ops!"os arquivos da memória se abrem..."
Ahahahahahaaaaaa!
Natale

margarida disse...

Miguel, com certeza você soube aproveitar a noite em São Paulo.É bom recordar nossa cidade nestas suas memórias. Um abraço.

Laru disse...

Suas recordações sobre o largo do Arouche, Miguel me fizeram voltar aos anos 1950. Além destes estabelecimentos mencionados por vc,
aos sábados tinha feira livre, onde conhecí minha querida esposa, Myrtes. No "le Caserole", comí o primeiro "escargot"; no !Gato que Rí", a primeira lasanha; a florista, era o sr. De Laurentis, nosso vizinho no Braz.
Sua crônica, um primor de memória e um exemplo de como prender um leitor dentro de um texto com muita paixão. Parabéns, Chammas.
Laru