segunda-feira, 29 de abril de 2013
terça-feira, 23 de abril de 2013
Memórias venturosas
imagem: Nydia Licia
O
ano era nos primórdios da década de sessenta. Eu vivia, ainda, os eflúvios de
uma juventude plena de aventuras e emoções.
Um
dia, enchendo-me de uma segurança não muito comum, tomei a decisão de
participar de uma seleção de atores que iria ser realizada no Teatro Bela Vista
por Nydia Licia, a dama do Teatro.
Reconhecendo
que a coragem não era tanta, resolvi convidar a Maria de Lourdes Seraphim -
irmã do velho e querido Bola e uma de minhas atrizes do GATO (Grupo Artístico e
Teatral Ozanan) – para me acompanhar nessa audaciosa e pretensiosa missão.
No
sábado aprazado para o acontecimento lá estávamos, eu e ela, na plateia do
teatro aguardando a hora de sermos avaliados. A presença de minha acompanhante
era necessária para que eu não viesse desistir no momento do teste.
Pronto,
Nydia Licia mais o administrador do teatro, Sr. Renato, e um magrelo que me foi
apresentado como sendo o diretor Libero Miguel, devidamente a postos, iniciaram
a chamada. Notei que os nomes eram chamados sem qualquer critério, não era
obedecida ordem alfabética ou de chegada. A sorte lançada recaia em algum nome
e, depois de alguns testes, recaiu no meu nome.
Levantei
meio trêmulo e me encaminhei para a ribalta. O temor de ser avaliado,
artisticamente, por uma musa do teatro, afogueava-me o corpo todo como se
tivesse me acometido uma febre mortífera. Os joelhos amoleceram e teimavam em
não sustentar as pernas. Respirei profundamente e me coloquei à frente dos meus
examinadores.
Nydia
Licia me perguntou, então: E aí, Miguel, trouxe alguma coisa preparada?
Sem
me dar conta, respondi: Não, senhora. Não sabia que seria preciso.
-Não
faz mal – ela disse- leia este texto; e me passou umas folhas de papel sulfite
impressas.
Era
uma poesia de Vinicius de Morais e li fazendo a melhor interpretação possível.
Terminei a leitura e fiquei olhando para ela que, sem qualquer sinal de
aprovação, pediu-me para sentar na plateia e aguardar.
Simplesmente
obedeci e, em silêncio, passei a assistir os testes dos outros candidatos.
Eram
muitos os que buscavam serem selecionados, além deles, outros já tinham sido
escolhidos, entre eles estavam Osmar Prado, Marcelo Gastaldi, a cantora Tuca –
cuja morte precoce abalou o meio artístico -, e o grande ator Alceu Nunes.
Olhando
esses nomes, eu comecei a curtir a possibilidade da minha dispensa e, graças a
Deus, ela não aconteceu. Ao final da tarde Nydia Licia me chamou e disse que eu
fazia parte do grupo Teatro para a Juventude.
Aleluia!
Começamos
os ensaios. Era uma revista com diversos temas e autores. A direção de Libero
Miguel com a supervisão de Nydia Licia foi sensacional e, em poucas semanas,
estávamos prontos para a estreia,
Chegou,
então, o momento da divulgação e fomos escalados para uma entrevista na TV. Era
um programa que deu o formato, anos depois, para o Programa do Jô.
O
Programa Silveira Sampaio, no último horário da TV Record, já era sucesso e nós,
eufóricos, nos dirigimos aos estúdios da Rua da Consolação para a tal
entrevista.
Nydia
e Libero, nos prepararam para dizer apenas o necessário e não quebrar o
encantamento da estreia.
Estávamos
todos dentro do estúdio, aguardando o Programa entrar no ar quando, na porta de
entrada do estúdio, surgiu a figura de um sambista que estava na crista da onda
na ocasião. Jair Rodrigues também seria entrevistado.
O
sambista, como sempre alegre e saltitante, cumprimentou a todos e quando bateu
os olhos na minha pessoa, parou e deu uma sonora gargalhada.
Eu,
quando percebi sua presença, tentei me esconder, mas fui pouco criativo na
tentativa.
Aqui,
esta narrativa merece um pequeno parágrafo explicativo: Na época, eu boêmio
inveterado, tinha como companheiro das noitadas uma penca de outros boêmios e,
entre eles, Jair Rodrigues, que estava iniciando sua caminhada solo.
Não
deu outra, a figura saiu do local em que estava e veio, a passos largos,
abraçar seu amigo de noitadas. O ti-ti-ti foi intenso, as brincadeiras ruidosas
e continuas.
A
direção de TV pediu silêncio; nós não respeitamos e continuamos o papo e as
risadas.
Não
deu outra, o Miguel (pouco ou nada conhecido no meio) foi convidado a se
retirar do ambiente e o Jair, avisado que se não fizesse silêncio, seguiria o
mesmo caminho.
O
programa foi para o ar, o Miguel perdeu a chance de aparecer na TV, mas ganhou
muito cartaz como amigo íntimo de Jair Rodrigues.
Sei
que hoje, depois da distância que nossos caminhos tomaram, a lembrança dessa
amizade já não povoa a mente do sambista, mas a minha memória não se perdeu no
tempo e eu me orgulho muito de ter sido companheiro desse patrimônio nacional.
Com
ele tive várias passagens e, na medida do possível, escreverei sobre elas.
Salve Jair, salve amigo, salve TV Record, salve Teatro para a Juventude, Salve
a vida, salve tudo, salve o Chico Barrigudo.
Por
Miguel Chammas
domingo, 21 de abril de 2013
Sarita Montiel e outras lembranças
Na última segunda-feira, dia 8/4, faleceu na Espanha a famosa artista e cantora
Sarita Montiel; tomo a liberdade de transcrever um comentário feito pelo
jornalista Ruy Castro, publicado na Folha de São Paulo, edição do dia
13/04/2013 sob o título "No Terraço Com Sarita":
"Sarita
Montiel, cantora e atriz espanhola, morreu na segunda-feira em Madri, aos 85
anos, segundo as agências. Sarita, 85? Que mentira. Todos sabemos que ela nunca
passou dos 31, 32 - quando sua beleza siderava as plateias em filmes como
"A Última Canção", "La Violetera" e "Carmen de
Ronda". Você perguntará: quem "sabemos"? Nós, os garotos que
víamos Sarita no cinema, nas revistas ou nas capas dos LPS, e perdíamos o sono
pensando em seus olhos verdes, cabelos castanhos, lábios carnudos - e em
seu decote (os adolescentes não são muito espirituais em suas fixações). Por
Sarita, e apenas por ela, ficávamos até o fim daqueles horríveis filmes
espanhóis, gemendo de inveja dos galãs e torcendo para que, ao cantar, ela
arfasse ao tentar certas notas e seu decote revelasse mais um pouco do que
pareciam duas pequenas obras-primas. O apogeu de Sarita foi entre 1958 e 1962.
Os EUA a ignoravam, mas ela tinha a Europa, o México e a América do Sul. E,
quando digo que Sarita nunca passou dos 31, 32, é porque, dali - a partir,
talvez, de "Meu Último Tango" ou "A Rainha do
Chantecler" -, começamos a trocá-la por paixões mais próximas e palpáveis.
Quem sabe sentindo-se traída, foi saindo das telas aos poucos e, com isso, poupou-nos
de vê-la envelhecer. Mas, no auge do estrelato, Sarita veio ao Rio, e Ivan
Lamounier, presidente da distribuidora Condor Filmes, deu-lhe uma festa em sua
cobertura no Leblon. Todo pessoal do cinema foi convidado. A noite era de lua
cheia; a música, ao vivo, e o implacável galã nacional Anselmo Duarte tirou
Sarita para dançar no terraço. Nascia ali um romance? Bem, se o romance
aconteceu, não sei. Só sei que, ao sair à noite nesse mesmo terraço, onde hoje
moro, vejo Sarita e Anselmo dançando ao luar e me surpreendo gemendo de
inveja do Anselmo."
Assim meus amigos,
como o jornalista, eu também me surpreendo sentindo saudades da noite de um
sábado quando, na fila para tirar ingresso, estava ansioso para assistir o
famoso filme "La Violetera" na tela do hoje extinto Cine Anchieta (ou
será o Samarone?) não importa, o certo é que essa artista realmente mexia com
nossas emoções.
Puxando pela memória não posso deixar de citar outra famosa
artista (para mim a mulher mais bela que já vi); estou falando de Maria Félix a
grande estrela do cinema mexicano. Ainda guardo em minha memória as cenas dos
filmes "A Deusa Ajoelhada", "Quarta-Feira de Cinzas" e
"Dona Diabla" nos quais ela contracenou com o não menos famoso Arturo
de Cordoba, estes filmes eu assisti no também já extinto Cine Alhambra, lá na
Rua Direta, junto com meu falecido amigo Fausto Rovella e, confesso a vocês:
essa mulher também me fez gemer de inveja do Arturo e conseguia mexer com a
libido nos meus primeiros anos de adolescência.
São doces memórias de personagens que, de uma forma ou de outra,
fazem parte do nosso saudoso passado.
Por Leonello Tesser (Nelinho)
quinta-feira, 18 de abril de 2013
quarta-feira, 17 de abril de 2013
Uma visão mais humana da fundação de São Paulo
imagem: missa evocadora da conversão do Apóstolo das Gentes, ato inicial da existência do pequenino arraial de São Paulo do Campo de Piratininga
O padre Manoel da Nóbrega estava nu e rodeado de índios guaianá
que riam às gargalhadas de seu corpo mal cheiroso e cheio de pelos; André
Ramalho, dos primeiros caboclos e filho de João Ramalho, notara que o padre não
parava de se coçar desde que ele e sua pequena comitiva chegaram ao aldeamento
comandado por seu pai, na entrada do planalto, na borda do campo. André deveria
conduzi-los a um pequeno platô, duas léguas para o interior, conhecido pelos da
terra como Inhampuambuçu (morro que se avista de longe) que, além de ponto de
referência, ficava entre três águas - Anhemby, Anhangabau e Tamanduatey - e era
bem protegido, como uma menagem, uma fortificação natural em acrópole.
- Carrapatos,
padre!... Carrapatos, pulgas, piolhos, muquiranas e sei lá mais o quê... (esses
padres estão podres, e como fedem! André pensou...), vou precisar queimar essa
pelagem toda...
- Vais me queimar, Mestre André!...Por Deus...!
- Non, padre,
vou passar a tocha de fogo sem tocar seu corpo, que é prá queimar esses pelos e
matar esses carrapatos..., mas vossa mercê precisará tomar vários banhos para
sarar essas feridas que se abriram; tanto vossa mercê vem se coçando (e prá
melhorar esse cheiro!)...
- Banho? Non!
Nunca, jamais!... Só tomei 4 banhos em minha vida e foi para cura de
doenças...banho e sangria, banho e sangria, banho e sangria, banho e
sanguessugas, ordens dos irmãos médicos...
- Vossa mercê e
seus companheiros, padres e freis, estão carecendo de banho, de lavar essas
feridas, de se livrar dos carrapatos e pulgas; será em nome da cristandade, hay
de ser um pequeno sacrifício para atingir as portas do céu, vós que viveis
pedindo que nos sacrifiquemos pelo Senhor...!
- Vou pensar...
- Non hay que
pensar; são muitos os da terra e poucos são vossas mercês, curas, e como vedes,
os da terra estão se preparando para jogá-los dentro do Tamanduatey ou do
Anhangabau... São um rór e vós sois poucos..., vale o sacrifício, padre! Tudo
em louvor a Deus...
- Estou a ver
que seu pai, mestre João, não vos ensinou a respeitar a santíssima igreja de
Jesus e seus representantes na Terra...
As
argumentações do padre Manuel da Nóbrega de nada adiantaram: profecias
bíblicas, tradições europeias, frio, "banho-me com as águas que o Senhor
nos agracia, com as gotas da chuva abençoada", etc, etc... A um sinal de
André Ramalho, dezenas de caboclos e índios avançaram para o grupo de jesuítas
e, aos gritos e às gargalhadas, os foram tangendo em direção à margem do
Tamanduatey, fingindo armar seus arcos com flechas de dois metros e ponta
serrilhada ou cutucando-os com tangapemas, bordunas e chuços, até que, aos
gritos de desespero, todos entraram dentro d'água e foram, literalmente,
derrubados, mergulhados, esfregados, lavados pelos índios e pelos primeiros
paulistas ...:
- Ai Jesus! Que
vamos todos a morrer - “vamos orar irmãos para que o Senhor nos acolha no
paraíso dos mártires da santíssima madre igreja”... - "Ave Maria, gratia
plena, Dominus te cum...”.
Claro que
ninguém morreu e nem foi levado pela correnteza para finisterra, fosse lá onde
ficasse essa tal de finisterra, ou para os braços do cramunhão ou ainda, para o
Hades infernal de Lucifer; foram ajudados a sair da água e saíram, não
agradecendo a Deus pelo fato de não terem morrido levados pelas águas, mas
imprecando inter-dentes em latim, grego, espanhol, galego, catalão, português;
nenhum dos padres quis confessar abertamente, mesmo entre si, mas todos
sentiram uma sensação gostosa após o banho forçado, uma refeição quente de
carne de capivara moqueada, mandioca e cabaças de cauim; ao término do dia,
orações e todos foram para debaixo da tapera e dormiram imediatamente, bem
alegrinhos, de pilequinho eclesiástico; dormiram toda uma noite sem sonhos...
Na manhã do dia
seguinte, 29 de agosto de 1553, o padre Nóbrega celebrou a 1ª missa no local
onde seria erguido o Colégio dos Jesuítas, marco inicial da cidade de São Paulo
dos Campos de Piratininga, dando início aos projetos de cristianização do
gentio e a construção de um local que pudesse abrigar àqueles que viessem do aldeamento
de João Ramalho, Santo André da Borda do Campo.
25 de janeiro
de 1554. O noviço ilhéu espanhol José de Anchieta, após a missa de fundação
celebrada pelo padre Manoel de Paiva, num portunhol misturado com termos bascos
e castelhanos, oficializa a fixação de 130 pessoas, homens, mulheres e crianças
curumins no Inhampuambuçu, numa espécie de terreno aplainado, como um páteo, em
frente ao Colégio; nem Nóbrega, nem Anchieta, nem Manoel de Paiva, nem
Aspilcueta Navarro, nenhum dos fundadores, ninguém, poderia imaginar que aquele
aldeamento cercado e protegido pelos índios guaianá de Tibiriçá e Caiuby,
chegaria aonde chegou mais de 500 anos depois, São Paulo das águas e dos
montes, do Tamanduatey de 7 curvas, do Anhemby, do Anhangabau, do Saracuraçu,
do Itororó, do Jurubatuba, da pedra gigante do Jaraguá, lá longe, onde o mundo
acaba...
O hermano
Joselito de Anchieta, pertencia a uma família abastada de cristãos-novos
bascos, que, devido à atuação do Santo Ofício na área de Castilla La Vieja, por
via das dúvidas, migrou para as Canárias, razão pela qual foi enviado para
estudar em Portugal, país mais condescendente com judeus e cristãos novos
àquela época. Sua vinda para o Brasil, a vinda de Manoel de Nóbrega e dos
outros jesuítas deveu-se a uma missão a ser cumprida, missão com conotação de
evangelização, fixação de alguns degredados e postura estratégica militar pois
a Companhia de Jesus era (é?) uma espécie de Ordem dos Templários light.
José de
Anchieta chegou ao Brasil com 19 anos de idade e deve ter sido tratado melhor,
embora tenha passado pelos mesmos problemas pelos quais passaram Nóbrega e seu
pequeno entourage; Anchieta tinha uma escoliose bastante acentuada, problemas
respiratórios e era um rapaz bastante fraco... Os índios e caboclos devem ter
aliviado a mão... O "trote" deve ter sido mais suave.
**************
Como esse texto
baseia-se em alguns fatos históricos sobre a fundação de São Paulo, dei asas à
imaginação e criei umas situações que bem poderiam ter acontecido, pois nossa
cidade foi fundada não por super homens, mas por seres humanos, com fraquezas,
manias, superstições, cultura e comportamentos ibéricos quinhentistas.
Pensando bem,
não vejo porque os acontecimentos 'inventados' não devam ter acontecido, afinal
de contas, São Paulo desde o começo sempre foi diferente, é uma cidade única em
todo o planeta!
Por Joaquim
Ignacio
segunda-feira, 15 de abril de 2013
Casos do passado
imagem: Rua Antonio Lobo - Penha
Era muito trabalho para Dona Linda, minha mãe, por esta razão a
tia Maria, que morava no Jardim Penha, estava sempre em casa para ajudá-la a cuidar
dos seus nove filhos. Morávamos na Rua Antônio Lobo, no bairro da Penha de
França, e minha mãe não dava conta de lavar, passar, cozinhar, limpar e tantas
outras atividades que uma família grande como a minha precisava, ainda bem que
esta tia podia ajudá-la a tomar conta do pequeno batalhão. Claro que meu pai
havia combinado um salário, a condução e outras coisas que ela viesse a
precisar, afinal de contas, tínhamos seu carinho com muita exclusividade.
Elas conversavam muito, minha mãe e a tia Maria que estava sempre
alegre a nos ajudar em tudo que precisávamos. Muitas vezes eu as via conversando baixinho,
mas eu estava sempre atenta nestas conversas que certamente minha mãe não
queria que escutássemos.
Certa vez, ouvi em uma destas conversas que uma vizinha apanhava
constantemente de seu marido. Eram surras que judiavam e marcavam física e
moralmente esta mulher. Isso acontecia porque ele parava em um bar para beber
uma birita após o trabalho, mas acabava bebendo em excesso. Depois, ele descia a
nossa rua cambaleando e as paredes das casas funcionavam como guia e apoio ao mesmo
tempo. Alterado pelo álcool e já em casa, falava mal, batia em sua mulher e,
depois da discussão, ainda jogava com desprezo o prato de comida que com
certeza era feito com carinho, no chão.
Depois de um tempo, quando estávamos maiores, minha mãe acabou nos
contando casos que haviam acontecido no passado com algumas mulheres que
moravam na redondeza e dois deles ficaram retidos em minha memória. No
primeiro, a mulher levou tantos chutes de seu marido nas costas que acabou com
um rim danificado que precisou ser retirado. O segundo caso foi o de uma mulher
que sofria maus tratos e que, para piorar a situação, acabou pegando
tuberculose, então seu marido a abandonou levando sua única filha. Depois de um
tempo, essa mulher sem tratamento algum, sem recurso e na miséria, acabou
morrendo. Esta mulher chamava-se Ana; nunca esqueci seu nome. As lágrimas
sempre marejavam os olhos de minha saudosa mãe quando comentava sobre este
fato.
Outro caso era o da mulher de um advogado que era mantida presa em
sua própria casa. Ela saía raramente e apenas na companhia de seu marido e
nunca cumprimentava as pessoas, pois seu olhar era fixo no chão, acho que por
ordem de seu marido. Ela tinha uma aparência muito estranha apresentando certa palidez.
Os cabelos pretos eram presos e cobertos por uma tela e suas roupas eram sempre
escuras com mangas e saias longas, chegava assustar a todos.
Naquele tempo, as mulheres eram usadas para o trabalho domestico
ou então para trabalhos de baixo escalão e sem segurança alguma quando precisavam
ajudar no sustento da família. Totalmente desprotegidas e sem leis que as
amparassem, não tinham muita saída a não ser aguentar tudo isso.
Todos
estes casos contados pela minha mãe eram, na verdade, o produto de uma sociedade
machista e que desvalorizava descaradamente a mulher.
Graças à
união de muitas mulheres e muita persistência as nuvens negras foram-se
diluindo e, aos poucos, foi surgindo uma nova sociedade, transformada com o
decorrer da história e que hoje reconhece, dignamente, a mulher como a grande
doutora nos diversos setores da vida e da nossa sociedade. O respeito aos seus
direitos, ao seu trabalho e a sua vida ganharam um enorme espaço.
Hoje
presto uma homenagem em especial àquelas mulheres que sofreram e lutaram por
uma vida melhor e mais digna e que hoje já não se encontram mais aqui.
Aproveito
para estender os parabéns àquela mulher que não foge a luta, não tem medo de
assombração, nem de escuridão. Àquela de sabedoria única, de força, de
paciência grandiosa e que não teme esconder sua afetividade que flui livremente
dentro da sua alma.
O dia
que foi dedicado à mulher é um marco de muita tristeza, mas que reflete a nossa
maior alegria pelo espaço ganho e que foi construído ao longo de tantos anos.
Um abraço
com carinho a todas as mulheres da cidade de São Paulo.
Por
Margarida Peramezza
sábado, 13 de abril de 2013
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Como destruir um casamento bem rápido
Metro
lotado, desde o Terminal Jabaquara, como todos os dias.
Eu
vinha da Praia Grande com meu carro e o deixava num estacionamento, ali perto
do terminal e utilizava o Metro, linha azul, até a Estação República, fazendo a
baldeação para a linha verde na Estação Ana Rosa.
Naquela
manhã eu vinha pensando em como conciliar o trabalho que eu vinha realizando e
as viagens de treinamento nos postos Poupatempo em vários municípios paulistas,
quando encontrei uma amiga que não via há muito tempo, a Selma.
Depois
dos cumprimentos saudosos, notei que ela estava triste, com a fisionomia
sorumbática, fui logo perguntando se ela estava bem de saúde e se estava tudo
bem em sua casa, com seus familiares.
Era
exatamente essa a “deixa” que ela queria ouvir e, sem pestanejar, foi logo me
contando sobre a péssima situação conjugal que estava vivendo.
Depois
de tanto tempo separada e sozinha, ela encontrou um homem bom, também separado
que, depois de algum tempo de namoro, resolveram morar juntos. Tudo corria bem
no início, mas depois de certo tempo, ele se acomodou e se transformou num
verdadeiro “muro de lamentações”, só reclamando de tudo.
Ela
já não via mais no companheiro o homem gentil, romântico, solidário, cúmplice
de antes.
Todos
os dias eram recheados de “uis” e “ais” sem fim... Dores daqui, dali; não havia
parte do corpo que não doesse.
Não
bastasse isso, aquele companheiro que era só elogios para toda e qualquer
comida que ela fizesse, hoje só colocava defeitos em tudo.
Acomodado,
preguiçoso, sem iniciativas para nada, estava transformando a vida dela numa
frustração muito grande, deixando-a cada vez mais decepcionada e triste.
Ela
exercia sua atividade profissional exaustivamente e, quando voltava para casa,
ainda tinha de cuidar dos afazeres domésticos e de seu companheiro reclamão.
Por
mais que eu tentasse animá-la com aquelas velhas frases feitas, ela não
melhorava. Disse-me que, além de tudo isto, tinha de ouvir, constantemente, de
seu companheiro, ser chamada pelo nome da ex-esposa do dito cujo, coisa que a
humilhava por demais. Tive de concordar.
Quando
nos aproximávamos da estação Ana Rosa, tive de me despedir de minha amiga Selma. Com
um abraço bem apertado, desejei que tudo melhorasse em sua vida.
Ao
embarcar no outro conjunto de vagões, fiquei pensando como algumas pessoas
conseguem estragar tudo tão rápido.
Relações
humanas são complicadas, eu sei... Por isso precisam ser cultivadas, cuidadas...
Precisam de olhares especiais, de trato, de carinho, de comprometimento, de
respeito...
Homens
e mulheres acabam gastando um tempo tão precioso e perdendo, acima de tudo, a
oportunidade de serem felizes.
Vale
pensar a respeito, né?
Muita
paz!
Por
Sonia Astrauskas
segunda-feira, 8 de abril de 2013
Ele é o cara
Quero dizer que pouco me importa hoje ser o dia
do aniversário de Kofi Annan, dos 40 anos da morte de Picasso, se é Dia dos
Correios ou se a Margareth Thatcher morreu...O que importa é que meu pai, Fernando Martins Pizo completa hoje 75 aninhos - com corpinho de 60! Ele
é "o CARA"
Pai,
Você me ensinou que homem chora, que homem beija
homem, que pais pedem perdão aos filhos, que a casa da gente é o melhor lugar
do mundo, que os livros nos levam a qualquer lugar.
Mostrou-me que o mundo pode ser transformado com
atitudes, que devemos nos indignar contra as injustiças e que tem um Deus
bondoso em algum lugar.
Nem mesmo quando estivemos apartados por algum
tempo consegui me desvencilhar de você. Nosso mármore é o mesmo, esculpido por
um artesão irônico, que continua a sua brincadeira de arte no meu sucessor.
Nossa história tem momentos pitorescos que levarei
para sempre na minha memória: nós dois, eu muito criança, andando de mãos dadas
no centro de São Paulo vendo você enfrentar com gritos de
“fascistas...calhordas..” os membros da TFP, com seus estandartes; nós dois, eu
já menino, sentados no chão do Tuca assistindo Ivan Lins; nós dois, eu
adolescente, de camisetas amarelas engrossando o coro das Diretas-Já na Sé e no
Anhangabaú; nós dois, eu homem barbado, vivendo minha transição de filho para
pai .
Lembra do disco voador que só nós dois vimos
naquela noite de maio de 1983, voltando do show no Morumbi? Daquele café da
manhã com Toquinho e Vinícius em 1979, depois do espetáculo da véspera? Do
abraço quando o Moreira foi embora? Do nosso pranto na lanchonete da
Maternidade de São Paulo quando a Dani nasceu?
Esses momentos e muitos outros foram só nossos,
serão só nossos para sempre. Só nós dois sabemos o quanto nos amamos e o quanto
somos iguais, mesmo nas diferenças.
Tenho um orgulho imenso de você, da sua força para
enfrentar o mundo, do seu otimismo desmesurado, da sua determinação inabalável
e do seu amor gigantesco.
Vejo em você um pouco do velho José Arcadio, e em
nossa história, um pouco do círculo vicioso daqueles Cem Anos de Solidão.
Imagino, daqui há dezenas de anos, você no estúdio – como se fosse o carvalho
do quintal dos Buendía -, absorto nas imagens dos gols do Divino, nas curvas da
Jayne Mansfield, nos passos de Fred Astaire, nas caretas de Ernest Borgnine,
num tempo sem fim...
Meu pai, parabéns pelos seus 75 anos bem vividos,
pela sua graça, pela sua contagiante alegria de viver intensamente. Amo você.
Por Marcello Pizo Moreira
Martins
domingo, 7 de abril de 2013
sexta-feira, 5 de abril de 2013
Esse chato sou eu
Para ouvir, clique no play
O cara que amola você toda hora
Pergunta onde foi se você demora
Que está todo tempo pegando no pé
Não te dá sossego 1 minuto sequer
E no meio da noite na cama
Puxa a coberta e te descobre toda
Esse chato sou eu
O cara que pega você pelo braço
Insiste prá você apressar os seus passos
Não desgruda de ti um momento sequer
Comparando você com outra mulher
Por você diz que corre perigo
Pode até maltratar teu amigo
Esse chato sou eu
O cara quer mudar o seu jeito
Que depois do amor quer dormir no seu peito
Não acaricia teus cabelos, não fala de
amor
Te fala outras coisas, que te causam dor
De manhã você acorda infeliz
Com a cara feia que fiz
Esse chato sou eu
Esse chato sou eu
Eu sou o chato certo prá você
Te faz infeliz toda hora
Que ri na tua cara quando você chora
Esse chato sou eu
Esse chato sou eu
O cara que sempre vive criticando
Pede prá não bater a porta do carro
Quando você vem vindo
Não te beija nem diz que é feliz
Entediado te olha e te diz
Que cansou de esperar e reclama
Não diz que te ama
Esse chato sou eu
Esse chato sou eu
Espero que os nossos amigos gostem
da paródia.
Por Leonelo Tesser (Nelinho)
quarta-feira, 3 de abril de 2013
Um dia de cão
imagem: Serra do Mar - Via Anchieta - 1970
Em 1971 levado pelo empresário de artistas Cabral Jr., fui
participar de um show no Ilha Porchat Club em Santos, aonde iria me apresentar
juntamente com a cantora Maria Odete.
Fui juntamente com mais três amigos, e viajava ao lado de um amigo
chamado Joaquim que estava no volante, almoçamos no antigo Restaurante Papai da
Praça Júlio de Mesquita, e depois rumamos para a Avenida do Estado para
seguirmos depois pela Avenida Nazareth no Ipiranga e depois a Via Anchieta para
Santos.
Era um belo sábado ensolarado e como acontece ainda hoje havia
muito trânsito seguindo esse mesmo destino, (ainda não havia sido
inaugurada Rodovia dos Imigrantes).
Para passar o tempo e encararmos aquele congestionamento muito familiar
e velho conhecido do paulistano já naquela época, fomos brincando e fazendo
varias gozações pelo caminho.
Uma delas eram imitações de leitão, cavalo, galinha, e cachorro
que fazíamos pela janela do Ford Landau dirigido pelo amigo
Joaquim, imitações estas que eram também aceitas e retribuídas por
outros motoristas brincalhões que também curtiam alegremente aquela lentidão da
viagem.
Um pouco antes de chegarmos ao pedágio, resolvemos tomar um café e
irmos ao banheiro, pois sabíamos que não mais haveria um posto em boas
condições de nos acolher após o pedágio.
Desci do carro latindo e uivando, fingindo ser um cachorro, (coisa alias
que faço com muito talento, modéstia a parte, algo de deixar muita cadela
apaixonada), (risos).
E assim brincando fomos ao banheiro, e ainda brincando tomamos o café e
voltamos para o carro, na hora que o carro estava para sair, um moço todo
risonho alegremente chegou ao lado da janela onde eu estava e me entregou um
cartão de visita, dizendo:
- Olha! Guarda esse cartão, e dê para o seu dono. Diga pra ele que
se for para você eu faço desconto.
Quando eu li o cartão estava escrito:
CASA DU-CÃO
Tudo para seu animal de estimação, Ração, Coleiras, Correntes.
Bons preços, temos também medicamentos veterinários.
Atende-se a domicilio.
Rua General Couto Magalhães, (não me lembro
do número) FONE: Idem.
CAPITAL -SÃO PAULO - BRASIL
Então os amigos foram e voltaram me gozando, e todos morrendo de rir e é
claro eu também.
Como no cartão havia o nome da pessoa que me abordou, resolvi não deixar
barato, e na segunda-feira às 10:00 da matina, eu liguei
para essa Casa do Cão, pedi para falar com essa pessoa e quando ele
atendeu, depois de alguns latidos alegres e amistosos eu agradeci a gentileza
com granidos de alegrias. auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
Por Arthur Miranda
6º BookCrossing Blogueiro
“Um livro pode mudar a sua via. Mais de mil livros podem
mudar a sua e a de muita gente.”
https://www.facebook.com/events/464278640310039
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Por Luz de Luma
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