imagem: Cidade Universitária - SP
Amigos, tendo nascido e vivido em uma
cidade grande e bastante complicada, o meu critério de beleza é bastante
questionável. Querem um exemplo? Gramado. É para mim uma linda e grande casa de
boneca, mas eu jamais conseguiria morar lá. Dessa forma, vez por outra falarei
sobre as cidades que eu gosto (ou não). Hoje a homenageada será São Paulo.
Fui a São Paulo ainda garota pela
primeira vez e não sei dizer se gostei ou não porque fui do aeroporto direto
para a casa de amigos do meu pai. A casa tinha tudo que uma criança poderia
gostar e praticamente não saí de lá, mas não sei dizer o motivo de não ter
gostado. Aliás, nem lembro ao certo.
Por volta dos 20 anos fui sozinha para
fazer um curso e fiquei muito assustada com o tamanho. Não gostei de
absolutamente nada. Gente esquisita com cara de bicho papão. Fui fazer uma
visita a uma amiga paulistana que tinha acabado de sair do Rio para trabalhar
na USP como professora mesmo. Conheci os seus amigos, curti muito, inclusive a
vida noturna. O único senão é que no último dia fui a uma festa com essa amiga
e ela tão logo chegou, saiu com um rapaz que tinha acabado de conhecer para ir
transar (tentem imaginar essa situação para uma mocinha como eu era).
Fiquei sozinha e não houve uma única
pessoa que chegasse perto de mim para falar uma palavra qualquer. Retorna a
garota de banho tomado e cabelos molhados e lá fomos nós para a sua casa. Odiei
aquela desconsideração e, naturalmente, São Paulo também.
No ano seguinte, conheci uma moça que
foi ao Rio participar de um evento no banco onde eu trabalhava e ela me
convidou para passar um final de semana em sua casa. Falei com ela sobre o meu
trauma com relação à cidade e ela jurou, de pés juntos, que iria fazer de tudo
para desfazer a má impressão. E realmente fez.
Prá começar, não fiquei na casa dela e
sim em um apartamento imenso cheio de jovens de outros estados que foram tentar
a vida na cidade e se juntaram para pagar um único aluguel. Todo mundo
maravilhoso. Não só os que lá moravam como também os amigos que frequentavam o
apartamento. Todos muito duros ,e por essa razão, ficamos enfurnados no local
tomando cervejas, comendo coisinhas gostosas, ouvindo música até não poder mais
e rindo bastante. Foi lá que conheci Elba Ramalho, quer dizer, o disco e não a
pessoa ao vivo.
O único passeio interessante que fiz
foi ir a uma feira em pleno sábado. Feira mesmo de legumes, verduras e frutas.
E foi ali, ao ver aquelas pessoas, que eu captei o espírito da cidade. Aquele
não era um programa qualquer; era O programa. Tinha gente de todo o Brasil,
jovens e velhos. Tinha música, pastel, bagunça e gente animada. De noite,
quando fui para o aeroporto e reparei mais uma vez nas pessoas que andavam
pelas ruas, passei a adorar a cidade.
Voltei diversas outras vezes e todas
as viagens que fiz foram muito agradáveis. Não voltei à feira, aliás, nem sei
onde fica, mas conheci outros lugares ótimos. Curto absolutamente tudo, até
mesmo a feiura que existe em alguns locais. O que mais me atrai é justamente o
povo. São caras e culturas completamente diferentes e esse caldeirão de
misturas é o maior patrimônio da cidade. Os paulistanos (nativos ou não) são
muito mais fechados do que os cariocas, mas eu penso que quando a gente capta a
energia do lugar, a conversa deslancha. Nunca tive problemas com motoristas de
táxi, informações erradas ou descortesia de alguém. Até mesmo o meu
"s" chiado e o "r" carregado foram motivo de gozações
carinhosas por parte de uma senhora dona de cantina do Bixiga que me pedia a
todo o momento para dizer determinadas palavras só para rir depois.
Tenho tido saudades, gostaria de ter
ido no primeiro semestre, mas não foi possível.
Pois é, São Paulo não tem a beleza
estonteante de muitas das cidades brasileiras, é triste em determinados
momentos, mas tem um charme que é impressionante, especial e único.
Um viva para São Paulo!
Por Yvonne Dimanche