quinta-feira, 13 de setembro de 2012

MEMORIAS DANÇANTES



 
Tarde de um domingo qualquer dos anos 50, na Escola Técnica de Comercio Frederico Ozanan, situada na Praça Franklin Roosevelt 129 em São Paulo.

Amplificador ligado, disco acomodado no prato, o braço do pick-up posicionado, a agulha assenta-se sobre os sulcos gravados e ouve-se, então, nos alto-falantes a melodiosa reprodução de “Moonlight Serenade” executada por Glenn Miller e sua Orquestra.

Depois dos primeiros acordes, o microfone é aberto, o som da vitrola baixado e o locutor (no caso, eu) inicia sua mensagem:

 “-Com este prefixo musical, o Grêmio Estudantil Frederico Ozanam, inicia sua tarde dançante deste domingo, desejando a todos uma tarde de muita alegria. Vamos dançar pessoal?”

Aumenta-se o som da vitrola e a melodia volta, com todo seu romantismo, a preencher todos os espaços da pista de danças.

Daí para frente o operador de som iria enfrentar as três horas seguintes frente o pick-up, trocando discos e reproduzindo diversas musicas dançante. Seriam executadas artistas e orquestras tais como Waldir Calmon, Glenn Miller, Tommy Dorsey, Perez Prado, Frank Sinatra, Benny Godmann, Elvis Presley, Lucho Gatica, Trio Los Panchos, Gregorio Barrios, Agostinho dos Santos, Cauby Peixoto e muitas outras estrelas musicais para que os convidados pudessem dançar e se divertir.

Quem chegasse naqueles momentos, sem ter tido qualquer contato anterior, não poderia imaginar o intenso trabalho que fora desenvolvido nas horas anteriores para permitir aqueles momentos dançantes.

Não saberia que no sábado, depois de terminadas as atividades culturais e esportivas habituais, por volta das 18h00m, os responsáveis pela Comissão de Formatura do ano e os diretores do Grêmio, se reuniam para dar inicio ao desmonte da classe para liberar espaço para o baile.

O salão era, sempre, o Escritório Modelo, onde o 3º. Técnico tinha suas aulas normais. Mesas e cadeiras desmontadas e empilhadas eram transferidas para outras salas de aula que não seriam visitadas pelo publico do baile.

Depois de desobstruído o salão, era a vez do Edson Gomes e do Newton Rubem Caggiano, colocarem suas habilidades em elétrica e eletrônica em uso. Caixas de alto falantes eram afixadas nas paredes, fiação era estendida com segurança por todos os espaços aéreos para permitir que os alto falantes pudessem reproduzir o som que seria transmitido da Central de Som instalada em algum lugar, de preferência não acessível por participantes do baile. Ali, só o disc. jockey seria admitido, para o tranquilo desenvolvimento de suas tarefas.

Mesas seriam colocadas no final do alpendre   que ocupava toda a lateral da escola para que ali fosse instalado o bar que, explorado pelos formandos do ano, teria a missão de vender os refrigerantes e arrecadar fundos para a festa final.

Por volta das 20h00 horas, com o trabalho em mutirão totalmente concluído, os participantes iam para casa, banhar-se para, depois, participarem de festinhas de garagem, sessões de cinema ou teatro ou outras atividades que bem lhes aprouvesse.

Domingo, dia do evento, após o almoço em família, os responsáveis iam para a Escola e depois de revisarem as instalações e nada encontrando para retificar,  espalhavam pela sala, já totalmente livre dos móveis, raspas de vela, para permitir que os bailarinos deslizassem melhor na desenvoltura de seus bailados.

Pronto, aguardavam a presença dos convivas e, no horário aprazado, davam início ao baile, sempre na forma com que esta narrativa foi iniciada.

Baile próximo do horário de encerramento. Novamente Glenn Miller era convocado e iniciava a execução de Moonlight Serenade, o som era baixado, o microfone novamente aberto e o locutor dizia:

“-Com este sufixo musical, o Grêmio Estudantil Frederico Ozanam, encerra mais uma de suas matines dançantes. Agradecendo a presença e esperando contar com a presença de todos nas próximas atividades, desejamos a todo um excelente final de tarde. Boa noite!”

Pronto. Tudo terminado? Claro que não. Assim que os convidados saíssem, o0 pessoal colocava, novamente, mãos à obra e desfaziam  as instalações preparadas na noite de sábado, remontavam a sala de aula para que na manhã de segunda feira os alunos pudessem retomar as aulas, e só depois, num bagaço só, iam para casa descansar.

Tempos der trabalho, dedicação, responsabilidade e muita diversão.

Foi muito bom tê-los vivido intensamente.  
por: Miguel Chammas

10 comentários:

leonello tesser (Nelinho) disse...

Miguel, os bailinhos de antigamente realmente eram os melhores,abraços, Nelinho.-

margarida disse...

Miguel, esse tempo foi um dos melhores da vida, que privilegio foi o nosso. Eu fazia parte da comissão de formatura do Estadual da Penha e nossos bailes, inclusive na Penha eram sucesso total. Lindas suas recordações, parabéns! Beijos

Loba disse...

ah, miguelito, vc nem imagina o tanto de lembranças que este texto me trouxe! vc acordou uma época, seus costumes, e de certa forma, sua inocência. há qtos anos não é mais possível este tipo de diversão? nossos filhos e netos sequer conheceram algo assim, né?
muito bom te acompanhar nestas reminiscências, meu amigo!
beijo!

Laru disse...

Num atraente compasso de parágrafos bem determinados, o nosso querido Miguel traz um pouco da nostalgia dos bons tempos de juventude. "Atropelando" com o início do baile, permeado pela preparação do salão e conjuntos elétricos, encerra a narrativa com a mesma saudosa orquestra de Glenn Miller que deu início, transportando a todos nós praqueles deliciosos momentos que não voltam mais. Parabéns, Miguel, vc foi, é e sempre será um homem feliz. Graças a Deus.
Laru

Asciudeme disse...

vER SE SAIU.

Asciudeme disse...

Miguel, bons tempos. Parabéns ! Um abraço.

Zeca disse...

Miguel!

Como sempre, a leitura dos teus textos nos permite "participar" daquilo que está sendo narrado. A própria estrutura da tua narrativa é tão musical quanto uma partitura; o que nos permite sentir o gingar do corpo e os avanços ou retrocessos dos passos no meio do salão. Como foi gostoso relembrar os bons e saudosos tempos dos bailinhos, das comissões de formatura, do empenho com que nos entregávamos a esses eventos! Acabo de retornar (no meu caso) de uma gostosa viagem a meados dos anos sessenta!

Grande abraço!
Ou, até hoje à noite, no encontro das redondas!

guilherme disse...

Miguel, como participante ativo desses bailinhos, as recordações são muitas e boas. Belos dias como diria o rei RC.

Wilson Natale disse...

MIGUEL:
Ah! A Juventude!
Deferentes no Singular e tão iguais no coletivo.
Tudo igual na preparação. Só o cenário mudava um quase nada.
Ia ao bailinho mascando chiclets Adam's ou Ping-pong. No baile, "mamava" Coca-cola até que começassem a servir o esperado Cuba-Libre... Comecei com Elvis, Ray Connif, litle Richards; baladas do The Platters na versão de Fred Jorge,etc. Depois vieram o Cha-cha-cha, Twist, Hully-Gally, Yê-yê-yê... Ai, a vida gritou chega,vai estudar, trabalhar, vagabundo!
Então, acabou-se as festas "de arromba"!
Adorei o texto!
Abração,
Natale

Wilson Natale disse...

PS: Continuo trocando letras! Leia-se diferentes em vez do tal deferentes. ahahahaha!

Natale