Tarde de um domingo qualquer dos anos 50, na Escola Técnica
de Comercio Frederico Ozanan, situada na Praça Franklin Roosevelt 129 em São
Paulo.
Amplificador ligado, disco acomodado no prato, o braço do
pick-up posicionado, a agulha assenta-se sobre os sulcos gravados e ouve-se,
então, nos alto-falantes a melodiosa reprodução de “Moonlight Serenade” executada
por Glenn Miller e sua Orquestra.
Depois dos primeiros acordes, o microfone é aberto, o som da
vitrola baixado e o locutor (no caso, eu) inicia sua mensagem:
“-Com este prefixo
musical, o Grêmio Estudantil Frederico Ozanam, inicia sua tarde dançante deste
domingo, desejando a todos uma tarde de muita alegria. Vamos dançar pessoal?”
Aumenta-se o som da vitrola e a melodia volta, com todo seu
romantismo, a preencher todos os espaços da pista de danças.
Daí para frente o operador de som iria enfrentar as três horas
seguintes frente o pick-up, trocando discos e reproduzindo diversas musicas
dançante. Seriam executadas artistas e orquestras tais como Waldir Calmon, Glenn
Miller, Tommy Dorsey, Perez Prado, Frank Sinatra, Benny Godmann, Elvis Presley,
Lucho Gatica, Trio Los Panchos, Gregorio Barrios, Agostinho dos Santos, Cauby
Peixoto e muitas outras estrelas musicais para que os convidados pudessem dançar
e se divertir.
Quem chegasse naqueles momentos, sem ter tido qualquer
contato anterior, não poderia imaginar o intenso trabalho que fora desenvolvido
nas horas anteriores para permitir aqueles momentos dançantes.
Não saberia que no sábado, depois de terminadas as
atividades culturais e esportivas habituais, por volta das 18h00m, os
responsáveis pela Comissão de Formatura do ano e os diretores do Grêmio, se
reuniam para dar inicio ao desmonte da classe para liberar espaço para o baile.
O salão era, sempre, o Escritório Modelo, onde o 3º. Técnico
tinha suas aulas normais. Mesas e cadeiras desmontadas e empilhadas eram transferidas
para outras salas de aula que não seriam visitadas pelo publico do baile.
Depois de desobstruído o salão, era a vez do Edson Gomes e
do Newton Rubem Caggiano, colocarem suas habilidades em elétrica e eletrônica
em uso. Caixas de alto falantes eram afixadas nas paredes, fiação era estendida
com segurança por todos os espaços aéreos para permitir que os alto falantes
pudessem reproduzir o som que seria transmitido da Central de Som instalada em
algum lugar, de preferência não acessível por participantes do baile. Ali, só o
disc. jockey seria admitido, para o tranquilo desenvolvimento de suas tarefas.
Mesas seriam colocadas no final do alpendre que
ocupava toda a lateral da escola para que ali fosse instalado o bar que,
explorado pelos formandos do ano, teria a missão de vender os refrigerantes e
arrecadar fundos para a festa final.
Por volta das 20h00 horas, com o trabalho em mutirão
totalmente concluído, os participantes iam para casa, banhar-se para, depois,
participarem de festinhas de garagem, sessões de cinema ou teatro ou outras
atividades que bem lhes aprouvesse.
Domingo, dia do evento, após o almoço em família, os
responsáveis iam para a Escola e depois de revisarem as instalações e nada
encontrando para retificar, espalhavam
pela sala, já totalmente livre dos móveis, raspas de vela, para permitir que os
bailarinos deslizassem melhor na desenvoltura de seus bailados.
Pronto, aguardavam a presença dos convivas e, no horário
aprazado, davam início ao baile, sempre na forma com que esta narrativa foi
iniciada.
Baile próximo do horário de encerramento. Novamente Glenn
Miller era convocado e iniciava a execução de Moonlight Serenade, o som era
baixado, o microfone novamente aberto e o locutor dizia:
“-Com este sufixo musical, o Grêmio Estudantil Frederico
Ozanam, encerra mais uma de suas matines dançantes. Agradecendo a presença e
esperando contar com a presença de todos nas próximas atividades, desejamos a
todo um excelente final de tarde. Boa noite!”
Pronto. Tudo terminado? Claro que não. Assim que os convidados
saíssem, o0 pessoal colocava, novamente, mãos à obra e desfaziam as instalações preparadas na noite de sábado,
remontavam a sala de aula para que na manhã de segunda feira os alunos pudessem
retomar as aulas, e só depois, num bagaço só, iam para casa descansar.
Tempos der trabalho, dedicação, responsabilidade e muita
diversão.
Foi muito bom tê-los vivido intensamente.
por: Miguel Chammas
10 comentários:
Miguel, os bailinhos de antigamente realmente eram os melhores,abraços, Nelinho.-
Miguel, esse tempo foi um dos melhores da vida, que privilegio foi o nosso. Eu fazia parte da comissão de formatura do Estadual da Penha e nossos bailes, inclusive na Penha eram sucesso total. Lindas suas recordações, parabéns! Beijos
ah, miguelito, vc nem imagina o tanto de lembranças que este texto me trouxe! vc acordou uma época, seus costumes, e de certa forma, sua inocência. há qtos anos não é mais possível este tipo de diversão? nossos filhos e netos sequer conheceram algo assim, né?
muito bom te acompanhar nestas reminiscências, meu amigo!
beijo!
Num atraente compasso de parágrafos bem determinados, o nosso querido Miguel traz um pouco da nostalgia dos bons tempos de juventude. "Atropelando" com o início do baile, permeado pela preparação do salão e conjuntos elétricos, encerra a narrativa com a mesma saudosa orquestra de Glenn Miller que deu início, transportando a todos nós praqueles deliciosos momentos que não voltam mais. Parabéns, Miguel, vc foi, é e sempre será um homem feliz. Graças a Deus.
Laru
vER SE SAIU.
Miguel, bons tempos. Parabéns ! Um abraço.
Miguel!
Como sempre, a leitura dos teus textos nos permite "participar" daquilo que está sendo narrado. A própria estrutura da tua narrativa é tão musical quanto uma partitura; o que nos permite sentir o gingar do corpo e os avanços ou retrocessos dos passos no meio do salão. Como foi gostoso relembrar os bons e saudosos tempos dos bailinhos, das comissões de formatura, do empenho com que nos entregávamos a esses eventos! Acabo de retornar (no meu caso) de uma gostosa viagem a meados dos anos sessenta!
Grande abraço!
Ou, até hoje à noite, no encontro das redondas!
Miguel, como participante ativo desses bailinhos, as recordações são muitas e boas. Belos dias como diria o rei RC.
MIGUEL:
Ah! A Juventude!
Deferentes no Singular e tão iguais no coletivo.
Tudo igual na preparação. Só o cenário mudava um quase nada.
Ia ao bailinho mascando chiclets Adam's ou Ping-pong. No baile, "mamava" Coca-cola até que começassem a servir o esperado Cuba-Libre... Comecei com Elvis, Ray Connif, litle Richards; baladas do The Platters na versão de Fred Jorge,etc. Depois vieram o Cha-cha-cha, Twist, Hully-Gally, Yê-yê-yê... Ai, a vida gritou chega,vai estudar, trabalhar, vagabundo!
Então, acabou-se as festas "de arromba"!
Adorei o texto!
Abração,
Natale
PS: Continuo trocando letras! Leia-se diferentes em vez do tal deferentes. ahahahaha!
Natale
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