quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Mistérios Natalinos


Eu e meu amigo Luiz Tadeu praticamente crescemos juntos. Éramos vizinhos de residência e também de nascimento, minha mãe e a mãe dele foram ambas assistidas em parto, quase no mesmo dia e no mesmo horário pela mesma parteira, na época muito conhecida e estimada por todas as famílias dos moradores da Freguesia do Ó; chamava-se Dona Zelinda.
Dona Zelinda, depois de atender a mãe de Luiz Tadeu, e isso perto das 23h00min do dia 26, correu para minha casa que ficava ao lado, para fazer o parto de minha mãe, era eu que chegava meio atrasado, perto de 01h00min e obrigado por isso a nascer no dia seguinte no dia 27 de Dezembro. Dia dedicado a São João Evangelista, o discípulo predileto de Jesus. Em uma linda noite de céu estrelado do Dezembro de 1938. (sei disso por que mamãe sempre falou que quando eu nasci ela viu estrelas, kkk). Se a parteira Dona Zelinda tivesse atendido minha mãe antes da mãe do Luiz Tadeu, eu seria algumas horas mais velho do que ele, como isso não aconteceu ele ficou sendo o mais velho.
Estudávamos no mesmo Grupo Escolar, jogávamos futebol e estávamos juntos em quase todas as brincadeiras da adolescência e mocidade, como também tínhamos os mesmos amigos, os pais dele se davam muito bem com os meus, assim como os meus com os dele.
Só havia uma diferença entre nós, isso a partir dos sete aninhos de idade, ele não acreditava, e acho que nunca acreditou, na existência de Papai Noel e eu acreditava. Isso aconteceu até os meus nove anos, depois eu passei a concordar com ele de que Papai Noel não existia mesmo. Pois a gente nunca tinha visto um que fosse de verdade, entregando presentes nas vésperas de Natal, em nossas casas ou pelas vizinhanças.
Íamos ao Cine Metro Juntos assistir Tom e Jerry, Tarzan e mais tarde Jim das Selvas, com o mesmo ator, Johnny Weissmuller, no Cine Avenida, bem em frente ao Largo Paissandu e seu mictório (cheiroso), ao lado da padaria Ayrosa, onde na saída do cinema sempre aproveitávamos para comer uns pãezinhos feitos na hora.
A partir do ano de 1958, quando mudei de casa e fui morar no mesmo bairro, porém em outra rua, passamos então a nos encontrar menos, mas assim mesmo, às vezes aos finais de semana nos víamos e batíamos aqueles papos.
Mais tarde ele se casou mudou de bairro, eu também, e praticamente não nos vimos mais. O tempo passou... Soube, por intermédio de outros amigos, que ele estava morando em Pinheiros perto da Vila Madalena, os anos foram passando. Em 1987 encontrei-o no Largo da Matriz da Freguesia, onde fui passar o Natal na casa de minha irmã Jurema.
Foi uma festa... Fazia pelo menos 24 anos que eu não falava com ele; conversamos por perto de 3 horas, ele me falou de sua família, dos três filhos, o mais velho já bem casado e, é claro, dos dois netos. E como não poderia deixar de ser, falamos também do nosso passado e como era dia de Natal. Eu lembrei-me que ele nunca acreditou em Papai Noel, resolvi perguntar se ele havia mostrado isso também aos filhos e também aos netos.
Foi então, para minha surpresa, que descobri que meu querido amigo e velho companheiro Luiz Tadeu, estava mudado... Que depois de vários anos descrente de Papai Noel, naquele momento ele era o maior crente do mundo em Papai Noel.
Achei que isso aconteceu em função do nascimento dos netos. Mas não, me disse ele! Foi algo que aconteceu 10 meses antes do nascimento de seu segundo filho, que nasceu em 1974. Algo que mexeu com seu interior e despertou dentro dele uma felicidade quase infantil, algo que sempre esteve morto em seu coração, desde a mais tenra idade. E o que é mais interessante, envolvendo o Dia de Natal e o Papai Noel.
Então ouvi o seu relato que muito me emocionou e comoveu. E eu até não gostaria de acabar acreditando em Papai Noel dessa mesma maneira.
Ele me disse que, na véspera do natal de 1973, isto é, no dia 24 de Dezembro de 1973, ele teve um encontro pessoal com Papai Noel.
Falou que no dia 24, ao voltar para casa, por que havia saído com seus filhos e voltava da casa de seus pais, na estrada perto de Jundiaí bateu o seu fusca, o acidente não foi grave, mas o carro não estava em condições de andar e ele foi levado com seus filhos pelo guincho até um funileiro mais próximo, para que o mesmo desse um jeito de colocar o carro em condições de poder chegar até São Paulo, a tempo de estar junto com a esposa que estava só em casa na Vila Formosa e, como não possuía telefone, achava que ela estaria super preocupada.
E assim, desesperado e muito preocupado com a esposa, Luiz Tadeu só chegou à casa às 23h30min, praticamente início do dia de Natal, enquanto os filhos dormiam amontoados no banco traseiro do fusca 71.
Ao parar o carro lentamente em frente a sua casa, notou um vulto que saltava da janela. Um ladrão, pensou... Correu e agarrou o danado quando o mesmo tentava pular o muro da frente de sua casa para ganhar a rua.
Mas, o cara assustado disse rapidamente: - calma, meu amigo, muita calma, eu sou o Papai Noel e estou apenas entregando os presentes que seus filhos pediram.
Ele então, agradeceu o Papai Noel e nunca mais duvidou de sua existência. Ele só não aceita a forma como as pessoas descrevem o Papai Noel como um velho barbudo usando roupas vermelhas e botas pretas, quando na verdade o verdadeiro Papai Noel segundo ele, usa um conjunto de moletom cinza escuro tênis Nike e não carrega o saco a vista.
Ano passado Luiz Tadeu deixou esse nosso mundo, sem realizar jamais o seu último desejo, que era o de poder tirar uma foto com aquele “verdadeiro” Papai Noel.
ET: Essa historia é fictícia e qualquer coincidência com pessoas reais é mera semelhança.

BOM NATAL, CHEIO DE ALEGRIA E FELICIDADES À TODOS.

Por Arthur Miranda (tutu)

9 comentários:

margarida disse...

Arthur, muito legal esta sua historia. Ao lê-la senti como se estivesse vendo um filme, acho que pela forma de como coloca os fatos. Espero que Tadeu encontre Papai Noel lá no céu e tire a foto tão desejada.Um abraço e um Feliz Natal para você e toda sua família.

Wilson Natale disse...

ARTHUR: Um Natal Múuu-múuuu-múuuuinto feliz ao seu amigo, onde quer que ele esteja... Ahahahahaaa!
Espero que ele encontre o tal Papai-Noel e... E... E dê uma chifrada nele! Ahahahahaaaaaaa!!!
Delícia lembrar o AVENIDA, que ficava no local onde hoje está o prédio e o Cine Olido.
O Mictório podia ser cheiroso, mas a Padaria era ayrosa!...Ahahahahaaa!
Você nos deu um texto muito bem dosado, interessante e divertido.
Valeu!
Natale
FEILIZ NATAL,SEM MÚUU! MÚUU!...
Ahahahahahahahaaaaaaa!!!

Myrtes e Modesto disse...

Arthur, aí está um novo estilo de se mandar uma mensagem natalina. Gostei, agradeço, não só as mensagens propriamente dito mas a forma de se dizer, com uma "mentira", a mais pura das sinceridades. Um feliz Natal e um grande e próspero Ano Novo de 2012 a vc e toda sua família, são os votos da família Laruccia. Abraços, Arthur.
Myrtes e Modesto

Zeca disse...

.

Arthur!

Um belo conto que fez com que eu acreditasse na veracidade da história até as linhas finais... risos. Muito bem construido e com a dose certa de humor, só poderia mesmo ter vindo de você! E agora fica a dúvida: quantos milhares de "papais Noel verdadeiros" existem por aí? E quantos milhares de descrentes poderiam passar a crer se pudessem testemunhar sua visita noturna?
Que o seu Natal e o de sua família seja muito feliz e com a visita sempre alegre e gostosa do "outro" Noel; aquele imaginário mesmo! É isso mesmo o que desejo para mim também... risos.

Abraço

.

Luiz Saidenberg disse...

Bela história, Artur. Eu tb acreditava no bom Noel...fazia mal, imagine crer nessa vistosa e pomposa criatura. Qto aos ladrões, alvarenga e Ranchinho já cantavam:

-No Natar é preciso ter cuidado
pra num fazê o que feiz o Chico Março:
pôs na janela as butina da famía;
no outro dia tivéro que andar descarço!

Belo Natal a você e Denise, bem como todos a os seus.

Soninha disse...

Olá, Arthur!

Embora fictícia, sua história traz um linda lição de vida.
Quantas vezes somos ajudados por "Papais Noeis", vestidos como gente comum, que são verdadeiros missionários, estendo as mãos aos necessitados, ajudando aos que realmente necessitam não só de coisas materiais, mas, também, das coisas que a alma precisa para ser feliz.
Pessoas assim conseguem conservar o espírito do Natal durante todo o ano, em suas vidas e na vida de todos os que os cercam.
Valeu!
Feliz Natal! Boas Festas!
Muita paz!

Miguel S. G. Chammas disse...

Tutu, lindo conto natalino.
Eu, atrasado em ler teu conto, percebi que nem tenho como comentá-lo. Tudo que gostaria de dizer já foi dito, e bem dito, nos comentários anteriores.
Assim, bastante emocionado, quero desejar a você e Denise meus votos de um Feliz e Santo Natal, rogando a Deus que não te faça deparar com qualquer Papai Noel saltando por uma de suas janelas.

Luigy disse...

Que bacana Artur vc se lembrar de seu amigo.
Belo relato

suely aparecida schraner disse...

Uma ficção realista, de tão boa! Valeu! Muitas alegrias aqui e ali.