quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Memórias em doses homeopáticas


Natal! Época de que nós, componentes do batalhão da melhor idade, comovidos, buscamos nas cinzas do passado motivos que nos fizeram viver marcantes alegrias ou grandes decepções.

São pequenas lembranças que, solitárias, não mereceriam um texto épico, mas juntas, em doses homeopáticas, poderão render uma boa descrição e, consequentemente, uma boa leitura. Esta fórmula, acredito, poderá render bons resultados. Vamos a ela!

Natais das décadas de 40/50, eu não posso afirmar ser oriundo de uma família bem posicionada financeiramente; éramos, por assim dizer, remediados, e como tal dispúnhamos de parcos recursos para gastar. Tínhamos em uma caixa, guardada no porão da Rua Augusta, várias bolas de vidro colorido, lindas e frágeis, embrulhadas uma a uma em pedaços de jornal quando do desmonte da árvore de Natal do ano anterior.

No início de cada mês de Dezembro, minha mãe conseguia, a custo de suas rendas advindas de bordados que ela fazia por encomenda, comprar um belo pinheiro. Entregue a árvore símbolo natalino, íamos todos, mãe, tias, eu, meu irmão e meus primos, iniciar a tarefa de decoração.

Primeiro, com papel celofane colorido, encapávamos a lata onde a árvore havia sido plantada dando-lhe uma aparência mais agradável. Depois, com todo o cuidado, desembrulhávamos cada um daqueles pacotinhos de jornal e acondicionávamos as bolas coloridas na mesa da sala. Algumas, que pena, quebravam e eram motivos de broncas ou de gestos de conforto, dependendo do motivo que gerava o incidente. Finda a tarefa, meu pai, por sua altura, era incumbido de pendurar as bolas na árvore; subia numa cadeira e ia recebendo os enfeites e, lógico, os palpites. Pendura ali naquele galho... Isso... Um pouco mais para frente... Assim está melhor... Era uma tarefa que, por sua importância e delicadeza, consumia algumas horas e às vezes era cumprida em duas noites. Terminávamos a decoração da árvore com a colocação na sua ponta da estrela cometa, devidamente preparada com esmero e carinho por minha mãe, usando papelão de uma caixa de sapatos, cola e muita purpurina prateada. Ela representava a estrela guia dos Reis Magos.

Pronto! Árvore decorada, cabia a este que vos escreve, seu irmão e primos, a missão de armar, aos pés do pinheiro, o presépio representativo do nascimento do Menino Jesus.

A serragem que eu já havia conseguido junto a uma serraria que ficava próxima de casa, era esparramada ao redor da arvore. O estábulo colocado na parte central recebia as imagens de José e Maria e entre eles a manjedoura que, no dia 24 à meia noite, iria receber a imagem do Menino Jesus. As demais imagens eram espalhadas ao redor, espelhos eram usados para representar lagos, pedregulhos para representar caminhos e lá no extremo do presépio, imponentes, os 3 Reis Magos despontavam. Era, ainda, nossa missão, mover os Reis Magos, um cadinho a cada dia para que, no dia 25, eles chegassem à manjedoura e rendessem homenagens ao recém nascido.

Nós, crianças, também chegávamos no dia 25 até os baixos da árvore para buscarmos nossos presentes que eram, invariavelmente, iguais todos os anos. Para mim cabia sempre um revolver de chumbo prateado, acondicionado numa cartucheira de plástico e um almanaque do Tico-Tico.

Anos de agruras, mas também de muita felicidade.

Por Miguel Chammas

21 comentários:

Marcelo `Pizo Moreira Martins disse...

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‎Miguel Chammas, emocionante. Mesmo com as diferenças de cada família, época, etc., cada um tem um pouquinho dessa história. Obrigado pela exigência da leitura, foi muito prazeirosa. Beijão

Priscilla Ferconc disse...

Lembrei minha infância! Muito bom :)

Miguel S. G. Chammas disse...

Prazer foi meu em te encontrar por aqui garotão. Na verdade os Natais tem características que, porf mais que queiramos, não se modificam.

Miguel S. G. Chammas disse...

Priscilla, tenho certeza que lembrou, tanto quanto eu me lembrei dela e de voce. Obrigado por ter me visitado por aqui

Soninha disse...

Olá, amor!

Doces lembranças dos Natais em família!
Fez-me lembrar dos momentos felizes quando meus irmãos e eu, junto com minha mãe, arrumávamos a árvore de Natal... Na verdade, nós só ajudávamos a desembalar as peças, ajeitar uma coisa ou outra, pois mi nha m ãe não deixava-nos colocar as bolas vermelhas de vidro na árvore, para que não quebrássemos nada... Ela gostava assim...ela mesma arrumava a árvore e nossos olhinhos infantis brilhavam de alegria e de expectativa para a chegada do grande dia, quando Papai Noel viria nos trazer os presentes.
Acho que eu me pareço um pouco com minha mãe, pois hoje eu também gosto de arrumar a árvore de Natal sozinha...rsss
Valeu!
Feliz Natal!
Muita paz! Beijosssssssss

Luiz Saidenberg disse...

Ah, os fantasmas dos Natais Passados, sempre presentes! Mais presentes talvez agora do que foram antes. Muito bonito, Miguel!

LARUCCIA disse...

ESTEJA UNIDO E EM PAZ COM SUA FAMÍLIA PRA VIVER E GOZAR UM FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO.
LARUCCIA

Zeca disse...

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Miguel!

Não me canso de ler estes depoimentos dos Natais de cada um dos autores! Inclusive o seu, que acaba de me levar a uma viagem tão mágica quanto a data, para os longínquos tempos da minha infância. Tudo era bastante parecido com o que você conta, apenas com pequenas diferenças familiares... que saudade! Que gostinho bom nos trazem estas doces lembranças! Tão doces quanto as finas iguarias do Natal!

Um grande e muito feliz Natal para você(s) e para todas as pessoas que lhe(s) são caras!

Abração

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Miguel S. G. Chammas disse...

Amor, além de tudo isso que vc afirmou, você é ainda meu maior presente de Natal....

Wilson Natale disse...

Miguel,
Na leitura dos textos eu sou minucioso. Prendo-me aos detalhes e aqui e alí identifico situações semelhantes, citações, frases que me remete ao meus Natais e acabo concluindo que nossos textos, como elo de uma corrente, encaixam-se perfeitmente. Desaparecem o meu Natal, o seu Natal, ou o Natal dos outros. Permanece sim, o nosso Natal. Pois tudo, a festa, a magia, o amor a família se amálgama no amor.
E as nossas festas, mesmo solitárias são alegres e barulhentas. No meu Natal, a exemplo, está presente a família, eu e o Eu de cada um dos meus 62 Natais. Ano que vem faço 64. Então, mais um eu virá para alegrar a minha noite feliz.
Texto além de ótimo, muito envolvente.
Abração,
Natale

margarida disse...

Miguel, que doces lembranças tem nossos natais! Montar a arvore lá em casa era um momento de felicidade para todos nós. Meu pai colocava o pisca-pisca e os enfeites era tarefa minha e de meus irmãos. Por ultimo colocávamos cabelo de anjo prateado e assim nossa arvore era a mais linda de todas. Um Feliz Natal e um grande beijo pra vocês.

Miguel S. G. Chammas disse...

Saidenberg, me permita discordar do seu comentário. Não são fantasmas do passado, são doces e sinceras lembranças.

Miguel S. G. Chammas disse...

Saidenberg, me permita discordar do seu comentário. Não são fantasmas do passado, são doces e sinceras lembranças.

Miguel S. G. Chammas disse...

Mo, obrigadop pelos votos. Sei que são sinceros e os recebo muito agradecido.

Miguel S. G. Chammas disse...

Zeca meu amigo, nada mais bonito e singelo que a simplicidade para comemorar essa data. Foi assim que pretendi fazer com este texto, acho que consegui.
Obrigado pelas palavras.

Miguel S. G. Chammas disse...

Natale, são tantos detalhes....
Continue juntando-os, vamos ver o que vai dar.

Miguel S. G. Chammas disse...

Marga, o bom é saber que temos o Natal para festejar.
Obrigado pelas palavras carinhosas

Arthur Miranda disse...

Miguel, coisa engraçada os natais em famílias que se amam, são todos muito parecidos, e minhas lembranças dos natais passados são parecidos com o seus. E eu só lamento que até hoje por ser meu niver dia 27 e perto do Natal, toda vida só ganho um presente no dia de natal ou no dia do Aniversário, Eu queria que minha mãe e meu pai tivessem me tido em Maio ou Abril,KKKK. Parabéns meu querido.

Beti Timm disse...

Cumpadre

Você me fez ser criança novamente. Me senti esperando ansiosamente o dia amanhecer para ver o que Papai Noel deixou pra mim.
Naquele tempo os problemas estavam longe, nos esperando na esquina do destino. Mas teu texto me emocionou e me fez ser criança novamente com as mesmas emoções daquele tempo.

Um beijo e feliz Natal, cumpadre

Luiz Saidenberg disse...

Fantasmas do passado tb podem ser doces lembranças. E haja assombração!

suely aparecida schraner disse...

Ganhar revólver prateado, francamente! Ainda bem que seus tiros certeiros são os belos textos neste espaço. Salve!