terça-feira, 23 de novembro de 2010

Ruas do Ipiranga


imagens: Igreja N.S. das Dores; Rua dos Patriotas trecho do Museu do Ipiranga; Fórum do Ipiranga


A chuva parou, e ao cair da noite resolvi passear pelas ruas do Ipiranga. Desci pela Agostinho Gomes e fui até a Leais Paulistanos, ali havia um terreno vazio onde se realizava uma quermesse da Paróquia Nossa Senhora das Dores. Hoje lá estão dois prédios do CDHU. Sigo em frente em direção a Rua Thabor procurando ver alguma coisa do passado, nada encontrei.

O cine Ipiranga Palácio e o Bar do Carmo não existem mais, nem a cancha de bochas do Orestes. Os armazéns do Banco da Borracha foram demolidos e agora no lugar estão sendo erguidos mais dois edifícios. No Ipiranga Palácio dei o meu primeiro beijo nos lábios de uma mulher na matinê de domingo lá pelos idos da década de 50. Ainda me lembro de seus longos cabelos.

Diante das lembranças, lembrei-me de um famoso tango de Gardel que dizia: - "Volver... con la frente marchita, las nieves del tiempo platearon mi sien. Vivir...con el alma aferrada a un dulce recuerdo que lloro otra vez", pouco ou quase nada resta das antigas casas daquelas ruas. Volto para casa triste e no caminho paro em um bar que fica na esquina da Rua Agostinho Gomes com Xavier Curado.

Peço uma cerveja e fico recordando uma letra de outro antigo tango chamado "El Tabernero" que diz: - "Muchos se enbriagan com vino y otros se enbriagan com besos, Como ya no tiengo amores, y los que tuve morieran, plazer encuentro en nel vino, que me brinda el tabernero", deixo o bar e sigo para casa, tudo está em silêncio, deito em minha cama e adormeço querendo sonhar com aqueles velhos tempos que não voltam mais.


Por Leonello Tesser

10 comentários:

Wilson Natale disse...

Nello, Dos anos 60 em diante era um ir e vir. Da Mooca ao Ipiranga, um pulinho. E os meus amigos dessa época ainda estão pela Agostinho Gomes, Lucas Obes e Bom Pastor. Eu também não gosto do que vejo agora: Foram-se os palacetes da Bom Pastor, deteriorou-se o trecho da Rua Thabor, esquina com a Av. Dom Pedro. E a própria D. Pedro, tão linda virou un antro de pensões e botequins. A Nazareth então, dá dó. Nela, ficou apenas o Maninho, lanchonete e pizzaria. Mas a frequência agora é outra.
Mas um consolo nós temos: vemos um Ipiranga que poucos podem ainda ver. Muitos não lembram, ou já esqueceram esse bairro tão maravilhoso.
Abração,
Natale

Miguel S. G. Chammas disse...

Ah Nelinho,
só você para me tirar dos dias preocupantes e me levar ao passado.
Ipiranga, dos meus dias de office-boy quando apeado dos velhos bondes, batia suas ruas à pé, visitando as diversas fábricas de meias de nylon, entregando faturas ou recebendo faturas vencidas.
Bati todas as Ruas do Ipiranga, Fábrica e Vila Carioca.
Obrigado por este momento de magia.

Arthur Miranda disse...

Que maravilha Nelinho, seu texto me levou de volta ao Ipiranga dos anos 50, tive uma prima casada que morou anos aí, e minha mãe me levava ainda menino passear na casa da prima Zica e Horacio, e por lá eu ficava o domingo inteiro a brincar com meus primos, Zezinho e Luiz Tadeu. Seu texto também provocou em mim uma tremenda saudade do Vovô Ypiranga disputando o Campeonato Paulista com aqueles velhos craques de futebol, que todos os anos o C.A.Ypiranga revelava, como também belas letras de velhos tangos por muitos anos esquecidos.

Luiz Saidenberg disse...

Nelinho, é muito bom saber desse Ipiranga que pouco conheci. Para mim, sempre foi mais uma passagem: para Santos, nos velhos tempos; para suas atrações consagradas: seus jardins, seus museus e agora para o Aquário e o Bar do Nico, na sua vizinhança. Bellos recuerdos de tiempos que no volverán !
Só mesmo indo de tango !

Laruccia disse...

Nostálgicas recordações de um histórico bairro, com citações de ruas, avenidas e praças que só despertam, em nós, um aperto no coração, de tanta saudade. Parabéns, Nelinho.

Soninha disse...

Olá, Nelinho!

Nossa...que saudade!
Lembrei-me de tanta coisa boa...de tantos momentos bons.
Íamos sempre passear no Ipiranga, bairro vizinho ao nosso (Vila Prudente).
Museu do Ipiranga...nossaaaaa...íamos muito!
E as lojas daSIlva Bueno então?! Era uma verdadeira 25 de março para nós...eu adorava ir fazer compras lá.
Tínhamos amigas que moravam no Ipiranga....e ainda tenho algumas, até hoje!
Adorei ler seu texto.
Obrigada.
Muita paz!

Nelson de Assis disse...

Nelinho.
Minhas saudades são de quase quarenta anos distantes de Sampa.
Será que terei as mesmas nostalgias
que voce tão brilhantemente descreveu?
Ainda sonho com a São Paulo antiga e romântica de quatro dévadas passadas.
Abraços

suely aparecida schraner disse...

Dizem que saudade é querer ver outra vez. Parabéns pelo belo texto!

MLopomo disse...

LEONELLO,meu tio era Ypiranguista, time de futebol, campeão duas vezes do torneio inicio do campeonato paulista(1948-1950. A Gazeta esportiva dizia que o Ypiranga bairro, era a Colina Histórica. Um pequeno comentário é muito pouco para falar de um bairro que eu andei como vendedor de produtos de uma forma da Rua Labatut.Suas Ruas anda são calmas, tem poucos prédios, infelizmente proliferarão os espigões, porem é o bairro que ainda mantêm os casarões do inicio do século, residências que muitas foram da família Jafet. O Ipiranga é um bairro que está na minha lista para um estudo melhor.

Zeca disse...

Leonello, o Ipiranga é um bairro que sempre exerceu enorme fascinio em mim, motivo até de um texto já aqui publicado. Também sinto saudade de suas ruas tranquilas, ladeadas por belas casas, ou mesmo pelas mais simples, porém com um aconchego enorme e o sentimento de segurança e de estar em um lugar que me recebia com simpatia. Sempre que posso visito o Museu, para mim um dos mais belos que existem, devido não só à opulenta construção do prédio principal, como a seus jardins belíssimos. Parabéns pelo texto!
Abraço.