Naquele domingo, depois de tomar o café básico de todas as manhãs, sai de casa; a Rua Major Diogo, no Bixiga, estava tranquila e, depois de mais uma espreguiçada, fui até a banca do Armandinho, que ficava na esquina da Rua Major Diogo com a Rua São Domingos. Aproveitei para bater um papinho com o próprio, claro, sobre o Palmeiras e, depois de comprar o jornal, voltei logo para casa, pois estava ansioso para verificar o resultado da Loteria Federal de sábado.
Lá chegando, conferi a milhar do primeiro prêmio e meus olhos, de imediato, se embaraçaram.
Limpei-os e olhei de novo, sem qualquer sobra de dúvida, era a milhar do meu bilhete.
Eu acabava de descobrir que havia ganhado na Loteria e, a partir da 2ª Feira seguinte, R$ 1.500.000, 00 iria estufar a minha sempre desnutrida conta bancária.
Na minha euforia, dei um tremendo grito que, de pronto, despertou minha companheira.
A Sonia, como não poderia ser de outra forma, assustada, queria saber se eu estava bem, se sentia alguma coisa, se alguma parte me doía.
Como resposta, apenas mostrei o jornal e o bilhete premiado.
Ela compreendeu de imediato e me abraçou com total alegria. Tratamos de avisar aos parentes mais próximos, ou seja, nossos filhos que, recebendo a convocação telefônica, foram chegando, cada um a seu tempo.
A bagunça era intensa, em plena manhã dominical, abríamos garrafas de vinho e de outras bebidas que compunham nossa modesta adega particular. Afinal, a ocasião exigia brindes e eles eram feitos.
Nosso barulho foi tão grande que, em poucos minutos, o pessoal do bar Urupês já se fazia presente e se integrava à comemoração. Também chegaram os remanescentes dos Duques de Piu-Piu, 21, Aloísio e o Cappezuto.
Assim transcorreu a manhã do domingo.
Ainda tomados de grande euforia, partimos, eu, a Sonia e nossos filhos, para um almoço de gala na Cantina Veneto, na Estrada de M’Boi Mirim, onde várias lasanhas, frangos ao molho de salsa e polentas fritas, foram magistralmente consumidos e devidamente regados com cervejas estupidamente geladas.
Finalmente, retornamos a casa totalmente extenuados por volta das 17:00 horas.
Sozinhos, sentamo-nos no sofá, eu e a minha querida companheira, para rever todos os acontecimentos daquele dia.
Foi então que, buscando os últimos resquícios de uma consciência ainda meio embotada pelo álcool, resolvemos decidir sobre nosso futuro, agora mais recheado financeiramente.
Começamos a destinação das finanças, os filhos, 4 meus e 2 dela, seriam aquinhoados com R$ 50.000,00, cada um.
Decidimos doar, também R$ 50.000,00 para meus irmãos.
Para nós, além do dinheiro para a compra de uma casinha de, mais ou menos, R$ 150.000,00, iríamos gastar mais uns R$ 50.000,00 na aquisição de um bom carrinho.
Para o recheio da nova casa, claro, teríamos de comprar móveis e utensílios novos, valor previsto para tal, R$ 50.000,00.
Destinei para minha amada, R$ 30.000,00 para a renovação total do guarda-roupa que ela tanto pedia. Para mim, R$ 10.000,00 seriam suficientes.
Lógico, nossa tão sonhada viagem seria realizada, iríamos conhecer a Europa. Valor previsto para o tour, R$ 60.000,00.
Antes de tudo, iríamos investir na aparência pessoal. Passaríamos os dois por uma recauchutagem, lanternagem e tudo o que mais fosse necessário.
O resto da dinheirama, se houvesse, iria ficar investido para gozarmos de vida tranquila, sem a necessidade de dispender grandes esforços com trabalhos inócuos e infrutíferos.
Assim decididos, abraçadinhos, com um leve torpor etílico, fechamos os olhos para sonhar.
Acordei!
Ouvi, ao fundo, uma música conhecida. Moreira da Silva cantava:
Etelvina, minha filha!
- Que é que há Morangueira?
- Acertei no milhar
Ganhei 500 contos
Não vou mais trabalhar
E me dê toda a roupa velha aos pobres
E a mobília podemos quebrar
Isto é pra já
Passe pra cá
Etelvina
Vai ter outra lua-de-mel
Você vai ser madame
Vai morar num grande hotel
Eu vou comprar um nome não sei onde
De marquês, Dom Jorge Veiga, de Visconde
Um professor de francês, mon amour
Eu vou trocar seu nome
Pra madame Pompadour
Até que enfim agora eu sou feliz
Vou percorrer Europa toda até Paris
E nossos filhos, hein?
- Oh, que inferno!
Eu vou pô-los num colégio interno
Telefone pro Mané do armazém
Porque não quero ficar
Devendo nada a ninguém
E vou comprar um avião azul
Pra percorrer a América do Sul
Aí de repente, mas de repente
Etelvina me chamou
Está na hora do batente
Etelvina me acordou
Foi um sonho, minha gente
Pois é, conclui, havia voltado à realidade!
Por Miguel Chammas
Lá chegando, conferi a milhar do primeiro prêmio e meus olhos, de imediato, se embaraçaram.
Limpei-os e olhei de novo, sem qualquer sobra de dúvida, era a milhar do meu bilhete.
Eu acabava de descobrir que havia ganhado na Loteria e, a partir da 2ª Feira seguinte, R$ 1.500.000, 00 iria estufar a minha sempre desnutrida conta bancária.
Na minha euforia, dei um tremendo grito que, de pronto, despertou minha companheira.
A Sonia, como não poderia ser de outra forma, assustada, queria saber se eu estava bem, se sentia alguma coisa, se alguma parte me doía.
Como resposta, apenas mostrei o jornal e o bilhete premiado.
Ela compreendeu de imediato e me abraçou com total alegria. Tratamos de avisar aos parentes mais próximos, ou seja, nossos filhos que, recebendo a convocação telefônica, foram chegando, cada um a seu tempo.
A bagunça era intensa, em plena manhã dominical, abríamos garrafas de vinho e de outras bebidas que compunham nossa modesta adega particular. Afinal, a ocasião exigia brindes e eles eram feitos.
Nosso barulho foi tão grande que, em poucos minutos, o pessoal do bar Urupês já se fazia presente e se integrava à comemoração. Também chegaram os remanescentes dos Duques de Piu-Piu, 21, Aloísio e o Cappezuto.
Assim transcorreu a manhã do domingo.
Ainda tomados de grande euforia, partimos, eu, a Sonia e nossos filhos, para um almoço de gala na Cantina Veneto, na Estrada de M’Boi Mirim, onde várias lasanhas, frangos ao molho de salsa e polentas fritas, foram magistralmente consumidos e devidamente regados com cervejas estupidamente geladas.
Finalmente, retornamos a casa totalmente extenuados por volta das 17:00 horas.
Sozinhos, sentamo-nos no sofá, eu e a minha querida companheira, para rever todos os acontecimentos daquele dia.
Foi então que, buscando os últimos resquícios de uma consciência ainda meio embotada pelo álcool, resolvemos decidir sobre nosso futuro, agora mais recheado financeiramente.
Começamos a destinação das finanças, os filhos, 4 meus e 2 dela, seriam aquinhoados com R$ 50.000,00, cada um.
Decidimos doar, também R$ 50.000,00 para meus irmãos.
Para nós, além do dinheiro para a compra de uma casinha de, mais ou menos, R$ 150.000,00, iríamos gastar mais uns R$ 50.000,00 na aquisição de um bom carrinho.
Para o recheio da nova casa, claro, teríamos de comprar móveis e utensílios novos, valor previsto para tal, R$ 50.000,00.
Destinei para minha amada, R$ 30.000,00 para a renovação total do guarda-roupa que ela tanto pedia. Para mim, R$ 10.000,00 seriam suficientes.
Lógico, nossa tão sonhada viagem seria realizada, iríamos conhecer a Europa. Valor previsto para o tour, R$ 60.000,00.
Antes de tudo, iríamos investir na aparência pessoal. Passaríamos os dois por uma recauchutagem, lanternagem e tudo o que mais fosse necessário.
O resto da dinheirama, se houvesse, iria ficar investido para gozarmos de vida tranquila, sem a necessidade de dispender grandes esforços com trabalhos inócuos e infrutíferos.
Assim decididos, abraçadinhos, com um leve torpor etílico, fechamos os olhos para sonhar.
Acordei!
Ouvi, ao fundo, uma música conhecida. Moreira da Silva cantava:
Etelvina, minha filha!
- Que é que há Morangueira?
- Acertei no milhar
Ganhei 500 contos
Não vou mais trabalhar
E me dê toda a roupa velha aos pobres
E a mobília podemos quebrar
Isto é pra já
Passe pra cá
Etelvina
Vai ter outra lua-de-mel
Você vai ser madame
Vai morar num grande hotel
Eu vou comprar um nome não sei onde
De marquês, Dom Jorge Veiga, de Visconde
Um professor de francês, mon amour
Eu vou trocar seu nome
Pra madame Pompadour
Até que enfim agora eu sou feliz
Vou percorrer Europa toda até Paris
E nossos filhos, hein?
- Oh, que inferno!
Eu vou pô-los num colégio interno
Telefone pro Mané do armazém
Porque não quero ficar
Devendo nada a ninguém
E vou comprar um avião azul
Pra percorrer a América do Sul
Aí de repente, mas de repente
Etelvina me chamou
Está na hora do batente
Etelvina me acordou
Foi um sonho, minha gente
Pois é, conclui, havia voltado à realidade!
Por Miguel Chammas
10 comentários:
E aí, Miguel? E quem de nós nunca sonhou com um grande prêmio na loteria? A gente sonha acordado mesmo, fazendo planos, gastando por antecedência, distribuindo generosamente aquele dinheiro destinado a nos trazer um pouco mais de tranquilidade e, no fim, sem outro remédio, acaba tendo que acordar para a realidade de continuar trabalhando duro para manter a dignidade e a sobrevivência. Por isso que acho que aquele velho ditado deveria ser alterado para "alegria de pobre dura o tempo de um sonho"...
Não sei se este texto conta um fato ou é produto da sua enorme criatividade literária, mas ele é real para todos nós que, vira e mexe queremos comprar um nome, transformar a mulher amada em madame e viver o resto da vida em eterna lua de mel.
Grande texto para um grande dia! Hoje vocês voltarão para casa um pouco mais ricos, pelos laços de amizade, reforçados no almoço com os amigos. Estarei lá também, em sonhos, mas estarei!
Transmita a todos o meu abraço. E receba um especial, deste amigo de quase uma década.
Miguel,
a esperança de uma vida melhor, no Brasil, é a ùltima que morre.E ainda assim, muita gente espera vida melhor, após a morte...
então, a gente se vai; a esperança não. Mega sena, loteria, jogo do bicho...tudo vale para manter acesa a chama da esperança, último reduto contra a miséria e o desespero. Quase todos jogamos, e é desepero puro, pois as chances são centenas de milhões contra um...mas vai que dá, e agora, João? Abraços.
Pois é, Miguel.
Não deu águia na cabeça. Deu zebra!
Agora, acordar para a realidade, quando se estava nadando em dinheiro, não é fácil! (risos). Da próxima vez, quando você for dormir, pega o Morfeu de jeito e dá um 'pau' nele.
Adorei o texto!
Natale
Adorei rí a bessa, e de inicio acreditei que fosse verdade e que vocês já haviam embarcado para a Europa, por esta razão o Blog estava parado,kkkk, So resta agora cantar
O, Sonho meu, Sonho meu ,
vai buscar quem mora longe sonho meu. com a Dona Ivone de Lara.
Parabens, eu adorei.
Miguel, quando faço minha "fézinha" em qualquer dos jogos da Caixa, olho no espelho e previno o Modesto do outro lado, (que é o Otsedom), "é muito difícil, vc vai gastar esse dinheiro atoa." "Como difícil," responde o Otsedom, "alguém tem que ganhar, mesmo sendo difícil, não é impossível... então, não enche o saco, sai da minha frente que eu vou jogar." Viro a cara do espelho e começo a sonhar, igualzinho a este que vc teve, Miguel. É um risco porque se der, a distribuição vai ser dolorosa, brigas, ciumeira, até separação de casais. E o consolo é quando verifico que não ganhei, estamos todos juntos e felizes. A expectativa de uma extração é igual a de uma viagem planejada, o gostoso é sonhar, quando passa, vamos fazer outro jogo. Alegre e espirituoso texto, Miguel ou será que vc realmente ganhou e não falou nada, ontem na cantina pra não pagar a conta? Abraços.
Mô
Miguel, mega-sena, quina, lotofácil, lotomania, dupla-sena, enfim tudo vale para arriscarmos a ganhar um dia, a esperança sem pre renasce a cada visita na casa lotérica, quem sabe um dia? abraços, Nelinho.
Revendo seu texto e os comentários, apesar de minhas considerações sobre a quase impossibilidade de ganho nesses jogos, já foi uma sorte grande ter lido tão inspirado texto, Miguel. Diziam os romanos : Audax Fortuna Iuvat- a Sorte ajuda os audazes. Bom, se nos falta sorte, ao menos audácia temos de sobra, nesta altura do campeonato.
E vamo que vamo ! Abraços.
Uai, o site parou?
Acho que outro comentarista tinha razão: vc acertou mesmo no milhar, ganhou quinhentos contos, e foram para Sorrento, como sugeriu o Nelinho, para o próximo encontro ! Abraços.
Afffff...
Em 1950 eu nem era nascida, owwwwwww
kkkkkkkkkk
Mas...caso tivéssemos a chance de ter uma bolada destas, meus planos seriam outros, com certeza...
Creio que sou mais empreendedora que você...rsss
Valeu o sonho!
Vamos continuar tentando, né!
Muita paz! Beijossssss
Miguel, os Dukes de Piu-Piu, canatavam no Café Piu-Piu, da Treze de Maio?
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