Manhã de domingo. Sol incandescente. Centenas de pessoas atenderam ao apelo “tire sua bunda do sofá”. Vida é movimento?
Menina magrinha, negra como as asas da graúna, desdentada. Copo plástico na mão, até a borda de caninha. Arriou o calção azul. É de bunda que eles estão falando? Então aqui está a minha, sorria ela para os irmãos de rua. Outro dormia encolhido e debaixo de pequeno cajueiro em flor. Virada nada cultural e ainda poética.
Público diverso. Biodiversidade. Cachorrinho magrelo, cor de burro quando foge (corro do burro quando ele foge- diz o professor). Costelinhas à mostra. Nenhum petisco no chão. Língua de fora. Nada de água. Cheira daqui, cheira dali. Um, joga a garrafa d’água vazia. Outro joga pedra, assustando-o ainda mais. Pernas pra que te quero. Atleta off line em desabalada cultural. O viver perigosamente. Sobre um viver náutico. A vidinha, um esporte radical. Moça da inscrição, deixa meio copo de água, no chão. Tampado até a metade. Não deu desta vez. Derrubou tudo. Segue correndo. Velocidade máxima. Língua de fora, sem medalhas nem migalhas. Campeão da vida pelo avesso.
No Bungee Jump, corajosos se borrando e se esgoelando numa descida eletrizante. No ar, helicóptero verde despeja valorosos cidadãos nas águas plácidas da Guarapiranga. Primeiro Air Show Festival no Brasil. O Swoop (salto de paraquedas a partir de um helicóptero). O paraquedista se aproxima do solo, a cerca de 100 km/h. Tocar os pés na água, empertigar-se no alvo.Equilibrar-se. O homem é um ser vertical? Atletas de Swoop, Wakeboard, Canoa Havaiana, Stand Up Paddle. Heli Coaster (preso a um motor o participante é suspenso a 40m de altura e faz manobras radicais), Simulador de Asa Delta, os Jogos Ecológicos da Cantareira mais a Virada no Gelo. Muita ação na observação, sem perder a esportiva. Nossa! Quanta novidade! É cada uma, que parece duas.
Quem entende tanta coisa?
Por Suely Aparecida Schraner
Menina magrinha, negra como as asas da graúna, desdentada. Copo plástico na mão, até a borda de caninha. Arriou o calção azul. É de bunda que eles estão falando? Então aqui está a minha, sorria ela para os irmãos de rua. Outro dormia encolhido e debaixo de pequeno cajueiro em flor. Virada nada cultural e ainda poética.
Público diverso. Biodiversidade. Cachorrinho magrelo, cor de burro quando foge (corro do burro quando ele foge- diz o professor). Costelinhas à mostra. Nenhum petisco no chão. Língua de fora. Nada de água. Cheira daqui, cheira dali. Um, joga a garrafa d’água vazia. Outro joga pedra, assustando-o ainda mais. Pernas pra que te quero. Atleta off line em desabalada cultural. O viver perigosamente. Sobre um viver náutico. A vidinha, um esporte radical. Moça da inscrição, deixa meio copo de água, no chão. Tampado até a metade. Não deu desta vez. Derrubou tudo. Segue correndo. Velocidade máxima. Língua de fora, sem medalhas nem migalhas. Campeão da vida pelo avesso.
No Bungee Jump, corajosos se borrando e se esgoelando numa descida eletrizante. No ar, helicóptero verde despeja valorosos cidadãos nas águas plácidas da Guarapiranga. Primeiro Air Show Festival no Brasil. O Swoop (salto de paraquedas a partir de um helicóptero). O paraquedista se aproxima do solo, a cerca de 100 km/h. Tocar os pés na água, empertigar-se no alvo.Equilibrar-se. O homem é um ser vertical? Atletas de Swoop, Wakeboard, Canoa Havaiana, Stand Up Paddle. Heli Coaster (preso a um motor o participante é suspenso a 40m de altura e faz manobras radicais), Simulador de Asa Delta, os Jogos Ecológicos da Cantareira mais a Virada no Gelo. Muita ação na observação, sem perder a esportiva. Nossa! Quanta novidade! É cada uma, que parece duas.
Quem entende tanta coisa?
Por Suely Aparecida Schraner
19 comentários:
Pois é Suely, eu também não entendo dessascoisas, apenas entendo que li seu texto e considerei-o de ótima qualidade, bem encaixado no tema central do nosso blog.
Seja benvinda, escreva mais.
Ah não se esqueça de ler os demais textos do nosso blog e comente-os também, afnal nem só de Sandemberg nos vivemos não é?
Não entendo muito desse esporte, mas pude entender muito bem o sofrimento do cão abandonado,faminto e maltratado então pensei: Até quando, vamos ver gente e animais abandonados. Belo texto Suely, ele me deixou querendo muito mais.
Belo texto, sempre informal, Suely.Os mega eventos de S. Paulo. ..minha esposa diz que qualquer coisinha vira Mega, aqui. Virada Cultural, Virada Esportiva... Quanto a mim, prefiro virar é as costas a esses eventos, e fugir dessas multidões. Mesmo porque o Centro de S.Paulo não tem estrutura para nada disso. Aonde se esconderão os sem teto de lá, como fez esse cão abandonado? Abraços.
Suely, a Vida é rica! E sempre nos surpreende. Tirar a bunda do sofá, deixqr de lado o controle remoto e sair pela vida em busca de aventuras é bom demais. E a vida nos dá sempre o inesperado: a experiência do novo, sem os filtros ou exagero da telinha.E a Guarapiranga dos barquinhos a remo, dos farofeiros de fim de semana, dos pescadores e dos cachorrinhos esqueléticos e famintos, deu-lhe de presente o novo da vida.
E a vida é isso. Viver o cotidiano e o novo - o inesperado. E libertar bundas aprisionadas em acios sofás.
Amei o texto!
Abração,
Abstracionismo de uma narrativa concreta, condicionada a interpretações divergentes da estrutura clássica de uma escrita.
Numa visão extenporânea, deparamos com seres animados, amordaçados, impedidos de expor suas reivindicações, dsejosos de uma liberdade caracterizada pelo anceio de não continuar sob a tutela lasciva e malvada de um monstro rotulado de ser humano. É simplesmente revoltante tanta crueldade, não é mesmo, Suely?
Gostei de sua dissertação, parabéns.
Mô
Olá, Suely!
Seu texto me fez lembrar dos passeios para Guarapiranga, de nosso tempo de adolescente...
Era uma verdadeira viagem, para nós, pois morávamos na vila Prudente, bem distante da Guarapiranga.
Lembro-me que meu pai gostava de pescar e nós, meninas,íamos passear de barco...Tempos depois, nossa intenção era outra...paquerar, flertar...tempo bom.
Valeu.
Obrigada.
Muita paz!
O cachorrinho se divertiu à béça e não tava nem aí para os esportes radicais. Ele mesmo já era um desportista nato em meio a tanta natureza. Guarapiranga. Quantas saudades de Interlagos.
Abraços
Vejo-me obrigado a me justificar. Sou absolutamente contra afundar a bunda no sofá, especialmente para ver novelas e programas tipo Sílvio Santos. Bem ao contrário, fazemos caminhadas todos os dias, e só não faço mais porque, com uma tendinite no braço, tive de parar a musculação. Pratiquei algumas artes marciais, durante bom tempo.
Mas, fazer esporte espontâneamente
é bem diverso de ter de fazê-lo por evento oficial. Aí, sim, multidões que geralmente nada fazem invadem praças e ruas, e salve-se quem puder. Desse tipo de exercício, prefiro ficar longe. E em prova de distância, de preferência.
Suely, lendo seu texto vejo quanta diferença da Guarapiranga de hoje com a represa de anos atrás. Eu que sou da zona Sul já anos ia a Guarapiranga pescar, e só pegava Lambaris, quando muito cará ou Tilapia, de vês em quando um Bagre ou Traira. A água era bastante limpa e o São Paulo Atletic Clube colocava dezenas de barcos a Vela para disputa. Tambem alguns moradores vizinhos da represa também tinham seus barquinhos. Muitos com intuito de pescar no meio da represa. A Guarapiranga já tem poluição, porque as moradias próximas ao manancial onde os dejetos são levados in natura sem o devido tratamento. E essa é água que bebemos, que vai passar por um tratamento nos tanques da Sabesp do Alto da Boa Vista. As autoridades não prestado atenção, quando existe a estiagem para dar um tratamento melhor a represa. Em 1985 quando da grande seca que foi de junho até dezembro que a represa ficou com apenas 4% de água, a sujeira que podia ser retirado do seu leito como montanhas de areia que formavam ilhas. Se tivessem passado as maquinas tirando aquelas montanhas de terra e areia o reservatório receberia mais água e ela voltaria a ficar mais limpa, mas quem voltou foi a chuva que inundou-a novamente com tudo de ruim que estava lá e, não foi retirado do seu leito.
Miguel
Agradeço pelas colocações. Estou em débito com os comentários devidos. Leio e aprecio seus textos. Fico de retornar para postar e, quando vejo ‘a fila andou”. Prometo atualizar (as postagens). Abraço e muito obrigada pelo apoio!
Arthur
Nossa! Assim você me deixa sensibilizada. As pessoas se esquecem que natureza somos todos nós, as plantas, os animais. Cuidar de todos também é sáude no ambiente.Obrigada!e
Luiz Saidenberg
É tudo junto e misturado. Ô cidade esquizofrênica. Agora essa mania de grandeza. Mas,também a delicadeza se revela.Até nas suas palavras.Grata e abraço,
Wilson
Ângelus Silésius explicou assim: "Temos dois olhos. Com um, vemos as coisas eternas, que permanecem. Com o outro, as coisas efêmeras, que desaparecem". E vida é movimento, né não? Abraço e muito obrigada!
Larussia
A vida concreta as dores na certa. A sensibilidade e as veias abertas. A natureza se revolta e reage. Os seres se adaptam. A luta segue. Nem tanto ao mar nem tanto a terra. Agradeço pelas amáveis palavras.
Soninha
A gente vai seguindo, olhando e escrevendo. Assim fica marcado o que estas retinas cansadas captaram e as mãos calejadas teclaram.é um tal de pescar instantes nestas plagas.
Um abração!
Nelson
Somos atletas das tecladas. Cada se adptando as maravilhas e agruras da cidade grande.Fica aqui meu abraço e carinho pela acolhida.
É mesmo MLLopomo, a valorosa Guarapiranga segue impávida. Aqui as águas não rolaram mas se misturaram aos dejetos e descaso. Assim caminha a humanidade.Pagamos caro.
Parabéns pela boa lembrança e reflexões cidadãs.
Suely, gostei demais do texto! Nunca tive oportunidade de passar um dia à beira da represa que, em outra época, era a praia dos paulistanos e ficava lotada nos finais de semana, com famílias inteiras se divertindo em suas margens. Mas não a conhecí assim. Apenas de passagem, para o litoral. Hoje buscam rehumanizá-la, devido à deterioração provocada pelo crescimento vertiginoso das cidades e pelo descaso de todos os governantes que tivemos até hoje. A esperança é que um dia, nossos netos ou os filhos deles possam voltar a brincar em seu entorno. Assim como deixem de existir cachorrinhos esqueléticos à procura de restos. Que as pessoas se compadeçam dos menos favorecidos e também dos animais abandonados, oferecendo-lhes melhores condições de uma vida mais decente! Excelente texto que, para comentá-lo, vai puxando considerações que, se não tomarmos cuidado, se transformarão em outros textos!
Abraçõ.
Obrigada, Zeca! A represa represa nossos gestos, a população só aumenta e com ela vem a degradação pelo restrição do espaço. Em todo caso resta-nos resistir vendo, sentindo e relatando.Escreva também!A vida, as vezes, é indecente mas tem momentos latentes!Abraço!
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