Somos pessoas modestas, não se importando muito com a pompa e a
circunstância. Também nunca fui muito chegado a religiões, portanto muito me
surpreendeu- e a todos nós- a visita de Sua Eminência ao nosso jardim, de nossa
casa no Brooklin.
Um
Cardeal, a cabecinha vermelha contrastando com o branco do corpo e o escuro das
asas. Estamos acostumados com a visita diária de pássaros. Como deixamos sempre
uma tigela de frutas suspensa no ipê, e uma travessa de quirera no chão para as
rolinhas, temos sempre um festival matinal de aves disputando a comida.
Cambacicas, sabiás- agora mesmo apareceu uma mãe sabiá com dois
filhotes-sanhaços, bentevís, rolinhas, periquitos em grande número.
Uma
vez apareceu até um canário belga. Escrevi sobre ele. Mansinho, fugido de
alguma gaiola, deixou-se apanhar e soltou por dias seu deslumbrante trinado
pela casa toda, antes que o doássemos para uma instituição protetora.
Nosso
Cardeal- acho que já posso chamá-lo assim, pois há dois dias que nos dá a honra
de sua augusta presença no jardim, disputando pacificamente a comida com
os outros pássaros- também parece ter fugido de gaiola, pois nunca havia visto
um neste bairro, pródigo em espécimes voadores, incluindo joãos de barro, pica
paus e outros. Mas de bobo nada tem, e tem se virado muito bem sozinho.
Pois
que seja abençoada- e que ele também possa nos abençoar, com sua autoridade
clerical- sua estadia nesta casa, à qual parece ter se afeiçoado. Como o sabiá
Plínio, o Jovem-pois era só um filhote grudado às penas da mãe, quando apareceu
aqui pela primeira vez, e creio, nunca deixou de frequentar nosso ipê. Olhai as
aves do céu, que não plantam nem colhem, mas com sua presença vêm trazer um
pouco mais de alegria e esperança em nossas vidas.
Por Luiz Saidenberg
5 comentários:
Olá, Luiz!
Que graça de visita e que benção poder contar com a visita destes seus ilustres personagens de Sampa.
Em meu jardi, da casa da praia, tinha algumas flores e vinham, vez o outra, algum beija flor, para nosa alegria.
Adorei, Luiz!
Muita paz!
Sonia Astrauskas
Caro Luiz, viver rodeado de pássaros coloridos e canoros é verdadeira dádiva divina, ainda mais quando entre todos eles, se achega um eminente cardeal.
Honra suprema.
Espero que nosso querido Francisco não resolva \convocar sua eminência para gorjear nos jardins do Vaticano e te deixe na saudades.
Mesmo assim terias este texto, que li e aplaudi, para consolação.
Fiquei com gosto de quero mais.
Olá Luiz, que visita agradável! Uma benção ter um lugar em casa para receber essas ilustres visitas. Moro em apartamento, mas por incrível que pareça já tive a visita de um beija flor , na área de serviço. Acordei com ele batendo no vidro, e antes que ele se assustasse mais , com muito cuidado consegui abrir o local e ele foi -se embora. Muito bom ler seu texto!��
Muito obrigado, amigos. Ontém o Cardeal compareceu novamente. Mas, uns vizinhos resolveram fazer à tarde um batuque de samba, um barulhão contrastando violentamente com a calma habitual da rua. E choveu muito também, e tudo isto deve ter afastado Sua Iminência. Esperamos porém por seu sacro retorno.
Abraços,
Luiz.
Pois é caro amigo Luiz, a natureza sempre nos brinda com espetáculos maravilhosos, quer na condição de seres vivos como os pássaros e também com as flôres, espero que as visitas continuem usufruindo de sua bondade em oferecer o alimento a elas nestes dias conturbados que estamos vivendo, abraços, Nelinho.
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