terça-feira, 26 de julho de 2016

Ganhei um livro

imagem: cedida pela autora

Brasileiro não tem o hábito de ler.
É o que dizem as pesquisas.

Bibliotecas são sisudas. Quem chega lá, ou é para estudar ou para fazer pesquisas. Tudo por obrigação.
É o que dizem as pesquisas.

Esmolas financiam o uso de drogas das crianças  em situação de rua.
É o que dizem as pesquisas.

Crianças e adolescentes arriscam suas vidas com trabalho infantil e mendicância nas ruas.
A ONU Brasil,  falou que são cinco milhões nessa condição. O IBGE não contou. Mistério.
Fogem de casa por conta de violência doméstica e o” escambau”.
Pequenos refugiados urbanos na cidade de São Paulo.
É o que dizem as pesquisas.

A mais cosmopolita de todas? 
Cultural? Maior centro financeiro?
É o que dizem as pesquisas?

Daí que ele chegou  e pediu um dinheiro.
Eu só tinha um livro
Ofereci.
Ele pegou, olhou e sorriu.

Saiu saltitante e gritando pros amigos debaixo do viaduto:
“ganhei um livro, ganhei um livro, ganhei um livro”!

Do desterro pra glória, da agonia para o êxtase.

O que mesmo querem dizer as pesquisas?


Por Suely Schraner

5 comentários:

Soninha disse...

Olá, Suely!

Que história bacana! Eu ficaria super feliz em ganhar um. Tenho certeza que esta pessoa também ficou, assim como você, né?
Obrigada.
Muita paz!

Anônimo disse...

Dai água a quem tem sede! Dai pão a quem tem fome! Dai livros a quem tem falta de cultura! De-nos Senhor, a sabedoria de vencer os incautos e mal intencionados, e se não for pedir demais, nos permita ler textos tão profundos como este por muitos e muitos anos.

Suely Aparecida Schraner disse...

Soninha, grata pelas palavras e espaço. O livro é transformador.
Miguel: você enche o meu balão. Fico levitando com tanta gentileza. Obrigada!

Wilson Colocero disse...

É muito interessante o contraponto que você faz entre as ciências exata e humana! Nesta cidade que vive quase que só em função de exatas, essa crônica surge quase como uma flor nascendo no asfalto. Obrigado! Gostei muito.

Suely Schraner disse...

Que olhar, Wilson! Quanta sensibilidade.
Seu comentário é poesia pura.
Fico assim até sem jeito.
Muito obrigada!