quarta-feira, 18 de junho de 2014

Memórias Copeiras


imagem: Seleção Brasileira que sofreu a derrota contra o Uruguai em 1950


Estamos em clima de Copa do Mundo, mesmo não sentindo nas ruas a mesma vibração de outros tempos eu sinto a animação nos transeuntes, nos vizinhos e, por que não dizer, nos amigos.
É neste clima de expectativa que sento em frente ao meu computador e sinto vontade de escrever sobre as copas que vivi nestes 74 anos de vida.
As lembranças não são difíceis de virem à tona, apenas me cabe o trabalho de selecionar algumas e escrever sobre elas. Teclado pronto decido escrever sobre a copa que, mesmo presente, eu não assisti. Foi uma escolha deliberadamente cômoda, pois as demais copas geraram muita aflição, desespero, alegria, e ser-me-ia bastante abreviá-las para caber num só texto. Então, vamos lá, Copa do Mundo de 1950.
Eu, moleque ainda, ao contrário dos garotos de hoje, não tinha noção da grandiosidade desse evento.
Ouvia comentários dos meus pais, dos meus tios, mas preferia, lógico, o meu mundo de brincadeiras no quintal de casa em que vivia, na Rua Augusta, 291.
Era 16 de julho, depois do almoço ajantarado de todos os domingos, eu o Carlinhos meu irmão, e o Roberto meu primo, fomos para nosso mundo de fantasias, o quintal. Minha prima, como de costume, foi se entreter com os diversos trapos e roupas de minha tia e de minha mãe com que normalmente brincava. Minha mãe, minha tia Neide, minha Tia Elisa, minha tia Zaira, meu avô Gidi e meu pai, sentaram-se em torno da mesa da cozinha e, entre conversas diversas e um cafezinho coado na hora, começaram a ouvir o rádio e a transmissão do jogo entre Brasil e Uruguai.
Meu pai, com aquele jeito exagerado de sampaulino fanático e ferrenho, alardeava que o campeonato já era nosso, tendo a concordância de todos os demais.
Nos, brincávamos e apenas por curiosidade, de quando em vez, esticávamos os olhares para o plano mais alto onde se localizava a cozinha para ver o movimento, eram caretas angustiadas, murros no ar desferidos por meu pai, algumas palavras de sentido mais imoral, nada que realmente nos fizessem desistir de nossas brincadeiras.
Em certo nos “ouvimos” um silêncio sepulcral, intrigado corri até a cozinha e não vi mais meu pai e meu avô, as mulheres daquele diminuto auditório choravam copiosamente, minha mãe me abraçou e disse entre soluçõs e lágrimas: -Miguelzinho o Brasil perdeu, o Brasil perdeu...
Sem muito entender, mas querendo participar do destempero, busquei me emocionar e também comecei a chorar. Foi uma choradeira geral.
Só não vi, ou melhor, não lembro se vi meu pai e meu avô chorando (naqueles tempos homem não chorava).
Estas são as minhas memórias daquele campeonato fatídico.
Vamos torcer para que neste ano de 2014, quando novamente temos a realização de uma Copa do Mundo no Brasil, mesmo conscientes de todas as mazelas e aberrações ocorridas, o povo brasileiro tenha o prazer de comemorar um final mais feliz do que em 1950.



Por Miguel Chammas

8 comentários:

Soninha disse...

Olá, Miguel!

Nesta época eu ainda nem era nascida... la la la la la
Mas, lembro-me de meu pai e avô materno falando várias vezes sobre a dor desta derrota. E o Brasil todo jamais esqueceu a decepção de todos os brasileiros.
Vamos torcer para que agora, em 2014, possamos honrar aquele escrete canário e levantar a taça maravilhosa.
Muita paz!

Unknown disse...

Migué, meu vasto e profundo amigo (ôpa!), em 1950 nem você e nem eu poderíamos advinhar a importância que teriam as Copas do Mundo no futuro. Para mim a Copa era mais um torneio sem muita importância que sería realizado no Brasil varonil. Vibrar mesmo, vibrei em 1953 com a conquista do Panamericano no Chile (2 a 0 em cima da Argentina com Di Stefano, Pedernera e os cambau!). A lembrança que eu tenho de 1950 é a do Toninho falando que seu tio acabou com uma festa de aniversário de um de seus muitos filhos quando do gol uruguaio; a 25 de Março inteira escutou os gritos de raiva do 'seu' Amado...
Abraço do Ignacio

Bernadete disse...

Apesar da diferença natalícia entre nós,(eu tinha só 5 anos) lembro-me bem dos chororôs de minha mãe e meus tios palestrinos....duraram anos!! Em 1958, foi a gloria!..Lembro-me das felizes comemorações, das miniaturas da taça, que guardei por muito tempo no meu armário. Depois vieram as outras conquistas e mais alegrias. Que vença o Brasil!

margarida disse...

Miguel, adorei suas lembranças sobre a Copa. Nasci e cresci em ambiente de torcida pelo Brasil e pelo Palestra, então este ano não vai ser diferente e que vença nosso querido Brasil. Um abraço.

Leonello Tesser (Nelinho). disse...

Miguel, estávamos na casa de meu tio Nando quando a seleção de 50 perdeu a copa para o Uruguai, me lembro que todo mundo emudeceu, desligaram o rádio e quando saímos à rua tudo estava deserto, foi uma trizteza geral, abraços, Nelinho.

Anônimo disse...

Miguel,
Naquela copa eu só tinha 5 anos e não tenho a mínima lembrança dos jogos; apenas do álbum das figurinhas que vinham nas Balas Seleção. Lembro também que os meninos jogavam bafo. Tenho uma leve lembrança da copa de 54, quando o Brasil foi mandado de volta pela Hungria (o terror daquele ano e que não levou a taça).
A partir de 58, aí já com 13 anos, comecei a me interessar e ouvir os jogos pelo rádio e uns dias depois ver no Repórter Esso (tv da vizinha), alguns flashes dos jogos. Mas, de qualquer forma, é sempre ouvir os relatos que aqui surgiram. Muito bom, mesmo!

Teresa disse...

O anônimo aí em cima, sou eu: Teresa.

Unknown disse...

Barbosa,Augusto e Juvenal, Bauer, Danilo e Bigode - Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico, um ótimo time, mas não o melhor que poderia ser montado para 1950; o bairrismo, as ambições políticas (inclusive do técnico Flávio Costa), o cabo de guerra entre Rio e São Paulo, a desorganização e a corrupção dos "cartolas", tudo isso acabou por levar a Seleção para o fracasso dentro de casa...