imagem: a casa do texto, na Rua 21 de Abril, Brás - tempos atuais
Dia 26 de Maio de 1940, nascia na Maternidade São Paulo o primogênito do
casal Tereza e Alfredo Chammas.
Primeiro filho de seus pais, primeiro neto de seus avós (paternos e
maternos) e primeiro bisneto de sua bisavó, uma senhorinha de
mais de sessenta anos na época, portadora de uma deformidade na coluna
vertebral e com uma protuberância acentuada do lado esquerdo do corpo.
Por decisão de sua bisavó Joana Sito, a Dona Joaninha, como era costume
da colônia italiana, ganhou uma infinidade de nomes na pia batismal.
Miguel, em homenagem a seu tio avô, Salvador, homenageando seu avô,
e Gabriel, em louvor a seu anjo da guarda.
Miguel cresceu no meio de parentes que o amavam e mimavam em excesso até
que, 4 anos depois de seu nascimento, veio ao mundo seu irmão Antonio Carlos. O
recém chegado, por ser novinho,lógico, arrebanhou atenções
especiais,principalmente da Dona Joaninha.
Anos se passaram e os dois continuavam sendo mimados e bajulados por
todos da família Sito que os tinha inteirinhos, uma vez por semana, às 5ª
Feiras,quando sua mãe saia da Rua Augusta onde moravam e ia visitar seu pai e
sua avó lá no Brás, na Rua 21 de Abril, quase esquina com a Rua Bresser.
Ali o Dr.Salvador residia e mantinha seu consultório de prático dentista
e seu laboratório de protético. Era uma casa antiga onde ele
e o irmão reinavam e traquinavam à vontade no quintal onde as atrações
principais eram uma ameixeira de frutos dourados e melados, uma goiabeira
produtora de enormes e vermelhas frutas de sabor inigualável, mesmo
verdes, e uma parreira que produzia lindos e vermelhos cachos de uvas.
Além disso, na rua onde ainda podia-se brincar, tinha as passagens
obrigatórias do vendedor de biju com sua infalível e sonora matraca de
uma argola, do vendedor de sorvete em sua carrocinha amarela e vermelha puxada
por um cavalo branco ou, ainda, do homem com o rebanho de cabras a vender leite
fresquinho e apetitoso.
Tinha, ainda, algumas casas antes da casa do meu avô, a quitanda onde
corríamos para gastar os centavos ganhos de “nonna” ou “nonno” comprando lindos
e saborosos pedaços de coco conservados em um vidro com água, ou mesmo doces e
bugigangas várias.
Ora muito bem, depois de tão extenso preâmbulo, vamos ao que interessa,
ou seja, a narrativa da memória que originou esta crônica, o referido
assassinato.
Estavam Miguel e o Carlinhos (forma familiar com que tratamos até hoje
meu irmão), brincando na sala aos pés da nonna que estava sentada em sua
cadeirinha entre a mesa e a cristaleira.
Quem sabe influenciados pelo ambiente do consultório dentário e do
laboratório de próteses brincavam de médico e enfermeiro e a paciente, sem
dúvida, era a nonna.
Depois de minutos da brincadeira, Miguel, empunhando um lápis de ponta
afiadíssima, decidiu aplicar uma injeção na paciente e, sem qualquer outro
aviso, lascou a ponta do lápis na perna da nonna que, assustada, quem sabe com
a dolorosa pontada, mexeu a perna e pronto, quebrou a afiadíssima ponta, tendo
permanecido encravada em sua perna um bom pedaço de grafite.
Aos brados de “assassino” “assassino” ela tentava extrair o pedaço de
grafite da perna e, não conseguindo, continuava a gritar na sua voz
fraquíssima, ”assassino”!
Dona Tereza acorrendo à “cena do crime”, depois de tratar da nonna,
desinfetando o local e acalmando-lhe os nervos, foi até o ”assassino” e
aplicou-lhe a merecida pena pelo crime cometido. Uma surra de tapas nos
fundilhos que, garanto, doeram muito.
Doeram tanto que até hoje, ao lembrar-se do castigo, Miguel evita
sentar-se e termina este texto digitando em pé as últimas palavras.
Por Miguel Chammas
9 comentários:
Oieee...
Como sempre, boas lembranças de seus tempos de menino.
Cá entre nós, já começava a desenvolver algum instinto ruim, né? kkkkkkk
Mas, avó é tudo de bom ponto com, mesmo dando bronca.
Muita paz!
Sonia, meus textos ficam muito mais bonitos depois que são editados e ilustrados por você. Muito obrigado!
Tapas? Deus me livre nos dias de hoje, vc não pode educar como nossos pais o fizeram, bater é crime, aí vira viciado e criminoso e não tem LEI.
Miguel, achei que a pena foi muito pesada e doeu mais que o pequeno delito. Bom ter você e suas memórias de volta..Um abraço
Miguel, você é mais prá anjo do que prá assassino. Imagine falar isso de você! Mas eu gostei muito do seu caso - como já era de se esperar - e desejo que as memórias dos tabefes lhe deem um descanso.
Só prá lembrar - fazemos aniversário no mesmo dia e isso me deixa bem contente. Um abraço, meu amigo. Vera Moratta.
MIGUÉ: Então você deixou um autógrafo na perna da nonna! E prá toda a vida! Porca miséria! Inda bem qui voce num mi virô farmacêutico.Eita mão pesada, meu!!! Agora, qui ninguém nus iscuite, Dispois disso a nonna recebia vocêis cum revórver na mão?Ou chamava a Carrocinha prá levá vocêis
imbora?...Ahahahahahaaaaaaaaa!
Valeu pelo ótimo texto. E que esses seus, agora, 47 anos (leitura no espelho),tragam até você a realização de todos os seus desejos.
Abração,
Natale
Oi Michele, de Arcanjo vc não tem nada. sua narrativa expõe, com todas as letras, o "assassino" de velhotas indefesas. Farabuto, cervelo di noce, tu sei il capo de la porta de la casa di belzebu.
Miguel, bela narrativa, notei que o Natale te cumprimentou pelo seu aniversário, eu também te cumprimento. Vc sabe que eu também, no dia 05\02 fiz 41 anos, (segunda fase). Agora inicio a terceira fase. Parabéns, Miguel.
Laruccia
Miguel, um menino danado, bobeou levou.Coitada da nona ela não merecia isso, mas você mereceu os tapas que tanto te deixou dolorido.Valeu, um grande abraço.
Miguel, você quase se tornou um "criminoso" ao ferir a pobre avózinha, abraçosa, Nelinho.
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