imagem: alunos uniformizados
do liceu" (sp) - anos 10 do século xx.
créditos: uol cultura
- hist. dos uniformes - uol.com.br
Creche? Não
precisei. Tinha mãe e avó à minha disposição para me cuidar, educar, mimar e
infernizar a minha vida. Jardim de infância, nem pensar! Pois ninguém em casa
era filho de Barão do Café e nem filho de um “Comendatore” da indústria. Levado
“alle Suore” (às Freiras) para fazer o Pré-primário, a Madre não achou
necessário, pois minha avó ensinara-me muito bem as primeiras letras. Que eu
aproveitasse o tempo para falar melhor o Português...
E eu, por
três horas, duas vezes por semana, passei o ano de 1954 na escolinha de D.
Maria Vittoria, bem penteado e arrumado – ela exigia - aprendendo “apparlà
Portoghese” (a falar Português).
Pela avidez
com que D. Maria tentava arrancar minhas orelhas, acho que eu não fui um bom
aluno...
Então, na
espera de ir para o Primário, o meu Jardim de Infância foi a rua. O uniforme:
calções de algodão barato, na cor vermelha, azul, verde. Cores que não
encardiam com facilidade e de fácil lavagem. E “ganetta” (camiseta) sem mangas.
Nos pés, os mais privilegiados usavam alpargatas, os remediados, um par de
“zoccoli” (tamancos), a maioria pés descalços. E o que se aprendia? Jogar
futebol, jogar malha, bola-queima, pular carniça, empinar capuscetta, etc. E a
dizer um montão de “parolacci” (palavrões)...
1955, eu todo
uniformizado indo ao Grupo Escolar: Calça azul-marinho (calça curta para o
verão, comprida para o inverno). Camisa branca de algodão, de manga curta ou
comprida, de acordo com a estação. Malha de algodão, com zíper, em azul-marinho
com o emblema da escola. Gravata azul-marinho que trazia listra branca em
diagonal. Ia de uma (primeiro ano) a quatro (quarto ano). Meias brancas três
quartos, cujo elástico apertava a panturrilha provocando coceiras. E sapatos
pretos. Sapatos a preços módicos e funcionais em couro duro, com solado de
pneu. Bons para a escola, chutar bola e chutar latas. Um coturno do Exército
pareceria um sapato de cromo alemão se comparado a esses “confortáveis”
calçados.
Quando no
pátio, formávamos as filas por classes, serventes zelosas examinavam as condições
dos nossos uniformes. Se adequados, tudo bem. Senão, após a aula, voltaríamos
para casa com uma advertência às nossas mães pedindo que cuidassem melhor dos
nossos uniformes... Palavras suaves que indiretamente chamavam as mães de
porcas.
Na classe, a
professora ia de carteira em carteira, examinar o nosso material e nossa
higiene pessoal. Unhas compridas com “luto”, orelhas encardidas ou com cerume,
rendia a maior bronca e humilhação. E claro, uma advertência à mãe do
“porcalhão”...
Se o aluno
descuidado fosse pobre e recebesse os materiais e uniforme doados pela Caixa
Escolar, ele era massacrado. Sofria as maiores humilhações.
O Curso de
Admissão ao Ginásio foi feito conjuntamente com o 4º ano primário. Saia do
Grupo almoçava e ia para Curso. Vivia morrendo de sono.
1959 - No
Ginásio diurno, com exceção da calça curta, o uniforme era o mesmo do Primário.
E podia-se usar em vez dos sapatos, tênis ou “Sete Vidas” azul-marinho da
“Alpargatas”. No Ginásio noturno, ia-se com a roupa do trabalho. Usava-se
apenas uma gravata com o emblema do ginásio.
Tanto de dia
como de noite, na educação física, usava-se calção, camiseta, meia de cano
curto e tênis. Não tinha essa de agasalhos.
Do ginásio
ficaram “doces” lembranças: O Latim, exames orais, uma segunda-época... E uma
suspensão por atitude indecorosa! Eu explico: Uma aluna chamada Amélia vivia
“tirando uma” com a minha cara. Então eu comecei a cantar para ela (Bendito
Monsueto!) “Amélia que era mulher de verdade, tirava o maiô e ficava à
vontade”... A música pegou e todo o pessoal da nossa ala (6 classes) do noturno
passou a infernizar a vida da Amélia.
1963 -
No Clássico ou Científico (fiz o Clássico) diurno usava-se o mesmo uniforme do
ginásio. No noturno não havia mais a necessidade nem de usar gravata com o
emblema da escola.
1966 - No
Cursinho, uma beleza! Vista-se como quiser. E conspirava-se sobre tudo.
1967 - Na
Faculdade, delícia. Só era proibido ir pelado! Conspirava-se ainda.
1971 – Pós
Graduação. Uma “zona” deliciosa!
1972 - Depois
da faculdade, do Pós, como é bom ser livre!...
Mas a
Universidade da Vida não deixa barato. Obriga-nos a usar não um, mas todo o
tipo de uniforme. E certas Faculdades dessa Universidade nos impõem o uso de
máscaras...
Por Wilson Natale
11 comentários:
Olá, Wilson!
Belas lembranças dos tempos de escola, todas elas...
Também lembrei dos uniformes que odiávamos, pois estudei em colégio de freias, o Círculo Operário, hoje João XXIII... E os uniformes di ginásio também detestava, pel fato das saias serem abaixo dos joelhos, mas a gente f=dava um jeitinho, enrolando um pouco na cintura...kkkkk
Já na minha época do Normal, usava-se aqueles jalecos brancos por cima da roupa comum... E na universidade era livre.
Bacana suas memórias.
Valeu!
Muita paz!
Natale, varo amici, também eu fui subjugado pelos uniformes. Depois do admissão que eu fiz também em paralelo com o 4o.ano primário,já no curso básico de comércio , tinhamos o uniforme de gala ( para participar da fanfarra) que era calça azul marinho e blusão branco levando ao centro na cor vermelha e em forma ovalada, na parte de cima FREDERICO, ao centro E.T.C e, na parte de baixo fechando a figura oval, OZANAM.
Então, eu, quebrando a tradição, redesenhei e inovei o blusão da fanfarra (apenas dela) que passou a ser Amarelo Ouro com golas, punhos e barra da cintura em Bordô, tudo muio vibrante.
Foi um arraso!
Exclui um comentário por ter saído repetido.
E onde está escrito "varo", lia-se caro.
Muita paz!
Wilson, estudei em escolas públicas. No primário, meu uniforme era todo branco,inclusive uma fita que fazia parte da indumentária. O meu cabelo era muito liso, e a tal fita não ficava presa.Estava sempre levando bronca da professora, pois o uniforme tinha que ser impecável...O bom mesmo, é que o ensino era ótimo! Um abraço
SONINHA: O teu comentário me fez lembrar da minha prima Regina, vulgo Pirelli. Ahahahahahahaaaaa!Regina fazia o Normal no Colégio Santa Catarina. Ela tem 1,85m de altura,daí vc pode imaginar o tamanho e o comprimento da saia. Para deixá-la uns 15 cm. acima do joelho ela enrolava a saia na cintura, formando alguma coisa que parecia um pneu. Ahahahaaaaaa!
MIGUEL: Eu me livrei da fanfarra -tinha noção de música e 1 ano de piano - Mas, não me livrei do saião do canto orfeônico e nem do basketball, do qual guardo até hoje uma lembrança física. Um joelho todo estrupiado que, quando esfria o tempo dói prá burro. Haja beserol!
Abração,
Natale
BERNARDETE:Ahahahahaaaaaaaaaaa!
Lembro das minhas primas indo ao Grupo Escolar. No alto da cabeça, um enorme laço de chamalote branco, tão enorme que estava mais para trouxa de roupa. Nunca conheci ninguém - meninas do meu tempo, mulheres - que gostassem de usá-los. Penso que, naquela época, a mis sortuda foi a minha prima Nilza que usava duas trancinhas, mas, que não escapou de usar dois laços enormes no final de cada trança.
Abração,
Natale
Caríssimo fratello, sai che vostri paroli mi fa ricordare le cosa piu meravigliosa de nostra vita di escuola?
Natale, quando vc menciona "ganetta" (camiseta), quase chorei, lembrei minha querida mãe dizendo, em polignanês: "Testi, ve piguiuti u bagno, le mitande i ganetta staune ala roba bianca" (+ou- assim) Trad.:
"Testi, vá tomar banho, a cueca e a camiseta estão junto com as roupas brancas."
Adorei sua descrição a respeito dos uniformes usados nas determinadas épocas de sua vida escolar. Ao contrário dos colegas e de vc, não posso descrever "meus uniformes" que se resumen ao do Grupo Escolar: blusa branca e calça curta azul. Depois, so macacão "di lavoro" mas, isto é outra história.
Agora, quero falar sobre a fotografia (muito bem nítida) do início do século XX. Vc notou que NENHUM GAROTO está sorrindo? muitos estão, até de cara amarrada. Inclusive os três padres. Descobri, também VOCÊ, entre os alunos, bem a frente, com a boca bem retorcida, pra baixo, parecendo que vai quebrar a cara do primeiro que vier te gozar por vc não estar bem arrumadinho. (o terceiro, da direita pra esquerda, a palheta mal colocada na cabeça). Acertei? tenho certeza, porque eu era um dos pais, bem atrás.
Deixando de lado as brincadeira, vc não menciona nehum nome de escola. Por que? Natale, ti voglio benne, desculpe a brincadeira.
Natale, parabéns pelo sua crônica. Auguri.
Laruccia
LARÙ, mio bello: Valeu!
Três padres e um mundo de alunos. Pareceu-me três gatos negros entre uma multidão de pombinhos brancos... Ahahahahahahaaaaaaa!
O texto ficaria longo demais, então eu omití as escolas e os causos passados nelas.
Também estudei em escolas públicas: Grupo Escolar Pandiá Calógeras e Ginásio Estadual M M D C, que ficavam no mesmo prédio, à avenida Paes de Barros.Mas a melhor escola foi Escola de Rua, da rua Guarapuava.
O M M D C, que no meu tempo só era noturno, mudou-se para um prédio no Parque da Mooca e, depois, mudou-se definitivamente para o prédio próprio, na rua Cuibá.
Bacione in testa,
Natale
Natale, delicia lembrar de nossos uniformes, com certeza cada um lembrou do seu.No meu tempo do grupo escolar era avental branco com fita na cabeça e depois no ginásio e magistério foi o mesmo, saia azul marinho pregueada e blusa branca.Tinha um uniforme de gala para os desfiles e um para a fanfarra onde eu tocava caixa de guerra.Faculdade era sem uniforme, mas eu tinha que usar um avental azul claro e meias finas, uniforme para quem trabalhava na Prefeitura. Foi muito bom recordar através do seu texto.Parabéns e um abraço.
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