Quase sempre contamos e cantamos
recordações, com o imprescindível confronto com as atuais condições de vida
que, por imposição de nossa idade, somos testemunhas vivas (graças a Deus) de
tudo que muda em nossa existência. Em vários aspectos, destes confrontos, quase
sempre tendemos a sermos favoráveis ao passado como hábitos, alimentos, roupas,
saúde etc.
Primeiramente, na área da
tecnologia, no que, em minha opinião, o progresso trouxe extraordinária
revolução em tudo que implica à recorrência de um sistema moderno, facilitando
sobremaneira, a vida neste planeta. Na questão de saúde, a tecnologia,
juntamente com a ciência, são responsáveis diretos por nos manter em condições
saudáveis nestas transformações e nos colocar como provas dessas assertivas. E,
por sermos testemunhas, ainda presentes, de como era e como é, podemos dar uma
avaliação mais próxima da realidade.
Na comunicação, por exemplo, a
mais ou menos um mês, tive uma extraordinária experiência que me deixou
envolvido em fabulosa emoção que, dificilmente, há cinco anos atrás, sonharia
com essa ocorrência.
Os mais antigos como eu, devem
estar lembrados dos seriados que assistíamos nas matines domingueiras, entre o
primeiro e o segundo filme, seriados esses que nos obrigavam a voltar nos
próximos domingos. Produções baratas, embriões das atuais novelas, vez ou
outra, destacavam bons atores. Dentre estes filmes, lembro-me de alguns como “O
Sombra”, que projetou um bom ator, Victor Jory, “Flash Gordon”, com Buster
Crabbe, em três lançamentos, em 1936, 1938 e 1940, um deles em que ele combatia
os “homens de barro”, que saiam das paredes, numa técnica, pra época, muito
boa. Quando o Flash se comunicava com seus parceiros ou com seu celebre inimigo
Ming, do planeta Mong (ou vice-versa), o que ele usava? Nada mais, nada menos
do que o atualíssimo “Skype”.
Quando via aquilo, com meus
amigos, ficava imaginando alguém falar com uma pessoa, distante, ver e ser visto, como uma televisão que, na
época já era um sonho irreal, (pelo menos, pra mim...).
No ano de 1954, eu com 22 anos,
já namorando a Myrtes, trabalhava, como desenhista, na Shellmar, firma
americana de embalagens. Em 1955, entrou na empresa, um desenhista espanhol,
melhor dizendo, catalão, de Figueras, norte de Barcelona, com 18 anos. Luis
Torrent Caixas era (e ainda é) seu nome.
Como é comum nestas novas
amizades, ele, bom desenhista, gostando de desenhar imagens, em nosso bate papo
sempre tocávamos no assunto de fazer histórias em quadrinhos, “comics”. Essa
amizade durou pouco tempo. Nos últimos anos que o Luis ficou no Brasil, ele
trabalhava como “free-lance”, desenhava para a Gráfica Lanzara e, também
desenhava sobre vidro, nos cinzeiros promocionais que eram impressos, depois em
“silk-screen”. Ele preparava os “lay-outs” pra um representante da indústria,
um tal de Bahia e, como estava sempre com muito serviço, me passava algum que
eu, recém- casado, precisando de “grana”, ajudava um pouco.
O Luis conheceu uma brasileira,
catarinense, Judite, quase da mesma idade dele. Seu pai, patrocinador de sua
vinda ao Brasil em 1954, pedreiro, morava e trabalhava no Ipiranga, na Rua
Costa Aguiar, não ficou muito tempo aqui. O Luis casou com a Judite, foi se
despedir dos familiares da esposa em Santa Catarina e depois foram embora pra
Espanha, voltou pra sua terra.
Nossos contatos, porém, foram até
1959 ou 1960, não lembro bem. Ele ficou no Brasil só 8 anos, até 1963.
Lembro-me de ele me visitar em meu apartamento, na Rua do Gasômetro, eu já
casado, com 2 filhos. Depois, não o vi mais, soube mais tarde que ele havia
voltado pra Europa. Nunca mantivemos correspondência, postais, nada de
comunicações. Esqueci o Luis e ele me esqueceu.
Mas um dia, com minha sanha de
“Sherlok Holms”, resolvi que tinha que encontrar o Luis, (se ele ainda vivia)
e, pelo “Google”, soube que ele ainda desenhava pra serigrafia, (silk-screen),
escultor e outros serviços relacionados com seu mister. Descobri seu telefone,
liguei, falei com ele, depois de 57 anos. Ele não acreditava... Ouvindo minha
voz falando em português, aí, foi um deslumbre só.
Mandei-lhe uma mensagem, ele
demorou pra responder, (quase um mês...), respondeu, eu já tinha instalado o
meu “skype” e perguntei a ele se ele tinha, respondeu: “Minha neta vai me instalar,
aguarde” Instalou e vi o Torrent Caixas, e ele me viu, um pouco mais gordo,
início de uma promissora calvície, me reapresentou sua mulher, sua filha e sua
neta e nos derretemos com os detalhes de sua curta estada aqui em São Paulo.
Lembrei logo do Flash Gordon, com seu “skype” saído da memória do Alex Raimond,
desenhista fabuloso, criador do herói.
Por isso fiquei encantado,
emocionado em ver, ouvir sua voz, lembrar-se de fatos e ocorrências do nosso
tempo. Ver suas pinturas e esculturas maravilhosas, sem sair de casa. É ou não
é extraordinário esse avanço da tecnologia? Claro que é. E tudo sem pagar nada.
Amigos do site, isso, de fato é maravilhoso. Obrigado a todos e a você, Luis,
“asta pronto”.
(... e ele está lendo nossos
trabalhos, turma).
Por: Modesto Laruccia
6 comentários:
Mo, é muito bom quando a gente consegue localizar alguem que fez parte de nossos dias e que, por culpa do curso de nossas vidas já não se faz presente.
Eu também, às vezeds sou surporeen dido por contatos inesperados e adoro quando isso acontece.
Ah! Teus textos continuam sendo fantásticos.
LARÙ, Bello!
Se neste mundo até as pedras se encontram, porquê não os amigos?
E, agora, com este veículo maravilhoso que é a internet facilita muito a procura.
E fica aqui, um parabéns a todos nós que dia-a-dia vamos nos encontrado através dele. Que viva a Internet!
Baciotto in testa,
Natale
Modesto, graças a este avanço tecnológico consegui reencontrar amigos de 40 anos atrás. Uma beleza! Parabéns pelo belíssimo texto. Um beijo.
Laruccia!
Seu texto conseguiu me emocionar! Realmente, as novas tecnologias estão aí para melhorar nossas vidas em todos os sentidos. E a possibilidade de nos comunicarmos, ao vivo e a cores, com pessoas tão distantes - inclusive no tempo - é quase como um milagre que nos surpreende e nos comove. Nossos netos, nascidos agora, chegam a estranhar nossas surpresas, já que, para eles, é tudo tão natural!
Abraço.
Modesto, graças ao avanço tecnólogico da eletrônica estamos conseguindo resgatar velhas amizades que estavam escondidas nos escaninhos da vida, eu mesmo já tive agradáveis surpresas, abraços.-
Modesto, graças ao avanço tecnólogico da eletrônica estamos conseguindo resgatar velhas amizades que estavam escondidas nos escaninhos da vida, eu mesmo já tive agradáveis surpresas, abraços.-
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