quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A SURPREENDENTE TECNOLOGIA



Quase sempre contamos e cantamos recordações, com o imprescindível confronto com as atuais condições de vida que, por imposição de nossa idade, somos testemunhas vivas (graças a Deus) de tudo que muda em nossa existência. Em vários aspectos, destes confrontos, quase sempre tendemos a sermos favoráveis ao passado como hábitos, alimentos, roupas, saúde etc.

Primeiramente, na área da tecnologia, no que, em minha opinião, o progresso trouxe extraordinária revolução em tudo que implica à recorrência de um sistema moderno, facilitando sobremaneira, a vida neste planeta. Na questão de saúde, a tecnologia, juntamente com a ciência, são responsáveis diretos por nos manter em condições saudáveis nestas transformações e nos colocar como provas dessas assertivas. E, por sermos testemunhas, ainda presentes, de como era e como é, podemos dar uma avaliação mais próxima da realidade.

Na comunicação, por exemplo, a mais ou menos um mês, tive uma extraordinária experiência que me deixou envolvido em fabulosa emoção que, dificilmente, há cinco anos atrás, sonharia com essa ocorrência.
 
Os mais antigos como eu, devem estar lembrados dos seriados que assistíamos nas matines domingueiras, entre o primeiro e o segundo filme, seriados esses que nos obrigavam a voltar nos próximos domingos. Produções baratas, embriões das atuais novelas, vez ou outra, destacavam bons atores. Dentre estes filmes, lembro-me de alguns como “O Sombra”, que projetou um bom ator, Victor Jory, “Flash Gordon”, com Buster Crabbe, em três lançamentos, em 1936, 1938 e 1940, um deles em que ele combatia os “homens de barro”, que saiam das paredes, numa técnica, pra época, muito boa. Quando o Flash se comunicava com seus parceiros ou com seu celebre inimigo Ming, do planeta Mong (ou vice-versa), o que ele usava? Nada mais, nada menos do que o atualíssimo “Skype”.

Quando via aquilo, com meus amigos, ficava imaginando alguém falar com uma pessoa, distante,  ver e ser visto, como uma televisão que, na época já era um sonho irreal, (pelo menos, pra mim...).

No ano de 1954, eu com 22 anos, já namorando a Myrtes, trabalhava, como desenhista, na Shellmar, firma americana de embalagens. Em 1955, entrou na empresa, um desenhista espanhol, melhor dizendo, catalão, de Figueras, norte de Barcelona, com 18 anos. Luis Torrent Caixas era (e ainda é) seu nome.

Como é comum nestas novas amizades, ele, bom desenhista, gostando de desenhar imagens, em nosso bate papo sempre tocávamos no assunto de fazer histórias em quadrinhos, “comics”. Essa amizade durou pouco tempo. Nos últimos anos que o Luis ficou no Brasil, ele trabalhava como “free-lance”, desenhava para a Gráfica Lanzara e, também desenhava sobre vidro, nos cinzeiros promocionais que eram impressos, depois em “silk-screen”. Ele preparava os “lay-outs” pra um representante da indústria, um tal de Bahia e, como estava sempre com muito serviço, me passava algum que eu, recém- casado, precisando de “grana”, ajudava um pouco.

O Luis conheceu uma brasileira, catarinense, Judite, quase da mesma idade dele. Seu pai, patrocinador de sua vinda ao Brasil em 1954, pedreiro, morava e trabalhava no Ipiranga, na Rua Costa Aguiar, não ficou muito tempo aqui. O Luis casou com a Judite, foi se despedir dos familiares da esposa em Santa Catarina e depois foram embora pra Espanha, voltou pra sua terra.

Nossos contatos, porém, foram até 1959 ou 1960, não lembro bem. Ele ficou no Brasil só 8 anos, até 1963. Lembro-me de ele me visitar em meu apartamento, na Rua do Gasômetro, eu já casado, com 2 filhos. Depois, não o vi mais, soube mais tarde que ele havia voltado pra Europa. Nunca mantivemos correspondência, postais, nada de comunicações. Esqueci o Luis e ele me esqueceu.

Mas um dia, com minha sanha de “Sherlok Holms”, resolvi que tinha que encontrar o Luis, (se ele ainda vivia) e, pelo “Google”, soube que ele ainda desenhava pra serigrafia, (silk-screen), escultor e outros serviços relacionados com seu mister. Descobri seu telefone, liguei, falei com ele, depois de 57 anos. Ele não acreditava... Ouvindo minha voz falando em português, aí, foi um deslumbre só.

Mandei-lhe uma mensagem, ele demorou pra responder, (quase um mês...), respondeu, eu já tinha instalado o meu “skype” e perguntei a ele se ele tinha, respondeu: “Minha neta vai me instalar, aguarde” Instalou e vi o Torrent Caixas, e ele me viu, um pouco mais gordo, início de uma promissora calvície, me reapresentou sua mulher, sua filha e sua neta e nos derretemos com os detalhes de sua curta estada aqui em São Paulo. Lembrei logo do Flash Gordon, com seu “skype” saído da memória do Alex Raimond, desenhista fabuloso, criador do herói.

Por isso fiquei encantado, emocionado em ver, ouvir sua voz, lembrar-se de fatos e ocorrências do nosso tempo. Ver suas pinturas e esculturas maravilhosas, sem sair de casa. É ou não é extraordinário esse avanço da tecnologia? Claro que é. E tudo sem pagar nada. Amigos do site, isso, de fato é maravilhoso. Obrigado a todos e a você, Luis, “asta pronto”.
 
(... e ele está lendo nossos trabalhos, turma).

 
Por: Modesto Laruccia
 

6 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Mo, é muito bom quando a gente consegue localizar alguem que fez parte de nossos dias e que, por culpa do curso de nossas vidas já não se faz presente.
Eu também, às vezeds sou surporeen dido por contatos inesperados e adoro quando isso acontece.
Ah! Teus textos continuam sendo fantásticos.

Wilson Natale disse...

LARÙ, Bello!
Se neste mundo até as pedras se encontram, porquê não os amigos?
E, agora, com este veículo maravilhoso que é a internet facilita muito a procura.
E fica aqui, um parabéns a todos nós que dia-a-dia vamos nos encontrado através dele. Que viva a Internet!
Baciotto in testa,
Natale

margarida disse...

Modesto, graças a este avanço tecnológico consegui reencontrar amigos de 40 anos atrás. Uma beleza! Parabéns pelo belíssimo texto. Um beijo.

Zeca disse...

Laruccia!

Seu texto conseguiu me emocionar! Realmente, as novas tecnologias estão aí para melhorar nossas vidas em todos os sentidos. E a possibilidade de nos comunicarmos, ao vivo e a cores, com pessoas tão distantes - inclusive no tempo - é quase como um milagre que nos surpreende e nos comove. Nossos netos, nascidos agora, chegam a estranhar nossas surpresas, já que, para eles, é tudo tão natural!

Abraço.

Leonelloi Tesser disse...

Modesto, graças ao avanço tecnólogico da eletrônica estamos conseguindo resgatar velhas amizades que estavam escondidas nos escaninhos da vida, eu mesmo já tive agradáveis surpresas, abraços.-

Leonelloi Tesser disse...

Modesto, graças ao avanço tecnólogico da eletrônica estamos conseguindo resgatar velhas amizades que estavam escondidas nos escaninhos da vida, eu mesmo já tive agradáveis surpresas, abraços.-