terça-feira, 25 de setembro de 2012

 
LEMBRANÇAS DE UMA AVÓ
 
Minhas filhas, assim como todas as mulheres modernas, trabalham fora exercendo a chamada "dupla jornada”.
 
Por conta disso, estou sempre rodeada dos netos. Eles vêm em busca de um dengo, de ajuda nos trabalhos escolares e, principalmente, saborear alguns quitutes, típicos de "casa da vovó".
 
Mas, gostam muito, também, de ouvir as histórias que conto sobre minha infância. Desde o mais velho, com 20 anos, até o pequeno, com 7, divertem-se muito ouvindo os relatos das travessuras, das brincadeiras de rua, todas elas já conhecidas de todos nós. Eles gostam de saber os detalhes e já tive que contar a mesma história várias vezes.
 Outro dia, o menorzinho, Leonardo, hoje com 7 anos, olhou-me com tristeza e perguntou:
- Vovó, você não tinha play?
Expliquei a ele, que a rua era o play das crianças e ali nos divertíamos muito, brincando de "estátua", de "jogar sério" "jogar pedrinhas", brincadeiras que ele não conhecia. Inclusive, o teatrinho de rua, onde encenávamos pequenos roteiros ou sinopses, feitos pelos mais criativos. Também fazíamos as roupas dos personagens, com muito papel crepom, cola e purpurina. Tudo muito colorido.
Nossa plateia era formada pelos vizinhos, que traziam suas cadeiras e, ainda, nos aplaudiam muito. Depois, servíamos lanchinhos de pão de forma e água com groselha, comprada em litro, no Zé da venda.
 Meu netinho, ainda não satisfeito, tornou a perguntar: -E, também não tinha shopping?
Novamente tive que explicar que nosso shopping era ali mesmo, a céu aberto, aonde os vendedores vinham até nós para oferecerem seus produtos. Eram os mascates que vendiam roupas, vendedores de livros, os  verdureiros, o peixeiro, etc. Mas o que mais gostávamos mesmo, eram dos vendedores de  doce como o "quebra-queixo", "machadinha", "biju" e, principalmente, do vendedor de "sonhos e "maria-mole", com seu carrinho envidraçado e todo pintado de branco. Que delícia!
Além dos vendedores, tínhamos, também, os compradores. Uns compravam jornais e papelão, outros garrafas, metais, etc. 
E nós, (acho) iniciando a reciclagem, juntávamos todo esse material e ficávamos à espera dos compradores. Os cruzeiros e centavos, obtidos com essa transação, eram facilmente trocados por gibis, ou pelas delícias açucaradas descritas à cima.
Acho que hoje é difícil para uma criança, imaginar toda essa liberdade que tínhamos, pois as ruas, agora, são assustadoras.

por: Bernadete Pedroso

6 comentários:

Memórias de Sampa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel disse...

Bernadete, avós são pais com açucar, eu posso dizer isso de catedra, sou avô de 5 netos e tenho, ainda, mais 4 que vieram por osmose.
É muito bom ser avô, não se tem a responsabilidade de educar, apenas de paparicar.

25 de setembro de 2012 17:44

Miguel

Zeca disse...

Bernadete!

Linda e singela, sua crônica, terminada com chave de ouro, onde explica claramente o que vêm nossos netos nas ruas da atualidade. Parabéns!

Modesto disse...

Vc tem razão, Bernadete, lidar com netinhos é algo que compença as limitações da velhice, ou melhor, da nossa "humidade avançada", temos que tomar um pouco de sol com as vivacidades e eletricidade dos"pequrruchos", não é? Belo texto, Bernadete, parabéns.
Modesto

margarida disse...

Mana, que delicia recordar nossa infância, que era de rua e tão diferente da atualidade. Aqui em casa meus netos também gostam de ouvir as historias do passado, existe uma curiosidade de como e o quê fazíamos quando éramos criança.Lind0 seu texto.Beijos.

Wilson Natale disse...

BERNARDETE:
A vida nos preparou para que nnos tornássemos "contadeiros" de histórias.
Pena que muitos,desdenhando o progresso tecnológico, costumam estragar uma boa história com o tal "no meu tempo tudo era bem melhor". Eu uso sempre o "no meu tempo de infancia, adolescência,etc., tinha, ou não tinha"."Isso apareceu bem depois".
No meu tempo, não existe. Meu tempo é o agora. Como o seu.É isso que torna interessante as nossas histórias. É isso que encanta!
Não tenho filhos. Mas tenho dois sobrinhos trintões que ainda me obrigam a contar minhas velhas histórias.
Abração,
Natale