terça-feira, 4 de setembro de 2012

COMO NOS VELHOS TEMPOS



- Rua Boa Vista, 290? No Jockey Club?

-Sim, disse o amigo. É só chegar lá e você encontra o restaurante.

Fui ao Google Mapas. Estamos todos ficando assim; melhor recorrer à
internet que a memória, ou ao Guia Levy, Guia 4 Rodas e outros, que
sEmpre nos guiaram ao longo dos tempos.


O fantástico mapa virtual, capaz de aterrissar em quase qualquer rua do
globo e fazer-nos percorrê-la em três dimensões, nem se moveu. A
região de hipódromo não apontava também qualquer restaurante nas
imediações. Sei que existe um dentro, mas que Rua Boa Vista seria?
Dentro dele?

Então caiu a ficha. Tinham combinado o almoço no Centro da cidade; a
velha Rua Boa Vista, e embora não tivesse entrado no restaurante do
Jockey, conhecia-o de passagem, com seu belo logotipo dourado na
vidraça. Fiquei imaginado como seria o vetusto restaurante, nono andar
de um prédio central.



E não me decepcionei: antigos móveis, de madeiras há muito em
extinção, bons quadros, tapeçarias, tocheiros dourados e belos
candelabros pendentes. Os garçons com ar solene, magnífica visão da
sua grande varanda, onde almoçamos.

Boa comida, boa conversa... Para chegar lá não tinha pago um centavo.
Deixei o carro numa ruazinha, sem zona azul, próxima à Praça da Árvore
e dali o metrô grátis até o São Bento. Saindo do almoço e percorrendo
as ruas ilustres, com seus prédios art decô, aproveitei para levar a
turma à imperdível exposição "Índia!" no Centro Cultural Banco do
Brasil. Já a tinha visto, com esposa, no sábado, mas vale a pena ver
de novo.

Adentramos a magia da Índia dos arianos, dos sufis, dos sadus,
brâmanes, budistas, janaistas, islâmicos moguls e finalmente dos
cristãos, influenciados pelos portugueses. Maravilhas de um país
totalmente desvairado, a humanidade pululante em suas mais variadas
formas.
Como um sonho, ou pesadelo, conforme a interpretação.

Imaginemo-nos em minúsculos táxis, mais parecidos com lambretas,
desviando-nos no trânsito louco de outras engenhocas iguais, carros,
vacas, camelos e elefantes, como acontecia nos sonhos de Little Nemo,
antigo herói de quadrinhos, obra de Windsor Mc Kay.
Saindo dali, num verão quase tão escaldante quanto o da terra dos
moguls, mudamos de país.
Na Praça Antonio Prado um café parisiense, toldos verdes e cadeirinhas
no calçadão, para um chope refrescante. Ou como Hemingway no Lipp, une
biére a la préssion, com as cervelas e pommes a l´huile, de Paris É
Uma Festa.

Enfim, depois de tantos anos procurando, ali estava: uma São Paulo
como nos velhos tempos.


Por: Luiz Saidenberg

 

8 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Pois é Saidenberg, no início da década de 60 eu trabalhei na citada Praça Antonio Prado, 9 onde também estava instalada a séde social do Jockey Club. Aliás, a emprexsa que eu trabalhava era de propriedade dos Cerquinho Assumpção, familia tradicional paulistana e um dos irmãos era presidente desse clube.

Falcon disse...

Amigo Sidemberg eu adoro essa parte da cidade. Trabalho aqui no centro velho e diariamente procuro levar alguns dos jovens geração Y a um dos antigos restaurantes, onde ainda sou chamado pelo nome e atendido por um garçom com mais de 70 anos. Ainda há lirismo neste centro.
Belo Texto. Parabéns.

Zeca disse...

Caro SAaidenberg!

Mais uma deliciosa crônica da sua lavra, para nos encantar numa tarde indecisa (meio verão, meio inverno). Aliás, tarde apropriada para um passeio pelo velho centro desta nossa amada cidade, que ainda consegue nos surpreender.

Abraço.

Laruccia disse...

Luiz há mais de duas décadas que não passo por esse trecho. Com sua escrita instigante, vc consegue me deslocar pra um passeio virtual. Essa é a virtude de quem sabe transmitir o que vê, com seus parágrafos poéticos, me desloco por aquela região sem sair da cadeira. Parabéns, Saidenberg.
Laruccia

Suely aparecida schraner disse...

Excelente exposição! Flanei junto. Valeu!

margarida disse...

Saidenberg, que belo dia você teve: bom almoço, boas conversas e a nossa São Paulo como nos velhos tempos.Parabéns pelo texto e um grande beijo pra vocês.

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Luiz, tuas cronicas me levam a um passado distante mas as lembranças permanecem bem vivas na minha memória, parabéns pelo texto, abraços, Nelinho.-

Wilson Natale disse...

SAIDENBERG:
Quem sabe o centro histórico não se transforme no centro bohemio desta Paulicéia?
A ladeira e a Praça Antônio Prado vai voltando no tempo e se tornando o coração da cidade.Tempo das Brasseries e dos cafés dançantes.
De dia, as mesinhas invadem a XV de novembro; dia e noite o bar do Municipal brilha na noite Paulistana.
Sem pressa, calmamente chegaremos lá.
Abração,
Natale