sábado, 7 de julho de 2012

O dia em que São Paulo parou

Acordei hoje com uma sensação de ressaca. Não bebi. Mas, acordei com a sensação de ter estado envolta numa grande festa, partilhar de comentários e brincadeiras que hoje me fazem refletir. O que é bom é o que Henri Bergson denomina a função social do humor...
A vitória do Corinthians na Copa Libertadores da América foi escrita brilhantemente, como um roteiro mesmo, digno de novela; um povo sofredor e humilhado, sem muito o que comemorar, tinha sua chance de provar para o mundo e, o pior de tudo, para as outras pessoas de seu país, que não importa o nível da classe social ou educação formal, naquele momento, eram os melhores e... CHUUPA! É catártico, é passional, é emocionante, é a reviravolta do último capítulo no qual, finalmente, a justiça é feita. Mas... SURPRESA! Não é uma novela, é vida real e hoje, no dia seguinte ao da vitória, o que carregam é o orgulho de serem campeões... o ORGULHO.
Orgulho é uma palavra sui generis, que ultimamente tem sido usada muito mais com valor pejorativo para valorar a personalidade de uma pessoa como orgulhosa ou não, como adjetivo. Mas, orgulho é algo lindo de se sentir, é um substantivo abstrato, que você só sente em relação à outra pessoa ou situação; é, portanto, uma porta de saída para o outro num mundo cada vez mais individualizado, é algo generoso. E olha que lindo; hoje milhões de pessoas estão orgulhosas, no melhor sentido da palavra.
Mas a vida real, a de cada um, continua, a injustiça social continua, o descaso com a situação alheia continua. Não vou entrar aqui na questão do salário dos jogadores; eles merecem, possuem talento e tem quem esteja disposto a pagar por isso, que sorte a deles.
Nós temos, no Brasil, uma saúde pública decadente, uma polícia que amedronta, uma educação que não educa, falo no geral, sempre há os que fazem com verdade, mas o que grita aos olhos e à realidade é o descaso dos governantes, dos “donos desse time” com seus “jogadores”. Cadê a fúria torcedora nessa cobrança? A expectativa nessa melhoria? Cadê o investimento nesse grande “time”? Pagamos um dos maiores valores de impostos do mundo para a melhoria da nossa Nação. Cadê esse investimento? Ele se desvia! Sozinho?
A ressaca me trouxe a questão: Por que nós nos orgulhamos por tão pouco? Por que não temos pelo nosso partido político a mesma paixão que temos pelo nosso time de futebol, independente de qual seja ele? Por que não acompanhamos a carreira do nosso político como acompanhamos a dos jogadores, cobrando de perto, exigindo resultados, mostrando a indignação pelo corpo mole e indiferença para com o nosso time? Se temos essa força, e temos, vi e senti ontem, por que não a usamos?
Ontem, após a vitória do Corinthians, fui ver os fogos e tive uma sensação de renovação, de transformação de algo novo surgindo, SENTI FORÇA! Sim, fui tomada pela catarse e foi genuíno. E hoje, ao acordar, a ressaca me trouxe a angústia de saber que essa força se dissipou e só voltará na união de um próximo jogo. Por que, se somos capaz de tê-la juntos?
Desde ontem meus perfis estão repletos de imagens da Nação Corinthiana, mas, essas nações, Palmeirense, São Paulina, Santista, Fluminense, Atleticana... Corinthiana e outras tantas, só existem por que fazem parte de uma nação muito maior, que as acolhe e as permite existir: A NAÇÃO BRASILEIRA.
Gostaria muito que cada torcedor escolhesse seu governante, lutasse por ele e o cobrasse como faz com seu time. Assim, perceberíamos a nossa a força. A FORÇA DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL!
Por que não lutamos para, finalmente, podermos nos orgulhar da Nação Brasileira?
Por Camila Capparelli Graziano

10 comentários:

Luiz Saidenberg disse...

Bela vitória. Mas, como já foi dito,,o povo brasileiro só parece levantar-se para gritar GOL!

Anônimo disse...

Nossa que horror!!

Anônimo disse...

O povo brasileiro ainda não se vê como partícipes de uma mesma nação.
Que pena!

O blog é ótimo!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Camila são poucas as oportunidades que tenho de ler um texto tão bem escrito e com um conteúdo basteante inteligente.
Me parece que é de quem realmente atua para mudar estas questões levantadas, e não fica apenas escrevendo oque os outros devem fazer.
Sendo assim quero mostrar a você nosso projeto em Itaquera ZL de inclusão social através do esporte. entre em nossos sites e confira www.aeckaue.com.br www.correndoparaofuturo.com.bb.
Não é necessário projetos faraônicos. são pequenas ações como as nossas que irão fazer a diferença.
a porta está aberta.
marcosfalcon@uol.com.br

suely aparecida schraner disse...

Muito bom, Camila. Tomara que esta nação acorde para a cidadania também. Chega de "deitado em berço esplêndido", né não. Abraço

Miguel S. G. Chammas disse...

Camila, seja muito bem-vinda ao nosso blog!
Achei muito interessante o enfoque de seu texto. Escreva mai!

Modesto disse...

Um povo exaltado, no bom sentido do termo, como o da torcida corintiana e a dos palmeirenses ontem, são típicas de um povo que busca um referencial afim de nortear suas vidas. Se tivermos estas mesmas exaltações na administração dos problemas da nação, não seriam tão raros as exclusões de um elemento estranho como as de ontem, num corpo já combalido que é a pleiade de nefastos políticos, sempre acobertados por um vergonhoso corporativismo, mostrando a hipocresia e demagogia de uma classe despudrada. Gostei muito de sua narrativa, Camila, parabéns.
Modesto

Luiz Saidenberg disse...

Pena é que toda essa energia se esvaia no campo esportivo, literalmente. Faz parte dos planos governamentais: qto mais corrupto um governo mais pão(bolsa família) e circo(futebol, carnaval, axé e cachaça) tem de oferecer ao povo.
Isso é um fato histórico e o Brasil não foge à regra. Já pensou se toda essa força popular se movimentasse para cobrar reformas sociais, como quiz a autora? Mas não, os mesmos fatores que geram tal energia são os que a dissipam. Algum dia, quem sabe...

Arthur Miranda disse...

O dia que São Paulo Parou ou
Ou o dia que esse Blog Parou kkk, rsrsrs. Vou morrer de saudades.

Zeca disse...

Camila!

Não é comum encontrar um texto tão bem escrito, com tanta elegância e lucidez! Oxalá os torcedores de times de futebol (a maior parte dos brasileiros) tivessem a oportunidade de ler e meditar sobre a profundidade do que você diz em seu texto! Mudaríamos esta cambaleante nação rapidamente.
Por favor, escreva mais!

Abraço.