domingo, 13 de maio de 2012

Uma nova experiência, a Morte – Velório


Ao ler a história de Jose Camargo Beira no site São Paulo Minha Cidade com o titulo “Um velório nos anos 50” saltou lá de dentro uma passagem paralela  ocorrida nos tempos de infância.
Meu primo e eu caminhávamos pelas ruas do nosso bairro Vila Nova Conceição, mais precisamente pela Rua Natividade, do longe notamos uma aglomeração próximo a casa de um conhecido. Na frente da casa, um amontoado de gente todas com semblantes sérios.
Movido pela curiosidade natural das crianças, resolvemos nos aproximar mas  afinal acabamos entrando para ver o que acontecia. .
Sem chamar muito a atenção fomos entrando tentando não esbarrar em ninguém. O local mal dava pra entrar. Mas com jeitinho, ultrapassamos uma muralha de gente.
Estávamos curiosos para saber do que se tratava.
Ao romper o ultimo obstáculo, demos de cara com um caixão aberto no meio da sala com velas e flores. E dentro dele um homem magro e morto.
Se desse teríamos corrido. Mas não o fizemos.
Tentamos disfarçar ao máximo o nosso engano tentando fazer cara de paisagem como exigia a ocasião.
Este era o meu primeiro encontro com a morte. Até então nunca havia me deparado com aquele tipo de situação.
Como a situação era nova, ficamos observando como as pessoas se movimentavam. As pessoas iam ao encontro de familiares postados ao lado do caixão para receber as condolências.
Como já estávamos na chuva resolvemos nos molhar e lá fomos oferecer nossos sentimentos.
Depois de fazê-lo demos meia volta em direção a porta para nos retirarmos.
Próximo ao portão havia uma mesinha para que os visitantes deixassem ali seu nome e endereço.
Claro que colocamos deixamos ali o nossos dados.
Naquele tempo era comum a realização de velório na própria casa onde a pessoa havia falecido.
Passado alguns dias, surpreso recebo uma cartinha.
Era uma cartinha da família do falecido agradecendo a presença ao velório.
Acabei achando aquilo uma “curtição” com relação ao fato de receber cartas. Pois nunca havia recebido qualquer tipo de carta. 
Um mês depois, passando numa outra rua, percebemos uma nova aglomeração. Sem pensar duas vezes, entramos.
As pessoas nos olhavam com curiosidade, meninos tão jovens, ali participando, compenetrados no que estava ocorrendo.
Ficamos a observar tudo que acontecia. Eram choros, lágrimas, pessoas tristes que há muito não se viam. Abraços fortes.
De repente uma bandeja atravessa a sala, repleta de sanduíches e sucos. Notamos que os adultos eram chamados para uma sala ao lado onde serviram  licores.
Observamos que havia um tratamento diferente que não havíamos percebido no velório anterior.
Para quebrar um pouco a monotonia do ambiente iam surgindo anedotas e causos engraçados que ajudavam a espairecer a tristeza do ambiente.
Ao final deixamos nossos nomes no registro.
Neste mesmo ano, mais quatro ocorrências como as descritas acima aconteceram no bairro e lá estávamos nós para levar nosso abraço.
O lanche também era algo que já era esperado.
Ao final de um ano recebemos quase sete cartinhas de agradecimento.
Isso de alguma forma me trazia algum conforto.
Os adultos pouco explicavam a respeito. Não entendia bem o que significava a morte, mas de certa maneira me ajudou a aceitar o assunto de forma tranqüila.
Mesmo com pouco entendimento sobre o assunto, de maneira ingênua levávamos o nosso conforto “meio maroto”, a essas famílias com respeito.
Mesmo sendo crianças, aprendíamos de certa forma a encarar o sofrimento alheio.
Hoje em dia, pelos menos nas grandes cidades, os costumes são outros  raramente se faz um velório em casa.
Anos depois, estive muito perto da morte em um afogamento e de certa forma pude encarar o assunto com alguma naturalidade.    
Por Luigy Marques

7 comentários:

leonello tesser (Nelinho) disse...

Luigy, você me fez retornar no tempo, realmente antigamente os corpos dos falecidos eram velados em casa, abraços, Leonello.-

Miguel S. G. Chammas disse...

Luigy, eu tive na infância contacto com velórios caseiros na minha própria residência.
A coisa era tão tenebrosa que ficou registrada na minha memória.
Hoje, na verdade sou contra ficar velando cadaveres por tempos absurdos, mas tradição é tradição, e mesmo tenso sido melhorado, o velório ainda continua.

Wilson Natale disse...

Luigy:
Quem nasceu na Mooca, com mais de 50 anos, não passou impune pelos velórios caseiros.
Aqui estavam (ainda estão) os italianos (principalmente os napolitanos), os espanhóis e os portuguêses. Velórios pesados, densos, com os mesmos procedimentos os quais você presenciou.
Destes velórios, por opção, guardei as lembranças daqueles que foram mais hilários. Pois de tristeza chega a vida...
Abração,
Natale

Modesto disse...

Realmente, Luigy, os velórios eram todos nas casas dos mortos, seu relato, sempre nos lembra coisas tristes e engraçadas. Lembro de uma piada de um cara que adorava carregar caixão de defunto. Um dia, no Araçá, lá esta o sugeito que adorava pegar numa alça de urna mortuária. Quando fecharam o caixão, ele imediatamente agarra uma das alças. Quando princiavam o trageto pelas alamedas, chegou um cara perto dele, perguntou: "o sr. é parente do morto?" não, respondeu nosso heroi, "é amigo?" também, não, respondeu o necrófilo, eu nem o conhecia... "Então, por favor, deixe que os parentes, que são muitos, e querem carregar um pouco." Muito a contra-gosto, largou a alça e foi acompanhando o féretro. Observou que um dos que carregavam, um idoso, estava exausto, se aproximou e ofereceu seus prestimos. Agarrou na alça sentindo-se realisado. De repente, lá vem o parente, de novo lhe falar. "O sr. de novo, tem bastante parentes e amigos que querem homenagear o Salustiano, por favor, largue essa alça" Nosso heroi largou, de novo, mas continuou no trageto. Outras vezes se repetiu essa ocorrência e, o gajo não aguentou mais. Parou no meio da alameda, o enterro se afastou e quando estavam a 60 ou 70 metros de distância, nosso heroi pos as mãos em torno da boca e gritou, bem alto: "Turma do enterro", todos pararam e se viraram pra ver o nosso heroi gritar. Ele continuou..."enfiem o morto no....
Luigi, desculpe a brincadeira mas, não resisti. Vc esqueceu de mencionar as paredes da sala do velório, forradas de cortinas pretas, arrematadas com arabescos em ouro, fornecidas pelo Rodovalho. Seu texto está precioso, parabéns, Luigi.
Modesto

Soninha disse...

Olá, Luigy!

Putz... lembro-me dos velórios nas casas.
Que coisa mais dificel! Credo!
Penso que devemos guardar as boas recordações daqueles que nos foram caros, dos que conhecemos...enfim...
E os velórios dentro de casa sempre deixavam impressões desagradáveis, ao menos para mim.
Mas, lembro-me também das situações engraçadas que os velórias nos impõe...muitas piadas, muitos momentos de integração pelos que ficam "velando"...engraçado mesmo.
Valeu.
Muita paz!

Luigy disse...

Agradeço os comentários dos amigos.
O comentário do Modesto me fez rir muito.
Acabei até visualizndo a cena e ri ainda mais.
Isso dava uma bela cena para algum filme
Abraços
Luigy

Luigy disse...

Agradeço os comentários dos amigos.
O comentário do Modesto me fez rir muito.
Acabei até visualizndo a cena e ri ainda mais.
Isso dava uma bela cena para algum filme
Abraços
Luigy