O vanitas vanitates! Et omnia vanitas...
Eu tenho um álbum de retratos muito especial. Nele coloquei as fotos de família que eu mais gosto. Hoje, revendo estas fotos, detive-me nesta (publicada aqui), do meu pai com seus 20 anos de idade... Ó vaidade das vaidades! E toda a vaidade exposta na juventude do meu pai.
E lá vou eu, perdendo-me da realidade. Viajando a um tempo em que não vivi, mas que existiu antes de mim. Existiu para o “mio babbo”...
Meu pai era vaidoso! E elegante! Vestia-se com apuro e sempre cuidou da aparência. Até o fim de sua vida foi assim. Quando partiu para sempre foi usando o terno que mais gostava.
Papai estava adequado ao seu tempo. Fruto dos anos 30, não poderia ser de outra maneira...
Aqueles anos 30:
Era tabu ir ao centro da cidade com terno e chapéu. Não se andava pelo “Triângulo” (Rua Direita, Rua de São Bento e Rua XV de Novembro) em mangas de camisa. Fazer isso era ser confundido com carregadores e contínuos. Homens com o botão do colarinho aberto e exibindo os suspensórios seriam rotulados de donos de botequim ou de pensão, e, os que saíam às ruas em camisa, com gravata, exibindo os suspensórios e as “ligas” nas mangas, seriam taxados de donos de pequenos comércios, ou pior: gerentes “daqueles hotéis suspeitos”...
Um homem, em dia de calor, poderia tirar o paletó e carregá-lo no braço. Mas, jamais poderia tirar a gravata e desabotoar o colarinho. O chapéu só era tirado quando era preciso estancar o suor da testa.
Usava-se também o “traje passeio”, terno branco, ou em cores claras, sapatos “mocassins”, gravatas coloridas e chapéus Panamá ou de palhinha.
Podia-se ir à “Cidade” em “traje esportivo”: Blazer com calça branca e sapatos com solado de látex; ou jaqueta de gabardine com calça branca ou xadrez e sapatos do tipo “golf”. Em ambos os casos, cobria-se a cabeça com
Eu tenho um álbum de retratos muito especial. Nele coloquei as fotos de família que eu mais gosto. Hoje, revendo estas fotos, detive-me nesta (publicada aqui), do meu pai com seus 20 anos de idade... Ó vaidade das vaidades! E toda a vaidade exposta na juventude do meu pai.
E lá vou eu, perdendo-me da realidade. Viajando a um tempo em que não vivi, mas que existiu antes de mim. Existiu para o “mio babbo”...
Meu pai era vaidoso! E elegante! Vestia-se com apuro e sempre cuidou da aparência. Até o fim de sua vida foi assim. Quando partiu para sempre foi usando o terno que mais gostava.
Papai estava adequado ao seu tempo. Fruto dos anos 30, não poderia ser de outra maneira...
Aqueles anos 30:
Era tabu ir ao centro da cidade com terno e chapéu. Não se andava pelo “Triângulo” (Rua Direita, Rua de São Bento e Rua XV de Novembro) em mangas de camisa. Fazer isso era ser confundido com carregadores e contínuos. Homens com o botão do colarinho aberto e exibindo os suspensórios seriam rotulados de donos de botequim ou de pensão, e, os que saíam às ruas em camisa, com gravata, exibindo os suspensórios e as “ligas” nas mangas, seriam taxados de donos de pequenos comércios, ou pior: gerentes “daqueles hotéis suspeitos”...
Um homem, em dia de calor, poderia tirar o paletó e carregá-lo no braço. Mas, jamais poderia tirar a gravata e desabotoar o colarinho. O chapéu só era tirado quando era preciso estancar o suor da testa.
Usava-se também o “traje passeio”, terno branco, ou em cores claras, sapatos “mocassins”, gravatas coloridas e chapéus Panamá ou de palhinha.
Podia-se ir à “Cidade” em “traje esportivo”: Blazer com calça branca e sapatos com solado de látex; ou jaqueta de gabardine com calça branca ou xadrez e sapatos do tipo “golf”. Em ambos os casos, cobria-se a cabeça com
os “Bonêts” (Bonés) de lã ou outro tecido grosso, em cores ou em xadrez.
Para ir aos teatros, cinemas ou restaurantes vestia-se o “traje social” T
Para ir aos teatros, cinemas ou restaurantes vestia-se o “traje social” T
erno preto, ou outras cores de tons escuros. Não se abria mão do uso das abotoaduras, do prendedor de gravatas, ou o alfinete. Este era também o traje para os bailes, para os “cabarets” e para o cassino que funcionava na Rua 24 de Maio.
Para os dias de gala, usava-se o “frack” e “top-hat” (Cartola). Ir ao Theatro Municipal, além de muito dinheiro, exigia o uso de “Smoking” e meia-cartola (“top-hat” mais baixo).
Estes foram os tempos de juventude do meu pai.
E aí está o “mio babbo”, nesta foto (acima) tirada por um “lambe-lambe”, nos jardins do Museu Paulista, em 1936. Está aí, “em cima da moda” – como se dizia. “Lindão e na estica” – como se diz hoje...
Cabelo repartido no meio, todo “glostorado”; rosto escanhoado, bigode fino moldado à navalha e com os óculos de grau, aro de tartaruga, escondido no bolso interno do paletó.
O terno (com colete) - último grito da moda – foi feito sob medida pelo Seu Nunes, alfaiate da Avenida Celso Garcia, em albene marrom-claro. Paletó levemente acinturado (sim, porque paletó acinturado mesmo, era coisa de “maricón”) gola larga e ombros estruturados. A calça acinturada e com três pregas, boca-larga e barra dupla voltada para fora. A camisa era de linho. Na mão, um chapéu Prada. Nos pés, um par de sapatos fantasia, nas cores branco e marrom-café, com salto carrapeta feito por ele mesmo na Clark, No pescoço, a gravata bordô presa pelo prendedor de gravata.
Papai estava triste nesta foto. O irmão dele mais velho, o meu tio Fillippo, morrera havia duas semanas. O luto do meu pai se revela na tarja preta que traz na lapela e no lenço preto cuidadosamente dobrado que traz no bolsinho do paletó.
Setenta e quatro anos depois dessa foto as vaidades são outras...
Preciso ir ao Centro Histórico, depois tenho de ir à Faria Lima, na volta devo parar na Paulista.Visto uma camiseta, uma bermuda, meias nos pés e calço o tênis. Pronto. Pegar o celular, a máquina digital e sair. Ah! Estou esquecendo a mochila!
E lá vou eu confortável, lindão, numa boa e na moda, cuidar da minha vida. E, se der tempo, ainda pego um cineminha e faço um rápido fim de noite na Livraria Cultura...
O vanitas vanitates!
Por Wilson Natale
Para os dias de gala, usava-se o “frack” e “top-hat” (Cartola). Ir ao Theatro Municipal, além de muito dinheiro, exigia o uso de “Smoking” e meia-cartola (“top-hat” mais baixo).
Estes foram os tempos de juventude do meu pai.
E aí está o “mio babbo”, nesta foto (acima) tirada por um “lambe-lambe”, nos jardins do Museu Paulista, em 1936. Está aí, “em cima da moda” – como se dizia. “Lindão e na estica” – como se diz hoje...
Cabelo repartido no meio, todo “glostorado”; rosto escanhoado, bigode fino moldado à navalha e com os óculos de grau, aro de tartaruga, escondido no bolso interno do paletó.
O terno (com colete) - último grito da moda – foi feito sob medida pelo Seu Nunes, alfaiate da Avenida Celso Garcia, em albene marrom-claro. Paletó levemente acinturado (sim, porque paletó acinturado mesmo, era coisa de “maricón”) gola larga e ombros estruturados. A calça acinturada e com três pregas, boca-larga e barra dupla voltada para fora. A camisa era de linho. Na mão, um chapéu Prada. Nos pés, um par de sapatos fantasia, nas cores branco e marrom-café, com salto carrapeta feito por ele mesmo na Clark, No pescoço, a gravata bordô presa pelo prendedor de gravata.
Papai estava triste nesta foto. O irmão dele mais velho, o meu tio Fillippo, morrera havia duas semanas. O luto do meu pai se revela na tarja preta que traz na lapela e no lenço preto cuidadosamente dobrado que traz no bolsinho do paletó.
Setenta e quatro anos depois dessa foto as vaidades são outras...
Preciso ir ao Centro Histórico, depois tenho de ir à Faria Lima, na volta devo parar na Paulista.Visto uma camiseta, uma bermuda, meias nos pés e calço o tênis. Pronto. Pegar o celular, a máquina digital e sair. Ah! Estou esquecendo a mochila!
E lá vou eu confortável, lindão, numa boa e na moda, cuidar da minha vida. E, se der tempo, ainda pego um cineminha e faço um rápido fim de noite na Livraria Cultura...
O vanitas vanitates!
Por Wilson Natale