Acordei
hoje com um pensamento.
Há um prédio deteriorando-se na cidade
Uma
pequena construção agregada ao grande colégio alemão cai aos pedaços e eu
acordei pensando nele.
Volto
no tempo.
Vivíamos
todos na busca do melhor. Humildes, deixávamos nosso trabalho e íamos em busca
do conhecimento. Éramos ricos, não obstante a escassez de recursos e as
finanças sempre combalidas.
Éramos
ricos pois tínhamos a todos, diariamente. Ternos e gravatas, nós; alinhados
vestidos ou saias elas, mas juntos convivíamos nossa busca do sonho de cada um.
Velho
Ozanam da Roosevelt e da Augusta.
Ah
nossos sonhos. Éramos a busca e também os próprios sonhos. Aulas intensas,
completas e muito mais.
Atividades
extracurriculares, como seria possível tantos profissionais agregando a
atividade Ozanam aos seus dias
A
fanfarra entoando nos desfiles; o jogral desfilando na cultura, o desenho do
blusão da escola, o centro de mesa da formatura, o teatro, o vôlei entre as
aulas ajustado ao pequeno espaço que tínhamos naquele modesto prédio agregado ao grande
colégio alemão.
Os
alunos mais jovens - tal como eu – quase
criançolas, (às vezes invejando os mais velhos), buscávamos imitá-los, estes
por sua vez compartilhando livros,
aulas, provas e grandes negócios
profissionais (e às vezes dando uma olhadinha nas nossas provas). As moças em seu labor diário, seus fichários
impecáveis, suas aulas bem marcadas. Tudo se constituía num conjunto harmônico de
companheirismo e vida.
Mestres
nos tratavam como iguais, como se iguais fossemos; nós os tratávamos como deuses,
como se deuses fossem. Éramos nós e eles
a alma daquele corpo que nos abrigava. Propositadamente deixo em falta nomes. A
mea culpa seria maior se esquecesse algum, de tantos que me encantaram na minha
passagem por lá.
Não esqueço dos bilhetes das moças pela manhã;
a resposta dos moços pela noite, geraram amizades, namoros, casamentos.
Velho
Ozanam da Roosevelt e da Augusta, gera em mim apenas boas lembranças.
Há
um prédio deteriorando-se na cidade.
Afloram
em meu pensamento sentimentos únicos de gratidão e jubilo. Sete anos passei
naquela construção e, perdoe-me Camões, outros sete anos mais passaria se
pudesse revive-los e sonhar o que naquele tempo sonhei, repasso por toda vida o
que naqueles sete anos aprendi.
Não
tenho saudades, tenho apenas boas recordações.
Durmo
hoje com um pensamento o que sempre aprendi e que me faz ter sempre vivo.
O
corpo é frágil, deteriora-se, morre, mas a alma, esta é imortal.
Por José Carlos Munhoz Navarro
4 comentários:
Olá José Carlos!
Colocando o blog em dia novamente...
Agradeço por este belo texto de suas lembranças. Tenho certeza que muitos dos leitores irão se emocionar.
Escreva mais. Uhuuu!
Sonia Astrauskas
Zé, este texto foi mágico. Me fez sair do ostracismo dos meus quase 80 invernos e voltar ao jovem que fui um dia com todas as lembranças daqueles anos vividos na companhia de meus irmãos ozanenses. Pura magia para alentar um coração agora um tanto combalido.
Espero que essas memórias possam ser um forte sopro e consigam reascender meu gosto de escrever.
Obrigado amigo irmão pelo calor que devolveu ao meu coração, estava precisando muito.
Escreva mais, por favor.
Que belo texto caro Navarro! ne transportou também aos meus tempos da Escola Técnica de Comércio São Carlos aquí no Ipiranga! parabéns caro amigo por mais essa narrativa!
E lá se vão mais de 50 anos, mas a lembrança permanece intacta. E você soube retratá-la sem ser piegas. Continue nos brindando com seus textos, Munhoz. Faz bem para todo mundo.
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