Até hoje, ainda me pergunto
o porquê de tanto mistério.
Ora bolas, as coisas
andam, desandam, mas sempre vamos progredindo.
Seu João, dono da
mercearia falou à pequena plateia que se amontoava na calçada:
- Vai nos trazer muito
conforto!
A pequena multidão de
vizinhos abaixou a cabeça, como se tivessem ouvido uma profecia.
Silêncio se fez. Só por
segundos e logo todo mundo palpitava.
Um chato decretou o fim
do diz que diz:
- Mas isso é um
desrespeito, deixarem na calçada! Onde já se viu?!
Seu João, português
forte, apesar dos anos entrados em não sei quantos “enta”. Bem disposto,
convidou a plebe reunida ali, com a garantia, a chance dourada, de experimentar
e depois se falava disso ou daquilo.
Foi um abrir e fechar de
portas que não dava sossego! Teve até alguém que gritou agoniado:
- Desse jeito a gente
adoece!
Mas ninguém registrou
nada. Nem o Seu João. Todos alvoroçados numa espécie e frenesi.
As crianças, como
sempre, acharam um bom uso da ocasião.
Maravilhadas, todas as
crianças foram vasculhando, como detetives os destroços do grande pacote, que
logo foi destrinchado e esquecido.
O que
mais intrigou, a nós, as crianças, foi o dia seguinte.
Meu pai levantava-se
cedo, para ir trabalhar.
Nessa manhã fui até o
portão, vendo-o subir a rua para pegar condução na Primeira Seção, assim era
conhecida, a hoje Praça da Árvore.
Mas logo, de repente,
minha cabeça acelerou! Outro embrulho?! O que será?
Era um tipo de super
tijolo grande no tamanho, retangular na forma. Embrulhado em tecido,
que anos mais tarde, descobri ser estopa.
Corri para casa. Alguém
mais teria visto o segundo pacote?
Voltei novamente,
percorrendo o longo corredor da vila onde eu morava, abri o portão
e... Lá estava “ele”! O embrulho!
Só que algo mais também.
A calçada molhada e
serragem, pó grosso de madeira, caída como farofa grossa avermelhada pelo
chão...
Também fui lá com a lupa
da curiosidade! E descobri no seu interior, um grande bloco de gelo, lindo, com
mil raiados enfeitando aquele corpo gélido!
Seu João, como sempre,
chegou e já foi fazendo boca de trombone:
- Quem mexeu aqui?... –
Crianças. Só pode ser. Xeretas, etc, etc...
Deste dia em diante,
todos podiam comprar Guaraná Paulistinha (garrafa verde, rótulo preto e branco
em risquinhos), bem gelado!
A geladeira funcionava
perfeitamente!
Movida? Melhor dizendo,
gelada à gelo!
E foi assim,
uma grande vez, lá nos anos cinquenta e poucos, foi descoberta a
geladeira no bairro do Bosque da Saúde.
Por Márcia Becker Saidenberg
6 comentários:
Olá, Luiz!
Que bacana este seu texto. Fez-me lembrar de quando nosso amado pai comprou a primeira geladeira de nossa casa. Foi uma festa. Nem acreditávamos que dali, daquela caixa branca e esquisita, sairiam os alimentos e bebidas geladinhos.
Valeu, Luiz... Belas lembranças.
Muita paz!
Sonia Astrauskas
Luiz, bateu a velha saudade aqui no peito deste teu amigo. A família Chammas lá no velho casarão da rua Augusta 291, também teve o luxo de uma geladeira a gelo comprado era da modernidade diariamente e entregue a domicílio. Era um grande trambolho, mas resfriava e mantinha os produtos alimentícios e nos dava um enorme status. Aos olhos da vizinhança estávamos adentrando aos tempos da modernidade.
Muito obrigado, mas este texto foi escrito pela Márcia.Ela também tem muitas coisas para contar. Aguardem.
Luiz Saidenberg
Olá Luiz, olá Márcia!
Já corrigi tudo, ok?!
Sempre vinda ao blog, Márcia!
Sonia Astrauskas
A primeira geladeira que entrou lá em casa era uma Frigidaire. Era um mostrengo, mas era uma luxo tremendo, lá pelos idos de 1955.
Quase que me deram um "gelo"... ainda bem que a Soninha corrigiu a tempo e me aquecendo escreverei mais .... rsrsrs abração à todos!
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