sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

imagem: Teatro Cultura Artísitica - 1965
O ano preciso não sei, mas foi entre 1965 e 1966 quando eu ainda estava buscando um lugar ao sol na TV e fazia diversas figurações na TV Excelsior (precursora da TV Globo) Canal 9, no espaço do antigo Teatro Cultura Artística na Rua Nestor Pestana.
Um dia, o coordenador dos figurantes me chamou e disse que eu deveria ir à casa de ensaios na Rua da Consolação, pois estava escalado para o Teatro da Tarde.
Sem saber o que me caberia fazer, porém alegre por mais uma escalação, me dirigi à referida casa que se localizava quase em frente ao antigo prédio do Cine Odeon. La chegando busquei informações com relação à sala onde estava sendo ensaiado o programa. De posse da informação me apresentei no local e assim que abri a porta da sala senti um tremor por todo o corpo.
Emoção total. Na minha frente estavam alguns atores escalados e, pasmem, dois monstros sagrados das artes cênicas do Brasil, Dionísio Azevedo e Mauro Mendonça.
Segurei as pernas um tanto bambas e avancei dizendo que tinha sido enviado pelo Pirolé para fazer figuração no programa. O diretor (não lembro quem era) me pediu para aguardar enquanto o ensaio se desenrolava e depois falaria comigo.
Encostei-me à parede e aguardei. Ensaio findo, o referido diretor me disse que eu iria fazer uma figuração como guarda e que quando o delegado (Dionísio Azevedo) me chamasse eu deveria me aproximar da mesa dele e dizer “pronto”.
Perguntou se eu tinha entendido, eu assenti e ele me mandou aguardar por ali mesmo para ir, depois, com todo o elenco para o Teatro aonde o programa iria para o ar (na época, era ao vivo, nada de VT).
Enquanto aguardava a brincadeira entre os atores corria à solta, e eu, na minha insignificância, apenas apreciava.
A certa altura o Dionísio avisou a todos que precisava dar uma pequena saída e iria, depois, diretamente para o estúdio. Os demais continuaram por ali e, de repente, sem mais nem menos, o Mauro Mendonça me chamou e disse: “-Vamos aprontar uma brincadeira com o Dionísio, quando ele te chamar em cena, sua fala será, - Pronto Dr. Taufik. Recomendou ainda, se ele te responder estupidamente não leve em consideração. Deixa que eu me encarrego das explicações.” Concordei e calado continuei.
Toca a campainha, silêncio no estúdio, abre-se a câmara e começa a encenação.
Estava embevecido vendo o de desempenho dos meus ídolos que quase perco a deixa. Não perdi e entrei na cena falando em alto e bom som Pronto Dr. Taufik.
Mesmo maquiado percebi que o rosto do Dionísio ficou vermelho, me pareceu que estava doido para me xingar, mas não perdeu a classe, continuou a cena.
Percebi que atrás das câmaras o Mauro Mendonça se contorcia de tanto rir. Eu estava assustado, mas continuei firme e forte até minha saída de cena.
Terminado o programa o Dionísio veio em minha direção dizendo “–Quem te mandou falar daquele jeito seu...” tremi mais ainda. Então o Mauro Mendonça veio gargalhando e disse - Fui eu. Ele apenas obedeceu.
Gargalhadas gerais, apenas eu não conseguia rir, nem mesmo quando me explicaram que Taufik era o verdadeiro nome do Dionísio e que ele nunca gostou de propagar esse nome.
Mais uma vez entendi que como reza o ditado: Manda quem pode, obedece quem tem juízo...
Eu obedeci.


Por Miguel Chammas

4 comentários:

Memórias de Sampa disse...

Olá, Miguel!

Legal esta sua memória... Coisas que vivencia-se e nunca mais esquece.
Hoje, revendo seus ídolos do teatro e novelas, tenho certeza que lhe traz grandes e belas recordações.
Valeu!
Muita paz!

Sonia Astrauskas

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Pois é Miguel, quase que você arruinou a sua vida artística ao dar ouvidos aos mais experientes, abraços, Nelinho.

Wilson Colocero disse...

As histórias do que acontece nas coxias são sempre muito boas! Mas haja coragem pra encarar o "seu Taufik"! kkkk....

Luiz Saidenberg disse...

Muito gozado, Miguel. Fazia tempo que não nos víamos, eu tinha esquecido que também você teve um passado artístico e teatral. Muito boa história, e gente tem de se cobrir mesmo, pois gozadores não faltam para acertar os ingênuos.
Nesse auditório também tive um episódio engraçado. Mas, isto é uma outra história.