Desde o início da década de 30, meu pai, Domingos Capuano, trabalhava no
depósito de uma grande Papelaria de São Paulo na época. Na década de 40, já
como chefe desse depósito, certa vez convidou uns amigos mais chegados para uma
pequena reunião em sua residência (Rua Antonieta - atual Comendador Miguel
Calfat na Vila Nova Conceição), motivado pelo seu aniversário. Vieram cinco
amigos sendo que quatro deles aparentando entre 35 e 40 anos e um com bem menos
do que 30, que era entre todos o mais falante e desembaraçado para se
expressar. Em certo momento subiu num banquinho que estava no quintal e fez um
breve discurso dirigido ao meu pai. Nessa ocasião deveria estar entre oito e
dez anos de idade quando presenciei essa cena.
No final da década de 40, em reconhecimento ao excelente desempenho
prestado pelos quase 20 anos na firma, o dono da empresa, Sr. Jorge, agraciou
meu pai com um bom valor em dinheiro e mais duas vezes esse valor em mercadoria
para possibilitar abrir uma pequena Papelaria no armazém que ele havia
construído na própria residência. E foi assim que surgiu a Papelaria Martim
Francisco que logo em seguida passou para a Avenida Santo Amaro, próximo da
residência, tendo permanecido em atividade por 47 anos.
No início da década de 70, entra na Papelaria um amigo do meu pai que
não se viam há algum tempo. Logo no início do encontro o assunto predominante
não poderia ser outro: Futebol. Como os dois eram "palestrinos",
começaram a conversar sobre o Palmeiras. Em dado momento da conversa esse amigo
menciona o nome do MILTON PERUZZI, que também era "palestrino". Tive
lampejos de ter ouvido do meu pai dizer o seguinte: "- Sim conheço, esteve
uma vez na minha casa", Num momento me veio a mente aquele jovem muito falante
que subiu num banquinho e fez um breve discurso, mas nunca tive a curiosidade
de indagar meu pai sobre o assunto.
Somente há cerca de 5 ou 6 anos tomei conhecimento que a expressão que
se tornou famosa no nosso cotidiano por todo o país, principalmente em
Brasília: " E TUDO TERMINOU EM PIZZA ", teve como criador o marcante
Locutor e Jornalista Esportivo MILTON PERUZZI que, entre outras façanhas,
comandou com brilhantismo o programa Mesa Redonda Futebol é com Onze, na TV
Gazeta.
Nessa altura meu pai não estava mais entre nós. Fiquei sem referência
sobre o assunto. Recentemente surgiu a ideia de consultar a internet e buscar
notícias sobre MILTON PERUZZI. Dentre muitos personagens surgiu o nome do Dr
Milton Peruzzo Jr. médico cirurgião plástico, que constatei ser filho do MILTON
PERUZZI (que na realidade era PERUZZO). Através de um e-mail para contato fiz a
seguinte pergunta para o Dr Peruzzo: "... seu pai comentou alguma vez que
na década de 40 chegou a trabalhar por algum tempo em uma Papelaria?" Logo
no dia seguinte recebi a resposta do Dr Peruzzo: " - Não lembro de meu pai
ter citado que trabalhou em Papelaria mas lembro dele ter dito que era amigo de
um Capuano ".
Mediante essa resposta enviei outro e-mail esclarecendo a cena do
banquinho e do discurso da década de 40 e também do encontro do amigo do meu
pai na década de 70 na Papelaria onde foi mencionado o nome do MILTON PERUZZI.
Prontamente obtive a seguinte resposta: " - Signore Capuano. Com certeza
era meu pai, ninguém gostava mais de falar e discursar como ele... Abraço -
Milton Peruzzo Jr ".
Passando a considerar verdadeira a minha presunção e consequentemente
considerando terem sido amigos por algum tempo, certamente se encontraram e
continuam a conversar sobre o "palestra"... lá no céu, ONDE TUDO
TERMINA...EM PAZ!!!
Por Roberto Capuano