imagem: Restaurante Guanabara, em Sampa
São Paulo, 16 de Julho de
2016, sábado, este foi um dia de grandes emoções para este escrevente idoso e
cheio de memórias.
Nesta data eu estava me dirigindo para um almoço
que pretendia fosse memorável, mas vamos por partes:
Primeira: Tinha experimentado, pela vez primeira,
uma viagem usando minha condição de idoso. Aliás, condição que de nada vale no
momento de requisitar a tal passagem por que para obtê-la o coitado do
pleiteante tem que, com cinco (cinco) dias de antecedência e na hora exata em
que pretende viajar, se apresentar no guichê da Empresa Transportadora, no
terminal rodoviário de destino e contando com a benemerência das operadoras no
local fazer o pedido que, depois de várias delongas pode ser aceito ou não. Se
aceito, você recebe o bilhete emitido e faz, lógico, o seguinte questionamento:
Pode emitir também o bilhete da volta? E ficará sabendo, então, que se a volta
for para o mesmo dia, em período diverso da ida, terá que voltar no horário
pretendido e tentar conseguir a passagem, mas poderá também, ficar aguardando
próprio terminal até o horário para tentar conseguir o famigerado bilhete.
Assim foi que perdi um dia inteiro no Terminal Rodoviário, desconfortavelmente
acomodado para conseguir legislação específica.
Ah! Registre-se que se consegue, com muita
paciência, os almejados bilhetes, mas o direito de embarcar e viajar só lhe
serão garantidos se desembolsar o valor das famigeradas taxas de embarque, por
que essas não são gratuitas nem dispensadas pela exploradora dos terminais
rodoviários. Ou seja, passagem gratuita só parcial.
Segunda: Chegando ao meu destino e percebendo que
tinha, ainda, um bom espaço de tempo descompromissado, e ciente que meu
compromisso era no centro da cidade, resolvi embarcar num trem metropolitano e
descer na Praça da Sé. Queria tomar um banho de paulistanidade e respirar os
mesmos ares que havia respirado em minha juventude, quando exerci a função de
“Office-boy”. Assim decidi e fiz, desci na estação Sé do metro, galguei ao solo
por escadas rolantes e...Meu Deus! Em que mundo estou? Que cenário é este tão
dantesco e inóspito que se apresenta aos meus olhos?
Que horror, quanta desgraça, quanta sujeira,
quanta tristeza rolando pelas calçadas do “marco zero” da Capital dos
paulistanos. Lágrimas internas rolaram em meu coração, mas resistindo às
decepções, continuei a minha peregrinação, cruzei a Praça da Sé desviando de
uma série de imundices e excrementos e avancei para a Rua XV de Novembro. O
cenário era menos tenso mas, ainda, bastante diferente daquele registrado em
minha memória. Os velhos bancos, tão visitados outrora, já não existem mais.
Apenas a resistente agencia do Bradesco que por centenas de vezes atravessei
para alcançar a Rua Álvares Penteado, continua no mesmo lugar. Procurei achar o
Banco Comercio e Indústria, o Banco Comercial, não encontro mais nada. Onde
ficava a Lojas Garbo agora é uma churrascaria popular. Tudo mudado. Sigo em
frente e chego na Praça Antonio Prado, no numero nove o famoso Edifício Altino
Arantes, onde os primeiros andares eram usados para a sede social do Jockey
Club Paulistano, os demais andares eram comerciais e no 9º andar e trabalhava,
nos escritórios da empresa Comercial e Importadora Restinga Ltda., uma
laminadora de ferro de propriedade de Pedro Cerquinho de Assumpção e José
Cerquinho de Assumpção e gerenciada pelo grande esmeraldino Pedro
Ferronato.Postas fechadas, uma placa indicando ser agora um órgão governamental
(Secretaria Estadual de Esportes Lazer e Turismo) e nada mais.
Olhei para os lados e não vi, além do prédio do
Banco do Estado de São Paulo (agora Santander) mais nada de reconhecível. Onde
está o City Bank? A Bolsa de Valores? Nada... Os quiosques que, no meu entender
haviam sido implantados para embelezar a praça, sujos e mal cheirosos,
servem-se, agora, como pontos de abrigo para o sono de mendigos.
Balancei a cabeça para apagar a visão e continuei
minha caminhada em busca da ladeira da Avenida São João. Já sabia de há muito
que o relógio havia sido retirado, mesmo assim arrisquei um olhada e sem
surpresa não o encontrei, comecei a descida, busquei a Fotoptica onde revelei
diversas fotos e aluguei várias câmeras fotográficas e já não existia, olhei em
frente e, alvíssaras, encontrei as portas do Banco do Brasil onde fui muitas
vezes a serviço na CACEX em busca ou re entrega de documentos. Na porta lateral
do Edifício Martinelli,devidamente fechada, uma placa informava que as visitas
ao terraço estavam suspensas nos finais de semana e feriados.Que pena, uma
visita poderia, perfeitamente, preencher mais um espaço do meu dia e me
permitiria, quem sabe, matar a saudades, que ainda sinto, do CAFÉ (Clube
Associativo da Fazenda Estadual) que tanto freqüentei na infância mercê
beneplácito de minha tia Zaíra Chammas (Zazá).
Sigo em frente, atravesso a Rua Libero Badaró
decidido a sentar-me em um banco que avistei, lembro-me das muitas vezes que
percorri aquele trecho de rua, empurrando um carrinho de ferro, levando ou
buscando livros no Collie Posteaux dos Correios, executando minhas funções para
a Rede Latino Editora, onde trabalhava.
Sento-me no banco visado e olho para os lados,
nada de que minha memória registrava, do lado direito, no trecho da Avenida São
João que ia da Rua Libero Badaró até o Vale do Anhangabaú, não vi nem uma
daquelas enormes vitrines preenchidas com bugigangas mil, onde por centenas de
vezes comprei pares de abotoaduras, prendedores de gravata e alfinetes de
colarinho, peças indispensáveis, que compunham a elegância masculina da época.
Nada mais existia! Virei meu olhar para o lado esquerdo e, tristeza, não vi o
chamativo luminoso da Casa dos Dois Porquinhos, não vi a velha Pastelaria da
esquina, hoje substituída por outra churrascaria.
Enfim, olhei para a esquina onde, as 13hs00m seria
realizado o evento objeto do meu deslocamento a São Paulo. A Brasileirinha já
não mais estava por lá, mas graças a Deus, o tradicional Restaurante Guanabara
(onde degustei várias Coxinhas de Frango (coxinhas brancas) e sanduíches de
Pernil sem molho, acompanhados de geladíssimas guaranás da Brahma), que era na
Rua Boa Vista, agora ocupava o lugar e, em poucos minutos ali eu estaria
degustando sua famosa feijoada.
Terceiro: Enfim, relato a terceira parte das
emoções desse sábado. O almoço tinha sido preparado para reunir alguns autores
de textos do site São Paulo Minha Cidade que, junto com seus familiares, se
propunham a degustar a famosa feijoada do Guanabara e manter a amizade que os
unia.
Logo que me aproximei da porta do restaurante,
encontrei com o Leonello Tesser (Nelinho) e juntos entramos. Fui logo reparando
que o balcão dos famosos sanduíches havia sido deslocado para o lado direito de
quem entra, comentei com o maitre e ele me respondeu que aquilo já tinha
acontecido há mais de dois anos (tempo em que eu não havia, sequer, passado por
ali). Sentamo-nos em locais devidamente reservados para o grupo e fui logo
bebericando uma Espírito de Minas para não perder tempo enquanto aguardavas os
demais chegarem.
Com o passar dos minutos foram chegando a Teresa
Fiore, O Roberto Capuano com seu filho Robertinho e sua nora a Lena, em seguida
chegou o Marcos Falcon, depois vieram o Rymundo Montagna e esposa, o Arthur
Miranda e a Denise sua esposa, em seguida o José Carlos Navarro e sua esposa
Silvia, o Modesto Laruccia chegou sozinho, devidamente licenciado pela querida
Myrte e, finalmente a família Loureiro (Marcos, Isabel e a pequena princesa)
completando, assim, a lista dos participantes.
Entre bebericos, experimentos (o Robertinho
Capuano fez questão de experimentar o famoso sanduíche Psicodélico tão
comentado até aquele momento), e a feijoada, transcorreram horas maravilhosas e
de muita alegria.
Fartos ou, como se diria nos antigamente, com os
pandulhos cheios, chegou a hora da despedida.
Beijos e abraços em profusão, renovadas promessas
para uma nova reunião e cada um foi continuar a sua trajetória de vida.
Sei que novos encontros hão de acontecer e rogo ao
Bondoso Deus, que me permita estar presente em todos eles, pois, são dessas
pequenas coisas, que meu ser fica revigorado e pronto para novas aventuras.
Até lá, vamos nos arrastando e buscando sobreviver!
Por Miguel Chammas