imagem: Rua Barão de Itapetininga - década de 60
No início dos anos 60, bem ali, na rua
Barão de Itapetininga, junto à Livraria Francesa, o seu Natalino vendia aquelas
esfihas gordurosas em uma estufa que ficava na porta de um bar.
Em volta da tal
estufa, transeuntes de poder aquisitivo irrisório, eu era um deles, se reuniam
para degluti-las na hora do almoço.
Eu era office-boy e trabalhava ali perto,
na Galeria Califórnia, e sempre marcava o ponto na porta daquela bar.
"Seu
Natalino, manda ver uma esfiha dupla aí para mim, não comi nada até agora"
pedia eu.
Com o pegador de metal, o seu Natalino colocava uma esfiha sobre a
outra e as dobrava colocando-as naquele papelzinho liso que não absorvia nada. Era a tal "esfiha dupla". Depois de
encharcá-la de limão com aquelas bisnáguas um tanto encardidas, seu Natalino
estendia o braço dando-me a preciosa iguaria. Além do limão, o que não faltava
era o óleo que a esfiha esbanjava.
Normalmente o freguês se inclinava para a
frente e recuava os pés para trás evitando que o óleo caísse no sapato quando a
esfiha era abocanhada. Como ganhava pouco e não tinha grana para gastar em
sanduíche e em PF, as esfihas duplas do seu Natalino quebravam um galhão.
Bons
tempos aqueles.
Por Nelson José Xavier da Silva